Purple Light escrita por Isa


Capítulo 25
Capítulo 24




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POV Harry  

Ficamos ali sentados pelo que pra mim pareceram horas. Mas poderiam ter sido apenas alguns minutos. 

Nina logo se acalmou um pouco. Eu ainda a abraçava, suas pernas estavam sobre a minha perna esquerda e seu rosto estava apoiado em meu peito. Podia ouvi-la fungar às vezes, mas não dizia nada.

Acariciava sua mão com delicadeza e a beijei com carinho. 

Ela estava tão perto de mim e ao mesmo tempo completamente distante. Não entendia o que teria lhe causado tamanho trauma daquele jeito, mas queria poder protegê-la de tudo. 

Ela suspirou e começou a se mexer. Tirou as pernas de mim e se posicionou ao meu lado. O silêncio me matava. Não poder ver suas reações, seus movimentos me deixavam mais perdido do que qualquer coisa.

Ela soltou mais um suspiro longo. A imaginei passando a mão no rosto.

 

—Vou fazer o jantar – ela fez menção de se levantar, mas eu a segurei pela mão. 

 

—Espera. – Pedi ainda inseguro com o que estava prestes a dizer. – Não me faça ignorar isso.

 

—Harry... – sua voz vacilou outra vez 

 

—Isso... – engoli em seco, mas o fiz logo – Você disse que não vai aguentar dessa vez...

 

—Agora não – sua voz se firmou junto com o aperto que ela deu em minha mão. Enquanto ela levantava, eu continuei segurando-a. 

 

—Isso... É sobre Kyle? 

 

Não pude ouvir mais nada. Nenhuma reação ou ruído, aquilo me deixava angustiado.

 

Logo ela puxou sua mão da minha. 

 

—Eu não... – ela começou, mas não terminou de novo. Sua voz estava mais distante e não era só por estar em uma elevação diferente, ela tinha se virado de costas para mim e provavelmente estava com a mão sobre a boca. 

Aquela reação não era nada boa. Eu e Nina tínhamos uma ligação e eu sabia que isso não se devia apenas ao fato de gostarmos das mesmas coisas, de sermos muito parecidos. Ela tinha seus demônios assim como eu tinha os meus.

Me levantei indo na direção de seu último sussurro. Precisava toca-la, precisava senti-la de alguma forma.

Estendi minhas mãos encontrando seus ombros tensos e ela se afastou de novo.

 

—Eu não falo sobre isso e Layla sabe disso – Ela finalmente disse menos frágil do que estava a alguns segundos – Ela não tinha o direito... – ela começou, mas parou no meio. A raiva agora era nítida em sua voz.

 

Tentei me aproximar de novo, mas a senti se afastar mais. Aquele nome pronunciado por mim sem nenhum cuidado aparente, subira entre nós um muro sólido.

 

Tinha que concertar aquilo, respeitar seus limites.

 

—Tudo nem. Me desculpe, não deveria... – ela não me deixou terminar 

 

—Não mesmo. – Ela saiu da sala, seguiu para a cozinha me deixando ali imerso no mar de coisas que fazia questão de guardar só para ela.

 

Fez o jantar em um completo silêncio. Só tinha certeza de que continuava ali porque podia ouvi-la mexer nas panelas. Em meia hora a comida estava pronta, ela me chamou para a mesa sem animo algum.

Colocou um prato a minha frente, mas não disse nada sobre o que tinha nele como costumava fazer. Simplesmente seguiu para o outro lado da mesa mantendo uma distância segura de mim e comemos ainda em silêncio.

Ela tirou os pratos e lavou as louças sujas calada e eu estava a ponto de surtar com aquela situação quando ela finalmente se aproximou.

 

—Você me prometeu chocolate – Seu tom era leve, quase brincalhão. Isso me deixou confuso, mas então eu entendi que ela estava ali tentando me dar abertura. 

 

Me levantei e fui até o quarto, ouvi seus passos delicados me seguindo sem cautela. Quando parei ela fez o mesmo.

 

—Na primeira gaveta – apontei para onde acreditava estar o criado mudo – Mas você já sabia disso.

