Fangirl escrita por Sorvete de Limão


Capítulo 3
III


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo de fangirl aaaaa
Espero que gostem e boa leitura!



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Eu não queria ter que ir para aquele tanto de evento que tinha programado para hoje. Não queria ver James Potter e só queria voltar para Chelmsford.

Porém, Marlene não concordava comigo porque me acordou às 8 horas da manhã, com um puxão na perna – como sempre -, mesmo eu tendo deixado bem claro que não queria ouvir mais nada sobre Bittersweet. E nem James Potter.

Principalmente, James Potter.

Porque Bittersweet é uma série maravilhosa e eu não vou deixar que ele estrague isso para mim, entretanto, eu só estava cansada de tudo isso. Eu, por muito tempo, vivi na minha bolha de ingenuidade acreditando que os atores seriam aquelas pessoas que os seus personagens eram. Ingenuidade nível hard, mas eu realmente gosto do mundo fictício de Bittersweet.

E eu, simplesmente, não queria estar mais ali naqueles eventos só para descobrir que os outros atores também poderiam ser arrogantes e convencidos.

Eu queria voltar para casa e assistir Bittersweet porque a série é maravilhosa – independentemente se os atores são ou não – e não me envolver ou se iludir tanto a respeito dos atores.

De todo jeito, eu ignorei o primeiro puxão de Marlene, mas o segundo foi mais forte e fiquei com metade do corpo para fora da cama.

— O que é? – eu disse jogando a almofada sobre a minha cabeça.

— Você se esqueceu de que hoje tem um monte de eventos de Bittersweet?

— Eu não quero ir. Quero voltar para Chelmsford.

— Ai meu Deus, Lily. Eu não acredito que você vai deixar de ir só por causa do babaca do James Potter. É uma oportunidade única na vida! – ela retirou a almofada da minha cabeça e se sentou ao meu lado.

— Não é isso. É só... Decepção. Eu passei a minha vida toda de fã de Bittersweet adorando James Potter por causa do personagem dele. E... Agora eu não quero conhecer de verdade os outros atores e me decepcionar.

— Primeiro, você não tem como saber que todos os atores são assim. Segundo, ele só falou tudo aquilo porque pensava que estava sozinho. Aliás, duvido muito de que tudo aquilo que ele disse saia em algum jornal, tabloide ou algo assim. Terceiro, deixa ele pra lá.

— Eu sempre soube de que dentre todos os atores o James era o que menos socializava com os fãs, mas... – suspirei.

— Mas nada. Vamos logo porque ainda tem o café da manhã.

 Eu já tinha desistido de tentar convencer Marlene de alguma coisa quando ela põe algo na cabeça. Afinal, eu a conheço desde a primeira série.

Depois de tomarmos café da manhã e nos arrumar encontramos Stephanie no saguão nos esperando novamente.

Entramos no carro e, se ontem eu não via a hora de chegar à première logo, hoje eu só queria que acontecesse alguma coisa para impedir nosso carro de chegar ao Green Park.

Stephanie e Marlene conversavam sobre a festa de ontem e sobre os eventos de hoje.

Aliás, hoje os eventos consistiam em um piquenique temático no parque. Logo após, teria um evento em Leicester Square com a criadora e alguns atores, eles iam falar sobre a série e responder perguntas como se fosse uma Comic Con em tamanho menor e só sobre Bittersweet.

Chegamos ao Green Park. Hoje o dia está excepcionalmente ensolarado, já que estamos no Outono.

Marlene está na fase gótica dela então ela resmungou quando saiu do carro e colocou seus óculos escuros.

— Odeio sol. – ela resmunga, porém, eu estou renovada.

Já estava na hora, aliás, depois de ter ficado naquele poço de tristeza e decepção por sei lá quantas horas.

Não sei se foi a linda decoração do piquenique, o sol, ou toda aquela atmosfera de leveza e felicidade que me trouxe o espírito da renovação, mas foi alguma coisa e deu certo.

Eu não estou nem aí para James Potter. Não vai mudar nada na minha vida, pra ser sincera.

Eu também estou decidida quanto a não beber hoje porque a minha dor de cabeça estava muito forte a ponto de eu prometer não beber nada nunca mais.

Porém, a promessa da Marlene já foi para os ares porque ela pegou uma taça de alguma coisa assim que um garçom passou perto da gente.

— E aquele papo de Marlene 2.0?                            

— Cansei. – ela dá de ombros e bebe mais um pouco.

Pois é.

