Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 67
ANNABETH - Inspirada na Rachel


Notas iniciais do capítulo

olá! demorei mas voltei!
minha maninha chegou para narrar o capítulo novo em plena quarentena ;D
fiquem em casa. se cuidem. tomem bastante suco de laranja. evitem coisas geladas. vamos ficar todos bem saudáveis ok? beijos de luz e bom capítulo!



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ANNABETH

A dor em meu ouvido era completamente insuportável. No começo era como um grito tão terrivelmente pavoroso que não parecia existir palavras suficientes para descrever a sensação que ele me passava. Era mais do que ensurdecedor, era desesperador e arrepiante. Ele parecia ir muito mais além do que simplesmente no meu ouvido, parecia entrar bem dentro de mim e me fazer perder qualquer vontade de lutar. Bem, acho que isso era o minimamente esperado de um apito macabro mágico.

Quanto fui dar por mim, os gritos que eu ouvia já não passavam de uma pontada aguda enquanto eu me contorcia de dor no chão. Fracamente abri meus olhos e vi que não estávamos mesmo em uma situação muito boa (caso o sangue saindo dos meus ouvidos já não fossem provas suficientes disso). 

Uma parte de mim ficou surpresa em ver que Anúbis também estava no chão e eu via Chalchiuhtlicue voltando a tomar forma em meio a água e olhando para ele com uma expressão séria no rosto. Meu golpe momentos antes não parecia ter a atingido tanto assim.

Enfim, de repente, foi como se algo se quebrasse ou estalasse dentro da minha cabeça e, no segundo seguinte, eu não conseguia ouvir mais nada. Eu ainda estava fraca mas sem ouvir mais nada, incluindo o apito horrendo, minha cabeça foi começando à desanuviar. Chalchiuhtlicue falava algo para Anúbis que eu não conseguia ouvir. Por ele ser um deus eu até achava que talvez ele não fosse ficar tão ruim assim, mas ele parecia decididamente mal. Me perguntei por um segundo se por acaso ele teria audição de cachorro. Mas deixando esse questionamento não muito relevante para o momento, notei que eles estavam me ignorando um pouco. O que era plausível de certa forma. Se eu fosse eles e tivesse que escolher entre lidar primeiro com um deus ou com uma semideusa, eu também não me escolheria. Isso é, se não fosse o fato de que eu gradualmente estava me sentindo melhor.

Eu podia não ter poderes mirabolantes controlando a água ou as sombras. Nem me transformava em nenhum animal ou tinha poderes de cura. Certamente qualquer um desses poderes poderiam ser úteis naquele momento. Mas eu tinha que trabalhar com o que tinha e, na lista de coisas que eu costumava usar nas batalhas, audição não era uma das presentes no momento.

Quase podia sentir meus olhos tremendo quando tentei me virar para o pedaço do chão que brilhava em roxo. Eu chutava que era ali que levava para onde Sam e Frank estavam. A luz roxa se moldava ao chão formando um quadrado perfeito e, no meio desse quadrado, haviam vários símbolos que seriam perfeitamente descritos como uma versão asteca de hieróglifos. Entretanto, asteca não estava no conjunto de idiomas que eu conseguia ler. Não havia como eu decifrar o que era preciso para abrir aquilo.

Mesmo em meio à dor que ele provavelmente estava sentindo, ele ignorou seja lá o que Chalchiuhtlicue estava falando para ele para trocar um olhar rápido comigo e logo em seguida olhou para o apito que Ixquitecatl assoprava. Por uma fração de segundo ele não iria conseguir ter olhado para o apito, pois Chalchiuhtlicue o atingiu com um jato d’água extremamente forte e bem calculado bem no ombro que acabou forçando ele a tirar a mão de um dos ouvidos. Eu nem conseguia imaginar qual devia ser a sensação. Água à alta pressão, quando aplicada do jeito certo, podia fazer um grande estrago. A velocidade e o poder do jato foram tão fortes que ele conseguiu não só deixar uma marca no piso de pedra da pirâmide como se tivesse sido uma navalha, como também cortou o ombro de Anúbis misturando a água incolor com um líquido prateado que provavelmente era a versão egípcia do icor. Acho, no entanto, que poderia ter sido pior. Afinal, não acho que Chalchiuhtlicue tivesse ali em sua água algum material abrasivo como o carbeto de silício, por exemplo.

Infelizmente, eu teria que me aproveitar da tortura que estava acontecendo ali. Pediria desculpa para ele depois. O mais lenta e silenciosamente que consegui, tentei me esticar até meu chapéu que estava caído alguns centímetros à minha esquerda. Meus olhos trocavam preocupadamente entre o meu chapéu e os dois deuses. Não podia contar com meus ouvidos para me alertar de quando eles percebessem o que eu fazia. A sensação do sangue escorrendo deles era um bom lembrete disso. Meus olhos teriam que fazer todo o serviço. 

Meu coração até bateu mais rápido quando meus dedos roçaram o tecido, agora molhado, do meu boné. Me estiquei um pouco mais e consegui fechar ele em minha mão enquanto Chalchiuhtlicue parecia prender Anúbis pelas mãos e pés com algemas feitas d’água. 

