A batalha de Lore escrita por Isabela


Capítulo 2
capítulo 2




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Antes de adentrar nessa sala novamente penso no que realmente devo fazer, bom tratamento não é uma das maiores características de Gaia, e, considerando a quanto tempo ajudo esta cidade, porque espero me tornar independente destas brigas sem fim.
Distraio-me por poucos instantes, até perceber seus dedos frios tocando meu ombro esquerdo.
–Desistiu de entrar? Seus dedos estão frios, mas posso ver no rosto de Marian a vermelhidão que significa o quanto está quente e ansioso, provavelmente estressado tentando abrigar e convencer os poucos habitantes de fora das cidades onde vivo a participarem de seus testes genéticos para tentar reproduzir a força e controle de Lore.
–Acho que vou refletir um pouco sobre isso, as vezes, simplesmente temos que procurar outros lugares e outros meios - Digo meio sem pensar, mas sei que a única coisa que pode estar passando em sua mente é meu completo desprezo pelos métodos de luta da cidade.
– Não tem medo de não ser tão bem tratada em Lore? - ele pergunta.
– A necessidade me faz conviver com pessoas das quais desconfio - respondo indiretamente para ele.
– Acho que mesmo torcendo por seu sucesso, não acho que está no caminho certo, agora venha logo.
Sigo Marian dentro de Gaia, andar por suas paisagens perfeitas apenas me reforça a ideia de ambição, pois a ostentação de suas salas puramente brancas e decoração impecáveis mostram que se mantém muito bem sem necessidades externas.
Como de costume quando permaneço em Gaia, vou com Marian para a área de treinamentos de seu exército, onde posso me distrair enquanto treino um pouco.
Ao começar a me aquecer sigo as instruções de Marian, meu treinador principal, e de modo pessoal, alguém que fica entre um bom amigo e algo que ainda não sei descrever.
– Quando vai me ensinar alguma técnica nova? - digo quando vejo que ele não se dirige ao local das armas.
– Hoje você vai aprender algo novo, precisa aprender a perder, pois não está acostumada com isso - ele diz.
Marian vem de encontro a mim me colocando entre seu corpo e a parede, coloco minha adaga contra seu pescoço quando vejo os olhos verdes de Marian olhando fixamente para mim e posso ouvir o sussurro de seus lábios dizendo apenas duas palavras.
–Não pare.
Apenas duas palavras que me paralisaram em puro horror me deixando em transe, em um momento onde posso ouvir até minha respiração.
–Você quase me matou de susto, o que está tentando fazer, eu podia ter te machucado. - Digo quase berrando porque agora tudo o que sinto é raiva pelo que eu poderia ter feito, não que eu me importe realmente de lutar com alguém, mas não iria subestimá-lo.
–Poderia se quisesse, mas não quis, e para isso bastaram apenas duas palavras para que você parasse tudo o que estava fazendo, e mudasse de ideia. Palavras podem não ser uma arma forte em quesito físico, mas podem destruir essa força física me questão de segundos.
– Já pensou que não são necessariamente as palavras, e sim quem diz é o que faz que eu mude de ideia. - Deixo as palavras saírem doces enquanto preparo um ataque forte ao fingir que estou apenas apunhalando o ar.
–Então quer dizer que eu realmente a faço perder a força? - Sua cara de puro convencimento estampada em seu sorriso sarcástico o faz adquirir um tom rosado que traz vida a sua pele branca.
–absolutamente não, mas deixo que você pense isso por alguns segundos para se sentir um pouco melhor frente a seus soldados. Mas lembre-se, somente por alguns segundos. –Alguns segundos, tempo o suficiente para usar minhas habilidades com as facas e deixa-lo imobilizado, não somente surpreso, mas também aparentemente satisfeito com sua aluna. Embora apenas ache que esta tentando parecer um bom perdedor frente aos risos que podemos ouvir ao longe dos seus outros soldados.
Sua força me supera em habilidades físicas, mas tenho seu controle baseado em duas armas que se localizam em posições estratégicas as quais posso garantir sua perda de movimento e sua rendição a mim, pensando e deliciando o momento que o tenho em minhas mãos completamente paralisado, esperando que implore para que o solte.
–Onde estão suas palavras agora querido? Preciso apenas de três delas, admita e repita comigo agora: você esta certa.
–E onde está a sua ação agora? Eu me recuso a dizer as palavras que você quer ouvir, mas ainda assim você nada faz contra mim - responde.
