Antes das Amendoeiras florirem escrita por Shiori


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos ♥

Sim, em vez de atualizar a fanfic, estou a escrever um spin-off. Não é preciso terem lido a outra fanfic para entenderem; afinal, este spin-off acontece sete anos antes.

De qualquer forma! Este é o presente de aniversário para uma amiga!
Sanita, espero que gostes desta oneshot! :'3
Desculpa de ter demorado, mas escrevi-a com amor ♥
Muitos parabéns ♥

Boa leitura a todos!



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Antonio voltou a olhar para a porta da sala de jantar, na perspetiva, e depois para o relógio do telemóvel. Marcavam as oito e meia.

Suspirou. Ele não vinha jantar. Novamente.

 

— Joel,– chamou o irmão mais novo que via as notícias sossegado no sofá. O adolescente olhou para Antonio. – vamos jantar. Ele não deve vir.

— Não devíamos insistir?

— O pai disse para não insistirmos. – Antonio levantou-se da cadeira e verificou se o jantar ainda estava quente; não estava. Tinha que o aquecer. – Bom, ele disse também que não devíamos vir passar estes dias aqui em casa do Poncho…

 

Antonio sentia-se frustrado consigo mesmo; o coração do seu irmão mais velho estava partido e ele não sabia o que fazer. Afonso sempre fora forte; era nele em que Antonio e Joel sustentavam-se quando algo terrível acontecia. Era ele quem apoiava-os e consolava-os. Mas agora… Ele cedeu. A sua força desvaneceu, o luto apoderava-se do corpo e mente dele. Estava fraco demais para sair do quarto e de encarar a realidade.

Não sabiam o que fazer; Antonio e os primos estavam a fazer mais horas na pastelaria em que trabalhavam, fundada pelo falecido avô deles, para ocuparem os tempos em que devia ser Afonso lá estar.

 

Em silêncio, os dois irmãos jantaram, crentes de que, talvez, mas só talvez, Afonso sairia do quarto e se juntaria a eles.

Mas não foi isso que aconteceu.

Depois de jantar, Antonio organizou tudo num tabuleiro e levou-o até ao quarto de Afonso. Bateu à porta; nenhuma resposta.

 

— Poncho… –  chamou-o, sentindo o seu âmago a ficar pesado. – Abre a porta.

 

Antonio não teve nenhuma resposta, o que o angustiou ainda mais. Ignorando as regras de boa educação, ele abriu a porta.

O português estava enfiado na cama, às escuras. Talvez estivesse a dormir. Antonio ligou as luzes e pousou o tabuleiro na cómoda. Dirigiu-se até à janela e abriu-a; aquele quarto precisava de arejar.

 

— Afonso, acorda! – exclamou ele, aproximando-se da cama. Não obteve resposta. – Afonso! – tirou-lhe bruscamente as cobertas. – Sai dessa cama ou vou buscar a porra do balde com água!

— Oh pá, cala-te… – Afonso reclamou, enfiando a cara na almofada. Doía-lhe a vista, já desabituada com a claridade.

 

O espanhol analisou o irmão; Afonso estava um caos. O seu cabelo, geralmente tão bem penteado e tratado, estava bagunçado e cheio de nós; por baixo dos seus olhos verdes havia grandes olheiras e parecia ter emagrecido. O coração de Antonio ficou pesado; era de dar dó aquilo.

 

— Tens que erguer dessa cama!

— Não quero…

 

O mais novo suspirou, angustiado. Partia-lhe o coração aquela situação. Sentou-se na borda da cama e olhou para a parede branca.

 

— Poncho, eu sei bem o que sentes… – confidenciou Antonio, num tom entristecido. – Mas eu tinha alguém para me segurar. Lembras-te quando o nosso avô morreu? – não houve nenhuma resposta, mas Antonio progrediu. – Foste tu quem me abraçou quando eu tentava não chorar; fingi ser forte para que o Joel e o Delfim não soubessem o que acontecera... Mas tu deixaste-me chorar no teu peito, sem que ninguém visse. – o mais novo olhou para Afonso, mas este continuava com a cara na almofada. Suspirou. – Quando o pai teve aquele acidente e o Delfim morreu, foste tu quem cuidou de mim e do Joel quando o pai estava no hospital e a nossa mãe no trabalho. Tu aprendeste a cozinhar por nós, a passar a nossa roupa…

 

Antonio sorriu, lembrando-se de uma camisola que o Afonso queimara com o ferro. Ele ficara desesperado; escondera a camisola e esperou até que a mãe de Antonio e de Joel chegasse para perguntar o que fazer. Mireia não ralhou com ele; estava cansada do trabalho, de tudo. Farta. O seu pequeno menino morrera, culpa do seu marido... Viriato era o culpado da morte do seu menino.

