Se tocar um funk escrita por mandy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Songfic baseada na música "Paradinha" de MC Duduzinho. Link: https://www.youtube.com/watch?v=KY1oDmH50QU (lembrando que inspirei apenas na letra, o clipe não tem muito a ver)



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"E se tocar pagode ela gosta

E se rolar um reggae ela gosta

Se rolar hip hop ela gosta

Mas se tocar um funk, ela dança de costas"

— MC Duduzinho.

 

Já haviam saído juntas algumas vezes. Um parque, um café e agora um bar, duas garrafas de cerveja e música popular. Não havia Budweiser e não era Chico Buarque entoando nas caixas altas de som. Olga riu depois de balançar a cabeça negativamente algumas vezes.

— Mas que lugar é esse? – Falou depois de tomar um gole mais da cerveja que esquentava em sua mão.

Mariana riu em seguida, mas não a olhou. Como explicaria a ela, no terceiro encontro, que aquele era o lugar que mais lhe divertia? Mesmo quando Britney Spears cantava com gemidos adolescentes ou quando as batatas fritas vinham com uma porção extra de óleo. Achou que mostrar seria o suficiente.

— Quero dizer... eu nunca mais ouvi qualquer coisa de Britney depois de Oops I did it again— Olga tentava concertar para não parecer rude.

A verdade era que não estava acostumada. Mas os primeiros encontros foram sugestões da própria Olga e agora que Mariana estava se abrindo, propondo lugares, ela queria ver. Queria conhecer. Havia convidado mais dois amigos para aquela noite e por um momento achou graça, imaginando suas expressões quando a vissem naquela espelunca.

Se haviam encontrado num aplicativo de relacionamento. Conheciam o que tinham em comum, a música popular brasileira, filmes em preto e branco e cafés sem açúcar. Mas Mariana era uma montanha russa. A playlist do celular ia desde o mais clássico Mozart até o que tocava de mais “sem noção” nas rádios. Se estavam se conhecendo, precisavam fazer isso de verdade. E, mesmo com algum receio, estavam as duas sentadas naquele bar.

— Os seus amigos vêm mesmo? – Mari questionou depois de pedir uma segunda cerveja, brincando com a garrafa que Olga ainda segurava na mão.

— Eles... – Olga ergueu-se um pouco de seu lugar, espichando o pescoço e sorrindo em seguida – Estão bem ali.

O casal de rapazes pareceu não se importar nenhum pouco. Tão logo se envolveram em assuntos cotidianos, sobre o portfólio de Mari que Olga lhes havia apresentado e como isso poderia auxiliar no trabalho como jornalista da outra. Marcos e Davi não poderiam ficar muito, porém. Tinham de arrumar as malas, fazer check in, confirmar a hospedagem na Itália, já que viajariam em algumas horas. E era tudo bem distinto da realidade de Mariana, afinal, Rio de Janeiro era o lugar mais longe que havia estado. Então se calou, deixando que os entendedores de Europa falassem de restaurantes e pontos turísticos, distraindo-se com o sertanejo melódico que agora tocava nas grandes caixas de som.

— Ah, não... – Marcos, o mais animado deles, a flagrou – Olga disse para não falarmos muita besteira para não estragar a coisa toda. Mas você está cantando sertanejo então, intui-se que avançamos um pouco mais na escala de intimidade já que seus ouvidos não estão restritos somente a porcaria clássica que ela ouve.

— Marcos... – o namorado cutucou.

Mas, segundos depois, riam. Olga um pouco mais sem graça por ter sido descoberta em suas exigências, Mariana um pouco mais descontraída porque não era a única que conhecia sertanejo. E depois disso o assunto fluiu com um pouco mais de naturalidade, sem formalidade de nenhuma das partes. Olga estava com o rosto um pouco vermelho depois de duas cervejas, o riso mais frouxo.

A meia noite o bar estava um pouco mais cheio, algumas pessoas dançavam na pista e, de repente, a batida do som mudou uma vez mais.

— Olha para mim, Mari! – Marcos segurava suas mãos com alguma força agora, enquanto um sorriso o iluminava de orelha a orelha – Você dança, não dança?

Ela dançava. Dançava o funk muito bem e o admitia sem modéstia, mas ainda assim comprimiu os lábios e balançou a cabeça numa negativa. Terceiro encontro. Ainda era cedo demais.

— Mas é claro que dança, não é preciso muito para dançar isso... – Davi sorriu amigável.

— Ou você está com medo – Marcos provocou.

O som era contagiante. Tinha certeza de que se voltasse a se distrair o corpo dançaria por si só. Olhou rapidamente para Olga que sorriu e apoiou os braços na mesa:

— Ele não vai te deixar em paz até ir com ele... – incentivou a companheira.

Mariana suspirou. Voltou os olhos para Marcos em seguida.

— Eu vou acabar com você.

E ela cumpriu a promessa na pista de dança. Dançou até que Marcos desistisse, porque suas pernas não eram tão firmes e não conseguia manter por muito tempo o rebolado no chão, ao contrário de Mari. Desistiu porque o movimento do corpo dela tinha paixão e os olhos tinham prazer em lhe desafiar. E mesmo quando ele voltou para a mesa, ela continuou por um tempo mais, quebrando a cintura, quicando no chão, ondulando o quadril como se não estivesse ossos. Duas ou três músicas depois e voltava a seu lugar.

— Quem é você? – Olga perguntou com um riso surpreso no rosto.

Não era como um julgamento. Era aquele mesmo riso de quando haviam se conhecido. Mariana mordeu o lábio inferior com alguma timidez e sentou-se novamente, terminando a cerveja que deixara ali.

E ficaram por mais um tempo, até que os dois amigos se despedissem com promessas de fotografias da Itália e recomendações para caso um dia quisessem ir juntas. O efeito do álcool começava a amolecer o corpo das duas.

— Tem alguma coisa para o final da noite? – Olga quis saber e Mariana negou – Quer ver um filme na minha casa? Ou me contar um pouco mais sobre você.

Aquele poderia ser um novo primeiro encontro. Sem tabus musicais, num lugar mais íntimo do que bares ou parques. Poderiam, quem sabe, se conhecer de verdade.


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Notas finais do capítulo

Comentem.