Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 34
THALIA - O rio da dor


Notas iniciais do capítulo

OLHA SÓ QUEM CHEGOU PRA NARRAR! XD
espero que gostem da narração da filha de Zeus. aos que pedem pros nórdicos voltarem. Tenha calma ok? estão pertinho de aparecerem de novo.



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THALIA

Eu me enrolava num cobertor de lã tentando esquentar meu corpo tentando proteger ele do vento frio que batia ali no alto daquele morro. Ao menos não estava chovendo, ou pior, nevando. Felizmente, por mais frio que estivesse, não estava tão frio a ponto da chuva virar neve. Porcaria de inverno. A senhora Ártemis disse que não seria uma boa ideia manipular o clima ali para não chamar atenção. Sendo assim, eu tentava não focar na altura absurda que separava o morro que estávamos do vale que se formava lá embaixo com o rio que cortava as montanhas. Sentada em uma grande pedra embaixo de uma árvore, eu conseguia admirar o topo das montanhas que estavam ao nosso redor formando uma pela paisagem. Algumas eram mais altas que a que estávamos, outras eram mais baixas.

Aqui, sozinha, encarando a paisagem que formava o relevo montanhoso da Grécia, eu não conseguia deixar de pensar em meu irmão Jason. Tentava deixar o pensamento para longe, não queria ter que passar mais uma noite em claro pensando na morte de meu irmão caçula. Contudo, felizmente, eu ainda tinha algumas horas antes de o sol se pôr e dar início a mais uma noite que poderia ser tanto longa como curta. Desde que fiquei sabendo que Jason tinha morrido, era comum minha mente se ver invadida, contra minha vontade, por memórias antigas de quando ele mal passava de um bebê que queria colocar o grampeador na boca. Memórias antigas de quando nossos problemas não envolviam ter que se preocupar com o fato de sermos filhos de Zeus (apesar de ele ser da forma romana de Zeus, Júpiter). Eu ficava revoltada ao pensar que não pude fazer nada para defendê-lo, contudo, não era hora de focar naquilo.

Eu soltei um suspiro e olhei para a igreja feita de pedras pequenas que ironicamente as caçadoras da senhora Ártemis resolveram se abrigar no meio daquela missão. Com certeza eu adoraria ficar num lugar menos alto, mas Helen, uma caçadora filha de Atena, tinha sido bem convincente em todos os motivos pelos quais ali era um bom lugar para acampar.

A jornada até aqui tinha sido até relativamente prazerosa. Claro, tivemos empecilhos no formato de monstros no caminho, mas tendo a própria Ártemis na liderança, poucos deles sobreviveram para contar a história. Às vezes ainda conseguimos alguns agrados dos moradores locais no formato de lugares para dormir ou um bom lanchinho. Esses agrados faziam com que eu me perguntasse se, apesar do tanto de igrejas católicas que encontrávamos no caminho, os gregos ainda se lembrassem ou sentissem que aquela garota de aparentemente 13 anos e cabelos castanhos era na verdade a própria deusa.

Eu me levantei e dei de cara com outra caçadora, Kowalski, que mastigava um pedaço de pão que tínhamos conseguido na última vila na qual paramos.

— Quer? - disse ela me oferecendo outro pão em sua mão.

— Valeu - respondi pegando o pão e comendo.

— Camila já subiu de novo. - disse Kowalski se referindo a outras duas caçadoras - É nossa vez de descer e trocarmos de lugar com ela e Helen.

Eu afirmei com a cabeça, larguei o cobertor num canto e segui Kowalski morro abaixo enquanto terminava de comer o pão. Cruzamos a mata silenciosamente desviando das pedras altas e nos concentrando para não escorregarmos devido a inclinação do chão. Alguns minutos depois, começamos a ouvir o som de água corrente, um rio, o rio que cruzava aquela região e o motivo de nossa preocupação.

Encobertas pelas sombras das árvores, nos juntamos até onde estava senhora Ártemis. Escondida entre pedras e arbustos, ela nem nos olhou mas a caçadora que estava com ela, Helen, afirmou brevemente ao nos ver e subiu o morro em busca do próprio descanso. Era uma missão cansativa. Já à alguns dias estávamos ali, escondidas nas sombras das árvores, simplesmente encarando o rio esperando algo acontecer.