A depressão cegou-a. Estava farta de chegar a casa e ver o filho que o desgraçado teve com uma qualquer antes dela. Por que ela tinha que cuidar de Afonso também? Ela era só a madrasta dele. Sentia repulsa dele e de Viriato.

Não, ela não aguentava mais.

Prepararia as coisas para ir-se embora com os seus filhos. Voltaria a viver em Espanha com Antonio e Joel. Assim que Viriato saiu do hospital, Mireia obrigou-o a assinar os papéis do divórcio e cada um percorreu o seu próprio caminho.

 

— Fizeste companhia à nossa avó quando não estávamos cá.

— Por que estás a dizer-me isso, Tonio…? – Afonso sentou-se na cama, ainda sem olhar para o irmão. – A minha companhia não valeu de nada.

— Não tiveste culpa da avó morrer de desgosto… O Delfim era o neto favorito dela e depois ver-se afastada de outros dois netos…

— Mas eu estava com ela.

— Poncho…

— Por favor, não insistes. – Afonso pediu, num murmúrio fraco. – Eu já entendi que Deus quer destruir a minha vida. Primeiro a minha família e, agora, o meu namorado…?

— Falas como se toda tua família está morta…

 

Afonso olhou, finalmente, para Antonio e contemplou a tristeza dele. Não via a alegria jovial que ele sempre carregava em seu rosto. E a causa era ele.

 

— Desculpa, Tonio…

 

Desta vez, foi Antonio quem não respondeu. Tinha que confessar; ele odiava o falecido namorado de Afonso, porém, jamais desejaria a morte, muito menos ver o seu irmão naquele estado.

 

— Vá, come o jantar. – Antonio ergueu-se da cama, esticando as pernas e sorriu; um sorriso falso e forçado, mas necessário. Afonso soube isso. – Depois vai tomar um banho, tu precisas. E tens que dar um jeito a esse ninho de ratos!

— Não insultes o meu cabelo!

 

Antonio riu-se, balbuciando alguma coisa que Afonso não entendera. Não lhe perguntaria o que ele tinha dito; estava relaxado que o irmão mais novo estava a rir e, desta vez, não era forçosamente.

Comeu o jantar enquanto ouvia o Antonio a falar sobre a pastelaria da qual eram donos. Ainda não era popular, mas tinham clientes habituais que, segundo o mais novo, estavam com saudades do Fonz.

Falou, com mais afeto, da pequena Rita, a tão conhecida Ritinha. Ela tinha muitas saudades do seu Fonfon e dos bolos que ele fazia especialmente para ela.

 

— Ah! No outro dia, caiu-lhe o primeiro dente e a fada dos dentes a visitou. – contou-lhe entusiasmado. – Ela foi comprar rebuçados com o dinheiro que a fada lhe deixou. Ela estava muito feliz.

— Hm… É uma pena que perdi isso.

— Se fores amanhã trabalhar, há des vê-la lá.

— Não sei se vou.

— Ah… – Antonio não queria obrigar o irmão a ir trabalhar, porém, a ajuda dele convinha uma vez que era um negócio ainda pequeno e eles estavam a fazer uma promoção de Halloween; só quatro pessoas em tempo integral e uma em part-time não daria por causa das folgas…

 

Afonso sabia disso, mas não estava pronto para sair de casa e ter que olhar para a cara das outras pessoas que, muito provável, iriam perguntar o motivo da ausência dele. Terminou de comer e foi tomar banho, ignorando a possibilidade de uma indigestão.

No banho, pensou na vida, afinal, que outro lugar mais agradável para tal coisa senão o chuveiro? A água morna que percorria o seu corpo o relaxava e isso ajudá-lo a organizar os pensamentos.

Sebastião, o seu amado, não gostaria de o ver assim. Diria, com toda a certeza, para sorrir como sempre sorriu. O teu sorriso faz os meus problemas desaparecem, foi o que o outro lhe havia contado numa certa manhã de inverno.

