The New Avenger escrita por Dark Sweet


Capítulo 22
Mais uma culpa para a conta


Notas iniciais do capítulo

Hey! Voltei, bebês! E com um capítulo um pouco atrasado. Porém, eu vim, não vim? Apenas não me matem.
Boa leitura, chuchus.



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 —Vamos logo, Mel. Senão vamos atrasar. – William falou balançando meu braço de um lado para o outro.

—Pirralho, eu estou tentando terminar meu café. Você sabe que o café é sagrado, então quer parar de encher meu saco? – resmunguei puxando meu braço.

—Você prometeu! – ele protestou, cruzando os braços e fazendo bico.

—Eu não estou dizendo que não vou te deixar na escola, sua anta, apenas que quero terminar meu café em paz. – respondi o encarando. – Aliás, por que toda essa insistência para mim te deixar na escola? O Michael está ali no sofá muito bem desocupado. –

—Eu disse que levaria ele, mas Will quer você. – Michael respondeu da sala.

Por quê?— repeti, encarando o Pirralho.

—Porque agora que todo mundo sabe que você é uma Vingadora eu quero mostrar você para meus colegas. Dizer que minha irmã é uma Vingadora e a deles não. – o garoto sorriu.

—É por isso? – indaguei arqueando a sobrancelha. Eu estava me segurando para não rir.

—Eu achei que você quisesse passar mais tempo com sua irmã, William. – meu pai falou, levantando do sofá e vindo até a cozinha. – E não jogar na cara dos seus colegas que sua irmã é uma Vingadora e as deles não. Que coisa feia. – ih, sinto cheiro de sermão.

—Por que é feio? A Melinda ser uma Vingadora é feio, pai? – sorri, trazendo minha xícara até meus lábios.

—Não é isso, Will. Acontece que não é porque temos algo que devemos sair por aí mostrando a todos com a intenção de dizer que você tem e ele não. Isso não é uma atitude nada digna. –

—Se eu fizer isso significa que eu não vou poder levantar o martelo do Thor? –sorri com a pequena referência. O Pirralho está no caminho certo. – Melinda, eu não quero que você me leve para à escola. O papai me leva. Eu quero poder levantar o martelo do Thor. – soltei uma risada.

—Tudo bem, Pirralho. Vem cá. – quando ele chegou mais perto de mim, aproximei meus lábios da sua orelha e sussurrei: – Isso não significa que você não pode dizer que agora sua irmã é uma Vingadora. Não há mal algum falar isso. – beijei sua bochecha e me afastei dele. – Agora você pode ir. – disse voltando a beber meu café.

—Tchau, Melinda! Vamos, papai. – Will falou animado, saindo da cozinha.

—Espero que você tenha desejado boa aula a ele. – exibi um sorriso para Michael, que semicerrou os olhos. – Melinda, o que você... –

—Vamos, pai! A gente vai se atrasar! – Will gritou. Acenei para Michael e apenas recebi um gesto dele dizendo que está de olho em mim antes de sair.

—Eu amo essa família. – murmurei.

Passos descendo a escada preencheu a casa e logo Adam entrou na cozinha. Escondi um olhar confuso, já que ele sempre fazia questão de sair mais cedo para não olhar na minha cara, e terminei meu café.

Levantei, deixando a xícara na pia, e peguei minha mochila, preparando-me para ir à escola.

—Então quer dizer que agora você é uma Vingadora? – sua voz saiu firme, mas, ainda sim, senti um pouco de hesitação.

—Oficialmente. – respondi, virando-me na direção dele. – Assistiu minha coletiva, bebê? – sorri.

—Não. – arqueei a sobrancelha. – O Will fez questão de gritar no meu ouvido que agora nós tínhamos uma Vingadora na família. – meu sorriso aumentou, transformando-se em uma risada.

—Acho que ele foi o que mais ficou feliz com essa notícia. Tyler fica logo atrás. – Adam ficou calado, me encarando minuciosamente. Ele estava se segurando para não dizer algo que, com toda certeza, mostraria que ele queria voltar a falar normalmente comigo. Aposto. – Enfim, eu vou indo. Tenho que passar na casa do Tyler. – falei dando as costas e indo até a porta.

