Não era para ser você! escrita por MT


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

´´Quando foi que eu quebrei mesmo?
Será que foi quando ela me disse não sem dizer nada
Ou quando percebi que meu amor era apenas uma ilusão passageira?
Queria saber... se a dor da rejeição é pior que a de perceber que mentiu para si mesmo.
Se me perguntassem, diria que descobrir que não a amava doeu mais.``
Nosso esse pequeno texto é muito legal! Quem será que fez(eu!)?! MTimberleick não é o Sakuragi(personagem de slam dunk que se acha um gênio) mas é um gênio(hahaha, só nos sonhos dele)!



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Liguei o notebook, 2h30min. Precisava falar com ela antes que…

— Ei, Justine, você acha que eu sou capaz? - digitei me comunicando através do Facebook.

— Ahn, do que você tá falando? Tem noção de que horas são agora?! - Justine respondeu poucos minutos depois.

— Acha que eles estão certos…? Talvez eu devesse realmente parar. - comentei esperando o pior. Demorou alguns segundos para ter uma resposta.

—…O seu sonho, é disso que estamos falando aqui né?

— Sim. - respondi. - Não sei até onde consigo ir, sem você, parece… impossível.

— Desista.

Lágrimas correram lentamente como se desenhando um rio por minhas bochechas. A temperatura baixou cerca de dez graus, senti o estômago implorando para por para fora os dois sanduíches de frango e quase de fato o fiz. Pus as mãos de volta no teclado.

— Não posso. - os dedos digitando tão tensos que pareciam feitos de chumbo.

— Entendo, desejo-lhe sorte, mas não poderei mais te dar apoio. É com você. Vencendo ou perdendo, está somente nas suas mãos. - após ler a mensagem abandonei o visor.

Que cruel da parte dela… hahaha, era assustador e divertido. Medo e desafio. Vomito e fome. Lado a lado como bons amigos. Queria gritar com ela, dizer que não podia me deixar, mas, no fundo, sabia que não podia exigir nada. No fim só restou escolher se aquele seria o final.

Joguei as costas contra o colchão macio e de olhos fechados permite que minha mente esquecesse.

O som do alarme tocou horas depois trazendo de volta toda a droga da realidade junto a seu agudo ruido. Os primeiros raios de sol já tocavam no piso do quarto. Ainda tinha o pc ligado sobre o criado-mudo. Havia cometido o que aquele senhor chamaria de ´´erro idiota``, essa frase as vezes faz parecer que ele tem senso de humor.

Fui ao banheiro lavar o corpo e esperar que como bônus minha alma também fosse limpa. De frente para o espelho, me pergunto se ainda penso em Justine do mesmo jeito… Sempre achei que amava ela… mas, pensado melhor, talvez eu não gostasse tanto assim. Talvez apenas precisasse do apoio dela. Talvez apenas apreciasse a forma como ela parecia confiar em mim. É assustador, no entanto, é bem provável que eu não passe da droga de um egoísta.

Engasgar com a pasta de dente pareceu tentador naquele instante.

Sai do banheiro e pus a farda branca e azul representantes do colégio no qual estudava. Queria ficar. Organizei os livros na pasta de acordo com as aulas que haveriam hoje. Não tenho o menor animo para isso. Penteei precariamente os curtos cabelos negros que carregava na cabeça. Hoje simplesmente não dá. De frente ao espelho algo redondo e laranja no canto deste fitava-me intensamente mesmo sem olhos e chamava-me mesmo sem boca. Começava a delirar, não é um bom momento. Malditos remédios para insônia!

Quero vencer a vida… mas ela é muito boa em me esmagar, não parece que vou conseguir.

Com a mochila nas costas e a esfera sobre o braço esquerdo fui a sala de jantar/cozinha. Mais uma provação. Preciso encarar aquele senhor todos os dias e ainda assim a situação nunca deixa de lado sua tensão tradicional.

