SIBYL - Deuses do Amanhã escrita por Maegyr


Capítulo 2
Jantar aos Corvos


Notas iniciais do capítulo

"Ó vos cujas ideias não se afastam
Das leis da sã razão, vede os preceitos
Que destes versos sobre o véu se engastam."
— D. Alighieri, Divina Comédia (c. IX v.21).



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A multidão já estava lá, cercando o local com seus ruídos abafados pelo barulho das sirenes e dos flashes das câmeras. Bruce respirou fundo antes de tocar a maçaneta interna da porta e sair para a noite fria. Estava há alguns blocos do centro de Chicago, e mesmo com metade da rua interditada, as pessoas arrumavam um jeito de se aninharem entre as fileiras de viaturas e androides de bloqueio.

Demorou quase cinco minutos para conseguir perfurar a massa de corpos até conseguir chegar ao bloqueio policial. Não precisou se identificar, os scanners sitiado pelos prédios e drones que circulavam a área já tinham o identificado antes mesmo dele sair do carro. Atravessou as faixas de interdição projetadas por hologramas e avançou até o grupo de policiais dispostos em volta de um corpo coberto por uma proteção plástica.

Quando se aproximou, os outros policiais se afastaram, enquanto ele se agachava e levantava o plástico com a mão direita, com a outra, sacou uma pequena lanterna do bolso e iluminou o cadáver para uma rápida inspeção. Era de horrível. Havia pouco a ser reconhecido visualmente. O trabalho da perícia não foi facilitado.

Ele se levantou e redigiu-se ao único guarda que tinha permanecido ao seu lado.

— Os legistas ainda não foram chamados?

— Eles foram acionados há uns dez minutos, senhor. – Respondeu. – A área não foi toda liberada, temos alguns homens investigando o prédio. – Ele apontou para o vigésimo quarto andar, onde se podia ver as vidraças quebradas e o feixe de luzes passando pelas paredes. Lanternas.

— Cortaram a energia do prédio? – Indagou.

— Sim, senhor. Quando chegamos, a energia tinha sido cortada internamente.

— E as câmeras de segurança?

— Intactas. Quem quer que seja que entrou com ela teve o cuidado de não ser filmado na hora que fugiu.

Isso mudava tudo. Não fora um suicídio como as primeiras noticia da imprensa dizia. Bruce empurrou de volta os óculos para cima e deixou o dedo indicador lá, pressionando a armação das lentes contra a testa. Um homicídio de uma oficial não era nada bom.

— Senhor.. Autorizei chamarem um androide médico para analisar o corpo. – Ele falava entre pausas, hesitando enquanto estudava o semblante do inspetor, procurando alguma mudança nos seu olhar caso reprovasse sua ação.

— Prossiga.

— E... Não foi detectado nenhum órgão, apensas deixaram um globo ocular. – Ele engoliu em seco. – Só conseguimos descobrir que era a Inspetora Shisui por causa do DNA encontrado no cabelo.

Bruce sentia sua cabeça pesar, sentia suas emoções se sobrecarregarem, não por ter tido a cofirmação de que o corpo era realmente de Shisui Mae, mal a conhecia, na verdade.  Mas a avalanche de pensamentos e teorias sobre o porquê do crime fazia sua mente trabalhar em centenas de linhas de raciocínio ao mesmo momento. Ainda mais agora, quando a taxa do Coeficiente Criminal do país estava estabilizada há mais de cinco anos. Ele lembrou que não estava respirando quando a mão do outro policial pousou em seu ombro. Ele se assustou por um momento e pigarreou.

— O fato de ter sido uma Inspetora muda todo o quadro do crime.

— Sim, poderia ser um traficante de órgãos, ou um psicopata qualquer... – Completou o guarda.

— E a falta de um olho, isso deixa tudo mais estranho.

— Talvez alguém que queira ter acesso aos prédios do governo?

— No mínimo.

Antes de poder finalizar a conversa, um veiculo veio avançando, obrigando a multidão se dissipar e abrir espaço para ele passar. Ele atravessou a faixa de interdição e parou alguns passos do corpo.

— São os legistas? Perguntou o guarda.

— Não. – Respondeu Bruce enquanto praguejava por dentro. – Definitivamente não.

As quatro portas deslizaram para o lado para que os passageiros saíssem. Três deles permaneceram parados ao lado do veiculo enquanto apenas a mulher do banco do passageiro avançou até o inspetor. 

— Inspetor Reed. – Ela o cumprimentou com a cabeça, seu sotaque era forte, assim como a sua voz abafada pela máscara que cobria as narinas e os lábios.

— Lupo. – Ele a conhecia, é claro. O Sindicato era como uma lenda urbana, fantasioso, na verdade- as roupas negras, máscaras e armamento pesado, a carta-branca para interferir em qualquer assunto da policia. O grupo era temido, mas sua comandante era duas vezes mais.

— Se vocês estão aqui, então o caso não é mais da Divisão de investigação, presumo eu.

Ela devolveu-lhe o silêncio.

— Policial... – Girou o corpo, dirigindo-se ao guarda que o acompanhou desde que chegou.

— Foster, senhor.

— Detetive Foster. Por favor, encaminhe os dados e o arquivo final dos legistas a Divisão 1, por favor. Irei analisa-los e entrarei em contato com o senhor.

— Pensei que tinha presumido que o caso não era mais de sua divisão, inspetor. – A voz de Lupo era cortante, e sua presença mais fria ainda. – Se eu fosse o senhor, eu iria agora ao aeroporto, sei que o senhor tem muitos afazeres já que será o responsável pela vigilância e policiamento da Prégua esse ano. Aconselho que o senhor vá, será uma longa viagem, e além do mais... Não é muito aconselhável o chefe da Divisão dos Investigadores ter uma Matiz tão elevada assim. – Ela deu dois toques na pequena tela acoplada em seu pulso, e virou as costas para Foster, que acompanhava a conversa de seus superiores com um assombro no rosto. – Você. Quero seu pessoal fora daqui em cinco minutos. – Com o estalar de dedos, o resto de sua equipe avançou, deixando o carro para trás. Três avançaram para o prédio, e o ultimo – uma mulher – permaneceu ao seu lado. Aguardando.

Bruce verificou a própria Matiz e não pode não esconder o espanto, o pouco tempo que ficara ali e seu Coeficiente deu um salto de trinta pontos, ele precisava fazer algo, mas se estressar com isso só faria seu estado piorar. Ele deu as costas e seguiu para seu carro, enquanto saia, viu a perícia finalmente chegar e encostar próximo ao veiculo do Sindicato.

Ele continuou seu caminho e puxou um cigarro do maço que tinha no bolso junto com um isqueiro velho que ganhara de seu pai. Enquanto tragava a fumaça e a soltava dentro de seu organismo, sentiu o corpo relaxar. Seria uma longa noite, e com certeza a imagem do corpo de Shisui e os mistérios que rondava sua morte a fariam mais longa ainda... mas aquilo não era mais de seu feitio, seu trabalho ali já estava feito. Pelo menos, era o que ele dizia para si mesmo. 


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