—Melinda? – escondi um sorriso que insistia em aparecer e virei-me, sendo surpreendida por um abraço.

Caralho, caralho, caralho.

Isso está acontecendo? Mano do céu!

Meus braços circundaram a cintura de Adam, retribuindo o abraço. Descansei minha cabeça em seu ombro e ali fiquei alguns segundos, aproveitando o momento.

—Parabéns. Por ter se tornado uma Vingadora. Você merece. – sua voz saiu baixa, quase em um sussurro. Deixei o sorriso que eu tentava esconder, tomar seu lugar de direito.

—Obrigada, maninho. – sussurrei de volta. Adam se afastou de mim bruscamente. Valha.

—Isso não significa que eu vou voltar a falar com você normalmente. O que você fez ainda está bastante vivo na minha cabeça. – ele falou, sério. Revirei os olhos.

—Mas você é uma jamanta mesmo, hein? Nunca vi mais burro! – resmunguei dando as costas e saindo de casa. – Inferno! – gritei, fechando a porta de casa com força. Força até de mais.

***

—Ele te abraçou, te deu parabéns por agora ser uma Vingadora e depois disse que ainda vai ficar sem falar com você? – Charlie questionou.

—O Adam é mesmo um cabeça dura. Meu Deus. – Chris murmurou mexendo em seu prato.

Estávamos no horário do almoço, o único horário que eu estou conseguindo falar com eles sem aparecer trabalhos para fazer ou adolescentes insuportáveis me pedindo para tirar uma foto.

—Ele só precisa de um tempo. Se ele fez isso, é porque sente sua falta. – Tyler falou bebendo seu suco.

—O que ele precisa mesmo é que eu o tranque de novo no sótão. – resmunguei encarando Adam em uma mesa mais afastada com uns jogadores de futebol. O que me estressava mais era que essa birra dele comigo, estava o afastando dos outros que não tinham nada a ver com minha mentira. – Eu dou só mais uma semana. Se ele não voltar a falar comigo, eu tranco ele no sótão e sem direito a comida. Resolvido. – voltei a encarar meu prato. Os meninos riram. – E aí, Chris? Já falou com a anta que também se chama Adam?  –

—Não. Estou planejando contar hoje, depois do almoço. –

—Daqui a pouco? – Charlie e eu questionamos juntos. Ela assentiu. – Nossa. Não achei que você seria tão rápida. Que bom então. – sorri bebendo meu suco.

—Falar o que? – Tyler indagou, curioso.

—Depois eu te conto. Quando estivermos sozinhos. Aqui tem muita gente fofoqueira. – respondi observando algumas pessoas me encarando. Se continuarem assim, as comidas delas vão esfriar.

—Tudo bem. – Tyler deu de ombros, voltando a comer. – Vocês acreditam que a sra. Rushman me deu um... –

Tyler foi interrompido por um baque na mesa que fez as coisas sobre ela balançarem e o meu copo com suco cair sobre mim.

—Ah, qual é! Essa era uma das minhas camisas favoritas. – resmunguei levantando do banco e tentando limpar a sujeira com guardanapo. Sem sucesso, óbvio.

—Você matou ele. – uma voz vociferou atraindo minha atenção para o dono da mesma.

—Matei quem, Zach? O coelhinho da Páscoa? Você estragou minha camisa. E meu suco! – falei, apontando para minha regata agora manchada de com suco de uva. – Isso não vai sair, você sabe, não é? –

—Você matou ele. – revirei os olhos.

—Certo. Eu matei ele. Mas quem é ele? – cruzei os braços.

—O meu irmão. Você matou ele, Melinda. – sua voz saiu firme.

—Olha, eu não estou entendendo patavinas. Como eu matei seu irmão? Eu nem sabia que você tinha um irmão! – respondi gesticulando.

—Daniel Tremblay. – respondeu firme.

—Ainda não sei quem é. Desculpe. – o encarei.

—Oh, céus. Melinda... – Charlie tentou falar alguma coisa, mas Zach o interrompeu antes:

—Me admiraria se você conhecesse ele. Você costuma conhecer todas as pessoas que matou? – um alerta se alastrou dentro de mim.

