Dust and Gold escrita por Finholdt


Capítulo 15
XIV. Don't settle for less and everything you are


Notas iniciais do capítulo

Falta só um capítulo para encerrarmos de vez essa aventura.



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Ibn mal percebeu quando a noite virou dia. Os dias se misturavam no espaço e ele não estava exatamente disposto a perguntar que horas eram. As notícias que ele pegava sobre o que acontecia no resto do mundo vinha em pedaços. No minuto que os três foram transportados para cima, Superman os colocaram em celas diferentes e distantes. Ibn suspeitava que Jon não ficaria muito tempo preso, então não se preocupou. E por mais que no fundo soubesse que era desperdício de energia, uma pequena parte dele se preocupava com Mara e onde ela estaria.

O satélite não era gigante, então não era impossível fugir. Ele já havia vindo vezes o suficiente quando criança com o Batman para saber como tudo ali operava. Mas não, ele não iria fugir às cegas até descobrir onde estão as crianças. Se a Liga da Justiça as tinha sob custódia, então era exatamente ali que Ibn deveria ficar para poder descobrir o paradeiro delas.

Três vezes por dia, entre refeições, Ibn era levado para interrogatório. Patéticos. Toda vez que Superman o levava e abria a boca, Ibn simplesmente o encarava, no mais absoluto silêncio. Recusava-se a falar, ainda mais para ele, qualquer coisa até descobrir sobre o Berço.

— Sabemos que a Liga das Sombras possui mais esconderijos que Nanda Parbat. Passe os endereços que podemos achar a sua mãe e os ninjas restantes que podemos aliviar sua sentença.

Silêncio.

— Ibn, não quero pagar de policial bom/policial mal. Sinceramente estou tão infeliz com essa situação quanto você – mas você e a sua prima já estão em maus lençóis, um de vocês vai acabar falando e não sei se vou continuar com mordomias com um inútil para nós.

Ibn levantou uma sobrancelha e disse nada.

Então Mara também não estava falando. Bem, provavelmente até estava, mas nada útil para eles. A conhecendo como Ibn conhece, era bem provável que Mara não disse nada além de insultos desde que a pegaram. Ótimo.

Superman continuou tagarelando, porém Ibn deixou de ouvir. Eles estavam perdendo tempo e se Ibn não estivesse tão ferido e desgastado desde o aniversário, ele mesmo já teria dado um jeito de investigar o que precisava.

O interrogatório já estava encaminhando para o final – Ibn estava suficientemente familiarizado com o roteiro para o considerar entediante e previsível. Sinceramente, o fato de ninguém o ter posto sob tortura ainda chegava a ser insultante. Não era atoa que Mara não estava falando, também estava ofendida com esse tipo de interrogatório frouxo. Pobres, pobres heróis bonzinhos. Al Ghuls eram especialmente conhecidos pela paciência – não iriam arrancar nada deles nesse ritmo.

Superman fez mais uma cara de decepção ao ver que o roteiro terminou e novamente Ibn havia dito nada – Ibn se esforçou para não sorrir de satisfação aqui. Ele então veio o puxar pelas algemas quando a rotina foi quebrada com a chegada de Luke Fox irrompendo pela porta.

— Ele falou sobre o Berço?

Tudo parou.

— O que tem o Berço? — Ibn agitou-se, tentando quebrar as algemas ao mesmo tempo que tentava pular em direção a porta, onde Fox o encarava surpreso. — Onde estão as crianças? O que vocês fizeram com eles? Eu juro que se umazinha sequer foi machucada, o que farei com você será mil vezes pior-

Maldito seja ele por demonstrar sua fraqueza. Superman viu ali exatamente o que precisava para enfim o fazer falar.

— Obrigado, Batwing. Não, ainda não tinha falado... Mas acho que agora vai.

Voltando para onde estava, Superman parecia irritantemente satisfeito consigo mesmo.

— Acho que agora podemos enfim conversar.

Ibn travou a mandíbula, furioso. Ah, se ao menos a sua magia tivesse voltado o suficiente...

— Vamos, Ibn, eu tenho a informação que você quer, o mínimo que pode fazer é dar a informação que eu quero.

— Não vou dizer nada para o assassino da minha família. — Ibn cuspiu, olhando-o com ódio.

Isso apagou o sorriso do kryptoniano. Com a expressão sombrio, ele murmurou:

— Você não está sendo justo.

— JUSTO? — Gritou, enfurecido. — Vou te falar o que é justo: passar anos consumido por ódio e luto, sem ter ninguém a te apoiar e te fazer lembrar que é amado por algo além do seu valor e no que pode contribuir. Ter sua família destruída de uma única vez e ser negado a chance de os encontrar de novo! É, eu fui um babaca rancoroso com o Jon e jamais deveria ter o machucado como fiz, mas eu tinha 14 anos, estava de luto e desesperado. Qual é a sua desculpa?

— É isso que diz para si mesmo? — Superman rebateu. — “Pobre de mim, o malvado Superman me impediu de desonrar os corpos da minha família”. Francamente, Ibn. Bruce era um dos meus melhores amigos, Dick então nem se fala. Posso até não ter sido próximo de Jason e Tim, mas eu os respeitava. É claro que eu gostaria de os ter de volta, mas não daquele jeito. O próprio Bruce havia deixado claro mais de uma vez que se morresse não queria ser trazido de volta, e os seus irmãos também.