Torcendo para tais algemas não serem grandes complicadoras assim, eu coloquei o boné em minha cabeça e rapidamente agarrei também um pedaço de pedra um pouco menor que meu punho fechado que havia se desprendido do chão depois do jato d’água feito por Chalchiuhtlicue. Os próximos passos tinham que ser feitos rápidos e dei o melhor de mim para assim os fazer. 

Me levantei de repente e ficou claro que essa ação chamou a atenção dos dois deuses. Por alguns centímetros erraram o olhar ao tentar olhar em minha direção. Sim, poderiam se guiar por outra coisa, como qualquer marca deixada pelos meus pés, mas até conseguirem algo, seria tarde demais. Afinal, assim que levantei, taquei a pedra em minhas mãos contra o rosto de Ixquitecatl enquanto avançava para ele. Eu não precisava fazer nenhum dano enorme (e nem esperava fazer, afinal, era só uma pedra). Mas aquilo foi a distração perfeita para interromper o barulho do apito por ao menos alguns segundos.

A pedra atingiu o rosto de Ixquitecatl em cheio. Bem no nariz. Não era algo tão dramático e hilário quanto jogar uma escova de cabelo contra um titã, mas serviu aos meus propósitos. A pedra forçou ele a parar de usar o apito e aproveitei a oportunidade e a distância já bem diminuída para enfiar minha adaga em sua mão. 

O apito horripilante caiu inocentemente no chão e, sem ligar para a mão dele (ou para qualquer grito que ele possa ter soltado que não chegou aos meus ouvidos), eu peguei o apito enquanto segurava ainda fortemente minha adaga que, com a movimentação, piorou o ferimento em sua mão. 

Obviamente, meu ataque repentino voltou todas as atenções para mim por mais que minha localização estivesse levemente incerta. Assim, nos breves segundos entre o apito sair das mãos de Ixquitecatl e chegar na minha, minha visão foi repetinamente tomada por um chacal feito de névoa que se jogou contra Ixquitecatl o empurrando para trás alguns passos e logo se desfez. O mesmo deve ter acontecido com Chalchiuhtlicue apesar de eu não ter podido ver devido à posição que estava em relação à mim. Não sei dizer. Mas posso dizer que não pareciam chacais tão resistentes quanto outros que já vi Anúbis fazer. Não sei dizer também se a situação em que ele estava afetava isso.

De toda forma, não perdi tempo e assoprei com toda força o apito. Eu já não estava escutando nada e não sabia dizer apenas usando a audição se havia dado certo. Mas, quando vi Chalchiuhtlicue e Ixquitecatl se contorcerem e gritarem de dor. Percebi que havia dado certo. O efeito disso, foi que Anúbis conseguiu se soltar também das algemas de Chalchiuhtlicue. Me pergunto se minha cara estava tão ruim quanto a dele ou sequer pior, pois ele parecia que tinha acabado de passar por ao menos 3 noites de pura insônia quando se levantou do chão. Eu certamente me sentia assim.

Minhas habilidades de leitura labial estavam fracas demais para decifrar o que Anúbis disse para mim quando se levantou. Mas, torcendo para que ele entendesse o recado, apontei para Chalchiuhtlicue e Ixquitecatl com a cabeça. Deixaria para ele escolher com qual lidar primeiro.

Ixquitecatl exibia dor em seu rosto mas tentava se manter mais ou menos de pé mesmo quando, com seu cetro, Anúbis jogou uma densa nuvem de negra contra o deus asteca. Vi o sangue estourar pelos ouvidos de Ixquitecatl e a redoma roxa que nos rodeava fraquejar quando ele invocou um cetro menor mas bem mais espalhafatoso que o de Anúbis e colocou diante de si interrompendo com dificuldade o avanço de boa parte da névoa. Mas o que ele não contava com era que no meio daquela névoa havia um chacal que não daria para simplesmente ser desfeito com algum golpe mais ou menos.

Apesar de qualquer cansaço e dor que pudesse estar sentido, Anúbis havia se transformado num chacal, se escondera em sua própria névoa e pulou com a boca escancarada na garganta de Ixquitecatl quando ele menos esperava. Eu sinceramente me senti vendo uma versão mais sangrenta e mitológica do Animal Planet, então não vou entrar nos detalhes de como canídeos caçam. Muito menos um canídeo que ainda colocava um pouco de magia aqui e ali a cada mordida e arranhada.

Por outro lado, eu também tinha meus problemas. O principal estava começando a girar em torno do fato de eu não ter fôlego eterno para assoprar o apito de forma ininterrupta. Já sentia meus pulmões lutando e reclamando para eu puxar mais ar enquanto eu olhava para Chalchiuhtlicue que agora não passava de uma estranha poça d’água no chão. A poça se mexia como se tivesse vida própria, não prestando aparentemente tanta atenção em mim quando eu comecei a me afastar dela segurando minha adaga com força.