Avistei Juliet e começamos a conversar (sim, eu estava quase surtando o tempo todo, mas como eu disse: plena). Marlene já estava na segunda taça de champanhe quando achei melhor intervir antes que ela começasse a ficar louca ou algo assim.

Foi quando eu o vi. Sim, o próprio James Potter e eu não devia ter dado tanta importância assim. Quer dizer, eu deveria ter virado a cabeça e continuado a conversar com Juliet que é bem legal. Mas não, eu fiquei lá igual a tonta que sou encarando o menino como se ele me conhecesse e eu conhecesse ele. Como se a gente um dia tivesse se falado ou algo assim.

Francamente.

Até que eu sinto uma cotovelada no meu braço e, para ter doído daquele jeito, só pode ter sido da Marlene.

— Ai! – passei a mão no braço direito.

— Ai o que? Por que você estava encarando aquele cara? – Marlene disse com raiva enquanto Juliet encarava nós duas.

— Nada, só estava encarando.

— Ela é apaixonada pelo Luke Moyes. – Marlene disse, assim como não quer nada, de repente para a Juliet. – E pensou que eram a mesma pessoa.

— Eu sei! É fácil se confundir. – Juliet disse olhando para James que tinha se aproximado de Remus e Sirius.

— O que você quer dizer? – Marlene perguntou.

— Vocês lembram quando a série começou? Aquela coisa que teve com nós dois.

— Não. – Marlene respondeu.

— Sim. – eu me lembro claramente daquela treta toda.

— Pois é, nossos agentes conseguiram dar a entender que foi só uma jogada de marketing. Mas não foi. Foi tudo real. No fim das contas nosso término foi péssimo e era tão difícil ter que vê-lo como o apaixonante Luke por três anos sabendo que ele não é assim.

— O que ele fez?

— Nada muito grave, mas são diferentes. Luke é uma personagem e James não. Eu te entendo, Lily. Mas não perde tempo com isso tá?

Ela se afastou e Marlene e eu ficamos sozinhas.

— Que coisa.

— Pois é. – Marlene deu de ombros, mas logo se virou e estreitou os olhos para mim. – Não se envolva, Lily Evans! A essa hora amanhã estaremos lindas, livres, leves e soltas em Chelmsford. Quer dizer livres e soltas não, porque a faculdade vai voltar, mas...

— Eu não vou me envolver com James Potter. Prometo.

— Não prometa algo que você não pode cumprir.

— O que? A gente nunca nem se falou, ainda mais se envolver.

— Sei... Você pode até não ter a intenção, mas você tem essa tendência de ser curiosa demais e querer ajudar as pessoas. Que nem quando você queria juntar o Filch e a Umbridge e antes disso o Filch e aquela senhora estranha do primeiro andar.

— Foi só uma ideia, Marlene. – eu realmente tinha tentado juntar o Filch e a senhora estranha do primeiro andar, mas quando eu consegui fazer com que eles ficassem sozinhos e juntos no saguão do prédio, eles só resmungaram um pouco e conversaram sobre gatos e foi isso. – Além do mais, com quem você está envolvida?

— O quê?

— Sim. Você estava toda bobinha e com batom borrado ontem, o que me leva a pensar que você ficou com alguém, e hoje você está toda resmungona e falando que odeia o sol, o que me leva a pensar que você e esse alguém terminaram. Sei lá.

— Ah tá, Lily. Como se o fato de eu odiar o sol tem algo a ver com homem.

— Tá, não o sol, mas ontem você estava diferente. – ela ia falar alguma coisa, mas aí tirou o celular da bolsa e abriu um sorriso. Olha aí. OLHA AÍ.

— Já volto.

— O que?

— Retocar o batom. – ela disse já se virando para algum lugar.

— Seu batom já está retocado! – mas ela me ignora e vai pra outro lugar.

Agora que eu estava sozinha em um lugar com um monte de gente que eu não conheço, eu tenho que me virar.

Sentei em um dos pufes que estavam espalhados pelo parque e comecei a fingir que estava conversando com alguém, sabe? Fiquei digitando qualquer coisa nas “Notas”, dava até uns sorrisos ocasionalmente – para ficar mais realista.

Até que uma pessoa se sentou do meu lado e eu rapidamente bloqueei o celular.

É James Potter.

Francamente.

Fiquei quieta encarando ele e ele me encarando.

— O que você quer? – eu perguntei, bancando a plena.

— Só queria me desculpar.

— Ah tá. – eu não queria soar tão indiferente, mas queria sim.

— Eu sei que eu fui arrogante e estúpido, desculpa.

— Tá bom. – dei de ombros.