Eles viviam juntos; aquela casa o fazia lembrar dele, mas não queria se mudar. Isso seria o mesmo que negar as memórias queridas deles juntos. Foi naquela casa que eles juraram viver juntos para sempre. E assim seria; Sebastião estava no coração e na memória de Afonso. Até ao fim da sua vida, eles estariam juntos.

Com esse pensamento um tanto que otimista, ele saiu do chuveiro e enrolou a toalha à volta do tronco. Começou a secar o seu cabelo até que a porta da casa de banho foi aberta pelo Antonio com um banco da cozinha.

 

— Deixa-me pentear o teu cabelo!

— Mas já não se bate à porta?!

— Não te importes com isso.

 

Ele pousou o banco no chão e fez Afonso se sentar nele. De seguida, pegou na escova e começou a pentear o cabelo dele; a cada escovada, Afonso sentia dor. Tinha-se desleixado imenso e o seu cabelo estava terrível.

 

— Não dá para teres cuidado?! – reclamou ele, mordendo o lábio para ignorar aquela dor.

— Tu é que devias ter tido cuidado, ó idiota. – riu-se ele, prendendo um pedaço de cabelo com uma mola. – Mas deixa-me te dizer, se eu resolver este desastre, vou trabalhar num cabeleireiro!

— Tu nem ousas. – alertou Afonso, fuzilando com o olhar Antonio (ou melhor, o reflexo dele no espelho). – Precisamos de ti na pastelaria.

— E nós precisamos de ti lá. Por isso, espero que melhores logo para voltares para nós.

 

Afonso não conseguiu evitar e sorriu, sentindo os olhos a ficarem húmidos. Estava emocionado com o que Antonio acabara dizer. Aquilo aquecera o coração partido do mais velho. Dizem, por aí, que é o amor maternal que cura os corações partidos, no entanto, na ausência de mãe, nada melhor que um irmão. Podiam ter as suas divergências, imensas até, porém, naqueles momentos, eles ajudavam-se um ao outro. Eram bons irmãos, apesar das desavenças.

 

— Poncho, estás a chorar?!

— É-É por tua culpa! – fez beiço e cruzou os braços.

— Pronto, pronto.~

 

Antonio abraçou o irmão, consolando-o. Massageava as costas dele enquanto ele chorava, tentando não fazer barulho.

Apesar de ter chorado imenso nos últimos dias, só naquele momento sentiu-se, de facto, livre do peso do luto.

 

A porta do estabelecimento abriu-se e o sino preso nela anunciou a entrada dos clientes. A pequena menina, de cabelos e olhos castanhos, vestida com uma roupa de bruxa, correu até ao balcão, sorrindo como se não houvesse amanhã.

 

— Fonz! Voltaste!

 

Afonso olhou para ela e sorriu; a criança estava feliz por vê-lo – ela sorria imenso!

 

— Ritinha, como estás? Ouvi dizer que perdeste um dente.~

— Sim, sim! – Rita exclamou, apontando para onde deveria estar o dente. – Olha!

— Estou a ver!~

— Já agora, – ela inclinou a cabeça um pouco para o lado, o que lhe deu um ar adorável. – por que tens tantas tranças?

 

O mais velho riu, meio envergonhado. Antonio tinha exagerado e feito mil e um penteados; aproveitou a chance de ter uma cobaia com um cabelo tão bom como o Afonso. Mas o português eventualmente se fartou, especialmente pelo facto de estar só de toalha; ainda ficava doente!

Aquele fora o último penteado que o espanhol lhe tinha feito (e tinha ficado muito bem, que fique bem claro).

 

— Foi o Antonio que as fez. – informou ele. – Gostas?

— Sim!

— Queres que ele te faça tranças também?

— Oh, quero, quero!

 

Afonso sorriu, radiante, e chamou o seu irmão. Pediu para fazer tranças à Rita e ele aceitou de bom grado. O mais velho ficou a observá-los até ao primo deles, Gonzalo, pedir para Afonso trocar com ele; seria agora o português a confeitar os bolos.

 

A normalidade estava a voltar à pastelaria Amendoeira.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido! ♥
Espero que tenham gostado! Até à próxima! (/owo)/

(*foge antes que os leitores das outras fanfics a apanhem*)



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