Todavia, o esperado aconteceu, eu tive que parar para puxar ar. E foi exatamente nesse breve segundo que a água que era Chalchiuhtlicue explodiu em minha direção. Ela se envolveu ao redor de mim me prendendo e tive que apressadamente prender minha respiração pois ela fez uma espécie de aquário ao redor de minha cabeça. Segurei firmemente o apito em minha mão esquerda e a adaga em minha mão direita. Seriam as únicas coisas que poderiam me ajudar naquela situação.

Entender o que acontecia ao meu redor passou a ser mais complicado, pois a água atrapalhava minha visão. Se eu fosse chutar, diria que Chalchiuhtlicue disse algo como “Pare de estraçalhar Ixquitecatl ou eu mato a garota”. Pois parecia que a briga complicada havia parado.

Por outro lado, por mais que ela segurasse meus pulsos firmemente com correntes d’água, arrisquei usar o que eu ainda tinha de força para usar minha adaga para cortar os fluxos de água que conectavam as algemas a ela. Eu provavelmente teria gritado meio inconscientemente para fazer isso. Mas, estando com o rosto todo dentro d’água, aquilo não era uma opção. Com um único esforço forte consegui me livrar de um e mostrar para Chalchiuhtlicue que não me prenderia assim tão fácil. 

Não pude avaliar direito o quão distraída ela ficou com eu ter me livrado de uma das correntes. Isso porque o toque final eu nem poderia ter previsto. Uma flecha atravessou o rosto de Chalchiuhtlicue em cheio. Ela travou por alguns segundos, não havia tido tempo algum de se transformar em água. Mas, depois de dois segundos tensos, ela se desfez em água de novo me deixando totalmente encharcada. Tossindo pela falta de ar e pelo quase afogamento, eu olhei para Will que aparentemente havia acabado de subir até o topo da pirâmide junto com Percy e Rosa.

Will disse alguma coisa que não ouvi mas, ao olhar para ele, notei que ele parecia terrivelmente cansado e que aquela provavelmente foi sua última flecha do dia. Sendo um bom médico independente da situação, ele foi até mim seguido de Percy depois de ambos verem que eu não estava muito bem. Contudo, meu olhar se desviou para Ixquitecatl e Anúbis. Comigo livre, os dois tinham recomeçado a lutar. Notei que Anúbis havia mudado de forma de novo. Era um adolescente de roupas monocromáticas manchadas no ombro de sangue prateado que travava uma espécie de cabo de guerra mágico contra Ixquitecatl. 

Cada qual com seu cetro, os dois pareciam tentar ver quem aguentaria mais. Ixquitecatl não parecia nada bem. Seu pescoço sangrava, a redoma roxa que envolvia Teotihuacan se desmontava e o deus estava envolvido por algo que parecia jatos de ar em cores frias enquanto tentava se defender da névoa negra que Anúbis lançava contra ele. O rosto de Ixquitecatl parecia cansado e desesperado e sua expressão só piorou quando viu braços fantasmagóricos surgindo do chão agarrando-se à suas pernas.

— Annabeth! - ouvi finalmente um leve sussurro de Percy quando ele se ajoelhou diante de mim com Will. Mas, pelo movimento da boca dele, acho que ele estava gritando apesar de meus ouvidos só ouvirem sussurros que pareciam vir do fundo d’água.

— Eu não… - tentei começar a dizer apesar de nem ouvir minha própria voz, mas então tudo mudou de rumos novamente.

Seja lá o que Ixquitecatl, foi como se uma explosão de ar quente surgisse do nada e empurrasse a gente para longe de onde estávamos. Eu, Percy e Will rolamos pelo chão ganhando mais alguns arranhões e não pude ver imediatamente o que aconteceu com os outros. Só sei que, no segundo seguinte, vi Ixquitecatl fugindo pelos céus sem olhar para trás até simplesmente ficar invisível.

Eu ainda tinha forças para levantar sozinha, mesmo que com dificuldade, mas Percy me ajudou a fazer isso e trocamos um olhar feliz mas terrivelmente cansado. Nos sentimos no direito simplesmente notar que havíamos conseguido chegar bem longe aquele dia. Lembrando então da situação que estávamos, olhei ao meu redor. Todos também já haviam se levantado. Vi Will e Anúbis ajudando Rosa, que quase havia sido jogado para fora da pirâmide. Não teria sido uma queda muito agradável. 

Mas claro que as parcas ainda achavam que havia sido tudo fácil demais, pois a enorme poça d’água que era Chalchiuhtlicue voltou a se mexer e tomar a forma da deusa de novo. O ferimento de flecha completamente sem sangue bem no meio da sua testa dava um novo sentido para sua expressão de raiva.


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Notas finais do capítulo

antes q falem "ai mas o Percy tava moh ruim no capitulo anterior"
tenha caaaaaaaaaaalma...
antes q falem tbm "aí eu acho q o Ix-sei-lá-o-que deus dos feitiços arregou rápido demais"
tenha caaaaaaaaaalma....

quaisquer outros comentários são bem vindos kkkk me motivam que só. adoro ver as reações de vcs lendo ♥
beijinhos e até o prox cap!



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