— Não era a sua decisão a tomar! — Rugiu.

— Muito menos a sua. Você mesmo disse, era só um garoto de 14 anos de luto e desesperado. Iria arruinar a própria vida e a de todos os outros simplesmente por capricho.

Ibn o olhou com ódio, ódio quente, fervendo. Se as posições estivessem invertidas, Superman já teria derretido com uma visão de calor. Então Ibn fechou os olhos e respirou fundo. Eles iriam a lugar nenhum remexendo aquela ferida antiga. A única coisa que importava era o Berço – lidaria com seu ressentimento pelo Superman depois.

— Você diz ser um herói para todos, mas sequer é um herói para si mesmo. Reconheço autodesprezo em qualquer lugar - é tudo que vejo quando olho no espelho. Então, Superman, vamos negociar.

Superman se ajeitou melhor na cadeira e esperou.

— Me fale onde estão as crianças e o que fizeram com o Berço que então penso se respondo suas perguntas.

— Isso não parece uma negociação. — Superman levantou a sobrancelha.

— Mas é tudo que vai conseguir de mim até eu ter o que eu quero. — Ibn sorriu, muito satisfeito consigo mesmo.

O kryptoniano abriu a boca para retorquir, mas foi interrompido novamente pela porta se abrindo. Só que dessa vez não era Luke Fox na porta, e sim Barbara Gordon, a Oráculo.

— Clark, vou assumir aqui, tudo bem? — Ela falou de um jeito respeitoso, mas com um tom que deixava claro que isso não estava a discussão.

— Ele é todo seu.

Imediatamente Ibn fica na defensiva, sério. Não tinha sentimentos exatamente resolvidos por ela. Gordon o viu crescer na caverna e ela agia como uma irmã mais velha. Se ela apelasse para o passado deles, Ibn iria ficar verdadeiramente bravo – pelo menos era o que dizia a si mesmo.

— Ra’s al Ghul, vamos negociar. — Ela propositalmente o citou aqui, usando o seu novo título. Uma tentativa de distanciar-se? Seja o que for, Ibn estava grato por isso.

— Não vou dizer nada até vocês responderem minhas perguntas. — Ibn repetiu tranquilamente.

— Que seja, então. — Gordon estava impassível. — Por onde quer começar?

Ibn ficou imediatamente desconfiado. Por que de repente ela estava tão solícita? A quanto tempo exatamente eles estavam as escuras sobre como prosseguir? Tt, francamente.

— Onde está a Mara? — Começou com algo pequeno.

— Sua esposa — Ela não conseguiu esconder a careta aqui, o que quase o fez rir. — está em uma das nossas celas de contenção aqui na Torre de Vigilância. Ela consegue ser mais desagradável que você, o que é um feito e tanto. Acabei de deixá-la ser levada de volta, depois do interrogatório, com a Lanterna Verde.

Perguntou-se se ousaria casualmente questionar sobre Jon, mas decidiu contra. O fazendeiro provavelmente já estava encrencado o suficiente e Ibn estava fazendo um esforço hercúleo para não ter que pensar nele e no que Jon fez por Ibn.

— E a minha mãe?

— Talia ainda está desaparecida. Acreditamos que ela sobreviveu, no entanto.

— O Berço. O que fizeram com ele?

Aqui Gordon hesitou.

— Bem, quando tudo foi para os ares, achamos muito estranho ainda ter todo um edifício intacto. Você pode imaginar a nossa surpresa quando vimos centenas de bebês e crianças ali.

Ibn apertou os punhos, tentando se controlar.

— Onde eles estão?

Gordon apertou os lábios, o avaliando. Decidindo se responderia ou faria suas próprias perguntas agora.

— Me diga onde elas estão! — Exigiu.

— Só se você me responder uma coisa.

— Não foi esse o acordo. — Ela fingiu que não o ouviu.

— O que pretende fazer com elas?

Ibn travou a mandíbula, avaliando suas opções. Confiaria em Oráculo com a verdade? Ou responderia como Ra’s? Pensar nisso o fez tomar sua decisão.

Jamais seria como Ra’s.

— Meu avô criou o Berço do Demônio pouco depois que nasci. Queria continuar expandindo seu exército pessoal e os treinar desde o berço, assim como foi comigo. Digamos que fui sua inspiração. — Ele fechou a cara, o ultraje saindo dele em ondas como uma força física. — Que idiotice, tudo o que fez foi arruinar vidas. Meu primeiro decreto como Ra’s é desmantelar o Berço e devolver as crianças para as suas famílias. Aquelas que não a tinham seriam entregues para as famílias das vilas sob o território de Ra’s. — Olhou-a nos olhos, determinado. — Agora me diga onde elas estão agora!

Gordon pausou, absorvendo a confissão de Ibn. O que ela estava pensando? Bem, não importava. Ibn só queria saber do Berço.

— E se eu te disser que já devolvemos as crianças e demos lares para elas?

Ibn apertou os lábios.

— Eu diria que duvido muito que tenham feito um bom trabalho com isso, já que vocês não têm os registros da Liga. E como posso saber se escolheram um bom lar? Vocês vigiaram as famílias, verificaram antecedentes?

