Sina escrita por p a squad, Eve


Capítulo 1
coração, desejo e sina


Notas iniciais do capítulo

Atrasada como sempre mas aqui estou eu. História dedicada às anjinhas do p.a. squad; sei que não sou a pessoa mais participativa do grupo mas saibam que tenho muito carinho por todas. Para você que caiu de paraquedas aqui, clique no perfil coautor dessa história para encontrar outras maravilhas escritas por essas meninas tão talentosas!
Boa leitura ♥



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— Leonel Mortimer ficou viúvo recentemente. - Afrodite comentou em uma voz agradável demais para aquele assunto. - Aposto que papai oferecerá a mão de Atena a ele.

— Ele é viúvo mas já tem um filho. - Hebe contrapôs. - Acho que papai gostaria de ter um neto como herdeiro, ainda mais vindo de Atena. Quentin de Burgh estará aqui também, foi o que mamãe disse. Eu apostaria nele.

— Eu preferiria morrer a me casar com de Burgh. - Foi o comentário de Ártemis. - Ele é asqueroso.

— Todos os homens são asquerosos para você, irmãzinha. - Afrodite replicou, e Ártemis apenas deu de ombros porque não podia discordar.

— Fiquem quietas, por favor. - Atena pediu pela milésima vez. Durante toda a viagem do Olimpo até Ótris tivera de aguentar as irmãs tagarelando sobre quais arranjos provavelmente seriam formados durante o iminente baile que reuniria todas as mais proeminentes famílias nobres da região, e aquele assunto já a perturbava além da conta.

A comemoração anual promovida pelos Valence não era novidade, e Atena e sua família já haviam atendido a inúmeros convites daquele tipo, mas durante os últimos seis anos ela estivera residindo na corte francesa como dama de companhia da rainha e portanto havia se ausentado das últimas festividades. Sua súbita convocação de volta à Inglaterra, justamente à época daquela importante reunião, não deixava dúvidas de que Lorde Zeus Norwood planejava firmar ali um enlace para sua primeira filha.

A primogenitura não lhe servia de muito sendo uma mulher numa família com três herdeiros homens na linha sucessória de seu pai. Sua mãe morrera no parto mas Zeus havia se casado duas vezes depois disso, garantindo uma ampla prole em que, além dos filhos varões, se incluíam também cinco meninas que haviam sido criadas para a única incumbência que lhes competia: o casamento.

Atena sabia que aquele era seu dever e como irmã mais velha seria também a primeira a ter de cumprí-lo, mas havia se permitido viver durante os últimos anos longe de sua terra natal na ilusão de que todas os pesos do nome Norwood estavam seguramente distantes do outro lado do mar. Nunca havia ansiado particularmente por um casamento, mas enquanto a ideia estivera presa num futuro longínquo, não havia se dado o trabalho de preocupar-se com ela. Agora que estava cara a cara com a realidade tinha certeza de que tudo o que menos desejava no mundo era aquele tipo de compromisso forçado.

— Sorrisos, meninas. - Lady Hera pediu altivamente ao aproximar-se das filhas e das enteadas enfileiradas e endireitar a postura e expressão de cada uma. - Nossos anfitriões estarão aqui em um instante. Seus irmãos se juntaram a elas logo em seguida e Atena pensou ter ouvido Dionísio murmurar as palavras da mãe em tom zombeteiro assim que ela lhes deu as costas para tomar seu posto ao lado do marido.

Aguardaram só mais um minuto à entrada do castelo até que os Valence aparecessem para recepcioná-los. O casal de senhores estavam muito parecidos com o que Atena se lembrava da sua última visita, vestidos em trajes nas cores do brasão da família que se complementavam e portando as mesmas expressões hirsutas. Lady Valence tinha olhos e cabelos negros que ornavam suas vestimentas e seu marido era corpulento em comparação com o torso esbelto da esposa, cabelos ruivos e olhos verdes penetrantes. Lorde Norwood adiantou-se para cumprimentar o senhor do castelo junto de sua senhora, e logo em seguida apareceu a prole daquele casal tão circunspecto.

Os irmãos Valence eram apenas três, número reduzido que por vezes despertava a inveja de Atena ao considerar o pandemônio que vez ou outra se tornava seu lar na companhia de outros sete irmãos além dela própria. Os três eram muito parecidos entre si, compartilhando da mesma beleza soturna de traços finos e corpos esguios. Os dois rapazes tinham os mesmos cabelos espessos e escuros, enquanto que a jovem entre eles ostentava uma cabeleira da cor de cobre, um vermelho escurecido que contrastava divinamente com sua pele pálida e olhos negros.

Depois de cumprimentarem os convidados mais velhos, aproximaram-se do séquito de filhos de Zeus para as devidas cortesias. Atena foi a primeira a ser alcançada depois de seus irmãos, e estendeu uma mão para o primogênito de Lorde Cronos Valence, que a segurou na sua e a levou até os lábios enquanto se curvava numa reverência.

