Conluio escrita por Lina Limao


Capítulo 13
Capítulo 13




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Solidão.

Já havia mais de um mês desde o ataque a Hogwarts e foi ali, a partir do momento em que Gina Weasley saiu um tanto quanto muito brava de seu quarto, que esse maldito sentimento de solidão começara a se instalar. Draco nunca se sentira incomodado por estar sozinho, na maioria das vezes chegava a ficar feliz por conseguir tal façanha, mas agora tudo parecia muito quieto e chato sem a presença irritante da menina ruiva faladeira.

Ele se deitou em sua cama, um pouco melancólico enquanto suspirava e deixava o corpo relaxar no suave lençol prateado de fios egípcios que a mãe escolhera à dedo para seus aposentos. Foi descalçando os sapatos negros e bem lustrados com preguiça, esfregando os calcanhares para se livrar dos calçados. Assim que conseguiu, rastejou sobre o colchão e ficou com as mãos na nuca, encarando o teto cor de creme.

A luz da tarde entrava pela janela que ficava bem à frente da cama e formava no chão de mármore escuro a silhueta exata do metal que a envolvia. Draco tamborilou com os dedos suavemente na madeira marfim da cabeceira quadrada e trabalhada, encarando seus dedos compridos enquanto o fazia e bufando por ter um silêncio tão profundo a ponto de poder ouvir o som de seu toque no móvel.

Logo em seguida seu olhar recaiu sobre o imenso guarda-roupa espelhado que sua mãe praticamente o obrigara a adotar. Estava tão lotado de tranqueiras que a porta mal ficava corretamente fechada. Havia um ponto em que o trilho não aparecia, pois uma de suas blusas antigas estava embolada no caminho, o que impedia o fechamento correto.

E deu-se conta de que aquele quarto enorme e relativamente vazio era tudo o que tinha na vida para considerar de exclusivamente dele. Bem que Narcisa tentara colocar alguns brinquedos lá, mas Voldemort fizera questão de queimar todos quando decidiu se mudar para a casa que não era dele. De acordo com o lorde das trevas, Draco já era bem grandinho para ter tanta porcaria.

Tateou suavemente sobre o bolso de sua calça preta e puxou a varinha, começando a brincar com ela entre os dedos, como se fosse uma enorme e desajeitada moeda de madeira. Andava tão amuado por aqueles dias que não sabia dizer se era melhor ficar recluso naquele cômodo silencioso e gelado, ou se preferia ficar vendo Rabicho e metade dos comensais confabulando, rindo e sujando o tapete da sala.

De toda forma, era melhor ficar sozinho. Especialmente por que temia acabar dizendo alguma coisa que desagradasse a Voldemort e tivesse o mesmo fim trágico que seu pai. Sim, devia haver pouco mais que uma semana que Lúcio Malfoy fora morto em sua própria casa e enterrado apropriadamente em seu próprio quintal.

Fora uma grande e desagradável surpresa para ele e Narcisa quando, em uma das animadas reuniões que o lorde das trevas promovia, Voldemort tomou a varinha de Lúcio e o matou para garantir que a troca de dono daria certo. Como se não bastasse, deu à Nagini os pavões do quintal como almoço e fez questão de se assegurar que mãe e filho assistiriam a tudo de camarote. Foi então que Draco percebeu que estava perdido, pois sem o pai ali não havia mais nada que lhe transmitisse alguma segurança.

Durante os primeiros dias, pensou que sua mãe ia morrer de tanto chorar. Narcisa ficava quieta, totalmente melancólica pelos cantos, abraçando seu próprio corpo com braços trêmulos e marcados pelas lágrimas que ela não conseguia conter. Draco a observava de longe, sem emitir qualquer comentário. Algumas vezes se aproximava dela, punha a mão em seus ombros alvos e ficava a seu lado no mais pleno silêncio por minutos, talvez horas.

Porém, de algum lugar ainda não descoberto na consciência de Narcisa, uma força e coragem que nem mesmo ela conhecia vieram à tona. Seguia em silêncio a tudo que Voldemort dizia e não mais chorava pelos cantos. Draco não sabia ao certo se a mãe havia apenas se cansado de toda aquela situação ou se não queria mais dar a ele o gostinho de vê-la desabando pela perda do marido.

Tomando como base o exemplo de Narcisa, Draco decidiu se calar e seguia em silêncio e sem choro, frio como uma pedra de gelo, sem qualquer sentimentalismo ou receio presentes em seu semblante. Porém, em seu íntimo a coisa era bem diferente. Não só sentia extrema saudade do pai como queria desesperadamente encontrar um meio de falar com a Weasley novamente.

Pensou que se falasse com ela, poderia convencê-la a entrar em acordo novamente. A raiva dela já devia ter se esvaído à essa altura e Draco acreditava que teria grandes chances, especialmente se contasse metade das coisas que ouvia e via naquele quartel general em que sua casa se transformara. Não que a mansão Malfoy fosse seu lugar favorito no mundo, mas agora até respirar lá dentro era insuportável. Parecia que seu pai estava em todos os lugares, lhe olhando com o mesmo desespero do dia em que Voldemort o matara.