 

Nina estava totalmente familiarizada com a minha casa, minhas coisas, a posição de meus móveis. Era extremamente cuidadosa com isso. Sabia onde eu guardava cada coisa para que com ela, eu nunca precisasse me preocupar em achar algo. Sabia exatamente onde Gemma guardava todos os chocolates que trazia para “adoçar” a minha vida, como ela se orgulhava de dizer.

 

—Quer ver o jogo? – ela perguntou se jogando em minha cama.

 

—Você é quem vai ver – me sentei ao seu lado – Pode escolher. 

 

Ela não disse mais nada. Podia ouvi-la abrindo os chocolates e trocando os canais sem realmente parar em um. Estava distraída.

Depois de meia hora em mais um de seus silêncios torturantes, trocando incessantemente os canais, ela finalmente se cansou e desligou a maldita TV.  

Achei que continuaríamos ali, que nada mais pudesse traze-la de volta pra mim. Ela estava tão longe.

 

Mas ela nunca deixou de surpreender.

 

—Ele foi meu namorado – sua voz sumiu por alguns segundos. Estava calma e fria. – E morreu. – Por mais doloroso que aquilo parecesse sua voz saiu com a naturalidade de quem já tinha repetido aquilo muitas vezes.  – É isso que precisa saber, é isso que importa.

 

—Mas...

 

—Eu vou te contar sobre isso, um dia eu juro que vou. – ela suspirou totalmente segura – Mas eu ainda não posso fazer isso.

 

Eu entendia. Por mais que não saber toda a história me matasse por dentro entendia que traumas como aquele provavelmente era, deveriam ser respeitados. 

 

—Tudo bem. – Assenti e levei um susto quando senti seus braços em volta de mim 

 

—Obrigada. – ela escondeu o rosto no meu peito outra vez e eu sorri. Por mim ficaria ali para sempre.

 

Esperei alguns segundos, tentando memorizar da melhor forma aquele abraço em mim. Mas queria minha Nina de volta. Aquela toda segura de si que me fazia ter vontade de viver.

 

—E então, já ta doidona de chocolate? – Brinquei tentando acabar com aquele clima de merda. E tudo melhorou quando ouvi aquela risada gostosa.

 

—Ainda não! Preciso de muito mais – sabia que estava sorrindo e eu dava graças a Deus por conseguir causar isso nela. 

 

—Drogada! - balancei minha cabeça e ela soltou mais uma de suas risadas. Se afastou de mim para abrir mais um chocolate. - Se não vamos falar dos mortos, então falemos dos vivos - eu soltei a infeliz frase e emendei o resto para tentar fazer com que ela não percebesse - Quando vai se livrar do Jimmy? Eu não gosto dele. 

 

—Quando vai se livrar da Layla? - ela soltou esperta e eu percebi que não era o único com ciúmes ali.

 

—Layla é sua melhor amiga! Namorada do meu melhor amigo. - eu ri, aquilo ali não fazia sentido 

 

—Exato! - ela se mexeu fazendo a cama balançar - Não tem porque andarem grudados do jeito que estavam. Que ódio! 

 

Eu não consegui segurar minha risada. 

 

—Isso é ciúmes dela, ou de mim? 

 

Pude ouvi-la gemer entre dentes.

 

—Preciso responder mesmo? - disse em um tom entediado voltando a me abraçar. - Você ouviu o que ela disse no bar, ficou bem claro pra todo mundo 

 

Eu levei alguns instantes para entender o ela realmente dizia.

 

Layla não apenas tinha chamado a atenção para o ciúmes de Nina, mas também para o fato de que deveria assumir seus sentimentos por mim. Aquilo realmente estava acontecendo? 

 

—Eu... - Não sabia se deveria continuar. - Devo levar a sério tudo o que ela disse então? 

 

E mais um chá de silêncio para Harry. Como se não fosse torturante o bastante o fato de não poder vê-la naquele momento. Mas eu a sentia. A sentia como em todas as vezes que ela se permitia ser vulnerável a mim. 

Tinha a cabeça encosta em meu ombro agora, e por mais que eu sentisse um frio avassalador no estômago, meu coração estava extremamente calmo.

 

 

 

POV Nina 

 

Eu estava perto demais. Exposta demais. Admitindo coisas que não tinha admitido nem a mim mesma. Aquilo não era certo. 

Harry brincava com nossas mãos, parecia extremamente tranquilo. Eu esfreguei meu nariz em sua pele sentindo seu cheiro, seu calor.