Gordon então deu uma risadinha.

— É, ok, eu acredito em você.

— Isso não responde as minhas perguntas. — Protestou.

Gordon abriu a boca para responder quando parou. Alarmes foram soados por toda a Torre de Vigilância.

Atenção: Temos fugitivos. Repetindo, temos fugitivos.

— Mara... — Sussurrou Ibn, levemente impressionado. Ele achava que ela levaria mais tempo para conseguir fugir. — Fugitivos? No plural? Quem mais vocês estavam segurando?

Porém Gordon não respondeu, indo rápido em direção a porta para ver o que estava acontecendo e o deixando ali. A porta foi fechada e Ibn arregalou os olhos, atento aos barulhos que ele conseguia distinguir dali. Era de se pensar que um satélite no espaço seria deveras difícil de fugir sem ser pego, mas parecia que Mara estava dando conta do recado. Provavelmente roubando uma das naves de escape que Ibn se lembrava que eles possuíam. Afinal, todas as informações sobre a Liga da Justiça que Ibn possuía vieram diretamente do computador da batcaverna. E, é claro, Mara sabia de tudo aquilo tão bem quanto ele próprio.

Decidido a se aproveitar do caos para conseguir escapar, Ibn forçou suas algemas, tentando quebrá-las e uivou de dor. Seus ferimentos ainda estavam extremamente sensíveis. Olhou infeliz para as mãos e as feias queimaduras. Ibn supôs que devia se sentir grato por não ter conseguido uma infecção com todos os seus ferimentos não tratados, mas era difícil sentir qualquer outra coisa além de agonia.

Tentou então deslocar o polegar para conseguir se livrar das algemas, conseguindo apenas ver tudo branco com a dor dilacerante que o atingiu ao tentar perturbar a mão extremamente sensível. Ugh, tudo bem... Ele precisava de um pouco mais de tempo para conseguir reunir magia o suficiente para poder ir até o Berço. Não importa o que Barbara Gordon disser, Ibn não vai sossegar até ele ver com os próprios olhos onde as crianças estão.

Subitamente, a porta se abriu.

— Parece que a sua prima conseguiu se safar e levar todos os ninjas que foram capturados. Estranho ela não ter nem tentado salvar o marido dela, não acha?

— Na verdade não. — Ibn respondeu impassível.

— Você sabe que a escapada dela só vai piorar as coisas para você, né? Vai ter que abrir o jogo sobre os esconderijos da Liga dos Assassinos.

— “Vou”, é? E como você pretende me obrigar, Superboy?

[x][x][x]

Demorou dois dias até eu conseguir convencer o pessoal que eu não era um traidor e que estava conspirando com a Liga das Sombras. Foram dois dias que tive que ficar na cela de contenção com radiação de sol vermelho e eu honestamente acho que só não foi mais porque a minha mãe apareceu gritando com Deus e o mundo sobre o absurdo daquilo.

Sinceramente? Deus só não fez de Lois Lane uma meta-humana pois sabia que não seria justo com o resto da humanidade fazer uma única pessoa tão poderosa.

Omiti toda e qualquer participação dos Titãs quando expliquei o que tinha acontecido, já que não queria os colocar em problemas, e tentei os convencer a conversar mais com Damian sobre a posição dele e o que fez. Quando enfim concordaram que iam dar o benefício da dúvida – e ainda acho que a Barbara só fingiu concordar para se livrar de mim – basicamente me despacharam de volta para a Terra com um ressoante “E não volte!”.

Afinal, desde que voltei para casa tudo o que eu fazia era tentar voltar para a Torre de Vigilância e fazer alguém me ouvir sobre o Damian. Claro, havia toda a questão de que eu mesmo queria falar com ele, mas eu sabia escolher minhas batalhas.

Minha formatura do ensino médio veio e passou e mesmo assim tudo o que eu conseguia pensar era no futuro que Damian teria e como exatamente eu me encaixaria nele.

E, olha, eu fui paciente até demais com toda essa história. Mas já fazia dias e eu ainda não tive nenhuma notícia deles. Meu pai estava me evitando igual a praga desde a briga gigantesca que tivemos quando fui preso e eu também não estava lá muito animado em o ver de novo. Só que, pelo amor de Deus! O homem pretende voltar para casa nunca?! A única razão para ele estar demorando tanto seria o Damian não estiver sendo cooperativo. O que, o conhecendo bem, posso nem dizer que estou surpreso por ser esse o caso.

Então é como dizem. Se quer algo bem feito... Faça você mesmo.

O único motivo para eu não ter invadido a Torre de Vigilância antes foi por causa da escola. Dizer que eu estava em maus lençóis com a minha mãe seria o eufemismo do ano, então fiquei na minha até a formatura. E mesmo depois disso, acho que ela desconfiou que eu armaria alguma coisa, pois continuou de olho em mim.

No entanto, as notícias nunca param, então acabou chegando o dia em que ela relutantemente teve que me deixar sozinho em casa. E ainda assim, só saiu pela porta depois de me fazer prometer não pôr os pés para fora do apartamento a menos que seja uma emergência.

Então, é claro, assim que ela saiu eu voei o mais rápido que pude para o satélite da Liga da Justiça.

O quê? É uma emergência!