— Atena. - Poseidon cumprimentou, voltando à sua postura usual mas ainda segurando seus dedos entre os dele. Ele era o único que havia herdado os olhos cor de esmeralda do pai, que pareciam faiscar enquanto ele a observava.

— Poseidon. - Ela devolveu o nome à guisa de cumprimento, também aproveitando a proximidade para admirá-lo de cima a baixo. Ainda eram crianças quando haviam se visto pela última vez. Não poderia dizer que eram estranhos; haviam sido criados muito próximos entre um e outro evento familiar e visitas diplomáticas, a curta diferença de um ano de idade entre os dois os colocando sempre entre as mesmas companhias. Mas tanto tempo se passara desde que haviam compartilhado o mesmo espaço pela última vez que era como se aquele encontro fosse o primeiro. E por um lado era: o primeiro como adultos.

O cortejo seguiu e Hades veio cumprimentá-la em seguida. Ele tinha proporções mais discretas que as do irmão e olhos escuros como os da irmã caçula, e Atena também ainda tinha vívida a memória dele como criança, sendo apenas um ano mais novo que ela e assim como o irmão também frequentando os mesmos círculos desde muito jovens.

Já a Valence mais nova era uma surpresa para ela: muito mais criança que os outros dois quando a havia visto pela última vez, florescera agora numa jovem graciosa e muito bela, que já dava indícios de compartilhar do mesmo charme inerente aos irmãos.

Saudações feitas, os Norwood foram conduzidos ao setor do castelo que comportava seus aposentos e informados sobre o horário em que o baile se iniciaria, dali a algumas horas. Atena e suas irmãs certamente seriam instruídas a iniciar logo seus preparativos, enquanto que os garotos provavelmente teriam algum tempo livre para descansar da exaustiva viagem, que entretanto usariam para importuná-las, sem sombra de dúvidas.

Todos milagrosamente ficaram prontos a tempo de entrar no salão principal pontualmente. O início de noite era um tanto sombrio naquele castelo escuro de Ótris, e a sombra das tochas e candelabros que iluminavam os cômodos e corredores criavam figuras distorcidas na multidão de convidados que transitava por entre as mesas e rodas de dança. O ambiente cheio felizmente deu a cobertura que Atena precisava para sair dali discretamente assim que terminou de cumprir a agenda de seu pai.

Ainda conhecia o castelo relativamente bem, sua memória das tantas vezes que estivera ali anteriormente reavivada a cada passo que dava, e sem muita luta encontrou uma via de escape até o lado de fora do salão, apreciando o ar fresco e a solidão quieta do terraço vazio. Caminhou até a balaustrada e apoiou-se ali, observando o pátio vazio abaixo e mais ao longe os guardas que patrulhavam as muralhas.

— Muito diferente da corte francesa? - Uma voz atrás de si perguntou, e Atena virou-se para ver Poseidon aparecer ali, vindo da mesma saída lateral que ela utilizara para escapar do baile.

— Sim. - Ela admitiu, sem querer confessar que não era apenas por aquele motivo que se escondia ali.

— Lorde Norwood parecia bastante engajado numa conversa com Lorde Edmund Cecil quando deixei o salão. Pensei que gostaria de ser avisada antes que ele mandasse um de seus irmãos convocá-la de volta. - Foi o que ele disse em seguida, como se conhecesse toda a preocupação dela mesmo quando não a proferia.

— Edmund Cecil?! - Não conseguiu controlar a exclamação indignada, porque tudo parecia ainda pior do que ela havia esperado. Lorde Cecil já devia estar perigosamente próximo da casa dos 50 anos. Sentiu-se ficar lívida.

Poseidon aproximou-se e ocupou o lugar a seu lado. Ela evitou olhar na sua direção para não entregar toda a tensão que carregava no olhar. Se um casamento por encomenda já era ruim o suficiente, a possibilidade de tal união com um homem que tinha quase o triplo da sua idade era verdadeiramente aterrorizante.

Pensou que depois de um tempo ele desistiria do silêncio imóvel e do vento frio que arranhava seus rostos ali no lado de fora no ar noturno, mas Poseidon permaneceu onde estava e ela eventualmente recuperou sua habilidade de ser civilizada em meio às adversidades.

— E como sabia onde me encontrar? - Ela perguntou, sua voz soando clara o suficiente para cruzar a pouca distância entre os dois e romper aquela quietude. Ao mirá-lo finalmente, percebeu que ele já a observava.

— Vi quando deixou suas irmãs para trás e saiu pelo acesso lateral. - Poseidon esclareceu, e em resposta a seu cenho franzido complementou: - Estive observando-a desde o início da noite na esperança de conseguir pedir uma dança.

E era inacreditável a facilidade com que admitia aquilo, um sorriso doce curvando seus lábios ao fim da frase.

— A sutileza nunca foi do seu feitio. - Ela comentou, e quando ele sorriu novamente, complementou: - Ainda tenho a cicatriz de quando me empurrou daquela ribanceira no Olimpo.

— Esse acidente nos rendeu um ano sem convites à sua casa, se bem me lembro. - Ele falou, divertido. - Hades quase me matou por isso.