(Eu gostaria de acrescentar aqui que não sei o que aconteceu comigo durante essa conversa. Eu estava tão calma, nem parecia que eu estava do lado do meu maior ex-ídolo).

Ficamos em silêncio e eu só queria que ele fosse embora logo para eu continuar fingindo que estava falando com alguém.

— Sabe, eu não sou aquele tipo de pessoa que destrata os fãs e tudo mais.

— Sério? – eu perguntei desacreditada.

— Eu não fui sempre assim ok? Eu só tive algumas experiências ruins. – ele suspirou e passou a mão pelo cabelo. Desviei o olhar, essa beleza toda está me desconcentrando.

— Então, você quem ganhou a promoção da Inside. – me virei rapidamente, ele estava mesmo tentando puxar papo comigo.

Bom, pior do que fingir que estava conversando com alguém não podia ser né.

— Sim. Eu ganhei e trouxe minha amiga, Marlene, como acompanhante.

— Uma loira?

— Aham.

— É aquela que estava ficando com o Sirius ontem à noite?

— O quê? – eu me virei rapidamente, de novo.

— Nada. – ele desconversou.

— Você quer dizer que a Marlene e o...

— Oi Lily! – a dita cuja aparece repentinamente ao meu lado sorrindo muito e com os olhos levemente arregalados. – Vamos ali comigo? Tchau, James! – ela me puxa pelo braço e saímos da tenda.

— O que o James estava falando era verdade?

— Não sei de nada sobre isso.

— Marlene...

— Estão servindo canapés! Adoro canapé! Principalmente os de camarão.

Eu fiquei quieta enquanto Marlene pegava praticamente todos os canapés de camarão da bandeja e se entupia com eles.

Sabe o que é isso? É desespero.

Eu iria esperar até a Marlene parar de bancar a difícil – que só deveria acontecer quando voltássemos a Chelmsford – para interroga-la e entender o que estava acontecendo.

Quer dizer, se todos aqueles boatos de Remus e Sirius juntos eram verdadeiros, então Sirius e Marlene não poderiam ter ficado juntos. Ou... Sei lá.

Sei lá.

Apaguei todas as hipóteses da minha mente e peguei um canapé. Tirei uma foto do evento e postei na fanpage junto com uma selfie minha e da Marlene.

Depois de ficarmos andando de um lado para o outro por um tempo, Stephanie nos leva para almoçar em um restaurante e depois vamos ao outro evento de Bittersweet.

Eu estava meio cansada da rotina, todos esses dias dormindo tarde e acordando cedo estavam começando a cobrar seu preço, mas queria saber quais foram as experiências ruins de James.

Nessa minha vida de fangirl, eu já vi de tudo. Sempre fiz parte de grupos e acompanhei muitas histórias. E é claro que já ouvi histórias de fãs que invadiam hotéis e se escondiam em vasos de plantas, fãs que pulavam em cima dos ídolos e começavam a gritar e tal.

Porém, eu nunca pensei em como isso tudo afetava a pessoa famosa.

Nossos lugares são na primeira fileira ao lado de um monte de jornalistas. Os outros fãs que estavam algumas fileiras atrás de nós gritaram quando os atores, alguns diretores e a criadora da série entraram.

Tirei algumas fotos do stand. Stephanie perguntou se eu queria fazer alguma pergunta. Os outros administradores da fanpage até tinham mandado algumas perguntas para eu fazer, principalmente à criadora da série Emily Green, mas Stephanie disse que ela ia nos apresentar depois.

Então, eu achei melhor do que me levantar ali no meio de todo mundo com todos os olhares voltados à minha direção e perguntar algo do tipo “Então, Emily, qual foi a sua maior inspiração para Bittersweet?” ou “Quais são seus futuros planos?” até porque ela já deve ter respondido isso milhares de vezes.

Depois, os atores foram dispensados e Stephanie nos guiou até os bastidores.

Todos os atores estavam lá, inclusive James Potter que me encarou por tempo demais. Desviei o olhar e senti meu rosto corar. Aquilo me lembrou da nossa conversa de mais cedo e a insinuação de algo entre Marlene e Sirius. A Marlene estava muito engraçadinha ultimamente e eu não duvido de mais nada vindo dela.

Eu tenho que me lembrar de perguntar para ela o que significa aquilo tudo, porém foquei meu olhar nos cachos escuros de Emily e abri meu melhor sorriso de “sou-uma-fã-mas-não-uma-fã-obcecada-rsrsrs”.

Marlene me acompanhou, mas ela não falou nada e só ficou parada do meu lado sorrindo.