Sabe, é nesses momentos que eu acredito fielmente na Lei de Murphy. Porque não tem outra explicação para a única abertura liberada para eu conseguir entrar no satélite ser bem pela cela de Mara al Ghul.

Ela pareceu surpresa ao me ver ali, ainda mais do lado de dentro da cela. Felizmente, não gritou. Infelizmente, ficou em posição de batalha.

— Então chegou a hora? Vão me executar? Aposto que você fez questão de pedir pelas honras, seu alienígena sujo-

— Ei, ei! — Levantei as mãos em rendição. — Ninguém vai executar ninguém! Eu estou procurando o Dam- Ibn.

Ela revirou os olhos.

— É claro que está. Bem, perdeu o seu tempo. Estamos em celas separadas, e como acabei de voltar do interrogatório, devo supor que seja a vez do meu primo.

— Seu marido. — Completei com amargura. Ainda não sei bem o que pensar disso.

— Ugh, ainda tem essa. — Mara parecia enojada. — Eu devia ter matado aquele velho antes, mas eu não conseguiria o apoio do resto da Liga e acabaria desonrando o meu pai. Agora estou casada com aquele traidor e para quê? Qual foi o ponto pelo tudo que lutei se acabei perdendo tudo mesmo assim?

Sabe, a olhando assim pude ver as semelhanças com o Damian. Muito mais do que qualquer um deles estaria confortável em admitir, aposto. Ambos lutaram e sacrificaram para conseguir o que queriam e estavam desolados com o que perderam – porque eu não tinha dúvidas que Damian estava arrasado. Um homem não se arrisca tanto para voltar para um lugar que não se importa.

— Eu... Sinto muito pelo que aconteceu, Mara. Não era... Não era para ter sido daquele jeito. — Estava sendo honesto.

Mara me olhou de forma avaliativa por uns segundos, provavelmente julgando minha sinceridade.

— Por que você se importa tanto? Ibn é tão criminoso quanto eu.

Apertei os lábios, tentando decidir como responder a isso.

— Não é sobre... Bom ou mau, certo ou errado. É sobre a verdade. E não acho que ele esteja sendo sincero quando paga de vilão. Aquele Berço... Parecia ser a única coisa que importava para ele. Ele arriscou a própria vida por isso vez após a outra. Mesmo quando ele parecia tentado a se entregar, ele ainda voltava para a Liga. Tem que estar conectado.

Parei de falar, olhando para o chão. Toda essa confusão estava acabando comigo.

— Como... Como eu fui burra!

Olhei assustado para Mara, que parecia ter tido algum tipo de epifania – e não uma muito boa.

— Eu sabia que ele estava escondendo alguma coisa. E sabia que ele não se importava de verdade com a Liga e ainda assim insistia em se tornar Ra’s. Era tudo pelo Berço! — Ela começou a andar de um lado para o outro, gesticulando nervosamente. —Mas o qual exatamente era o plano dele? Melhorar a política do Berço? Os pegar ainda mais jovens? Argh! Ele nunca tinha mostrado interesse explícito pelo Berço antes, não sei qual era a dele... A não ser... Mas não, não pode ser... Talvez?...

— Hum... — Não queria a atrapalhar, mas também não queria continuar no escuro. — Do que exatamente está falando?

— Superboy. Eu tenho um plano. E se você me ajudar, vou te dar aquilo que você mais deseja.

— Que seria...?

— O seu precioso Damian de volta.

[x][x][x]

— “Vou”, é? E como vai me obrigar, Superboy?

Supri a vontade de sorrir. Quando Damian me alfineta, eu só me sinto quente por dentro com um sentimento agradável. Completamente diferente do que eu sentia antes.

— Tenho meus meios.

Parei para o olhar. As queimaduras da explosão estavam pelo corpo dele todo, mas as mais feias eram nas mãos. Eu duvidava que ele conseguiria mexer os dedos como antes. Seu rosto estava menos afetado, já que Rachel havia começado a cura por ali.

Maldito teimoso, se não tivesse fugido no meio do processo de cura nada disso estaria acontecendo.

— Então? Seu papai cansou de me interrogar ele mesmo e mandou você no lugar? — Damian sorria zombeteiro.

Abri a boca para responder de que tecnicamente ele nem sabia que eu estava ali quando Damian completou:

— Finalmente vão começar com a tortura para interrogar? Neste caso até faz sentido terem chamado você para isso, não é o seu primeiro rodeio.

Cada palavra me atingiu como um soco, me fazendo encolher. Ainda não me perdoei pela forma que agi quando estava sob efeito pela kryptonita vermelha e pelo visto nem ele.

O espiei de lado e reparei que ele se arrependeu do que disse no minuto que abriu a boca.

— Desculpe, isso não foi muito justo da minha parte. — Ele murmurou tão baixinho que se não fosse minha audição kryptoniana eu nem teria ouvido.

— Damian... — Comecei e dessa vez foi ele quem se encolheu. — Damian, — Continuei mais firme — por que você queria tanto ser Ra’s?

— Por que eu deveria me explicar? Era o meu destino, o meu dever. — Ele disse isso sem pestanejar, automaticamente. Como se já tivesse dito a mesma coisa várias outras vezes.

Decidi mudar de tática.

— E que tipo de Ra’s você estava planejando ser?

— Jon. — Ele parecia cansado. — O que está fazendo?