O piso de mármore produzia sons ocos provenientes das passadas que realizava sobre ele. As janelas deixavam uma brisa ligeiramente fria preencher o local. Nem a decadente pintura rasgada ao meio tinha nada de especial. Uma sala central com 3 sofás marrons e uma televisão, 3 quartos, 2 banheiros e uma cozinha. Aquela residência sempre foi bem simples e agradável, pelo menos, até meu pai se tornar ´´aquele senhor`` e a simplicidade virar um inferno. Nada como um homem agressivo para transformar a vida de um jovem e sua mãe numa versão remasterizada do purgatório, não é? ´´Não importa, já faz uns bons 4 anos, um garoto de 16 anos não deve temer velhos ranzinzas!`` Repetia essa cantiga sempre na esperança de deixar de ter medo dele, mas, nunca adiantou lá muita coisa.

Ele sempre dava a entender que seria melhor não ter despesas extras, que seria melhor não precisar sustentar ninguém e que ter tido um filho foi de uma tremenda insensatez. Acho que sou uma criança chorona as vezes.

A crise tem deixado o humor do meu pai cada dia mais hostil. Malditos corruptos e suas delações premiadas, suas maletas de dinheiro e seus cachorrinhos na câmara dos deputados. Deviam ser tirados a força. Só que a força não tinha braços que a dessem vida, ninguém faz nada e assim eles, ladrões e salafrários, acabam vencendo. O que estou fazendo? No fundo sei que o gênio daquele senhor seria o mesmo não importando a situação do país. Culpar os políticos por isso não é o certo.

Deixo a bola e a mochila no chão e sigo para onde teria o café da manhã.

Sentado a mesa pude sentir o cheiro de café que se espalhava pela sala de jantar, na xícara, por coincidência ou não, era possível distinguir um número com duas casas decimais ´´23``. Uma piada do destino. Basquete, 23, rei… hahaha.

Havia apenas outras duas pessoas sentadas comigo, um homem de feições tensas e rudes com alguns fios brancos despontado em meio ao negro dos cabelos e uma mulher de olhar preocupado e triste trajando um singelo vestido amarelo tão desgastado quanto a pobre bancada de madeira na qual comíamos. Meu pai e minha mãe juntos combinavam de uma forma sombria, como se um artista tivesse pintado sua obra dividindo-a entre ação e consequência.

A situação não era das melhores, quase sempre não era, mas dessa vez meu pai fora demitido do emprego o que aumentava os níveis de instabilidade da sua calma em mais de 8mil. Minha mãe sequer ousava olhar muito além do prato de comida. Dizer ´´Ei, tô triste pra caralho com umas paradas ai, posso dar um tempo da escola?`` seria um tiro na própria perna. Por temer pela minha integridade física decidi ficar calado.

—Não quero você nas ruas a noite, chega desse clube de… nem sei o nome dessa merda, mas está proibido de participar. - Disse sem nem levantar a visão, a voz, apesar disso, manteve a rigidez característica do amargurado senhor.

Observei-o levar o garfo a boca. Aquilo que ele dissera não acho ter compreendido muito bem, como se tivesse saído errado, algo que soasse tão fora da realidade que fosse difícil de discernir. As palavras flutuavam distantes e vagas. Gerava certo incomodo pensar nelas.

Garfada após garfada no delicioso prato de cuscuz e carne do sol foram ineficazes contra a onda de mal estar que pairava sobre aquele lugar, aquela mesa… ao redor de tudo que passava por entre meus olhos. Ou talvez só fosse em mim aquela estranha inquietação tornando-se mais e mais dolorosa.

— O café estava ótimo...- consegui balbuciar.

Levantei e pus a mochila nos ombros. Minhas pernas moviam-se vagarosamente, o que há de errado? Sentia vontade de cair. Atravessei a porta da casa rumo a escola com uma estranha aflição no peito. Ao menos poderei jogar… não poderei, foi isso que ele havia dito. Tremi um pouco e encostei na parede verde-claro da minha casa. ´´Você precisa se alimentar melhor`` as palavras daquele velho zelador soaram no meio da náusea, ´´Continue sem almoçar e logo ficará com as pernas bambas`` novamente só que mais baixo. Respirei fundo e voltei a caminhar.