Meu Deus.

Será que ele descobriu a verdade sobre a explosão? Será que esse irmão dele era alguns dos cientistas do prédio? Ou algum dos bombeiros?

—Ainda não sei do que está falando. – disse indiferente.

—Não minta para mim! – novamente ele bateu na mesa. Dessa vez com mais força. As pessoas presentes no refeitório nos encararam. Chris e os meninos se levantaram, ficando ao meu lado. – Você matou meu irmão, Melinda! E nem sequer se mostrou abalada por isso. –

—Abalada por, supostamente, ter matado um cara que eu nem sei quem é? – sarcasmo. Isso, Melinda. Sarcasmo é a melhor arma.

—A palavra Sokovia te diz alguma coisa? – ah, não. – Pelo visto diz, não é? – ele soltou uma risada. – Sim, Melinda, você matou meu irmão. Você e seus amigos, os Vingadores. Vocês salvaram o mundo, mas não se preocuparam em ir atrás das pessoas que vocês mataram, não é mesmo? –

—Ei, ei, ei. Zach, você não pode chegar aqui acusando minha irmã de ter matado seu irmão. Sabe que não foi culpa dela e nem culpa dos Vingadores. – Adam se aproximou, tocando no ombro dele. Quando foi que ele chegou aqui? – Foi um acidente. Acidentes acontecem. –

—É claro que foi culpa deles! – gritou. – Não tente defender a sua irmã, Adam! Ela é a culpada pela morte do meu irmão! Se eles tivessem se preocupado em tirar os civis de lá, se eles tivessem... – sua voz falhou. Os alunos começaram a se juntar ao redor da nossa mesa. Aquilo me fez voltar a realidade.

Se qualquer comentário ou vídeo sobre isso sair daqui - e irá sair, certeza -, não vai pegar mal só para mim como também para os Vingadores.

Então, intervi:

—Nós tentamos, ok? Você acha que assim que chegamos em Sokovia já fomos batendo no Ultron? Não, Zach. Assim que chegamos em Sokovia nós tentamos evacuar a cidade, nós tentamos tirar todos de lá e deixar os civis em segurança. Mas você acha que os vilões se preocupam com as vidas dos civis? Você acha que eles ficam sentados, tomando um chá e observando a gente deixar todos em segurança? Não. Não foi assim. –

Eu só queria me encolher em posição fetal e chorar enquanto adicionava o irmão do Zach na minha listinha de pessoas que já matei.

—Você já perdeu uma pessoa que era tudo para você, Melinda? Uma pessoa que você nunca conseguiu ver uma vida sem ela? Uma pessoa que foi tratada como um ninguém porque morreu entre várias outras pessoas enquanto os "heróis" tentavam salvar a Terra? –

—Sim, Zach. Eu já perdi. E não foi apenas uma, foram várias. Mesmo assim eu não sai culpando Deus e o mundo pela morte dessas pessoas. – até porque a culpa foi minha. – Eu, assim como os Vingadores, tentamos salvar o máximo de pessoas possíveis. Eu fui para Sokovia sabendo que eu não poderia salvar todos. –

—Mas você podia ter se esforçado! Vocês todos podiam! – Zach continuou batendo na mesa. Céus. Ou ele vai quebrar as mãos ou a mesa. – Se fosse um dos seus irmãos o que você teria feito? Teria aceitado tudo numa boa? –

 

—Lógico que não. Mas com certeza eu não chegaria para uma pessoa, apontaria o dedo na cara dela e diria que a culpa da morte do meu irmão foi dela. Não quando a culpa realmente não foi dela. Você acha que se pudéssemos salvar todas aquelas pessoas que morreram em Sokovia nós não a salvaríamos? Que iríamos simplesmente dar as costas? – indaguei.

—Mas e agora? Meu irmão está morto. Ele morreu por um erro seu! – ele gritou, apontando o dedo na minha direção. Suas mãos tremiam. Zach estava como eu estive após a morte do meu pai.

Mesmo sendo julgada por ele, eu entendia seu lado.

