Carlos e o Pão com Mortadela escrita por MSMoura


Capítulo 1
Conto - Carlos e o Pão Com Mortadela




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Carlos decidiu que esta manhã ele gostaria de comer o pão com mortadela do Seu Joaquim, famoso no bairro onde ele mora.

Saiu cedo de casa, com dinheiro o bastante para comprar três pães com mortadela. Por quê? Porque Carlos era um homem precavido. Nunca foi um homem sortudo, e a vida adorava jogar obstáculos em seu caminho, por isso, sempre saía preparado.

Ao chegar na padaria do Seu Joaquim, Carlos pediu o famoso Pão com Mortadela. Seu Joaquim foi rápido, e o preparou em menos de dois minutos. Era um pão para ninguém dar defeito, com pelo menos quinze fatias de mortadela dentro.

Carlos pagou cinco reais ao padeiro, sobrando-lhe dez.

E lá se foi Carlos, animado para devorar seu café da manhã no caminho até a sua casa.

Porém, ao botar os pés para fora da padaria, um grupo de garotos chutando uma bola pela calçada passaram por ele, envolvendo-o em uma multidão de crianças.

Quando os garotos se foram, Carlos decidiu finalmente dar uma mordida em seu pão, mas, para sua surpresa, ele havia sumido de suas mãos. O pobre homem sabia que algum dos garotos havia levado seu lanche, mas não sabia qual, e o grupo já estava longe.

Carlos lembrou que era para isso que ele havia trazido o dinheiro a mais, e voltou para dentro da padaria, pedindo ao Seu Joaquim outro pão com mortadela.

O padeiro fez outro, tão rápido quanto fez o primeiro, feliz por alguém comer uma de suas criações tão rápido e ainda querer mais.

E assim, Carlos saiu da padaria com apenas cinco reais, mas com outro lanche em suas mãos.

Parado na frente do estabelecimento, o faminto homem decidiu comer seu lanche ali mesmo.

Abrindo sua boca o máximo possível, ele estava quase fechando sua mandíbula quando algo chamou sua atenção:

Duas crianças, descalças e sujas, andavam pela calçada. Suas barrigas roncavam tão alto que Carlos podia ouvir claramente, mesmo estando a pelo menos dois metros de distância delas.

A consciência de Carlos ficou incrivelmente pesada. Ele, mais do que ninguém, sabia que a vida não era justa ou fácil. Por isso, dividiu o pão com mortadela no meio e deu cada metade para uma criança.

O sorriso que surgiu em seus rostos e o sincero "obrigado" que elas falaram fizeram aquela ação valer a pena.

Carlos agora tinha apenas cinco reais. Mas era por situações assim que ele saía preparado, pois era o bastante para mais um pão com mortadela.

E lá se foi o pobre homem, adentrando novamente a padaria, pedindo outra vez mais um pão com mortadela, e, assim como fizera duas outras vezes antes, deu cinco reais ao padeiro.

Dessa vez, Carlos tinha certeza de que tudo daria certo. Assim que pôs os pés para fora da padaria, abriu sua boca, aproximando o suculento lanche de seus dentes.

Mas o dia realmente não estava a favor de Carlos, pois antes de ele terminar sua mordida, um adolescente com um pano cobrindo seu rosto surgiu ao seu lado, com uma faca, exigindo que Carlos lhe desse todo o seu dinheiro.

Carlos, tremendo, quase derrubando o pão de suas mãos, respondeu que não tinha mais nenhum dinheiro.

O garoto, irado, insistiu que ele estava mentindo. Carlos não sabia o que fazer, pois qualquer movimento em falso poderia fazer o garoto atacar.

O assaltante continuava a movimentar a faca, pedindo o dinheiro.

Carlos estava começando a achar que a vida finalmente lhe daria o golpe final, o último ataque para provar que o homem não poderia estar pronto para tudo, afinal.

Mas, quando tudo parecia perdido, o garoto com a faca abaixou sua máscara, e olhou fixamente para o lanche que Carlos segurava.

O jovem perguntou se aquele era o famoso pão com mortadela do Seu Joaquim, e Carlos acenou que sim com a cabeça.

Os olhos do garoto brilharam. Ele disse que nunca pôde comer um desses, pois todo o dinheiro que ele conseguia ia direto para sua família. Carlos sentiu pena do jovem, pois sabia que a vida não era fácil, e parecia sempre jogar contra você.

Mesmo sabendo que ficaria sem lanche, o pobre homem decidiu dar seu último pão para o garoto que queria assaltá-lo.

Os olhos dele começaram a lacrimejar. Ele pediu perdão para Carlos, por ameaçá-lo. O homem disse que não foi nada, ele estava acostumado a coisas deste tipo.

O jovem, impressionado pelas ações do homem, decidiu usar a faca que ele estava usando para assaltar para cortar o pão com mortadela ao meio, e devolveu metade dele para Carlos.

Ambos sentaram na calçada, e começaram a comer. E aquele foi o pão com mortadela mais delicioso que Carlos jamais comera em toda a sua vida.


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