— O que?! Ela fez ´´aquilo`` com você?! No banheiro!? - exclamava um garoto parado no corredor junto aos amigos. Pablo era um idiota mesmo.

Me aproximei do grupo e dei um tapa na parte de trás da nuca dele.

— Idiota, isso não é o tipo de coisa que se deve dizer em voz alta. - falei com um leve sorriso enquanto Pablo buscava uma brecha para revidar a agressão.

— E aí, Sam. - cumprimentou um dos que estavam encostados a parede, seus olhos verdes intrusos como sempre, Arthur não perdia uma chance de anunciar sua presença.

Arthur, Pablo e Mateus estavam quase sempre lado a lado, a ideia de um deles ter se separado tempo o bastante para fazer ´´aquilo`` me soou um tanto cômica.

— Então quem foi o grande comedor? Mateus? - perguntei deixando transparecer uma falsa curiosidade, não conseguia pensar em nada claramente e por isso achei que está distração pudesse ajudar.

— Exatamente! Meus intensos ensinamentos finalmente alcançaram este gay! Presencie, Sam, a primeira pessoa a ser curada do homossexualismo! - Pablo disse gesticulando teatralmente. Embora eu quisesse interrompê-lo para explicar que homossexualismo não era uma doença, fiquei calado e apreciei a encenação.

— Cala boca se não a gostosa da sua irmã será a próxima! - respondeu Mateus em tom de provocação. Nisso ambos iniciaram uma discussão sem qualquer noção aparente de estarem numa instituição privada.

— Então a Justine… - começou Arthur – Foi mesmo para Portugal?

Ele sabia disso melhor do que ninguém, todos sabiam da bolsa de estudos de Justine, a forma como fez a pergunta só deixou no ar a certeza de que ainda não aceitará a partida dela. Afinal Arthur sempre estava de olho nela durante as aulas de português, matemática, biologia e todas que consigo lembrar. No entanto, nunca a abordou sozinho ou demonstrou a garota intenções românticas por causa da maneira como eu e ela eramos grudados. Queria ter sido um amigo melhor e ter notado que não gostava dela da forma que Arthur aparentava gostar.

O dia passou numa velocidade impressionante, a lua já despontava no céu quando acabaram as aulas e meu estômago reclamava quase audivelmente. A estrutura do colégio agora estava iluminada com lâmpadas de cor branca dando a pele do senhor Ricardo, diretor da escola, um aspecto ainda mais fantasmagórico. Havia sido chamado por ele para ir até a secretária, sua expressão denotava certa incredulidade e não pude deixar de temer que aquele dia fosse piorar um pouco mais no final.

— Recebemos recentemente uma proposta de intercambio – começou – por uma escola em Tóquio no Japão, algo realmente surpreendente, uma oportunidade rara que jamais deveria ser desperdiçada.

A forma como proferiu suas últimas palavras, havia decepção no seu tom de voz, claro e sincero desgosto quanto ao que estava obrigado a fazer.

— E…? - instiguei-o a continuar.

— A proposta foi endereçada especificamente a um aluno. Sem grandes conquistas acadêmicas ou desportivas. É bastante… peculiar. Ainda não consigo entender.

Aquilo deixou um gosto amargo na minha garganta. Fitei o balcão que me separava do diretor permitindo ao preto do móvel preencher-me o campo visual. Queria mergulhar naquela escuridão, quem sabe não é lá que está escondida a verdadeira felicidade?

— Então só resta aceitar, não é? - fingi um sorriso de divertimento.

— Peça a seus pais que assinem esta carta de autorização e que enviem uma cópia dos documentos listados. Tudo bem? - o modo arrogante com o qual falava deixava a mensagem cada vez mais clara. ´´Não era pra ser você``.


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro que encontre pode e deverá ser reclamado! Qualquer parte(ou todo) que achar incrivelmente foda pode e deve ser elogiado! Desde já agradeço por ter visitado minha humilde(e fodastica) história.
Para mais informações ler notas da história.



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