— Te interrogando, oras.

— Está fazendo um trabalho muito ruim então.

— Bem, eu sempre fui o policial bom por um motivo. Você sempre foi melhor que eu na parte de policial mau.

— É... — Ele murmurou tristemente. — Sou bom em ser mau.

— Não! — Gritei, ignorando o olhar assustado que ele me deu. — Isso não é verdade, você não é mau! Não de verdade. Tendências obsessivas não saudáveis, sim, problemas com a raiva, com certeza. Mas nada que terapia não resolva.

Ele não parecia estar achando graça.

— Jon, eu sou o líder de uma organização criminosa, não sou nenhum santo. Preciso repetir os meus crimes?

— Sabe, acho que precisa sim.

— O quê? — Ele parecia surpreso. Rá.

— É isso aí, você vai ter que confessar esses tais “crimes”. Vamos lá, você escreveu um artigo sobre a sociedade dos heróis-

— Espera-

— Comprou armas biológicas que por mais que não sejam moralmente boas, você tecnicamente os comprou legalmente-

— Não-

— Me atacou algumas vezes, mas convenhamos, eu bati tanto quanto levei e como a decisão de prestar queixa é puramente minha-

Eu matei pessoas! Pare de tentar minimizar o que fiz, está apenas parecendo um idiota!

Te peguei...

— Ah, certo. É claro... Desculpe. Quem você matou mesmo?

Ele abriu a boca, perplexo. Provavelmente está se perguntando se eu bati a minha cabeça em algum lugar antes de vir. Enquanto eu o esperava responder, apurei a audição, tentando detectar se alguém estava vindo para essa direção. Por enquanto a barra estava limpa, eu só espero que a Mara faça logo o que prometeu e não me obrigue ter que sair daqui para comprar mais tempo para ela.

— Eu- Você sabe! Clãs rivais-

— Terroristas.

Pessoas, Superboy. O que deu em você?

— E quem mais?

— Eu-

— Só isso? Sinceramente, estou um pouco decepcionado do grande e malvado Ibn al Xu’ffasch. Suponho que seja aquela velha história de boatos desproporcionais...

— Maya! Era isso que você queria ouvir? Pronto, estou confessando! Eu matei Maya Ducard há quatro anos, na mesma noite em que coloquei Duke Thomas numa cadeira de rodas-

— Ah é! Duke parou de usar muletas faz um mês. Legal, né? Ele já está de volta à ativa. Aliás, aquela roupa amarela é bem feia, vamos combinar? Não que o problema seja a cor, acho que o tom simplesmente não combina-

Você está me ouvindo? — Agora ele parecia furioso de verdade. — Eu acabei de dizer que matei Maya e você está querendo discutir sobre o guarda-roupa do Sinal?!

Não respondi.

— Não sei o que está acontecendo contigo, mas seja lá o que for, me tire dessa. Não vou fugir das minhas responsabilidades, não mais. Ra’s está morto e a Liga debandou. Se eu não os trouxer de volta- o Berço- eu tenho que sair daqui!

Vamos, Mara... Cadê você? Nós temos um acordo, droga!

— Você é um bom mentiroso, Damian. Mas não é tão bom assim. O pior mentiroso é aquele que acredita na própria mentira.

— Do que está falando? — Ele perguntou rispidamente.

— De uma teoria que tenho... Bem, estou esperando a confirmação dela, mas é uma teoria bem forte. Sabe, de que você matou Maya coisa nenhuma e só forjou isso para poder continuar com a sua reputação de malvado.

Bem, acho que é a primeira vez que escuto os batimentos cardíacos de Damian acelerarem tanto e tão rápido. Por fora, ele continuava com a expressão exasperada e entediada, mas ele não podia me enganar. Não mais.

— Não sei do que você está falando-

— Sabe, eu nunca tinha parado para pensar antes sobre como nunca teve um corpo para enterrar. O que, sinceramente, foi uma falha tremenda. Somos heróis, droga, quantas vezes fomos provados que só se pode declarar uma pessoa como morta quando encontrar o corpo?

— Eu não vi necessidade de deixar o corpo dela para trás depois do que fiz. Você sequer viu o apartamento dela? Ninguém sobreviveria ter perdido tanto sangue.

— É o que dizem... — Falei leviano. — Mas já vi coisas mais estranhas.

Então alarmes soaram, alertando sobre uma invasão e sorri, satisfeito. Finalmente!

Olhei para as algemas de Damian e usei minha visão de calor para as derreter. Achei que ele reclamaria do calor, porém Damian disse nada, ainda chocado. Isso... É um pouco preocupante, mas uma coisa de cada vez.

— Vamos, está na hora de esclarecer as coisas.

E não o deixei escolha além de me seguir até a origem de todo o estardalhaço.

~*~*~*~

No centro da Torre de Vigilância estava, de todas as pessoas, Mara al Ghul. Ela estava com armas em punho enquanto segurava Lanterna Verde contra a sua lâmina, latindo para todos ficarem longe e a trazerem Ibn imediatamente.

Choque mal começava a descrever o que Ibn estava sentindo. Em que universo Mara voltaria por ele? Pior ainda, por que estava perdendo tempo com ele quando podia muito bem estar indo atrás do Berço?! Francamente, era exatamente por isso que Ibn tinha que ter se tornado Ra’s ao invés dela.

