Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 2
ANÚBIS - Contaminação por Vizinhos


Notas iniciais do capítulo

mais um capitulo!!



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ANÚBIS

A fraqueza realmente era grande e de fato horrível. Enquanto sentia que Walt estava com muita dor por si só, pra mim era como se minha cabeça estivesse se partindo em dois. Escutava vozes estranhas, arrastadas e graves sussurrando e incentivando-me a fazer coisas que era fácil julgar como sendo erradas ou pelo menos questionáveis. Estava tomando cada vez mais de mim resistir ao demônio ou entender o que se passava ao nosso redor.

A sensação fazia com que eu me lembrasse de um dos momentos mais complicados de minha vida. Quando a cultura, religião e idioma do Antigo Egito tinham quase se perdido por completo. Aproximadamente no ano de 500, praticamente ninguém sabia ler os hieróglifos. Com a memória sobre os deuses e a própria história do Egito se perdendo, muitos deuses mais fracos ou menos famosos passaram à lentamente desaparecer. Quase fui um deles. Já estava bem fraco e mal conseguindo me manter visível até para mim mesmo quando um soldado de Napoleão encontrou a Pedra Rosetta e Jean-François Champollion passou a, finalmente, traduzir os textos egípcios. Foi desse momento que eu me lembrava. Era a mesma sensação de desespero e vazio, no entanto, agora era bem mais doloroso. No mínimo três vezes mais doloroso.

Percebia também que Walt estava tentando também aguentar a dor e talvez perguntar o que acontecia. Mas além de não conseguir, parecia compreender menos ainda o que acontecia.

— Quem é você?! – ouvi Sadie perguntar já preparando sua varinha para atacar o homem que se aproximava.

— Espere... Sadie...  – disse fracamente tentando impedir que eles descartassem quem provavelmente seria nossa última chance – Esse é Ninazu.

— Nina-quem? – ouvi Carter perguntar. Lembro-me de ter aberto a boca para responder, mas as vozes ficaram mais fortes. Não duvidaria se minha cabeça explodisse logo. Maldito Shenu.

— Ora! Não temos tempo para isso! Tenho que começar o ritual para tirar o Shenu dele! – disse Ninazu correndo de um lado para outro juntando as coisas que precisava uma vez que notava agora o que era que acontecia dentro de mim.

— Quem raios é você? Não vou deixar tocar neles se não souber que posso confiar em você! – Sadie brigou. O que fez me sorrir levemente e segurar sua mão.

— U-Um... Velho amigo... – consegui dizer.

— Ora! Poupe o esforço Inpu! – disse Ninazu se ajoelhando uma vez que, me envergonho em dizer, eu e Walt já estávamos jogados no chão sem forças para mais nada.

Era estranho ouvir aquele nome. Faziam muitos séculos que a maioria dos que eu conhecia já haviam parado de me chamar pelo nome egípcio “Inpu” e começaram a optar pelo nome grego “Anúbis”. Que acabou por se tornar o mais famoso aparentemente.  Notei que Ninazu já estava começando com os preparativos, mas neguei com a cabeça.

— Espere... S-segure um pouco... – pedi – explique tudo e faça a dor passar por uns instantes. Sei pouco d-do Shenu... E o pouco que sei me dei... xa... P-preocupado por coisas que você não sabe.

Ninazu bufou e revirou os olhos. Senti que mentalmente ele deveria ter resmungado algo do tipo “Teimoso como sempre”. Mas mesmo assim, ele fez o que pedi. Resmungou algumas palavras em sumério enquanto segurava um talismã e senti a dor passar um pouco.

O que... foi isso?” a voz de Walt ecoou em minha mente.

Eu... Apenas sei parte. Ninazu explicará o resto” lhe respondi apreensivo.

Por que parece que está escondendo algo?” perguntou Walt.

Eu... Ainda não tenho certeza do que sei então prefiro não revelar para não causar dores e estresses desnecessários. Ninazu irá tirar minhas dúvidas e espero que eu esteja errado”.

Sendo assim, sentei-me um pouco no chão. O corpo mortal de Walt doía em toda parte e minha cabeça latejava. As coisas errôneas que as vozes sussurravam (reconheci, agora mais calmo, que sussurravam em sumério) pareciam cada vez mais como ideias tentadoras. Isso me preocupou.

— Sadie, Carter... – disse tentando não transparecer que estava com vontade de vomitar enquanto torcia para que isso terminasse logo, e de preferência num final feliz – Esse é Ninazu... Ele é o deus sumério do submundo e da saúde...

— Sumério? – perguntou Carter surpreso.

— Que coisas contraditórias para se ser deus. – disse Sadie.

— Como assim deuses Sumérios existem também?! – reclamou Carter.

— Já conhecemos Egípcios e Gregos, e daí? Isso não é discussão para agora Carter! Expliquem-nos o que raios aconteceu ou está acontecendo!

— Esse corpo que Inpu está habitando... – começou Ninazu que logo foi cortado por Walt.

— W-Walt... me chamo Walt...

— Tanto faz. Walt. O corpo de Walt foi possuído por um demônio muito poderoso, sumério também, chamado Shenu. Se fosse fazer uma comparação, diria que um Shenu é quase do nível de um Cavaleiro do Apocalipse. – explicou Ninazu – Os sinais são bem característicos e senti a aura do monstro assim que vocês chegaram. Temos que tirar o demônio ou Walt morrerá e Inpu ficará contaminado.