—Melinda, vamos embora daqui. – Adam sussurrou em meu ouvido. Olhei ao redor. Alguns alunos filmavam a discussão entre Zach e eu.

Assenti e peguei minha mochila. Os meninos também pegaram suas coisas e saímos de perto da mesa. No entanto, eu senti alguém segurar meu braço.

—Aonde você pensa que vai? Eu ainda não acabei! – Zach apertava meu braço com bastante força. Me soltei antes que o Adam socasse a cara dele, porque era isso que meu irmão teria feito se Zach tivesse segurado meu braço por mais um segundo.

—Zach, vai para casa, ok? Toma um banho, esfria essa cabeça, descansa. Você ainda está abalado por causa da morte do seu irmão, eu entendo. Agora o que eu não vou permitir é que você chegue e me culpe pela morte do seu irmão como se eu tivesse feito de propósito. Eu já me culpo por muita coisa, não preciso de uma morte na minha lista de culpa, ok? – minha respiração estava ofegante.

—Vamos. – Adam segurou minha mão. Encarei Zach pela última vez antes de dar as costas para ele.

Foi então que gritos preencheram a cantina seguido por uma correria dos alunos. Um barulho sobrepôs os gritos.

O barulho de um disparo.

A mão que segurava a minha escorregou feito manteiga, indo junto ao corpo que já estava caído no chão. Meus olhos se arregalaram ao mesmo tempo que as batidas do meu coração dispararam.

—Adam? – gritei, me ajoelhando ao lado dele, segurando seu rosto entre minhas mãos. – Adam? Pelo amor de Deus! Me responde, Adam! Fala comigo, desgraça. – gritei procurando pelo ferimento da bala. O ombro direito foi o local. Agradeço ao Zach por ser ruim de mira.

—Meu Deus. – Chris murmurou, ajoelhada do outro lado do corpo de Adam. Seus olhos já estavam marejados.

—Eu preciso... – Adam tentou falar, mas eu interrompi.

—Cala a boca. Sei que pedi para você falar comigo, mas poupa suas forças, ok? – pedi. – Chris, você precisa sair daqui. Agora. Bebê e fortes emoções não combinam. –

—Eu não vou sair. – ela respondeu com a voz trêmula. – Não importa se essas duas coisas não combinam, eu não vou deixar o Adam. –

—Certo. Ok. Pressiona o ferimento. Com força. Ok? – Chris assentiu, fazendo o que eu pedi.

Olhei sobre o ombro e encontrei Zach encarando sua mão com a arma. Seu olhar era de puro medo e pânico e não demorou muito para encontrar o meu.

—Está sentindo? O medo? Medo por poder perder seu irmão? – sua voz soou trêmula. – Foi o que eu senti quando soube, através da televisão, que Sokovia estava sob ataque de um robô homicida. Então, a repórter disse que os Vingadores já estavam a caminho para proteger a cidade. A esperança tomou conta de mim, sabe? Meu irmão poderia sair vivo daquele ataque. Aí um pedaço da cidade começou a voar, o desespero voltou e eu tentei ligar novamente para meu irmão. Só que ele não atendeu. Eu pensei: "ah, ele apenas deve estar em um lugar seguro, sem o celular". – seu olhar focou em um ponto qualquer do chão, mas logo voltou a me encarar. – Vocês venceram, salvaram o mundo mais uma vez... só que meu irmão não retornou uma única ligação para dizer que estava bem. E sabe por que ele não fez isso? Porque ele não estava nada bem. Ele estava morto! Por culpa de vocês. – as lágrimas já tomavam conta do rosto dele e eu podia sentir, de certa forma, a dor dele. Afinal, eu já passei por isso. Conheço muito bem essa sensação. – Eu estava mirando em você, Melinda, mas o Tyler tentou bancar o herói e virou meu braço no exato momento em que eu apertei o gatilho. Agradeço a ele. Eu não estava pensando com clareza. Não tenho que matar você, isso não fará você sentir o que eu senti. Eu tenho que matar o Adam, seu irmão. Só assim você passará pelo que passei. – Zach apontou a arma para Adam. – E dessa vez, o Tyler não irá bancar o herói de novo. – seu olhar caiu sobre o corpo caído de Tyler um pouco mais afastado. Meus olhos se arregalaram.