— Acidente? - Ela questionou com alguma revolta - Você fez de propósito! - E os dois riram juntos ao recordarem claramente aquela memória.

— Sentimos sua falta aqui. - Ele confessou quando o silêncio imperou novamente, mas seu tom era íntimo demais para aquela expressão generalizada. Atena não soube como responder. - Fico feliz que tenha voltado definitivamente.

Não havia percebido como de repente estavam tão mais próximos, seus braços por pouco não se tocando.

— Nem tanto. - Ela contestou. - Meu pai pretende conceder minha mão em casamento em breve, como já deve ter percebido. É provável que daqui a pouco tempo eu esteja vivendo do outro lado do país sob a guarda de Edmund Cecil ou outro Lorde qualquer. - E ela se arrepiava só de pensar nisso.

Poseidon pareceu considerar a questão.

— Não gostaria disso? - Ele perguntou como que para se certificar de algo. Atena deu um riso seco.

— O que acha? - Ela perguntou, e havia entendimento nos olhos verdes de Poseidon.

— Bem… - Ele começou, incerto. - Não precisa ser assim.

Atena virou-se a apoiou as costas no parapeito, o encarando de frente.

— Como não? - Ela questionou, porque parecia estar drasticamente fadada àquele destino.

— Eu poderia pedi-la em casamento. - Ele propôs como se não fosse nada. - E aí não teria que se sujeitar a Cecil ou outro senhor qualquer.

Atena o encarou em silêncio, rendida muda frente àquela sugestão. Ele aparentemente interpretou de modo errôneo sua falta de reação, porque rapidamente justificou:

— Não sou um partido tão pior do que os outros Lordes que seu pai deve ter em mente. Sei que ainda não tenho um título próprio mas… - E interrompeu-se quando Atena levou dois dedos até os seus lábios num gesto que pedia silêncio.

— E faria isso por mim? - Ela questionou ainda atônita. - Em troca de quê?

Poseidon sorriu e levou uma mão até seu pulso ainda erguido, acariciando a pele exposta ali gentilmente. Tomou a mão dela na sua e deixou um beijo de leve na palma.

— Mais disso não seria o suficiente? - Perguntou enquanto a observava com algo muito próximo de adoração, e ela gostaria de poder dizer que não sabia de onde tanta ternura havia saído, mas a verdade era que sentia algo muito parecido no seu âmago.

— Simples assim, então? - E sua voz estava muito menos firme do que gostaria. - Seremos noivos?

— Não tão simples. - Ele respondeu enquanto se aproximava ainda mais com um sorriso enviesado. - Primeiro eu irei cortejá-la. - Sussurrou muito próximo ao seu ouvido, fazendo os pelos da sua nuca se arrepiarem. - Com toda a graça que você merece.

Atena conseguiu deixar um escapar um pequeno riso, seu corpo involuntariamente encontrando o melhor encaixe entre Poseidon e o apoio às suas costas. Uma de suas mãos repousou na cintura dele quando seus lábios depositaram um beijo num ponto abaixo de sua mandíbula.

— E como seria isso? - Perguntou, suspirando de leve ao senti-lo correr pelo seu queixo e encostar o nariz de leve em sua bochecha.

— Depende. - Ele respondeu, e sua voz muito baixa a fazia querer fechar os olhos e concentrar-se apenas nas sensações que lhe provocava. - Como gostaria?

— Gosto de poemas. - Ela murmurou de qualquer jeito.

— Poemas, então. - Poseidon disse para finalmente capturar os lábios dela nos seus, uma de suas mãos segurando firmemente sua nuca e enlaçando os dedos nos fios de seus cabelos enquanto a outra a abraçava pela cintura. Atena sentiu-se fraquejar frente àquele toque, e apoiou seus braços ao redor de seu torso a fim de mantê-lo próximo ao mesmo tempo em que se firmava.

Ele a provocou ainda mais, aprofundando o beijo e tomando posse de sua boca por completo, e a cada movimento deliciosamente harmonizado ela perdia o fôlego e se rendia mais um pouco à confusão de sentimentos que lhe afloravam. Cedo demais se afastou, mantendo suas testas próximas e então permitindo que ela escondesse o rosto no seu pescoço, e depois de um tempo ele quebrou o silêncio:

— Sabe de uma coisa? - Atena pendeu a cabeça para trás para observá-lo falando, e Poseidon ajeitou alguns dos fios loiros que invadiam seu rosto com uma expressão séria.  - Me lembro bem de que você quase arrancou meu dedo com aquela adaga de Apolo depois que a empurrei do barranco... Então acho que estamos quites.

Atena não conseguiu evitar o sorriso que acompanhou o dele antes de puxá-lo para mais um beijo.


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Notas finais do capítulo

Caso alguém esteja se perguntando: sim, esse foi um baita de um surto de self-indulgence (que aliás é só o que sei fazer), mas espero que tenham gostado! Caso queiram saber mais sobre esses dois num contexto um tantinho diferente, não deixem de acompanhar minha longfic (um pouco de autopromoção nunca fez mal a ninguém, né?)
Beijinhos!



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