Fiz uma live e recebi perguntas ao vivo dos curtidores e dos administradores da fanpage, eu virei uma correspondente/jornalista/alguém que faz isso profissionalmente e eu estava me sentindo muito quando terminamos.

Depois disso teve meio que um coquetel ou coisa assim e ficamos ali por mais um tempo.

— Eu não acredito que já está acabando. – Marlene comentou depois que terminamos a entrevista com Emily Green. – Amanhã já estaremos de volta à Chelmsford.

— Verdade, mas eu estou cansada. Nunca pensei que tudo isso cansava. – Marlene fechou a cara.

— Sério, Lily? Sério?

— Só estou cansada, Marley. Não tem nada a ver com você-sabe-quem.

— Eu acho que tem muito a ver com você-sabe-quem.

— É um dos fatores, mas não é tudo.

— O que é então?

— O que o James disse no piquenique é verdade?

— O que ele disse? – ela comentou distraidamente enquanto passava os olhos pelo local procurando alguma coisa para comentar e me distrair.

— Você sabe muito bem do que eu estou falando.

— Tá tá a gente ficou. Foi só isso. Além do mais, eu acho que ele tá a fim de outra pessoa. – ela disse de uma vez e bem rápido.

— Ok. – eu disse devagar. – Ok.

— Foi bom? Foi. Eu quero repetir? Talvez. Vai rolar? Não sei.

— Ok Marlene. – ela suspirou.

— Ai vamos embora.

Nos despedimos de Stephanie e de mais algumas outras pessoas e pegamos um táxi de volta ao hotel.

Passamos o resto do dia pedindo serviço de quarto e assistindo filmes. No final do dia, quando Marlene já estava dormindo e eu fui conferir as notificações no celular antes de dormir, eu vi uma mensagem de um número novo.

Oi
Espero que tenha gostado do seu tempo em Londres

Primeiro eu achei que fosse a Stephanie, mas isso não fazia sentido já que o contato dela estava salvo.

É James Potter, a propósito

Como conseguiu meu número?


Eu peguei com a Stephanie

Ata
Eu gostei sim apesar de ser bem cansativo


Eu sei
Não sei porque ficam fazendo esse tanto de evento
É assim toda temporada

Sério?


Aham desde a primeira
Mas essa foi a mais interessante

Hum
Mas como foi a primeira se ninguém conhecia Bittersweet?

 

Eu sei que eu não devia, mas começamos a conversar e eu só fui parar bem depois da meia-noite, lembrando que Marlene costuma acordar cedo e me acordar junto.

E não foi diferente no outro dia. Ela me acordou com um puxão na perna, como de praxe.

— Último dia em Londres! – ela se jogou ao meu lado na cama. Ela já está arrumada. – Bora, se arruma.

Passamos a manhã andando de um lado para o outro em Londres fingindo que morávamos ali e tirando tantas fotos que poderíamos colocar no Instagram pelos próximos seis meses.

Almoçamos por ali e Stephanie mandou uma mensagem para nos encontrarmos no hotel em 30 minutos.

Marlene estava colocando uma legenda em uma foto minha no piquenique de ontem quando ela soltou um grito no meio da rua, fazendo todo mundo olhar para a gente e meu rosto tingir-se de vermelho.

— O que foi isso Marlene? – eu disse puxando ela pelo pulso para um canto. Ela continuava encarando o celular com os olhos arregalados.

— James Potter. James Potter. Por que ele te mandou mensagem? Você está conversando com ele! – ela disse apontando para o celular e balançando ele na minha cara.

— Eu sei. Eu sei!

— Você sabe?

— Sei Marlene. Ele pediu meu número para a Stephanie. Começamos a conversar ontem. – peguei o celular da mão dela e guardei no bolso da minha calça. Marlene deixou de exibir uma expressão chocada e abriu um sorriso malicioso.

— Ele pediu, foi? – revirei os olhos.

— Pediu, mas deve ser porque ele ainda se sente culpado ou algo assim. Vai ser passageiro, você vai ver. Daqui a pouco nem vamos nos falar mais. Além disso, eu quero saber quais foram as experiências ruins com os fãs.

— Bom, eu acho que esse negócio de “se sentir culpado” não vale mais porque ele já pediu desculpas.

— O que você quer dizer com isso? – ela deu de ombros e saiu andando.

— Não sei.

Ah mas você sabe Marlene. Você sabe sim, só não quer me contar.

É bem a cara dela mesmo fazer isso. Jogar uma coisa no ar e depois sair como se não tivesse dito nada.

Eu deixei isso para lá por algumas razões:

1) Porque eu sabia que isso não ia dar em nada;

2) Porque eu pedi para Marlene me contar o que ela queria dizer com aquilo, mas ela não disse mais nada e nem ia dizer.