—Ty. – sussurrei, vendo seus olhos fechados. Encarei Zach possessa. – Mas você deve ser uma anta mesmo. – resmunguei levantando. – Ou você esqueceu que quem tem poderes sou eu e não o Tyler, amor? – sorri.

Ergui minha mão no exato momento em que ele disparou, fazendo a bala acertar o escudo. Fui caminhando até ele ainda com o escudo e mesmo assim ele não parou de atirar.

Ao ficar de frente para ele, desativei o escudo e, rapidamente, segurei seu pulso, torcendo ele levemente. Apenas o suficiente para ele soltar a arma no chão.

Zach tentou contra-atacar e desferiu um soco na minha direção, o qual desviei e retribui, acertando o canto do seu olho em cheio.

—Eu tentei enfiar na sua cabeça que a culpa da morte do seu irmão não foi minha nem dos Vingadores. Só que você preferiu se deixar cegar pela dor da perda e quase cometeu um assassinato. – falei acertando um chute no estômago dele. – Não é porque você perdeu alguém que tem o direito de tirar a vida de outro. – falou a garota que matou vários bombeiros porque descobriu que matou o próprio pai. – Ninguém consegue lidar bem com perdas, mas acredite, Zach, tirar a vida de outras pessoas não fará você se sentir melhor, nem irá trazer a pessoa de volta. – observei o garoto encolhido no chão, chorando e sangrando. – O tiro que você deu no Adam não sairá impune. – disse dando as costas e indo até Tyler, que já estava consciente e tentava levantar. – Hey. Você está bem? –

—Só uma dor de cabeça. A coronhada foi forte e... Melinda, escudo! – sem pensar duas vezes, eu ativei o escudo no exato momento em que outro disparo foi feito. Virei-me na direção de Zach e o encontrei já de pé e com a arma em mãos.

—Não importa se matando você isso trará meu irmão de volta ou não. Agora com toda certeza, me fará melhor. – ergui minha mão, sentindo ela ficar quente e logo o jato acertou ele, mandando-o para longe.

A arma caiu da mão dele, mas ainda sim estava perto dele. Rapidamente levantei e caminhei até ela, mas Zach a alcançou primeiro e apertou o gatilho no exato momento em que acertei um chute no rosto dele, que caiu inconsciente.

—Melinda? – escutei Tyler me chamar.

Virei-me na direção dele, que tinha um semblante assustado. Acompanhei seu olhar que estava cravado em minha barriga.

Minha camisa, até então manchada apenas com suco de uva, agora também estava manchada de sangue.

Levei minha mão até onde sangrava e meus dedos logo ficaram ensopados.

—Eu estou bem. – sussurrei, encarando Tyler.

—Você acabou de levar um tiro! – sua voz subiu algumas oitavas.

—O que? – ouvi a voz de Charlie e encarei ele, que estava junto com Chris e Adam ainda no chão.

—Eu estou bem. Precisamos ajudar o Adam. A bala pegou no ombro, mas ele estava perdendo muito sangue. – respondi dando um passo na direção do meu irmão e quase indo ao chão. – Eu estou bem. – repeti. Tyler passou o meu braço sobre seus ombros. Observei Charlie recolher minha mochila e a do Adam.

—Trata de pressionar o ferimento. Agora. – mandou, ajudando a me firmar em minhas pernas. – Precisamos ir agora. Charlie e Chris, ajudem o Adam a ficar em pé e vamos sair daqui o mais depressa possível. – 

—Espera. – pedi recebendo um olhar nada satisfeito de Tyler. Encarei o corpo de Zach e me concentrei mais que o normal, fazendo ele flutuar. – Não posso deixar ele aqui e ter a chance de fugir e tentar matar o Adam de novo. – Ty assentiu, compreendendo.

Saímos da cantina e fomos caminhando para fora da escola. Eu estava preocupada com o Adam e com a Chris.

Ele perdeu muito sangue e do jeito que ela é bem emotiva deve ter assustado o bebê. Se bem que ela está com o que? Um, dois meses?