O rio cortava boa parte daquela região da Grécia, chamada de Epiros, cruzando montanhas, vilarejos e cidades. Só que naquele ponto onde estávamos ele entrava naquele matagal e era convenientemente rodeado por pedras altas. Que rio é esse que estou fazendo tanto mistério para revelar o nome? Aqueronte. Sim, o mesmo rio que corria pelo submundo. Na verdade, muitos dos rios que corriam no submundo tinham seu equivalente ou sua nascente no mundo humano. A preocupação da nossa líder, Ártemis, era que alguma coisa estranha parecia estar acontecendo com o rio. Tinha uma sensação estranha sendo emanada de lá. Exatamente por isso, estávamos ali observando. As formações rochosas ao redor do rio de águas cristalinas deixavam tudo meio escuro em fazendo pensar que talvez fosse ali que ele ía para o submundo. Mas eu não tinha certeza de nada.

— Me pergunto quanto tempo mais teremos que ficar de vigília. - sussurrou senhora Ártemis.

— Seria bom se isso só se mostrasse ser uma falsa impressão. - respondi de volta com sussurros no mesmo nível.

— Seria. - respondeu senhora Ártemis - Mas acho difícil isso acontecer já que Hades parece compartilhar da preocupação. Além disso, certos contatos dele, que ele não quis revelar quem, revelaram outras preocupações que talvez ou não estejam ligadas.

Eu olhei para o rio enquanto o tempo passava. Era difícil acreditar que aquele era o rio da dor sendo que era de um azul tão bonito aqui na parte humana do mundo. Quando já estava achando que aquela seria mais uma longa noite só olhando para o rio, uma voz densa, rouca e sussurrante chega até meus ouvidos fazendo meu coração se apertar. Outras vozes se juntavam a essa voz fazendo que eu entendesse só algumas delas. “Olha o que eu desenhei!” escutei a voz do mini-Jason em minha cabeça. “Estrelas. Posso ver as estrelas novamente, minha senhora” a voz sussurrante de Zöe quando morria me lembrando que talvez eu pudesse ter feito algo.

Minha visão já estava embaçada quando ouvi senhora Ártemis dizer:

— Ele chegou - disse ela preparando o arco.

Olhei para o rio tentando ignorar as vozes em minha cabeça, dentre as quais algumas eram mais evidentes do que outras. Do rio, uma figura disforme começou a se elevar. Se levantava com dificuldade mas parecia grande o suficiente para se passar pelo Hulk se não fosse o fato de ser azul como a água do rio. Aqueronte.

— Rápido, não podemos perder tempo. - disse senhora Ártemis.

Rapidamente entendi meu sinal e, assim como tínhamos discutido dias antes caso essa mesma situação chegasse, deslizei a pequena distância que separava o ponto onde estávamos escondidas e o leito do rio. Quando meus pés tocaram a água do rio, Aqueronte olhou para mim, as vozes em minha cabeça lembrando-me daqueles que perdi, seja por minhas mãos ou por incompetência minha, encheram minha mente cada vez mais. Jason, Zöe, Bianca, Luke. Tentei ignorar as vozes, a de Jason a mais forte, e deixei a rajada de eletricidade de soltar do meu corpo em contato com a água.

Aqueronte gritou de dor e se corpo se desfez caindo na água novamente. Meus joelhos ficaram bambos enquanto as vozes explodiam em minha cabeça fazendo com que lágrimas caíssem de meus olhos.

— Não vou… - disse Aqueronte ao tentar se montar novamente - Não vou cair tão fácil. Eu quero… eu quero o futuro prometido por Naunet.

— Conte-me mais sobre ele - disse senhora Ártemis mirando seu arco para Aqueronte - Pois vou, com prazer, acabar com os planos dessa rata do deserto.

Ela e Kowalski apontaram seus arcos para Aqueronte e atiraram. O ser, que não sei especificar se é um deus, titã ou algo do tipo, se levantava com dificuldade provavelmente ainda meio atordoado por causa do choque que lhe dei. Não perdi tempo e logo fui segurando meu arco também enquanto preparava um outro choque. Contudo, Aqueronte rugiu ao avançar como um jato d’água para Ártemis e Kowalski pouco depois de reclamar de dor pelas flechas que atingiram seu rosto disforme. Troquei rapidamente de arco para minha lança e pulei em sua direção. Finquei minha lança em seu ombro ao mesmo tempo em que ele dava uma patada em Kowalski que, ao contrário de senhora Ártemis, não conseguiu desviar do ataque. O timing fez com que eu soltasse outro choque antes de notar que Kowalski tinha caído no rio. Kowalski gritou ao receber o meu choque e eu parei na hora ao notar o erro.