O percurso de Londres a Chelmsford foi rápido e logo estávamos de volta ao prédio de três andares no centro de Chelmsford, que é onde eu e Marlene moramos.

— Ai ai. – Marlene se jogou no sofá deixando indiretamente a obrigação de guardar as malas para mim.

Levei todas as malas para os respectivos quartos e depois me deitei na cama. Mandei mensagens a todos que tinham pedido autógrafo dizendo para eles virem buscar porque eu já tive o trabalho de ir lá e pedir. Mandei uma mensagem para James avisando que tinha chegado bem em casa, mas fiz isso por consideração e não porque ele pediu.

Depois fui até a papelaria comprar papel para carta, selos e envelopes porque eu tinha que mandar os autógrafos para Louise, Benjamin e Sarah que moravam em outras cidades. Aproveitei para comprar comida já que eu e Marlene fazemos compras semanais ao invés de mensais pelo simples motivo de que alguém sempre esquece alguma coisa essencial como sal, macarrão, chocolate ou cereal. E também porque nunca compramos o suficiente para o mês e porque Marlene sempre dava alguma desculpa para não poder ir fazer compras - porque ela não gosta de fazer compras - e eu ficava com mais essa responsabilidade e às vezes eu esquecia.

Quando voltei, Marlene estava estudando e isso me lembrou de que eu também tenho que fazer isso, afinal as aulas voltam semana que vem.

Bem triste, mas fazer o quê.

***

O dia 11 de setembro finalmente/infelizmente chegou e fui acordada bruscamente pelo despertador que Dorcas tinha comprado para mim há alguns anos – porque eu sempre chegava atrasada.

Eu adorei o presente que Dorcas tinha me comprado porque na época eu achei que ia ser bem útil, mas eu odeio esse despertador, ele é barulhento e inconveniente.

Marlene, incrivelmente, já está acordada toda serelepe e radiante. Eu não sei qual é o problema dela e não sei por que ela sempre está de bom humor de manhã.

Deve ser porque as manhãs sempre são nubladas.

— Bom dia. Café ou chá?

Eu devia pedir café pra ver se me acorda, mas não.

— Chá.

— Não tem chá tem que ser café.

Eu sei que tem chá porque eu comprei um pacote bem grande de Earl Grey ontem, mas eu cheguei a um ponto da minha vida com a Marlene que eu só vou sabe.

— Tá, então pode ser café.

O mais peculiar é que Marlene só vinha com esse papo de café de manhã às vezes, porque é bem comum nós duas tomarmos chá de manhã em vez de café.

Ela colocou uma xícara cheia de café na minha frente.

— Isso. Bebe tudo porque você está péssima.

Ah, então é por isso.

Depois disso, nos arrumamos e fomos até a nossa querida e cansativa universidade Anglia Ruskin que já está cheia de carros e alunos novos perdidos.

As grandes placas de vidro do prédio central e moderno do campus refletiam o céu cinza no qual começava a aparecer alguns raios de luz.

Marlene resmungou quando viu isso e checou de novo a previsão do tempo no celular.

— Está vendo? Predominantemente nublado. Não sei por que esse sol tá aí.

Eu queria dizer a ela que o Sol sempre estaria aqui, mas Marlene só ia resmungar alguma coisa.

Nos despedimos quando entramos no prédio e Marlene foi para a sua sala de Literatura Inglesa.  Enquanto eu fui bem plena para o lado de Direito do prédio, sim eu curso Direito. As pessoas geralmente não acham que eu tenho cara de estudante de Direito, mas eu sempre me imaginei uma juíza. Sabe, batendo o martelo e falando “Sessão encerrada” ou “Ordem no tribunal! Ordem!”.  Ou uma advogada falando coisas como “Você tem certeza? Porque eu tenho evidências aqui que mostram justamente o contrário.”

Acho que posso ser muito boa nisso.

***
Não, eu não posso te dar spoiler da terceira temporada

Por favooor


Não, você já viu os dois primeiros episódios
Agora você quer mais?

Tá então se eu te perguntar alguma coisa você responde?


Só se for uma pergunta bem específica

Comecei a pensar em algo para perguntar a James quando Marlene se senta na cadeira ao lado da minha em uma das muitas lanchonetes do campus.

— Nossa. O que você veio fazer aqui? É bem longe do nosso prédio.

A verdade, e eu não iria admitir isso para Marlene nunca, é que James me ligou quando saí da aula e eu fiquei andando sem parar para pensar para onde estava indo e acabei chegando aqui. Só tínhamos parado porque James tinha uma reunião com um de seus agentes, porém continuamos conversando por mensagens.

