Desejo escrita por Urano


Capítulo 1
Desejo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aqui estou eu com mais uma fanfic Pinecest hehehehe. Eu não tenho jeito mais mesmo.

Espero que gostem da leitura :)



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A luz que entrava pela janela e o barulho dos passarinhos lá fora diziam que estava um lindo dia. Mabel ignorou o calor que sentia, e até mesmo a pequena vontade de sair para tomar um ar, e se enroscou ainda mais nas cobertas, enquanto agarrava os próprios joelhos, sentada em sua cama. Cobriu a cabeça como um capuz, fazendo com que um pouco dos cabelos lhe caíssem para frente. O cheiro ainda estava lá.

Apertou os olhos, querendo lutar contra a sua memória. Não tinha certeza de como se sentia, nem mesmo de como deveria estar se sentindo naquele momento, mas no fundo desejava que a noite anterior fosse apenas um sonho mal sonhado. Obviamente não era. E a cama intocada a sua frente servia para comprovar o fato. Por um segundo, pegou-se preocupada com Dipper. Ele provavelmente estava remoendo tudo de forma muito pior.

Ótimo,  eles tinham dado um jeito de arruinar completamente o último verão antes da faculdade.

Na verdade, eles poderiam ter arruinado bem mais do que as férias, e era isso que a estava assustando. Tudo por causa de uma maldita noite de filmes ruins e cerveja, em que ficar sozinhos em casa numa sexta à noite parecia uma ótima oportunidade para encher a cara escondidos e, aparentemente, de se beijar no chão da sala também.

O que mais a chateava, porém, é que não tinha a menor ideia de como haviam chegado àquele ponto. Não conseguia nem ao menos se lembrar de quem tinha sido o primeiro avanço, ou mesmo do que foi esse avanço. Ela mesma poderia ter feito algo, certo? Quer dizer, não que sempre tivesse sonhado com esse momento ou qualquer coisa mais absurda do que já estava parecendo, mas principalmente no último ano, Dipper estava ficando cada vez mais... gato? Pelo menos era isso que suas colegas diziam e, caramba, como ela já tinha cansado desse papo, ao ponto de ficar com raiva quando alguma garota chegava para falar de seu irmão.

Será que ela esteve com ciúmes todo esse tempo? Ou talvez algum sentimento de posse. Dava para lidar com isso, talvez. Até porque, pode ter sido ele a fazer alguma coisa em primeiro lugar. Levantou os olhos, buscando na cabeça algum momento anterior em que Dipper pudesse ter agido estranho. E quer saber? Eles existiam. Alguns olhares, a forma como ele a tocava, o jeito de falar... Dipper, o senhor é definitivamente o gêmeo mais estranho.

Mas no final não importava, porque ela tinha correspondido ao beijo de qualquer maneira. E, por mais que estivesse tentando esquecer, a cena reaparecia em sua cabeça de tempos em tempos. E era bom. A sensação de suas línguas se movendo juntas, o peso do corpo do rapaz em cima do seu no calor do verão, o cheiro dele... Mabel queria lutar contra o próprio coração acelerado. Mas é claro que ela não iria conseguir, principalmente porque naquele mesmo instante o barulho da maçaneta ecoou pelo quarto.

Fechou os olhos e se encolheu debaixo do cobertor. Estava ainda assustada demais para encará-lo. Volte outro dia.

O silêncio que se estabeleceu no cômodo era de matar, ao ponto em que Mabel começou a ficar em dúvida se deveria continuar parada ou levantar o rosto para ver o que o irmão estava fazendo. Talvez ele tenha finalmente esfriado a cabeça e apenas deitado para dormir, depois de tanto tempo sem aparecer. Começou a desejar que essa fosse a verdade e tudo não tivesse passado de um mal entendido e não prejudicaria a vida normal deles.