—Chris? – a chamei. A voz ficando fraca. – Como você está? –

—Péssima. –

—E o... –

—Depois, Melinda. – me cortou, séria. Como assim depois?

A entrada da escola estava um verdadeiro caos. Cheios de alunos, funcionários e curiosos. Alguns choravam, outros comentavam sobre o ocorrido com terceiros e mais alguns estavam no telefone. E quando nós saímos, foi aí que tudo piorou.

Tinha um corpo flutuando e dois feridos. E um desses feridos era eu, a nova Vingadora. Já estou até vendo os comentários. Alguns vieram correndo ajudar a levar o Adam e a mim. Larguei o corpo de Zach em qualquer lugar do estacionamento.

—A ambulância já está a caminho. – o diretor informou vindo até nós.

—Porra de ambulância. Meu carro. Agora. – mandei entredentes. – E quem deixar o garoto fugir vai se ver comigo. –

—Seu carro? – Charlie questionou.

—Não é hora para pensar se vai sujar de sangue ou não. Anda, Charlie. – falei tirando a chave do bolso e entregando a ele.

—Srta. Hunters... Melinda, o aconselhável é esperar a... –

—Meu irmão levou um tiro, perdeu muito sangue e você quer que eu espere uma ambulância? Você, como diretor dessa droga de escola, deveria ter chamado a polícia e uma ambulância assim que os disparos começaram. Não precisa ser muito inteligente para saber que haveria feridos. – resmunguei, fazendo-o calar a boca. – Se não se importa, eu tenho um irmão baleado para cuidar. – falei virando em direção ao meu carro. Adam já estava dentro dele junto com Chris e Charlie. – Eu dirijo. –

—Nem ferrando. – Tyler disse entredentes. Revirei os olhos. Ok, talvez eu não esteja em condições de dirigir.

Tyler me colocou no banco do passageiro e sentou no do motorista, dando a partida e saindo cantando pneus.

—Para onde você está indo? – indaguei, mesmo já sabendo a resposta.

—Para o hospital. Para onde mais eu iria? – com um grande esforço, eu movimentei minha perna para o lado e pisei no pé dele sobre o freio, parando o carro bruscamente.

—Melinda! – os três me repreenderam. Os carros que vinham atrás buzinaram freneticamente.

—Nada de hospitais. – murmurei, trazendo minha perna de volta para o lado do passageiro.

—E onde mais você acha que se trata ferimentos de balas? No shopping? Na praça? – Tyler questionou incrédulo.

—Na Torre. Vamos para a Torre. – sussurrei, procurando pelo meu celular na minha mochila que Charlie tinha trazido da cantina.

—Melinda... –

—Ande logo com esse carro para a Torre, Tyler, ou sento no seu colo e eu mesma dirijo. – falei encontrando o celular e vendo que a película de vidro tinha trincado.

Ótimo.

Tyler voltou a dirigir o carro, mas agora com um destino diferente em mente.

Procurei por um número em específico na minha lista de contatos e dei um sorriso pequeno ao encontrar.

—Melinda? – o sotaque russo fez um alívio crescer em meu peito. – Por que está me ligando uma hora dessas? Não era para você estar na escola? –

—Digamos que minha escola acabou de sofrer um pequeno acidente, Bruxinha. – murmurei.

—Que acidente? Sua respiração está ofegante. O que aconteceu? –

—Adam, o meu irmão. Ele foi baleado. Está perdendo muito sangue. – expliquei, com a respiração entrecortada.

—Que? Como assim baleado? Teve um tiroteio na sua escola? Você está bem? – soltei uma risada, mas logo fiz uma careta de dor.

—Sim, Bruxinha, estou bem. Agora eu preciso que você fale com o Tony e peça uma equipe de médicos. –

—O Stark não está. E por que vocês estão vindo para a Torre? O correto não seria ir à um hospital? –

—Eu não gosto de hospitais, você sabe. E como assim o Tony não está na Torre? Esse garoto não para mais em casa? – bufei, sentindo uma pontada de dor. – Quem está aí? –

—Visão, Steve, Rhodes e Natasha. Melinda, eu ainda acho melhor você levá-lo à um hospital. – revirei os olhos.