— Sua tola! Por que voltou?! — Ele gritou assim que a viu.

— Seu merdinha ingrato, eu devia era deixar você apodrecer com esses heróis idiotas!

A direita, Ibn ouviu alguém dizer:

— Ah droga, nos metemos em algum tipo de briga de casal?

Nós não somos um casal! — Rugiram Ibn e Mara ao mesmo tempo.

 — Ibn, volte já para a sua cela- — Este era Superman. — Jon?! O que está fazendo aqui?

— Ibn vai para lugar algum além de vir para o meu lado agora! — Gritou Mara, fazendo mais pressão na lâmina contra o pescoço de Jessica Cruz.

— Hum, gente, ela pegou o meu anel então se vocês puderem fazer o que ela pede? Só um pouquinho?

Ibn não se mexeu. Ele ainda estava processando o que estava acontecendo e ele não tinha certeza se confiava em Mara o suficiente para isso.

— Argh, francamente. Ei, garota, dá para pôr um pouco de senso no meu primo aqui?

— Você precisa mesmo ser tão grossa o tempo todo? Olha, quanto mais al Ghuls eu conheço, mais me convenço de que ele nasceu na família errada.

Não.

— É porque ele também é Wayne. — Mara retrucou com desprezo. — Mesmo quando finge que não.

não não não

— E aí, gente? — Cumprimentou alegremente Maya Ducard.

Maya Ducard que Mara achava ter matado.

— Maya... Você... — Então o choque foi substituído pelo pânico gelado. — Saia de perto dela!

Ibn correu até as mulheres, ignorando completamente todos os outros heróis reagindo defensivamente. Eles que tentem alguma coisa, Ibn pode não estar tão forte quanto antes, mas ele morreria antes de abandonar Maya.

Desarmado, Ibn não pode fazer muito além de puxar Maya para trás de si, usando o próprio corpo como barreira contra Mara.

Mara revirou os olhos.

— O seu tempo aqui já começou a te emburrecer. Quem você acha que a trouxe aqui, imbecil? Achou mesmo que eu havia acreditado que você tinha terminado de dar cabo nela? Eu sempre soube da sua pequena ilha.

— Mocinha... — Superman sussurrou, em choque. — Você está viva...

— Oi, Superman! — Maya disse detrás de Ibn, contente. — Um pouco desatualizada nas notícias, mas muito viva, obrigada.

Ibn os ignorou, concentrando toda a sua energia em Mara.

— Está mentindo. Se soubesse você teria me exposto há muito tempo.

Aqui, Mara decidiu que não precisava mais de uma refém e chutou Jessica para longe, virando-se para encarar Ibn. Ele se perguntou se ela usaria essa espada contra ele.

— Confesso que fiquei tentada. Mas então eu decidi... Dois podiam manter esse jogo de segredinhos. Eu precisava ver se você honraria o nosso casamento e até onde você iria como Ra’s. Então vi nela a refém perfeita. Era tudo questão de saber quando a usar contra você.

— Ei! — Maya protestou.

— Quieta. — Repreendeu Ibn, a mente correndo enquanto tentava planejar seu próximo passo. — Mara, o que inferno você quer?

— Bem, acho que como provei para todos eles que você não é um maldito assassino, suponho que agora eles não têm escolha de ouvir exatamente o que você tem a dizer, não?

Ibn abriu a boca para retorquir, porém foi impedido por Maya, que o segurou no ombro.

— Ela tem razão. Nós... Tivemos um leve desentendimento na ilha antes de ela me convencer a vir, mas é tudo verdade. Está na hora de contarmos a verdade para eles e você parar de carregar a culpa do mundo nos ombros.

— Pelo menos me diz que você chutou a bunda dela antes.

— Ei, escuta aqui-

— Por que acha que demoramos tanto a chegar? — Maya sorriu maliciosamente.

Ibn sorriu para ela antes de ficar sério novamente e, incerto, chamou:

— ...Mara. Por que você decidiu me ajudar?

— É meu dever servir Ra’s al Ghul. — Ela praticamente cuspiu as palavras, amargurada além da razão. — Só então conseguirei enfim honrar meu pai e minha família. Agora dá para acabarmos com o sentimentalismo e darmos o fora daqui?

Foi uma epifania. Ibn parou para analisar onde estava e tudo o que estava acontecendo e sentiu apenas... cansaço. Ele estava exausto de correr, exausto de lutar.

Mais tarde, bem mais tarde, Ibn se perguntaria se foi a adrenalina, a conversa com Jon, ou a visão de Maya que o fez tomar uma decisão tão impulsiva e mal pensada.

Mas que no fundo ele sabia ser a certa.

— Mara, se você jurar aqui e agora que irá desfazer o Berço e tudo o que ele representa, encontrar nossas crianças e dar um lar decente para elas, abdicarei o trono de Ra’s para você.

— Você deveria abdicar de todo jeito, você me deve. — Ela rebateu irritada antes de continuar: — Mas... É, eu também nunca gostei do Berço. Aquelas crianças sendo treinadas como a gente foi... Não parecia-

— Certo. — Ibn completou, olhando para a prima como se a estivesse vendo pela primeira vez.

— Isso. Espera, você está falando sério?

