“Talvez”

Um sonho. Jacob acordou e se deu conta de que tudo não passara de um sonho, embora pudesse lembrar com clareza todos os momentos; a caminhada na praia, a água fria tocando os pés descalços, o calor da mão branca dela entrelaçada à sua, o tom suave, quase inaudível de sua voz, e até o cheiro que emanava dos seus cabelos cada vez que o vento batia e os fazia voar para seu rosto; amava o jeito simples como ela colocava-os para trás da orelha. Jacob suspirou. Seria mais feliz se nunca a tivesse conhecido? Perguntava-se. Talvez. Se Bella nunca tivesse aparecido as coisas seriam mais fáceis pra ele. Não ficaria com frio na barriga só de ouvir o nome dela, não precisaria disputar a atenção de Bella com seu namorado, e assim não teria a oportunidade de deixar o perfeito Edward irritado e com ciúmes; se Bella nunca tivesse resolvido se mudar, a vida de Jacob não teria mudado, ele continuaria como antes, ajudando o pai em casa, se divertindo com os amigos. Jacob sorriu, com seu jeito infantil, despreocupado, quase irresponsável. Não. Definitivamente não seria mais feliz se não conhecesse Bella, afinal, que graça teria se ele não pudesse ao menos sonhar com ela? Ele a amava, não importava se para Bella ele seria sempre o garoto Jacob, infantil e imaturo.

Jacob decidiu ir vê-la naquele dia, estava com saudade, precisavam conversar, poderiam combinar um passeio à praia qualquer dia.

– Vim à cidade comprar mantimentos, estava passando em frente, resolvi entrar pra dar um ‘oi’ – mentiu assim que Bella abriu a porta, e demonstrou surpresa ao vê-lo; o beijo de boas vindas tão sonhado pelo garoto não veio, mas Bella sorriu sinceramente.

– Bom, que bom que você veio, Jacob. Hum, quer entrar?

– Sim, obrigado. – por que era sempre tão difícil começar uma conversa? Ele não conseguia entender; embora tivesse treinado o caminho inteiro, repetindo as palavras que deveria dizer, agora não conseguia falar nada. Bella não parecia mais à vontade; ficar perto de Jacob tinha se tornado uma tarefa mais difícil desde que seu amigo declarou-se perdidamente apaixonado por ela.

– Então, ahm...

– Eu estou te incomodando? Quer dizer você está ocupada?

– Não, eu só estava estudando um pouco.

– Então, o que você pretende fazer no fim de semana?  - Bella ia falar, mas Jacob, resolvido a não perder a chance, continuou sem lhe dar tempo – é que eu pensei em ir à praia, talvez acampar, e pensei que talvez você quisesse ir, uma vez você falou que gostaria de acampar, lembra? Então, o que você acha?

– Acampar é uma ótima ideia, Jacob... – os olhos de Jacob brilharam diante da expectativa, e a esperança revelada no olhar do amigo deixou Bella triste, magoaria o sensível Jacob mais uma vez. – mas eu não posso ir, eu já tenho programa para o fim de semana.

– Ah! Que pena, acho que seria divertido. E, o que você vai fazer? – Jacob perguntou, mesmo sabendo que não ia gostar da resposta; Bella por sua vez não entendia por que ele fazia aquilo, por que insistia tanto quando estava cansado de saber que nunca teria nenhuma relação além de amizade; essa teimosia de Jacob sempre a irritava.

– Eu vou sair, vou sair com o Edward, e com a família dele.

– Que divertido! – Jacob bufou, incapaz de esconder a decepção.

– Bella? Você vem ou eu terei que buscá-la? – a conhecida voz musical de Edward soou brincalhona no andar de cima.

– Desculpa, ter te atrapalhado, Bella. – Jacob caminhou rapidamente até a porta, sem nem mesmo encarar Bella.

– Jacob, nós podemos acampar outro dia... – disse, sentindo-se ridícula por propor uma coisa que nunca iria acontecer, e não conseguiu encarar os negros olhos de Jacob que transpareciam toda a decepção, quando mais uma vez a voz de Edward chamou o nome de Bella, Jacob sabia que ele estava fazendo de propósito por que sabia de sua presença.

– Claro, outro dia. Tchau, Bella. – disse com a voz embargada; temendo não conter as lágrimas que ameaçavam romper, saiu porta afora, sem esperar pela despedida de Bella.

      Já na rua, conseguiu impedir que as lágrimas caíssem, afinal, que “homem seria se ficasse chorando pelos cantos feito um bebezinho?”. Jacob dizia a si mesmo. Mas a verdade era que queria mesmo chorar. Queria chorar por que não conseguia entender como uma grande alegria e uma tristeza terrível poderiam ficar tão próximas; como sua felicidade acabava tão rápido. Num instante seria capaz de ser a pessoa mais feliz do mundo, simplesmente com a ideia de passar um fim de semana inteiro com Bella; mas, mais uma vez, a verdade, a triste verdade bate à sua porta, sob a forma da voz de Edward, que parecia lembrar-lhe que Bella não lhe ama, e nunca vai amar, por que ela só tem olhos para o próprio Edward. E mais uma vez Jacob se sentia vazio, derrotado e confuso. Confuso porque sabia que, logo que a raiva passasse, voltaria a ter esperanças, voltaria a sonhar com Bella, a imaginar que um dia talvez ela percebesse que Edward não tem nada de perfeito como ela imagina; que talvez Bella possa vê-lo de um jeito diferente, não apenas como seu amigo de infância.

Mais uma vez Jacob pensou em como seria se não existisse Bella. Não haveria tanta confusão de sentimentos. Não viveria sempre no limite entre a felicidade plena e a tristeza eterna. Talvez fosse mais feliz, talvez não.