A cena se repetia em sua cabeça por várias e várias vezes. Parecia um filme sem fim e Draco sabia que ficaria maluco se permitisse que isso o consumisse. Precisava de um plano, uma saída, e que fosse rápido. Não sabia mais por quanto tempo iria conseguir manter as aparências de que estava tudo bem, mesmo que a vida de sua mãe dependesse disso. Durante vários momentos teve vontade de lançar um Avada Kedrava em Voldemort e a única coisa que o impedia era saber que aquele bicho simplesmente não morreria assim tão facilmente.

Era como se a bola de cristal que envolvia e protegia sua família houvesse se partido e desmoronado em mais de mil pedaços. Em seu peito, o coração chegava a pesar e arder quando pensava no assunto. Todas as lembranças que tinha com Lúcio gritavam em sua cabeça com desespero, implorando que ele tomasse uma atitude e tirasse sua mãe de tanta humilhação naquela que costumava ser sua casa.

Estava farto de todo aquele abuso, de toda a pressão que sofria e de como era torturante ter que deparar-se com todas aquelas pessoas quando precisava beber água ou queria dar uma olhada no jardim. Sequer tinha paz quando queria passar um momento ao lado do túmulo do pai, pois sabia que vários pares de olhos o observavam atentamente, prontos para registrar qualquer deslize, qualquer falha e reportar à Voldemort imediatamente.

Draco não tinha coragem para partilhar suas opiniões com Narcisa. Primeiro por que sabia que ela estava sofrendo brutalmente, ainda mais por não poder ter seu luto em paz, como deveria ser. Segundo por que sabia que suas queixas e reclamações não ajudariam a mãe em nada naquele momento, pelo contrário, talvez conseguisse deixa-la ainda mais irritada e estressada ao notar que o filho estava sofrendo.

Por tanto não havia sequer uma alma no mundo com quem Draco pudesse conversar. Não havia ajuda para organizar seus pensamentos, não havia alívio, não havia nada que o ajudasse a superar toda aquela situação. E o silêncio de seu quarto era ensurdecedor, pois fazia com que o barulho de sua mente soasse cada vez mais alto, a ponto de deixá-lo quase maluco.

Quando menos esperava, percebeu que começava a desejar que a Weasley estivesse ali, com aquele falatório incessante, as risadas, os sapatos barulhentos e o jeito arredio que ela tomava quando começavam a falar sobre coisas sérias. Coisas que Draco jamais compartilhara com outra pessoa, que de uma maneira maluca e distorcida, eram apenas dele e dela. Seus segredos e acordos que nasceram e morreram em Hogwarts, junto com qualquer esperança que o Malfoy possuía em poder se livrar de todo aquele mal que o rodeava.

Fechou os olhos com pesar, deixando os braços relaxarem na cama enquanto a varinha escapava por seus dedos e rolava sutilmente para o chão. Quase o tempo todo lembrava-se de Gina. Da primeira vez em que ela entrara em seu quarto toda arisca e acuada, de quando discutiram na torre de astronomia e do sorriso aliviado que ele viu nos lábios dela quando se encontraram nas escadas durante o ataque ao colégio. Porém, recordava-se do olhar pesado e das palavras cortantes que saíram por aquela mesma boca rosada que outra hora emitia apenas risadas e ironias.

Culpava-se, obviamente, por ter jogado fora a chance de continuar com a Weasley a seu lado. Não que ela fosse realmente grandes coisas, na maior parte do tempo era bem irritante, mas tinha ciência de que precisava dela. Se Gina ao menos soubesse como suas palavras o torturavam e como seus gritos de “covarde! ” ecoavam na cabeça de Draco, talvez reconsiderasse a ideia de se distanciar.

Mas também não via como fariam para manter contato, caso ainda estivessem de conluio. Todas as corujas que entravam e saiam de sua casa eram interditadas e Malfoy duvidava muito que encontraria um meio de se comunicar com a Weasley sem que meio mundo bruxo tomasse conhecimento. Se ao menos pudesse sair da mansão e dar uma voltinha no beco diagonal, tinha certeza que conseguiria vê-la, na maldita loja dos irmãos, e daria um jeito de lhe falar em segredo.

A ideia de sair escondido, sem prestar contas a ninguém, era realmente tentadora, mas duvidava seriamente de que esse tipo de atitude não causaria sérias represálias tanto para si mesmo quanto para Narcisa. E só Merlin sabia como Draco faria o impossível para que a vida da mãe não se tornasse ainda mais torturante e impossível dentro daquela maldita mansão fria e escura.

Então ficava, o mais distante e calado possível, tentando usar todos seus neurônios para conseguir pensar em algum plano que o favorecesse. Se ao menos pudesse fazer com que não notassem sua ausência ou qualquer coisa do tipo... Mas Voldemort possuía um pequeno estoque do soro da verdade e Draco sabia que não seria nada bacana se o lorde das trevas ouvisse metade das coisas que ele poderia dizer sob o efeito daquela porcaria.