Sentiu um peso extra na cama, perto de seus pés e, nesse momento, sua espinha pareceu tão gelada que ela mordeu o lábio e apertou os joelhos. Ele estava batendo os dedos nervosamente no colchão e a moça quase podia ouvi-lo tão ofegante quanto ela. Antes que conseguisse fazer mais alguma coisa a respeito, a voz de Dipper soou rouca.

— Me desculpa. Eu não sei o que deu em mim na sexta. — Ele parecia bastante nervoso. — A gente bebeu e as coisas saíram do controle de um jeito meio esquisito. Digo, quem pensaria em fazer uma coisa daquelas sem ter tomado alguma coisa? Quer dizer, só pode ter sido o álcool, não é mesmo? Nós... Bem, nós bebemos e daí nós... Perdemos a cabeça?

“Quem pensaria?” Mabel repetiu mentalmente. Bem, ela estava pensando. Ela tinha estado pensando durante um bom tempo, por mais que detestasse a simples ideia de pensar. Levantou a cabeça, deixando que seu capuz de cobertor lhe caísse sobre os ombros, e encarou o par de olhos castanhos a sua frente. A expressão de Dipper pareceu endurecer um pouco mais, conforme ela sustentava o olhar, quase como um animal assustado.

E naquele momento, a pessoa que estava ali era apenas o seu irmão. O garoto bobo que se preocupava demais com tudo e provavelmente tinha passado dois dias inteiros elaborando esse momento, por estar com tanto medo quanto ela. Mabel suspirou, soltando o ar devagar. Ela não ia deixar que toda essa coisa estranha fosse motivo de tensão entre os dois.

— Só pode ter sido o álcool, — respondeu franzindo a testa e tentando mostrar um sorriso que estava rezando para sair convincente. — Pff, Dipper, claro que foi o álcool. Eu nem lembro direito do que aconteceu depois que aquele vampiro gostosinho matou a garota de azul.

— Você não lembra? — Por um segundo, Mabel imaginou ter ouvido um tom de desapontamento junto da apreensão na fala do rapaz. Talvez ela apenas estivesse querendo ouvir. — Não se lembra de nada mesmo?

— Bem, eu lembro do que precisa ser lembrado... Quer dizer, teve um beijo... no filme. E depois a gente estava deitado no chão... Você sabe, que nem no filme…

— Sim. — Dipper coçou a cabeça. Parecia estar olhando para os dedos dos pés da irmã, que estavam para fora do cobertor. Suas bochechas tão vermelhas quanto o nariz. Durante os segundos de silêncio que se seguiram, Mabel o encarou sem conseguir adivinhar o que ele poderia estar pensando, mas precisou conter a estranha vontade de tocar o rosto do rapaz com as pontas dos dedos. Depois de um suspiro, finalmente ele continuou: — Olha, que tal se a gente esquecer tudo isso? Não é como se a gente quisesse que alguma coisa acontecesse entre... entre a gente... ou algo assim, não é?

— Esquecer... — Mabel repetiu devagar. Ótimo, eles iriam esquecer, nada aconteceu, vida normal, vida que segue. Aquilo parecia um alívio e um balde de água fria ao mesmo tempo. Era melhor se contentar com o primeiro sentimento. E mudar de assunto, claro. Era a hora certinha para mudar de assunto. Forçou um sorriso, enquanto praticamente cuspia as palavras — Pff, claro que eu não iria querer me meter no seu romance colegial com a Kitkat…

— Kitkat? Você quer dizer com a Kathleen Green? Porque não tem nenhum romance colegial acontecendo entre a gente... Eu e ela, quer dizer.

— Existe um limite para o quanto uma pessoa pode não perceber as coisas, Dipdip. A garota dá em cima de você desde o primeiro ano, todo mundo já está cansado de ouvir o quão bonitinho você é quando morde a ponta da caneta…

O rapaz a encarou com as sobrancelhas franzidas e uma expressão de bobão. A Kitkat era legal, definitivamente uma das pessoas mais legais que ela conhecia da escola. E bonita também, tinha que admitir. Mas toda vez que ela começava a falar incessantemente sobre seu irmão, e não eram poucas vezes, Mabel sentia vontade de sair correndo.