— Seríssimo... Ra’s.

Mara abriu a boca, em choque.

— Eu... Não é assim que funciona, tem que ter uma cerimônia-

— Eu, Ibn al Xu’ffasch oficialmente abdico do trono da Liga das Sombras como Ra’s al Ghul e o passo para minha esposa Mara al Ghul. Pronto. Temos testemunhas e tudo.

Então Ibn estendeu a mão esfolada para a prima, para oficializar o acordo entre eles. Mara olhou sua mão, incrédula. Ela então começou a estender a mão para ele antes de parar e, séria, parecer ter chegado a uma conclusão. Conclusão essa que Ibn não esperava. Ele jamais sonharia que ela fosse subitamente pular em cima de si e ficou tenso por dois segundos inteiros antes de perceber que ela estava o abraçando e não enfiando uma adaga nas suas costas.

— Bem, por mais que a cena de novela mexicana esteja me emocionando, vou ter que interromper. — Barbara Gordom se aproximou, os interrompendo. E ela parecia nada feliz. — Ibn? Acho que temos muito a que conversar agora. Você também está sob a nossa custódia, Mara, nova Ra’s ou não.

— Acho que não. — Mara sorriu daquela forma enlouquecida. — Vocês dois, tampem os ouvidos. — Acrescentou baixinho.

— Esperem, ela vai-! — Superman tentou avisar.

Ela atirou três bombas diferentes e Ibn reconheceu a própria tecnologia ao ver a nuvem de fumaça grossa que espalhou pelo satélite, além dos alarmes barulhentos feitos para nocautear humanos e incapacitar kryptonianos.

— Você vem ou fica? — Mara perguntou usando a linguagem de sinais ao correr de volta para a abertura onde entrou, provavelmente o jetplane que ele havia roubado da Batcaverna e deixado nas ruínas de Nanda Parbat foi o que ela havia usado.

Ibn então olhou para trás, onde Jon se encontrava de joelhos segurando os próprios ouvidos e os encarava. Ele parecia ansioso e preocupado enquanto mordia o lábio. Que idiota, Ibn pensou carinhosamente.

— Fico.

Mara não pareceu surpresa e muito menos insistiu.

— Só... Ache a minha mãe e veja se ela está bem.

— Por favor. — Mara debochou antes de abrir um largo sorriso que alcançou seus olhos desiguais. — Você está falando da nova Ra’s. E eu cuido dos meus.

Então ela se foi, deixando Ibn para trás. Enfim ele enfrentaria o seu julgamento.

Ele foi até as bombas e as desativou, Maya logo atrás dele. Superman o encarava sério, um dos poucos que não havia desmaiado. Ibn olhou ao redor e viu aos poucos a fumaça espessa voltando para a esfera de sua bomba ao mesmo tempo que os outros se levantavam, atordoados.

— Você ficou. — Foi Jon quem disse.

Ibn pensou em responder algo ácido, mas simplesmente deu de ombros.

— Eu não sou Ra’s mais, não há por que voltar.

— Você não é um assassino. — Jon começava a sorrir agora.

— Eu não chegaria a tanto... Ai! Maya, o que foi isso?

Damian Wayne, você não é! Estou muito bem viva aqui graças a você.

— Eu- Não- Eu não ter te matado não me isenta das minhas transgressões anteriores. Eu ainda tenho muito pelo que me redimir, sem falar das crianças e-

— E eu acho, ex-Ra’s, que agora você precisa decidir quem você é. — Superman disse ao se aproximar.

Automaticamente Ibn fechou a cara. Independentemente do que Ibn sentia pelo filho dele, sua opinião não mudou sobre o grandão azul.

— O que quer dizer com isso? — Perguntou secamente.

Maya apertou o braço dele em advertência, mas Ibn a ignorou. Não tinha medo dele. Ele quem deveria ter medo de Ibn.

— Quero dizer — Superman explicou com toda a paciência. —, que você vai ter que decidir se é Ibn al Xu’ffasch ou Damian Wayne. Você não é mais Ra’s e também não é Robin. Então quem é você?

Jon não disse nada ao se aproximar e Ibn se forçou a não olhar diretamente aqueles grandes olhos lilás.

— Independente do meu nome, eu ainda preciso reparar os meus erros.

— Você fala como se quisesse ser punido. — Maya observou.

Ibn não respondeu.

— Bem... Faz alguns anos desde que sai da vida de herói então fiquem a vontade de discordar, mas eu tenho uma ideia. Superman, você é o líder então a decisão é sua.

— Maya... — Ibn não sabia o que ela diria, mas só de ter seu destino nas mãos de Superman, de todas as pessoas, ele já não estava gostando disso.

Ela o ignorou.

— Damian é muito esperto para as prisões comuns e não vocês não têm prova alguma de que ele fez algo que o faça merecer uma prisão para supervilões, afinal estou muito viva aqui. Então a minha sugestão é: prisão domiciliar.

— Ele precisaria ser vigiado 24h. — Quem disse foi Barbara Gordon, que se aproximava até eles de forma atordoada. Ela parecia irritada.

— Bem, eu- — Maya começou.

Gordon balançou a cabeça. — Por um herói forte o bastante para lutar contra ele de igual para igual.