— Como assim contaminado? – perguntou Sadie.

— Sendo imortal, um demônio desses não o mataria. Mas eles estão o corrompendo. Suponho que deva estar com muita dor de cabeça não? Ouvindo vozes que parecem cada vez mais tentadoras. - disse Ninazu.

Notei que a última frase não foi uma pergunta e acabei desviando o olhar envergonhado.

— M-Mas... Ele é um deus né? Não consegue tirar sozinho esse bicho? – perguntou Sadie apreensiva segurando minha mão fortemente.

— Para derrotar um Shenu, é preciso canalizar magia feita de energia extremamente pura. Consigo fazer rituais que a usam por ser também o deus da saúde. Mas Inpu... – disse Ninazu suspirando ao mesmo tempo em que Walt tossia quase botando o intestino para fora - Ele pode até ser alguém bom... só meio mal humorado na maioria dos séculos... Mas... Não tem como fugir. Personalidade não altera tanto assim a natureza da magia. Inpu ainda é filho do deus egípcio do caos e sua magia gira em torno da necromancia.

— Mas Ninazu... D-deixe-me perguntar... – comecei querendo sanar logo minha dúvida – O S-Shenu está apossado do corpo de Walt – disse enquanto pressionava as mãos na cabeça segurando a vontade de esmaga-la – de certa forma também estou. Então...

— Então os dois estão brigando pelo corpo e, quando o Shenu ganhar, o corpo morrerá. – disse Ninazu – tenho que tirar os dois então. Tanto você quanto o Shenu.

— Não! – disse Sadie com os olhos arregalados se enchendo de lágrimas e percebi pelo frio que tomou o coração de Walt que ele também sentiu o problema da ideia de Ninazu. Frio esse que se espalhou também pelo meu, pois sabíamos que se eu deixasse o corpo de Walt, ele imediatamente morreria pela maldição que assombra sua família desde dos tempos de Tutancâmon.

— D-Deve ter outra forma – sugeriu Carter.

Visto que Ninazu parecia meio perdido em porque tamanha preocupação em tirar tanto eu quanto o Shenu de dentro de Walt, uma explicação sobre a maldição foi brevemente dada por Carter e Sadie. Ou melhor, acho que foi o que eles fizeram, pois a dor começou a crescer novamente mostrando que o feitiço de Ninazu, que eu sabia que não duraria muito, estava acabando. Minha atenção se desviou novamente e quando dei por mim, estava no chão novamente.

Queria ter um jeito que Walt sobrevivesse. Não sou egoísta ao nível de querer que ele morresse para que eu ficasse só com a Sadie. Principalmente com algo que pode fazê-la chorar. A expressão de medo, tristeza e pavor em seu rosto já fazia meu coração apertar. 

— Não pode! Não pode! Não quero perder mais ninguém! – disse Sadie se jogando em cima de nós e abraçando enquanto o seu rosto se enchia de lágrimas. Partia-me o coração ver ela daquele jeito. Naquele momento jurei pelas águas do Nilo que aconteça o que acontecer eu iria me vingar de seja lá quem enviou aquele Shenu pelo simples fato (apesar de pra mim não ter nada de simples) de ter feito Sadie chorar.

Anúbis...” a voz de Walt me pegou de surpresa. Ele havia se mantido quieto até então (e não sem motivo) “Não... não tem outro jeito né?”.

Não que eu saiba. Não sou exatamente profissional em mitologia suméria. Se Ninazu não sabe, dificilmente deve existir” o respondi.

Julgando pela dor também... mesmo se não fizer o ritual acho que não faltaria muito para... você sabe...” disse Walt.

Com a mão tremendo, Walt acariciou levemente a bochecha de Sadie e tentou forçar um sorriso em meio à dor que sentia. Algo que me surpreendeu, pois eu também estava sentido a dor e devo dizer que fazer qualquer coisa que não fosse gritar era um desafio considerável.

— Hey – disse Walt – não chore. De certa forma já era para eu ter morrido uns anos atrás.

— M-Mas... Eu não quero... Logo agora... Q-que... Tudo parecia... Estar dando certo... – disse Sadie soluçante enquanto as lágrimas escorriam pelas suas bochechas macias.

A partir desse ponto tudo ficou meio confuso em minha memória. Lembro-me de ter gritado de dor quanto o feitiço de Ninazu finalmente se rompeu. Lembro-me de um abraço forte e um beijo na testa. Lembro-me das vozes que no começo sussurravam, mas logo já estavam gritando em minha cabeça ferindo meus ouvidos embora isso fosse impossível, pois elas existiam apenas em minha mente.

Quando dei por mim de novo, percebi que estava deitado no chão e minha boca tinha gosto de terra. Não tinha forças para me mexer ainda. Ao olhar para frente e ver patas negras no lugar de mãos pálidas. Cheguei então à conclusão que não só estava na forma de chacal, como estava também fora do corpo de Walt. Não sei quanto tempo olhei para o vazio tentando achar alguma força para levantar-me. Se levantar já estava difícil, ter força o suficiente para ir para uma forma humana estaria mais ainda. Assim, quando consegui me levantar, virei o rosto e a primeira coisa que vi foi Sadie chorando abraçando o corpo de Walt enquanto Carter estava dividido entre consolar a irmã e chorar de dor também.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado! por favor, comentem! além disso, que personagens do mundo do Rick Riordan vcs gostariam de ver? E quais outras mitologias além das exploradas por ele?