—Fala com o Steve. Diz a ele que o Adam levou um tiro e precisa de cuidados urgentemente. 'Pra já! Ligeiro e avexado. – pedi, pressionando o local da bala em minha barriga.

—Adam? Mas e você? – Tyler indagou. – Melinda, você não pretende cuidar desse ferimento? –

—Essa é a voz do seu amigo. O Tyler. Ele disse ferimento? Melinda, você também levou um tiro? – Wanda falou. A preocupação tomando conta da sua voz.

—Não. – respondi.

—Não sei o que você falou, Wanda, mas a Melinda levou um tiro na região do abdômen e está perdendo sangue de mais para o meu gosto. –

—Tyler! – o repreendi, ignorando a dor que se alastrou pelo pequeno movimento brusco que fiz ao encarar o garoto ao meu lado.

—Meu Deus. Steve! – fechei os olhos com força. Merda. Agora sim a Wanda está preocupada. – Preciso que você chame duas equipes médicas. Melinda e o irmão foram baleados e ambos estão perdendo muito sangue. –

Steve não parecia estar muito longe de Wanda, mas sua voz soou há quilômetros de distância para mim. Logo a voz da Bruxinha também parecia longe.

—Eles já estão a caminho. Melinda? Melinda, você está me ouvindo? –

—Capicolé? – murmurei confusa. Era mesmo o Steve?

—Melinda, você consegue colocar o celular no viva voz? – afastei o aparelho da minha orelha e encarei a tela com os olhos semicerrados. Ao encontrar o botão do viva voz, eu o apertei, deixando o celular no painel do carro.

—Pronto. – sussurrei.

—Tyler, como ela está? –

—Meu pai eterno. É o Capitão América? – soltei uma curta risada com a pergunta do Charlie.

—Pálida, suando frio. – Tyler respondeu segurando minha mão por um curto período. Afastei a mão dele.

—É mentira dele, Steve. Eu estou bem. – falei pausadamente, mas meu organismo me traiu ao me fazer tossir. Sangue.

—E acabou de tossir sangue. – revirei os olhos.

—Vocês precisam chegar aqui o mais rápido possível. –

—Já estamos chegando. – observei Tyler me encarar de soslaio. Meus olhos já estavam pensando. – Fica acordada, Melinda. Não dorme. –

—Dormir parece... uma ideia tão boa agora. – murmurei.

—Não ouse. – disse autoritário.

***

Talvez eu tenha desmaiado umas duas vezes ainda no carro, mas estava bastante consciente quando Tyler entrou no estacionamento da Torre. Assim que estava próximo o bastante da equipe médica, parou o carro.

Natasha e Steve também estavam ao lado dos médicos. Não sabem o perigo que correm ao lado desses capetas de jaleco. Charlie e Tyler desceram do carro.

Charlie tirou Adam, que já estava inconsciente, do carro com a ajuda de Chris e dos médicos. Logo, meu irmão já estava sendo levando em uma maca para a ala hospitalar da Torre.

Já o Tyler veio me ajudar a sair. Só que eu não movi um músculo.

—Melinda, ande logo! – neguei com a cabeça. – Isso não é hora para medo bobo. Vamos! –

—Eu não quero. – sussurrei balançando a cabeça. – Ty, eu não quero. Eu estou bem, juro. Olha! Eles já estão com agulhas na mão! – disse encarando os médicos.

—Amor, eu não vou deixar ninguém machucar você. Eles estão aqui para cuidar de você. Por favor. Eu não quero perder você. – Tyler sussurrou, encarando meus olhos. – Eu não posso perder você. –

—Se eles enfiarem aquela agulha em mim... –

—É anestesia. – Natasha falou do lado de fora do carro.

—Eu não quero. – sussurrei.

—Tudo bem. Sem anestesia. Agora você pode deixar eles removerem essa bala alojada? – encarei minha barriga e ao ver o sangue já preto, assenti, devagar.

Cuidadosamente, Tyler me removeu do carro e me levou até a maca nos braços, me deitando na mesma.

—Ela não quer anestesia. – Natasha informou e eu poderia jurar que ela tinha feito um gesto que dizia o contrário do que ela acabou de falar. Ou eu estava delirando?