Marlene tinha me mandado uma mensagem perguntando onde eu estava – já que geralmente nos encontramos nas mesas que ficam em frente a entrada e saída do prédio.

— Nada, só comecei a andar sabe?

— Com quem estava falando?

— Ninguém.

— James. Pode falar Lily. – revirei os olhos e guardei o celular na bolsa. Começamos a conversar sobre o primeiro dia de aula.

Mesmo com o campus central em Cambridge, o campus de Chelmsford também é bem grande e com muitos cursos.  Devido a isso, eu e Marlene ficamos o resto da tarde dando direções erradas aos alunos novos e rindo da cara de perdido deles.

Só espero que eu não vá para o Inferno por causa disso.

***

Eu tenho um professor bem chato de Teoria Geral do Processo - que odeia os alunos e odeia tudo e eu sempre me pergunto o que ele está fazendo ali - que achou que ia ser bem legal passar um trabalho gigante na primeira semana de aula.

Quando eu vejo isso eu penso em dar uma de Amélie Poulain e entrar na casa dele e trocar a pasta de dente por creme para os pés, trocar as maçanetas, mudar os números na discagem rápido do telefone ou algo assim. Porém, a Amélie Poulain faz todas essas peripécias no saudoso e fácil ano de 1997 no qual você pode simplesmente entrar na casa das pessoas sem se preocupar se tem uma câmera te filmando, até porque eu acho que não existiam câmeras naquela época.

Então, tudo que me restou foi fuzilar o professor com os olhos, mas isso não fez diferença alguma na vida dele.

Depois da aula eu fui para uma lanchonete que tem perto do campus porque eu queria distância da universidade no momento. Marlene só sairia mais tarde da aula e depois ela ia começar no seu mais novo emprego.

Essa é uma das desvantagens de se morar sozinha e não nos quartos que a universidade oferece, porém eu e Marlene nunca tivemos sorte com colegas de quarto e depois de algumas experiências bizarras achamos melhor alugar um apartamento.

Então, eu fico aqui esperando ela para voltarmos juntas pra casa porque... Sei lá porque, mas sempre fizemos isso.

Falando nisso, eu tenho que começar em um novo emprego porque Marlene nunca fica muito tempo em um. Ela sempre arranja confusão com alguém e quase sempre é demitida, ou ela se demite e dá no mesmo.

Pego o notebook da bolsa e começo a trabalhar na versão nova do meu currículo, a última vez que eu tinha feito isso foi antes de começar a trabalhar na loja da Umbridge.

Não tem nada novo que eu possa colocar no meu currículo porque quase nada mudou na minha vida, além do fato de que agora estou iniciando o terceiro ano na faculdade de Direito e logo terei que sair do emprego para que eu possa começar a procurar estágio.

Que fase.

Meu celular vibra com a chegada de uma nova mensagem.

Você sabia que Chelmsford fica a apenas uma hora de distância de Londres?
Quando vamos marcar de nos ver?

Assim na lata. James, James.

Ata você vai vir para Chelmsford e acha que ninguém vai te reconhecer?


Minha cara Lily, até parece que alguém vai me reconhecer
Uma das melhores partes de ser uma celebridade reconhecida internacionalmente
é o fato de que você tem muitos disfarces

Kkkkkkkkk
Só acredito vendo


Então tá bom
Sábado às 15h
Escolhe o lugar

Eu estava rindo, mas cada K era uma lágrima.

Compartilhei minha localização e disse que o esperaria no sábado.

Eu nem sei. NEM SEI.

***

A semana passou muito devagar e eu não sabia se isso foi bom ou ruim.

Bom porque né eu estava nervosa.

Ruim porque né eu estava ansiosa.

Porém, o sábado chegou e eu fiquei aliviada pelo fato de que Marlene ia passar a tarde fora devido ao novo trabalho dela.

Então, eu não precisaria ficar respondendo nenhuma pergunta até porque eu nem saberia o que responder.

“Você e o James estão tendo uma coisa?”

Defina coisa.

“Coisa tipo romance?”

Não né, quer dizer a gente só tá se falando e tal. Se eu gosto dele? Gosto né. Gosto há três anos. Quer dizer, do Luke e não do James *risos nervosos* Não sei, estou nervosa *começa a rir de nervoso*.

Pois é.