— Você está bem?! - gritei para ela.

— Eu tô bem… eu tô bem… - disse ela depois que parei.

A distração por esse breve segundo fez com que Aqueronte agarrasse o meu corpo e me puxasse com força para diante de si. Tentei me segurar em minha lança, mas ela acabou se soltando de seu corpo.

— Cria de Zeus. Faz tempo que não vejo uma - disse ele encarando-me.

— S-Surpreendente visto que ele nem consegue manter as calças quietas - respondi cuspindo no rosto dele.

Não foi fácil responder ele. Minhas mãos tremiam, meu coração doía, meus olhos ardiam com as lágrimas que escorriam. Minha culpa. Eu não conseguia parar de pensar. Machuquei Kowalski, minha culpa. Se eu estivesse ao lado de Jason, ele poderia ainda viver. Poderia crescer, casar, ter filhos, ter uma vida. Uma vida que nunca teria. Zöe… Zöe me alertou de que Luke iria me decepcionar. Zöe, outra morte que não pude impedir. As lágrimas escorriam pelo meu rosto quando, com dificuldade, olhei para o seu que, com o passar das horas, lentamente começavam a exibir a constelação de Zöe. Fraca, eu era fraca. Nunca seria uma tenente aos pés de Zöe, não com aquele rio desgraçado enchendo a minha cabeça de culpa e memórias ruins.

— SAIA DE MINHA CABEÇA SEU DESGRAÇADO! - gritei ficando a adaga bem em um de seus olhos.

Ele gritou de dor me derrubando no chão e nesse momento também notei que não só senhora Ártemis atirava nele flechas tão rápidas que mal podia ver, como também controlava a mata para restringir o tanto de água que chegava até o corpo de Aqueronte devido ao fluxo do rio.

— THALIA! - gritou Kowalski - FAÇA!

Levei um segundo para ver se ela estava em segurança sabendo bem do que ela se referia. Vi que Kowalski tinha sido tirada da água pela senhora Ártemis. Aqueronte tentou usar esse segundo de distração para me nocautear, ferir ou pior, mas, seu punho enorme não terminou o trajeto até meu rosto, pois Ártemis se aproximou, veloz como um relâmpago. Com extrema habilidade e movimentos fluidos que mais pareciam uma dança, a deusa da caça cortou o braço aquoso de Aqueronte usando uma de suas armas. Ele gritou de dor no segundo que senhora Ártemis aproveitou para olhar para mim e afirmar com a cabeça.

Entendendo o recado, meu braço se ergueu ao seus com mais peso do que o normal. Apontei para os céus com a minha lança tentando invocar o máximo de poder que conseguia. O barulho do trovão  encheu os céus quando o guiei para Aqueronte e ele gritou enquanto o mundo ao nosso redor se iluminava com a força do trovão.

Fraca devido ao golpe que acabara de usar, meus joelhos ficaram trêmulos e teria caído se não fosse Kowalski me segurando no último segundo. Pouco ligando para a eletricidade, nossa líder se aproximou de onde o corpo de Aqueronte até antes estava. Seu arco estava pronto para atirar ao menor sinal de qualquer coisa estranha, mas, depois de alguns segundos que não aconteceu nada, ela relaxou o corpo e olhou para nós.

— Vocês estão bem? - a deusa perguntou.

— Sim. Aliviada principalmente de ter me livrado daquelas vozes na minha cabeça. - disse Kowalski.

— Você também eim? - eu disse suspirando cansada já imaginando, com preguiça, toda a subida até o acampamento.

— Isso foi mais fácil do que imaginei que seria - disse Kowalski.

— Ah, isso dificilmente derrotou Aqueronte. - disse senhora Ártemis - Talvez ele tente voltar dentro de algum tempo por outra parte do rio. Teremos que rastrea-lo novamente. Contudo, me preocupa o que ele disse.

— Sim - concordei - Quem é Naunet?

Notei a hesitação nela ao responder. Mas, com um suspiro, ela pareceu desistir de evitar a pergunta.

— Uma deusa. Egípcia ainda por cima - disse a senhora Ártemis bufando de raiva.

— Egípcia?! - repetiu Kowalski levemente surpresa.