—Vai ficar tudo bem, criança. – Steve pousou sua mão gentilmente sobre minha cabeça. Dei um sorriso pequeno, que foi retribuído pelo Capitão.

A maca começou a ser arrastada pelos médicos e em poucos minutos eu já estava de volta a velha ala hospitalar da Torre.

Foi então que o medo se alastrou. Quem eu queria enganar? Eu não ia conseguir deixar médicos cuidarem de mim.

Foi então que quando um homem se aproximou com uma máscara de oxigênio, ele bateu em algo. Meu escudo.

—O que ela está fazendo? – ouvi Tyler questionar do outro lado do vidro. Era contra as regras acompanhantes estarem em uma sala de operação até aqui na Torre. Cruz credo.

Tyler tentou entrar, mas Steve não deixou.

—Não dá. Eu não consigo. Não consigo confiar em vocês. Não é com vocês, e sim, com a profissão que vocês exercem. Não dá. – as pessoas de jaleco não sabiam o que fazer, apenas encaravam uns aos outros. Com certeza devem estar me achando maluca.

O médico, que parecia ser o chefão da equipe, abriu a porta e permitiu a entrada de Steve e Tyler, mas não os deixou se aproximar muito. Talvez ele achasse que os dois pudessem me fazer baixar a guarda.

—Melinda, eles são pessoas da nossa confiança. Não irá acontecer nada de ruim a você. – balancei a cabeça negativamente.

—Não, Picolé. – neguei. – Chama o Bruce. Eu confio nele. – sussurrei. – Só o alter ego... do Verdão pode... cuidar do meu... ferimento. – disse com certa dificuldade. Manter o escudo estava sugando toda a minha energia.

—Bruce não está aqui, Melinda. Você sabe. – franzi as sobrancelhas.

—Eu poderia... jurar que tinha ouvido... a risada dele, ué. – murmurei.

—Podemos dar um jeito de quebrar o escudo. Não deve ser muito difícil. – Tyler sugeriu.

—Não acho recomendável. – o médico respondeu. – Ela está muito fraca. Qualquer tentativa de quebrar o escudo, poderá agravar o quadro dela. –

—Doutor, ela pode morrer por puro egoísmo da parte dela! – Tyler protestou incrédulo. Fechei os olhos por um curto período.

Será que estou fazendo a coisa certa em escutar meus medos em vez dos meus amigos? Sim, sim, estou.

Ao abrir os olhos, encontrei Wanda me encarando um olhar incrédulo do outro lado da sala de operações.

Ih, a Bruxinha também não aprovou minha atitude. Ela deu as costas e voltou logo depois com uma roupa de médico de plástico com direito a luvas, touca e máscara.

Ué, o que ela vai fazer?

Wanda passou por Steve, Tyler e o médico, ignorando os questionamentos deles, e veio até mim.

—Amor... oi. – sorri fracamente.

—Desativa o escudo. Agora. – neguei com a cabeça. – Eu estou pedindo, Melinda. Desativa o escudo. É para seu próprio bem. – novamente balancei a cabeça em negativa. Wanda suspirou. – Aconselho vocês tamparem os ouvidos. – franzi as sobrancelhas, confusa com o aviso dela. Ao ver os presentes, e até ela mesmo, tampar os ouvidos com a mão, eu soube o que ela iria fazer. – Sexta-Feira. –

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, um barulho preencheu a sala. Um chiado consideravelmente alto - ou não, não sei - que fez eu me desconcentrar e desativar o escudo.

A última coisa que lembro foi da Wanda quebrar o curto espaço que tinha entre a gente e entrar na minha cabeça com seus poderes.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Gostaram? Não gostaram? Comentem e façam uma Gabinete feliz!
Melinda foi acusada de matar o irmão do garoto, Adam levou um tiro, Melinda levou um tiro, surtou um pouco e não deixou os médicos trabalharem, Wanda entrando na cabeça de Melinda...
Ihhh, sei não, hein.
Alguma teoria sobre o que irá ocorrer no próximo capítulo? Estou aceitando.
Bon revoar, bebês!



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