Há exatos 13 anos, tive meu primeiro contato com o piano.

Viver em um mundo escuro foi difícil na infância. Encontrar no piano a explicação de todas as melodias à minha volta me fez descobrir que eu não precisava de olhos para reconhecer a beleza das coisas.

Música sempre me foi sinônimo de salvação.

Durante minha tempestade psicológica, também seria.

Tocar fez meu nervosismo se tornar arrefecido. Fez eu conseguir ter coragem de encarar qualquer verdade que viesse.

Tocar fez o tempo passar rápido. Sequer notei que a tarde estava para começar.

Apressei-me.

Tomei banho.

Escovei os dentes.

Perfume.

Me vesti.

Mais perfume.

Minha mãe me ajudou com o cabelo.

Tomei o último analgésico.

Estava pronto. Pronto para saber o que eu tinha para dar a Ariel.

Me mantive “calmo” até minha mãe surgir novamente, às pressas. Sua voz era seca, como uma gota no chão quente.

“Ariel amanheceu muito doente. Pediu para ver você.”

Fiquei em silêncio. Entreguei minha mão e minha mãe me levou.

A angústia me deixou mudo. O caminho entre nossas casas era longo.

Demoramos a chegar.

Abriram a porta.

 “Surpresa!”, várias vozes gritaram juntas. Uma delas pertencia a Ariel.

De tão nervoso, demorei a entender.