— Sim. Não gosto disso. Gregos e egípcios não se dão bem desde dos tempos de Alexandre. Muitas mágoas ficaram. - explicou Ártemis - Me pergunto agora quem raios é esse contato de Hades.

— Acha que Hades está envolvido nisso? - perguntei.

— Por incrível que pareça, não. Acho que ele compartilha da preocupação. - respondeu ela.

— O que ela pode ter prometido para Aqueronte? - perguntou Kowalski.

— Acho que os bisbilhoteiros poderiam bem responder! - esbravejou Ártemis.

Num movimento rápido, tão rápido que foi difícil seguir com o olhar, ela atirou com seu arco e flecha para o meio das árvores e arbustos do outro lado do rio. Embora fraca, eu também me preparei para qualquer eventual conflito, assim como Kowalski também se preparou. De dentro dos arbustos então surgiram duas pessoas com braços levantados em sinal de rendição. Uma das pessoas era uma mulher magra, pequena, enrugada e cabisbaixa. O outro era um homem de pele branca, cabelos loiros, barba volumosa, várias cicatrizes no rosto e no braço, olhos amarelados e perigosos.

— Quem são vocês? - perguntei.

— Sigyn - disse Ártemis - Estou certa? A esposa de Loki.

— E Váli - disse o homem enquanto a mulher, Sigyn, ficava quieta - Váli, filho de Loki. Não o Váli, filho de Odin. Favor não confundir. É um erro muito irritante ser confundindo com meu xará.

— O que querem? - perguntou Ártemis enquanto eu e Kowalski nos entreolhamos tentando lidar com aquela nova informação.

— Estávamos atrás de alguém que estivesse do lado oposto ao de Naunet - disse Váli.

— Posso saber para o que exatamente? - perguntou Ártemis.

— Naunet veio uns dias atrás em busca de nossa cooperação. Ficaria surpresa em saber o tanto de gente de índole duvidosa o título de “Filho de Loki” é capaz de atrair - disse Váli.

— Se juntou com ela então? - perguntei.

— Não. Muito pelo contrário. - disse Váli - Estamos cansados de pagar pelos erros de meu pai. Como esse plano era muito a cara dele e Naunet ainda tentou descobrir onde estava meu pai para que pudesse botar ele entre os seus iguais nesse plano nefasto, decidimos humildemente recusar a oferta.

— E porque vir até nós especificamente? - perguntou Kowalski.

— Porque Odin, em seu orgulho, nunca vai acreditar em nós - disse Váli.

— Que notícia tão difícil de acreditar traz consigo? - perguntou Ártemis.

— Naunet uniu um grupo poderoso, dentre os quais não sei todos os nomes de peso além do dela, de Asag, de Quetzalcoatl e de Nyx. - disse Váli.

— Mistura muitos povos aí. - disse Ártemis - O que ela quer?

— Sei disso. - disse Váli - Diz ela, que moldar um novo futuro. Onde os agora ignorados ou que nunca tiveram importância possam ser os verdadeiros líderes. Um pouco como inverter a ordem dos deuses, um pouco como voltar a como era antes. Dar o poder a quem eles julgam merecedores.

    O silêncio reinou por nós por alguns segundos enquanto tentávamos digerir o peso daquelas palavras. Eu olhei para Kowalski que, assim como eu, tentava analisar os significados óbvios e os ocultos nas frases.

— Posso explicar para vocês depois algumas coisas… - disse Ártemis notando nossa curiosidade. Ela soltou um suspiro e olhou para os dois - Me dê um bom motivo para confiar em vocês.

— Porque sabemos um dos próximos passos deles e sua filha de Zeus aí seria de boa ajuda - disse Váli colocando a mão no bolso.

Eu não queria saber para o que eu seria útil. Não quando ele enfiou a mão no bolso e ficamos prontas para atacar a qualquer sinal de alguma arma, mas de dentro dele ele tirou dois pedaços de papel. Ele exibiu o pedaço de papel para nós e eu tive mais certeza ainda que eu não queria ter nada a ver com aquilo quando identifiquei que o papel era um bilhete de avião.


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Notas finais do capítulo

o que acharam do capítulo de hoje? acho que deu pra entender mais do que estava acontecendo e do que a Naunet e mais esse bando de outro deus tá planejando. Vamos passear mais a fundo nisso depois. No entanto, por hoje é isso. não gosto de fazer capítulos com mais de 3 mil palavras. então paro por aqui por enquanto.