Eu não disse nada de manhã enquanto eu e Marlene reclamávamos sobre a faculdade durante o café da manhã, nada enquanto cada uma foi para seu quarto para estudar, nada enquanto colocávamos música e eu fazia o almoço e ela fingia que ajudava e nada quando ela se arrumou e foi para o trabalho.

Eu consigo fazer isso, consigo. Eu nem vou ser afetada pela ótima aparência dele porque ele vai estar disfarçado e vai ser só uma boa conversa como amigos. E eu já o vi, já conversei com ele. Já troquei mensagens, já ligamos um para o outro. Tá tudo ok. Faço isso o tempo todo.

Com esse pensamento otimista e corajoso fui em direção à lanchonete que marcamos e eu cheguei primeiro.

Bem plena, eu me sentei em uma mesa, peguei o cardápio, sorri para a garçonete, cobri meu rosto com o cardápio e respirei fundo.

Calma e plena. Calma e plena. Calma e plena.

— Lily? – quase morri de susto, mas disfarcei. Abaixei o cardápio até a altura dos olhos e me deparei com uma figura alta, de óculos, bigode e lentes de contato verdes.

— James? – eu disse nem acreditando que aquele é ele mesmo.

James Potter usa óculos de grau, mas Luke Moyes não e apesar de todos os fãs mais assíduos saberem que ele prefere óculos, quase ninguém via os tais óculos escuros de armação redonda.

E isso tinha muito a ver com o fato de James odiar paparazzi e fazer de tudo para fugir deles.

Ele apenas sorriu e tirou o casaco.

— Difícil me reconhecer?

— Muito. – abaixei o cardápio e sorri. – Quase não te reconheci.

Bem, se a minha preocupação esse tempo todo foi que poderia ser estranho nosso “encontro”, eu estava muito enganada.

Passamos o tempo todo conversando, rindo e tudo mais. Foi leve e fácil só que eu queria saber o que foi todo esse trauma que o impediu de ser mais próximo dos fãs e tudo mais.

Mexi no meu segundo copo de frappuccino enquanto tomo coragem.

— Então, James. – pigarrei e bebi mais um pouco do café. – Você disse que teve algumas experiências ruins com fãs. O que aconteceu, exatamente? – ele deu de ombros, mas começou a olhar para qualquer ponto que não fosse eu.

— Nada. É só que... – ele respirou fundo. – Quando você escolhe essa carreira, sabe que vai ter algumas consequências. Sabe que não vai ter mais privacidade, que as pessoas vão querer saber de tudo sobre a sua vida e que às vezes vão querer invadir sua casa, seu hotel ou seu espaço pessoal. Mas quando você tá ali assinando um contrato que vai te levar a fazer aquilo que você mais gosta na vida, todas essas hipóteses parecem distantes. Eu não imaginei que aquilo ia mesmo acontecer comigo, mas aconteceu.

Eu fiquei calada porque não sabia o que dizer.

— Foi no começo de Bittersweet, uma fã invadiu o hotel e se escondeu no meu armário. Eu não sei como ela fez isso, mas quando eu abri o armário, ela pulou em cima de mim e... – comecei a rir. Eu não queria rir na cara dele porque ele estava bem tenso, mas a situação toda era bem engraçada.

— Ela pulou em cima de você? – ele ficou quieto me assistindo rir, como se não acreditasse que eu estava rindo, mas depois sorriu.

— Foi. Foi bem horrível pra falar a verdade, eu comecei a gritar e os seguranças chegaram e tiraram ela de cima de mim. – eu ri mais ainda, imaginando a cena.  – Agora pode ser engraçado, mas na hora foi péssimo. Ela não parava de gritar que me amava e eu pensava ‘Você nem me conhece’. – parei de rir.

Eu também dizia a todos que amava Luke Moyes e, por consequência, James Potter mesmo não conhecendo James. Eu amava Luke, mas ele é uma personagem e não existe. E amava James por pensar que ele era uma extensão do meu amado personagem. Mas ele não é.

— Então, foi por isso que você se afastou.

— Pequenas coisas do dia a dia, e isso também, me afastaram. Às vezes, eu penso que poderia voltar a ser mais participativo, mas não quero dar margem a ninguém. Prefiro me manter afastado e ser mais cauteloso. Além disso, sobre aquela noite com aquele repórter. Eu pedi para ele esquecer tudo aquilo e não publicar nada quando vi que você saiu correndo e percebi o que tinha feito. Aquilo foi errado e infeliz e eu espero que me perdoe. Eu estava com raiva de várias coisas aquele dia e acabei falando aquilo tudo sobre você e... Não é verdade. Desculpa.

Eu nem sabia o que falar, então só concordei com a cabeça e sorri. Esse novo pedido de desculpas significou muito para mim.

