Ciel estava na biblioteca do castelo com alguns livros, pergaminhos e tinta ao seu lado. A pena em sua mão permanecia imóvel. Estudava as leis mas não conseguia concentrar-se fosse na leitura ou anotações que fazia. Sua mente estava no avô. Como ele estaria? Será que continuava pescando nos dias mornos? Permanecia acordado até a madrugada alta lendo as cartas que recebia ou os livros que o prendiam? Já haviam se passado 10 anos...

“…agora sou um elemental, como desejei ser e o senhor disse que eu seria, mas sinto falta das noites em que me contava as historias que lia. Algumas delas eu não entendia nada, mas mesmo assim, gostava de ouvir.” Ciel se pegou escrevendo essas linhas no pergaminho à frente. Agora que havia começado, terminaria.

"Quando acordei no meio daquela viagem já esperada, senti me decepcionado. Não pude lhe dizer adeus ou um até breve como esperava fazer. Estava sobre o cavalo com a rainha Aasiyah me segurando para não cair. Foi uma viagem desconfortável tanto física como emocionalmente. Nos primeiros dias eu só queria voltar pra casa e encontrá -lo, ter nossos treinos com espada e até mesmo a luta corpo a corpo.
Avô, aqui eu não me tornei muito melhor nessa prática, tanto que muitas vezes penso ser um fardo para os outros que me protegem numa batalha, mas meu elemento me dá uma grande vantagem e com isso, vou aprendendo.

Lembra-se de quando o senhor me contou histórias sobre o rei Diógenes? Pude confirmar muitas das coisas que o senhor me falou. Ele é justo, centrado e dedica um amor incondicional à família. São coisas que o senhor me disse e eu pude sentir ao vê-los juntos. O rei ama seus filhos e sua rainha e isso foi mais um motivo que me levou a fazer aquele juramento.

Os príncipes Atreu e Nereu são habilidosos e neles encontrei bons amigos. Confesso que ainda não entendi porque Atreu, que é o mais velho dos filhos, está na guarda ao invés de ser o herdeiro do trono, mas eles disseram que com o tempo eu compreenderia. Acredito que o senhor saiba o motivo, a rainha disse que o senhor costumava vir muito aqui.

Uma vez senti sua presença no castelo e o procurei por todos os lugares. Apesar de eu ter certeza de sua presença, não o encontrei em lugar algum. Passei a tarde com um grande sentimento de tristeza e foi Agatah e Rubi que resgataram."

Ciel se lembrou de Rubi dizendo "Então vamos pescar!" e Agatah perguntando se ela tinha alguma noção de como se pescava. Os guardiões riram quando a outra lhe respondeu com "claro que não! ".

“Foi uma tarde calorosa.” -pensou e voltou a escrever.

"Avô, sinto saudades do sabor da sua comida. Aqui temos que preparar nossas refeições quando estamos em treino. E até na culinária cada um tem sua especialidade. Agatah vive falando que a sopa de raiz de lótus dele é a mais perfeita que poderia existir, mas mesmo que eu tenha concordado, sinto saudades da sua sopa sem sal.” -Ciel riu imaginando o avô reclamando contrariado.

O riso fez com que Agatah, que estava cochilando ao seu lado, acordasse e procurasse saber o que fazia o guardião mais quieto (“só perde pra Ren!” disse uma vez) rir no meio do estudo. E viu que o amigo escrevia avidamente no pergaminho. Ás vezes não entendia como Ciel, cego, conseguia escrever qualquer coisa num pergaminho e por isso a sonolência dissipou-se dando lugar à curiosidade.

—O que está escrevendo? - perguntou curioso puxando o pergaminho para ver seu conteúdo.

—Uma carta.. para meu avô. -disse corando ligeiramente.

—Uma carta….? -Agatah voltava a encarar o pergaminho. -Mas isso é só …. Ai!

Rubi que estava logo atrás de Agatah, pisou no pé do guardião e lhe deu uma moca na cabeça. Estava observando Ciel enquanto ele escrevia e o guardião parecia tão feliz escrevendo aquela carta que não iria deixar que uma ‘alga marinha’ acabasse com a felicidade do “menino” lhe dizendo que na carta só tinha garranchos escritos.