Lembro-me de quando era pequena, não exatamente pequena, mas no momento em que fui achada por Marian, esse garoto que agora está aqui deitado em meus braços, e lembro-me dele sempre me dizendo que poderia vencer quem eu quisesse, pois eu não tinha dó de ninguém, e pensando bem, realmente não sou de me preocupar com o mal que estou causando as pessoas ao meu redor, acredito que quem está perto de mim não precisa de cuidados, pois se assim fosse procuraria Marian, ele sim é o protetor dos fracos, e eu sempre fui a mais distante.
Um dia quando ainda tínhamos em torno de oito anos de idade, embora ele já tivesse onze, mas não nos diferenciávamos muito em questão de idade, já que parecíamos colegas, eu um pouco maior do que as meninas de minha idade, pelo menos naquela época, e aparentando ser mais velha com meu jeito sério, já ele sempre fora focado em ser um bom soldado, então apesar de educado, sempre demonstrava muito respeito, o que o distanciava das pessoas em questão de amizade, poucos momentos fizeram de nós amigos, o fato dele não conseguir agir de modo sempre tão reverente na minha presença, já que eu ainda era pequena na visão dele e cada vez mais forte, ele dizia sempre que acreditava ver em mim o controle dos soldados de Lore pois minha resistência era demais para alguém tão pequena ainda e sem treinamento, mas eu discordava.
Uma vez confesso ter ficado impressionada comigo mesma ao resistir a um ataque de um animal nas proximidades do que era meu lar, quando o vi próximo de nós e apenas fiz afastar uma das feras que estavam próximas, chamamos elas assim pois não sabemos bem o que são em Gaia, mas sabemos que o povo de Dêmina - uma antiga nação que não resistiu ao tempo, mas nos deixou seus animais, que eram criados, alimentados e treinados para serem mortais -  os criou e os preparou para guerra, são treinados para obedecer e simplesmente me sentia familiarizada o suficiente com esses seres para poder ser capaz de controlar um deles, fazendo-o se afastar de nós e ir embora.
Ainda não sabemos o que ocorreu aquele animal, com seu jeito felino, não exatamente um tigre, mas algo que estaria entre isso e uma pantera, mas provavelmente bem maior do que qualquer um dos dois, e que parece entender pequenos sinais humanos, provavelmente algum cruzamento de uma espécie a beira da extinção como várias até agora, de repente eles mesmos conseguem evoluir através do controle mental. Mas independente disso vejo que até hoje isso fez uma aproximação entre mim e esses seres, além de despertar para sempre minha curiosidade a seu respeito e ao que faço para que as eles me entendam e me obedeçam.
Desde então frequento mais Gaia, nunca fui somente uma visitante esporádica como meus vizinhos que vêm em épocas de lutas para procurar abrigo aqui, mas venho como uma convidada, sempre frequentando seus treinamentos, e desfrutando da companhia de algumas pessoas.
Depois de refletir um pouco sobre Gaia e sobre mim e Marian, posso vê-lo recuperando-se de minhas tentativas contra ele, e nesse momento sei que uma pequena vingança será iniciada, apenas um pequeno lembrete como o que acabei de dar a ele, e talvez á noite durante o jantar nós dois possamos nos reunir e rir disso tudo como sempre fazemos.
Pouco tempo se passa até que ele se recupere e seus soldados entrem em treinamento, não tenho como escapar dessa parte, mas sou obrigada a admitir que ela me agrada, para uma figura um tanto quanto pequena, sempre aprendi que não basta ter uma arma, e sim saber usá-la, e nunca confiar em ninguém para me defender, pois um ponto fraco é simplesmente ter outro agindo por mim.
Pela noite nos encontramos durante o jantar com alguns amigos em uma adega, onde noto presenças comuns com as quais ainda não tinha falado desde que chegamos, tenho a minha direita Donan, um cara corpulento o qual é conhecido apenas por sua força bruta e ignorância, mas apesar do que dizem, aprecio seu modo de poucos amigos aos quais ele consegue se manter superior numa comunidade onde todos esforçam-se em ser companheiros, sua repugnância o torna em alguém  interessante e atraente. Posso vê-lo já sorrindo para mim e puxando a cadeira vazia ao seu lado para que eu me sente.
–Donan, finalmente alguém com o qual não é um problema expressar meus comentários. Digo apenas para puxar assunto, pois sei que o que quer que ele disser será bem vindo aos mus ouvidos. – Não o vi hoje, anda ocupado demais para mim?
–Alana, fiquei sabendo de sua luta hoje durante o treinamento, infelizmente eu não pude estar lá, sabe, as coisas aqui andam muito rápidas e temos muita esperança de estar chegando a algum resultado – Como pude me esquecer, as pesquisas, não apenas em força física, mas também em inteligência posso apreciar Donan, o grande gênio das pesquisas, deve estar fazendo grandes avanços para querer perder um treinamento, digamos que manter seu porte também gira me torno de suas principais ocupações, além de exibicionismo básico, conquistar garotas fáceis e ser um gênio -Mas quero que saiba que apostaria em você se estivesse.