— Mas ela é tão... bonita, — Dipper disse essa palavra com uma ênfase estranha. — Quer dizer, muita areia para o meu caminhão…

— Qual exatamente você acha que é o tamanho do seu caminhão, irmãozinho? — Mabel interrompeu qualquer besteira que ele fosse continuar a falar. — Eu posso contar pelo menos cinco meninas que tem crush em você com certeza naquela escola. Fica fazendo estilo nerd bonitão e não quer admitir que arranca suspiros das pobres moças.

— Bonitão? Suspiros? — O garoto repetiu as palavras com uma expressão confusa que se transformou em um sorriso — Olha Mabes, eu tenho quase certeza que só você acha isso.

— Eu e a Kitkat…

— Ok, você e a Kitkat, — Dipper replicou metodicamente. — Vamos dizer que, hipoteticamente, eu esteja interessado na Kathleen, não tenho metade da sua confiança para chegar numa garota como aquela sem falar besteira.

— Do jeito que ela está caidinha por você, não precisaria nem chegar, é só eu panfletar um pouquinho e semana que vem ela está te ligando duas vezes por dia para marcar um casamento. — Mabel se desenrolou do cobertor e esticou as duas pernas em cima da cama. — Além do mais, você não deveria se espelhar na minha "confiança". Eu consegui dar um jeito de espantar os últimos dois garotos que beijei por causa dela.

— Os dois penúltimos.

Dipper contraiu os lábios assim que as palavras saíram de sua boca, porque a lembrança ainda estava quente demais para que os dois pudessem conversar sobre isso numa boa. Encararam-se em silêncio. Mabel queria dizer alguma coisa, mas suas bochechas queimavam e a expressão do irmão à sua frente não estava ajudando tanto assim, parecia que ele tinha acabado de soltar um pum em público. Antes que percebesse, ela já estava achando a situação engraçada.

Levou a mão à boca, para tentar manter a seriedade, mas não conseguiu segurar o acesso de riso. O rapaz apertou os olhos, um tanto quanto confuso, mas também tinha um sorriso no canto da boca. A situação era estranha, os dois mal conseguiam se falar e agora estavam gargalhando, há quase um minuto, sem saber o motivo. Definitivamente esse verão seria bem diferente do comum. E olha que o conceito de comum dos gêmeos era um pouco mais estranho do que o resto das pessoas.

Pôs a língua para fora e fez um barulho curto, enquanto encostou o punho fechado no ombro de Dipper, como se o estivesse dando um soco. Aos poucos, suas respirações foram se acalmando, o silêncio tomou conta e os dois se viram inexpressivos. Ele era uma gracinha. As bolsas em baixo dos olhos, a forma que o cabelo enrolava perto da orelha, o jeito que parecia estar pensando no que fazer a seguir…

— Eu beijo bem? — Mabel resolveu provocar. Se era para se acostumarem a falar sobre aquilo, então era melhor que se acostumassem logo. Ela não iria aguentar fingir que nada aconteceu, afinal.

— Ah não, Mabel! — Dipper retrucou, se recusando a olhar para ela. — Não quero responder isso.

— Qual é? — Ela se inclinou na direção do rapaz, girando a cabeça para a direita, e se apoiou no próprio braço enquanto o olhava de baixo. — Conselho de vida. Para mais quem eu poderia perguntar esse tipo de coisa e ter 100% de sinceridade?

— A gente estava bêbado, eu não sei dizer... — A voz do rapaz morreu aos poucos conforme a irmã endurecia a expressão. Agora mais do que nunca ela queria uma resposta. Observou-o suspirar depois de engolir em seco e continuar em um tom derrotado — Eu gostei... Olha Mabel, eu gostei mais do que deveria ter gostado e tenho pensado nisso mais do que queria pensar. É tudo muito confuso, porque é você. E por mais que eu possa querer alguma coisa, eu não posso…

Não o deixou parar para respirar. "Eu gostei". Aquilo fez algo estranho acontecer dentro dela. Seu corpo se moveu na direção do rapaz, antes que pudesse pensar no assunto, e se pegou apertando os lábios contra os dele enquanto fechava os olhos nervosamente. Em seu interior, esperava que Dipper a afastasse, que brigasse com ela e não voltassem a se falar durante todo o verão. Seria a pior situação possível no mundo.