Quando começou a ficar escuro, eu percebi que tinha que voltar para casa.

— Eu te acompanho.

— Claro. – mandei uma mensagem para Marlene perguntando se ela estaria em casa. Eu não queria que ela me flagrasse com James. Se bem que ela só me reconheceria.

Não é como se eu não fosse contar a ela, mas eu contaria quando tivesse certeza.

Está em casa?


Não, saí com as meninas do trabalho
Até 22h estarei em casa

Ok

— Sabe, quando eu te vi pela primeira vez eu nunca imaginei que você seria estudante de Direito.

— Sério? Achou que eu seria o quê?

— Não sei. Estudante de Inglês, confeiteira, jornalista. – comecei a rir.

— Bem, eu já pensei em ser jornalista, já pensei em estudar Inglês, em estudar Gastronomia... Demorou um tempo e foi preciso muitos testes vocacionais para eu finalmente escolher Direito.

— E você quer ser juíza? – dei de ombros.

— Sim, mas eu quero tentar outras coisas depois. Trabalhar na área pública. E você? Sempre quis ser ator?

— Não. Já quis ser muitas coisas, bombeiro, jogador de futebol... Mas um dia na oitava série, minha mãe me matriculou na aula de teatro e eu quis fazer isso pra sempre.

Eu meio que sabia essa história toda de teatro e depois a faculdade de Artes Cênicas e tal, mas eu não ia interromper e assustar o menino com “Eu sei! Li sua página na Wikipédia e assisti todas as suas entrevistas!”

Paramos em frente ao meu prédio.

— Foi bom te ver. – ele disse.

— Sim, você tem que vir mais vezes. Eu vou ser sua guia turística em Chelmsford.

— Agora é a sua vez de ir a Londres.

— Não posso, sabe como é. Estudante universitária. – nós rimos e ele se aproximou de mim.

— Boa noite Lily. – e me beijou.

E ME BEIJOU.

Na bocaaaa.

Eu quase morri ali mesmo, mas ao invés, correspondi ao beijo porque não sou boba né não.

Depois disso, ele só sorriu – um sorriso tão bonito, meu coração derreteu ali mesmo na calçada do meu prédio – e foi embora.

Eu nem sabia mais. Eu nem sabia de mais nada. Mas sabia sim, sabia que todos aqueles sorrisos, coração acelerado e checar as notificações a cada cinco minutos para saber se tinha mensagem nova significavam alguma coisa.

Fiquei parada ali até meu coração desacelerar e depois subi até o apartamento vazio.

Me joguei na cama e foi mais forte do que eu, o impulso de levar os dedos até meus lábios e repetir de novo e de novo a cena.

Quando Marlene chegou, eu contei tudo a ela. Só queria que eu e Marlene surtássemos muito por eu estar gostando de um cara e ter beijado ele.

E foi exatamente isso que aconteceu.

***

Marlene me flagrou escrevendo J+L dentro de corações nas últimas folhas do meu caderno enquanto eu a esperava nas mesas em frente ao prédio da faculdade.

Ela riu muito de mim e disse que eu estou criando muitas expectativas.

Pode até ser, mas eu tenho esse direito.

Não é como se eu sempre tivesse sonhado em beijar James Potter, meu sonho era beijar Luke Moyes, mas se Luke era o homem dos meus sonhos, James é o homem da realidade.

E não é como se fosse conformismo ou algo assim. Luke Moyes não existe e representava os meus mais obscuros e ingênuos sonhos de fangirl.

Pra que perder meu tempo fantasiando com alguém que não existe quando eu posso fantasiar com alguém que nesse momento está me mandando muitas mensagens pedindo para eu ir até Londres nesse final de semana?

Afinal, eu não seria uma fangirl completa se não me apaixonasse – e dessa vez, não de forma platônica - pelo meu ídolo.


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Notas finais do capítulo

Uhuu espero que tenham entendido porque o James é tão restrito quanto a interação com os fãs. Tem muitas celebridades que são mais afastadas e tem muita gente que reclama, porém na maioria das vezes o que leva essas pessoas a seguir esse caminho é ter a chance de fazer o que gosta. E muitas vezes elas não lidam muito bem com assédios, tem gente que sim e tem gente que não, porque são pessoas normais e muitas vezes esquecemos disso.
Espero que tenham gostado de Fangirl, obrigada por todos os comentários e favoritos. Agradeço também ao fanctions pelo plot.
Estou com mais dois projetos - provavelmente ambos serão ones - então espero vocês lá :3
Beijos,
Sorvete de Limão ♥



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