— Eu posso fazer isso. — A voz de Jon veio do nada e Ibn arregalou os olhos para ele. Jon não poderia realmente estar considerando-

— Absolutamente não. — Superman deixou bem claro pelo tom que isso não estava em discussão.

— Fiz dezoito anos há meses e já me formei do ensino médio. Legalmente, sou um adulto e o senhor não pode me impedir.

— Eu não disse em momento algum que concordava com esses termos. — Superman sibilou.

— Clark. — Chamou Gordon, calmamente. — Não é uma ideia ruim. Jon pode nos reportar sobre ele todos os dias e ele terá uma linha direta com você. Ele também é o mais poderoso e confiável para a tarefa.

— Sobre a parte do confiável eu não tenho tanta certeza. — Superman cuspiu, furioso. — Você nem sequer deveria estar aqui, Jon. Aliás, tem tantas coisas que você não deveria ter feito nesses últimos anos que se eu citar todos vamos ficar aqui até o próximo Natal.

— Eu ficando de babá por tempo indeterminado não me obrigaria a ficar sempre bem debaixo do seu nariz? Como posso fugir e desobedecer a vocês se não posso deixar o domicílio?

— Clark... — Gordon o chamou — Chame o resto da Liga. Façam uma votação se precisar, mas eu acho uma boa ideia.

— Antes de vocês decidirem o meu destino. — Interrompeu Ibn, nervoso. — E, acreditem, estou tão exausto com tudo isso quanto vocês; porém é de suma importância que alguém me diga onde estão as minhas crianças!

Gordon piscou, surpresa. Deve ter esquecido que eles estavam falando exatamente disso há uma quase uma hora atrás.

— Eu não menti quando disse sobre ter dado um lar para elas. Bem, nem todas já foram recolocadas, é claro. Essas coisas demoram, mas-

— Não. Eu quero recolocar elas. Conheço cada uma delas e nem todas são órfãs, vocês podem acabar dando uma criança que já tem uma família para estranhos.

— Você não está exatamente na posição de fazer exigências. — Gordon arqueou uma sobrancelha.

— Que me joguem na maldita Zona Fantasma se precisar depois, não me importo. Mas eu. Cuidarei. Das. Crianças.

— E como, exatamente, você pretende fazer isso?

— Vocês podem me passar a localização delas por bem ou por mal.

— Isso é uma ameaça? — Perguntou Superman, sombrio.

Na verdade, não era. Ibn quis dizer que hackearia o sistema deles. Só que ele tinha uma reputação a zelar.

— E se for? — Desafiou.

— Ok, ok. Tempo! — Jon se meteu entre eles, as mãos esticadas para obrigar distância. — Eu posso ajudar o Damian com as crianças. Assim alguém da Liga da Justiça – bem, tecnicamente um Titã – também fica envolvido com toda essa história, podendo fazer relatórios diários sobre isso.

— De novo, a ideia não é ruim. — Salientou Gordon, pensativa. — Só tem um porém.

— Qual? — Grunhiu Jon.

— Qual nome devemos esperar nos relatórios?

Houve uma pausa quando todas as cabeças se viraram para Ibn.

— Não se contente por menos do que você é de verdade. — Jon murmurou apenas para ele ouvir. — Você tem uma escolha agora, pode escolher quem você é.

Ele então pausou, passando os olhos para cada um que estava ali. Mesmo depois que tudo é dito e feito, ele ainda não sabe quem é, não é mesmo? Não passa de um garoto assustado com uma missão para continuar em frente.

Então ele olhou para Jon, alto, estúpido e gentil Jonathan Kent. E pensou quero ser a pessoa que você acha que sou.

— ...Damian. Meu nome é Damian.


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Notas finais do capítulo

Poxa, o que dizer? Quando eu comecei essa história, em setembro de 2019, estava completamente sem pretensão e sem grandes ideias para o plot. Toda a ideia nasceu de uma fanart em que o Damian, vilão, prendia o Jon, que jurava que ia o matar, contra o chão enquanto Damian caçoava dele e dizia "quero ver você tentar". Ao mesmo tempo estava acontecendo o evento do Dark Metal no universo DC - eu ainda não tinha abandonado os quadrinhos! - que era um multiverso inteiro baseado em um E se os heróis tivessem sido corrompidos por suas tragédias? Daí em diante é história, uma coisa levou a outra e Dust and Gold nasceu.
Nada - e eu repito - NADA poderia me preparar para a resposta que DAG obteve de vocês, meus queridos leitores. Cada comentário e favorito só me motivava mais e me dediquei de corpo e alma para escrever algo bom para vocês.
Sobre como nunca é tarde demais e que todos podemos mudar (mais de uma vez!).

Jon mudou ao ser cegado pela raiva da traição, pela mágoa de perder o que tinham ao ser trocado. Damian mudou quando foi confrontado com uma realidade pela qual ele não estava nem perto de preparado a lidar. Separados, eles eram duas forças inconsistentes e errantes mas que insistiam em procurar o outro. E no epílogo, pretendo mostrar no que eles podem alcançar ao estarem juntos.

E mais importante que qualquer outra coisa, quero agradecer a você - sim, você mesmo - a ter permanecido aqui comigo, com atrasos, sofrência e tudo. Essa história jamais teria chegado até aqui se não fosse por você, então quero deixar o meu obrigada.
Obrigada de verdade.



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