Sinto sinceridade em suas palavras e apenas respondo-lhe tentando me manter superior - quem não apostaria?
–Eu não apostaria – Encarando-me mais afastada do grupo temos Niria, uma garota forte e de espírito guerreiro, com o qual nunca me senti a vontade, tenho problemas com ela desde entrei em treinamento com Marian, acredito que seja algo com o qual costumam chamar de paixão, embora eu não seja exatamente do tipo menina doce que poderia facilmente ganhar Marian, ela é a delicadeza em pessoa, em traços e finos e delicados em uma aparência frágil e loira de olhos claros, enquanto sou mais do tipo forte e indestrutível, provavelmente com um corpo mais aparente devido ao excesso de treino e traços mais firmes em uma pele clara de cabelos escuros quase avermelhados e olhos cinzas, então, acredito que a raiva dela localiza-se apenas na amizade que temos, não porque ela pense que existe algo mais– Você é fraca, por detrás dessa sua máscara de garota arrogante, você é simplesmente fraca, mas uma atriz razoável talvez.
Evito responder para amenizar os comentários e seguir sem causar desconfortos, saio em busca de algo para beber quando me deparo com Naiad, frente à nossa mesa, onde parece não me ver já que seus olhos buscam encontrar algo. Algo não, alguém.
–Marian, preciso de você assim que terminar, e tenha uma lista de soldados disponíveis para analisarmos. –Visando apenas Marian, pode-se notar em seus olhos que precisa de algo urgente, e sabemos que não será para boas ações. Um a um vamos terminando cada um a seu tempo, e levantando, separados para se retirar e voltar cada um a seus interesses. Por um baixo relance posso observar Marian visando seu prato vazio, e apenas fazendo pequenos e repetidos movimentos com as mãos, com que pensativo, e ao mesmo tempo postergando algo. Ao ver meus olhos observando seus movimentos ele para o que está fazendo e se retira. Sem saber o que fazer penso em ir atrás dele e subitamente também dou minha refeição por encerrada e saio na mesma direção que ele para a saída, mas ao chegar perto dele, vejo que não tenho o que falar ou fazer, então viro para o outo lado e me retiro o mais rápido que posso.
Mais tarde, andando pelo corredor de acesso principal, pude vislumbrar a porta da sala de reuniões entreaberta, e pude notar a presença de Naiad conversando sobre seus testes genéticos, não tenho certeza sobre o que falam e que consequências poderão ter, mas após achar que temos problemas chegando, posso ver que eu realmente quero saber mais sobre os planos de seu povo, e o que pretendem com isso. Não resisto e me mantenho próxima à porta de modo a ficar próxima á uma parede para onde irei se for necessário, e de onde posso ter um bom lugar para ouvir o que se passa do lado de dentro da sala.
–Não tem mais jeito, já chegamos até nosso ponto máximo, precisamos dela, as nossas pesquisas estão limitadas e chegamos a um ponto onde não conseguiremos mais avançar, nossas pesquisas chegaram a seu limite de conhecimento, nossa única opção é conseguir mais informações, e nossa única esperança é ela.
–Não posso treiná-la para isso, não sei nem por onde começar – essa voz, não consigo encontrar seu dono, mas não tenho como não reconhecer, é Marian – Não posso jogá-la nessa situação, é muito arriscado e não temos garantia nenhuma de sucesso, não sabemos o que é preciso para que não haja feridos nisso.
–Não haverão feridos, ela vai sozinha quando a hora chegar, e por vontade própria, e dessa parte sou eu que vou cuidar.
–Não sei como conseguirá convencê-la, mas simplesmente espero que faça seu melhor para convencê-la - ele recomenda -Não a quero lá, muito menos sabendo tudo o que certamente acontecerá, não sei porque acredita que pode ser diferente, mas sabemos que não será, estamos apenas procurando meios sem bases concretas porque não sabemos mais o que fazer.
–Deixe seus sentimentos de lado nessa hora, não pode viver pra sempre em prol dela, tem que se livrar desse fantasma dela e fazer com que ela nos ajude a chegar a seus objetivos, precisamos de você aqui. Sei que seus motivos também são baseados em interesse e agora a prioridade é Gaia.
Nessa hora vejo que passos furiosos seguem na direção da porta e então saio correndo e vou diretamente para trás de uma parede onde posso parar para refletir, e digerir todas as informações que acabei de receber.


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