Um tempo se passou, mas ele simplesmente não se mexeu. Não fez nada de verdade. Os ombros de Mabel aos poucos foram relaxando, junto com a pressão que ela colocou na boca do outro até que se distanciaram e ela abriu os olhos, apreensiva. Mordeu o lábio ao encará-lo sem ter ideia do que fazer em seguida.

— A gente precisa conversar sério sobre isso. — A voz de Dipper soou rouca e fina.

— É. — Precisou brigar consigo mesma para que aquela única sílaba saísse de sua boca. Preparou a cabeça para ter uma conversa séria, mas o coração batia tão rápido que lágrimas começaram a se formar em seus olhos. — Você está falando com a rainha da seriedade…

Deixou que sua voz fosse acabando até que restasse apenas uma expressão confusa, incapaz de reagir à situação. Estavam estranhamente perto outra vez. Nunca poderia ter imaginado o olhar do rapaz tão intenso quanto naquele momento, como se seus pensamentos estivessem conectados, inclinaram-se em direção um do outro até o ponto que ela sentiu a respiração diretamente em seu rosto.

A mão de Dipper tremia antes de tocar na bochecha da irmã, seguida por vários beijos curtos e rápidos. Beijos... Eles estavam mesmo fazendo aquilo. Sem nenhum álcool no sangue, sem nenhum rodeio ou circunstância maior. Não conseguia mais dizer em qual momento tinha ido parar nos braços dele ou como tinham ido parar sentados tão próximos, mas agora já não conseguiam mais voltar atrás.

Era como se alguma coisa a estivesse chacoalhando, enquanto seu coração disparado não a deixava pensar direito. E aquilo era bom. A sensação da língua do rapaz, quente e molhada, lhe arrepiava os pelos das costas, como se estivessem pegando fogo ao mesmo tempo. Não tinham mais como esquecer aquilo e viver normalmente, não depois que ela havia se perdido entre beijos com o próprio irmão. E quer saber? Que seja então. Fechou os olhos enquanto ele puxava seu lábio de baixo entre os dentes, sem se importar com o quão longe aquilo poderia ir.

.

O som da fechadura da porta da frente ecoou pelo quarto, fazendo com que os gêmeos automaticamente se separassem com os olhos redondos de apreensão. Mabel molhou a boca, ansiando pelo toque de segundos atrás. Antes que pudessem se entender, sorriam um para o outro. Estiveram fazendo aquilo durante a tarde inteira.

Ainda tinha muita coisa para ser dita, mas naquela hora não importava tanto assim, quando os olhos de Dipper pareciam entendê-la perfeitamente. Isso era o começo de algo, certo? Algo só deles, como sempre tinha sido. Estava feliz de verdade.

— Dipper, venha me ajudar aqui em baixo um segundo. — A voz de sua mãe soou estranhamente normal vinda do primeiro andar.

— Tudo bem, — o rapaz gritou de volta e se levantou da cama apressado. Virou-se para a irmã e coçou o cabelo da nuca, que agora estava mais bagunçado do que o de costume. — Quer alguma coisa lá de baixo?

­— Água.

A moça respondeu em voz baixa. Aquilo de minutos atrás parecia surreal demais para que tivesse mesmo acontecido, mas era como se várias estrelinhas brilhantes estivessem enfeitando o cômodo enquanto ele andava em direção à saída.

— Dipper, — chamou antes de se dar conta do que fazia. O rapaz se virou outra vez. Mabel podia jurar que seu olhar vacilou quando encontraram os dela. — A gente não vai conversar hoje, vai?


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Notas finais do capítulo

Ei! Ei você! Comenta aí pra mim rapidão, por favor.