Perguntava-se o que a Weasley estaria fazendo aquele momento. Certamente estava perto do Potter, vangloriando-se da vitória de Hogwarts e de como se não fosse por ela, tudo estaria perdido. Seus quinhentos irmãos cabeça de fogo deviam estar fazendo uma cirandoleta ao redor do casal e todos comemoravam sem ter noção dos planos de Voldemort para o próximo ano letivo de Hogwarts.

E, por Merlin, como queria avisá-la.

Queria poder contar a ela que não devia voltar a Hogwarts sob hipótese alguma. Que Snape seria o diretor e que as coisas naquele maldito lugar iam se tornar ainda piores. Que um ataque ao ministro estava em andamento naquele exato segundo e que ela devia treinar o máximo que pudesse para aprender a se defender e manter todos aqueles coelhos que viviam na porcaria d’A Toca vivos para continuar combatendo e irritando Voldemort.

Mas como diabos faria isso?!

Se ao menos houvesse prestado mais atenção nas aulas de oclumência que Snape tentara lhe dar no último verão, talvez pudesse tentar algum contato com a Weasley. Não tinha certeza se funcionaria devido à distância, mas por Merlin, se Voldemort conseguia fazer aquela merda toda sempre infinitamente longe de Potter, por que ele não conseguiria? Devia haver uma forma, um jeito, uma possibilidade, não era possível que houvesse lutado tanto para morrer na praia.

Sentou-se na cama indignado, passando os dedos entre os cabelos nervosamente enquanto encarava a luz do sol que batia no chão, já bem menor que antes, com a chegada do entardecer. Ficou contemplando o chão iluminado enquanto seu cérebro trabalhava em busca de respostas. Não conseguia mais se convencer a simplesmente aceitar seu destino uma vez que aquela menina maldita conseguira colocar em sua cabeça que havia sim uma chance de salvação.

Se apegara tanto e de tal maneira à ideia dela que agora não conseguia simplesmente aceitar que devia permanecer em silêncio, aceitando seu destino. Tinha que ter algo, precisava que houvesse uma saída, uma solução, uma brecha, por mais remota e impossível que fosse. Não era possível que realmente nunca mais fosse ver aquela menina irritante, chata e faladeira que representava sua única possibilidade de salvação.

Não era possível que teria de ficar calado para sempre, esquivando-se da presença dos intrusos que habitavam seu lar para proteger sua mãe. Não podia ser aquela a única maneira de poupar Narcisa de um destino pior, tinha que haver uma forma de conseguir dar a volta por cima naquela situação toda! E Draco estava ficando maluco por tanto tentar encontrar essa solução que não lhe surgia de forma alguma.

Resolveu que ia dar uma volta pela casa, talvez ir até o jardim tomar um pouco de ar. Poderia ser bom para refrescar as ideias e arejar os pensamentos, afinal ainda dava para ver a vista dali e isso o fazia sentir um pouco mais confortável, mesmo que soubesse que era irritantemente observado todas as vezes que passava por lá.

Apanhou sua varinha caída no chão e se ergueu, espreguiçando-se lentamente enquanto colocava-se a caminhar para fora do quarto. Foi passando pelo corredor mal iluminado, de chão igualmente em mármore, descendo as escadas até o andar inferior, onde teve de se de obrigar a andar pela sala comum, por trás dos comensais reunidos que mal pareceram notar sua presença.

Draco não costumava ficar de ouvido ligado aos planos dos comensais, mas quando ouviu sair da boca de sua tia a palavra “Toca”, começou a prestar atenção. Ela mantinha-se escorada à uma das paredes, um pouco desinteressada de toda a conversa, mas um sorriso malandro habitava por seus lábios finos de maneira divertida.

— Sim, será hoje à noite, no casamento de um daqueles malditos pobretões.

Rabicho disse enquanto movimentava os dedos gordos para cima e para baixo. Continuava vestindo aquelas roupas horríveis e com a cara ainda semelhante à de um roedor, porém parecia estranhamente empolgado com o que quer que fosse que estavam planejando.

Fenrir Greyback apenas observava em silêncio do outro canto da sala, de pé, um pouco mais próximo da janela. Ele foi o primeiro a notar a presença de Draco e lhe direcionar um olhar desconfiado, seguido de um sorriso que o chamava para reunir-se à roda. O lobisomem usava suas típicas roupas de pele, com os cabelos bem fixados para trás.

Quando Bellatrix notou a presença de Draco, sorriu ainda mais, indo em sua direção com pressa e apoiando as mãos em seus ombros, com certo traço de orgulho e esperança. Ela usava o mesmo vestido preto cheio de pontas e decote, e o Malfoy perguntava-se se a tia possuía um guarda-roupas cheio da mesma peça.

— Draco, Rabicho veio trazer uma excelente oportunidade para você se redimir com o lorde.


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