Fechei os olhos.

 

—É tão complicado - Minha voz era mais um gemido de angústia 

 

Ele continuou brincando com nossos dedos, era como se pudesse ver. Eu observava aquilo pensando em como nossas mãos eram perfeitas. 

A dele era bem maior que a minha, mas mesmo assim elas pareciam se encaixar como se fossem feitas uma para a outra.

 

Ele finalmente as entrelaçou 

 

—Talvez não seja tão complicado assim. - beijou minha testa

 

Eu queria tanto poder ceder. Tinha algo ali entre nós e não era de hoje. Uma coisa com uma intensidade, uma rapidez que me fazia ser completamente dele por mais que não fosse. Ninguém podia negar, nem mesmo eu. 

 

Subi meu rosto e senti sua mão soltar a minha. Ele não tinha noção de quão perto nossas bocas estavam. 

Subiu a mão até meu pescoço e então chegou em minha boca contornando meus lábios com delicadeza. Pude vê-lo se aproximar mais. 

Me livrei de seus braços pegando o controle da tv de novo.

 

 

—Você não entende. - balancei a cabeça passando os canais. 

 

Ele acariciou meu ombro e pela primeira vez em todos aqueles meses eu não quis lutar contra aquilo. 

 

Afaguei sua mão com minha bochecha. 

 

—Por que não tenta me explicar então? - Sua voz finalmente fez com que eu me tocasse. 

 

O caminho que tomávamos era perigoso e incerto. Harry nunca poderia saber do contrato. Nem depois que eu fosse embora. 

 

Me acomodei ao seu lado me recostando na cabeceira da cama observando-o. Ele parecia atento a cada movimento meu. 

Um dia eu seria apenas uma lembrança. 

Isso partiu meu coração em milhões de pedaços. Eu estava acostumada com tudo ali. Era como se nada nunca tivesse sido diferente daquilo, como se Harry sempre estivesse em minha vida e como se nunca fosse sair.

Mas a realidade era outra. Logo eu teria que partir e ele teria um futuro sem mim. 

 

—Você sabe... – Ele murmurou um pouco mais apreensivo do que antes – Que eu não vou morrer, não é? – Suas palavras me chocaram como um soco no estomago, aquilo me fez perder o ar. Como se alguém tentasse me enforcar – Eu não vou desaparecer, vou estar sempre aqui.

 

Eu sentia tudo e ao mesmo tempo nada. Meu coração não sabia se batia ou se parava. O choro ameaçava de novo, mas algo o prendia em minha garganta.

No fundo era isso. Era tudo sobre isso. Eu era uma mulher de poucos medos, mas a sensação de ser deixada de novo...

Me ver sozinha em um mundo onde a pessoa que era dona de todo o meu mais sincero amor simplesmente não existia mais.

Quando Kyle morreu, eu o amava de uma forma que ele quase me levou junto com ele, eu desejei morrer, desejei estar com ele onde quer que estivesse. Aquilo me apavorava! Eu, uma pessoa apaixonada pela vida me vi completamente descrente de toda a felicidade do universo. E depois daquilo nunca mais quis me sentir daquele jeito.

 

Então Harry apareceu...

 

Em um ato impensado o abracei com toda a força que eu tinha, como se desse jeito suas palavras pudessem se tornar verdade. Como se depois do meu abraço eu nunca tivesse que lidar com a falta dele.

 

Eu estava me afogando em puras mentiras, mas ali, sentindo sua pele quente na minha, eu não me importava.

 

 Ele se assustou com meu abraço no início, não esperava aquilo. Mas me retribuiu logo.

 

—Eu preciso tanto de você – sussurrei para ele sem nem perceber. Ele me apertou mais e eu sabia que estava segura ali.

 

—Não tanto quanto eu preciso de você – ele me correspondia em todos os sentidos e isso aquecia meu coração machucado.

 

Me afastei limpando as lágrimas que me escaparam.

 

—CHEGA! – gritei assustando-o de novo o que me fez rir. – Pelo amor de Deus, chega de tantos sentimentos! Sou uma vadia sem coração, lembra? Não me faça sentir tantas coisas assim, vou acabar enfartando.

 

—Nina... – ele suspirou com um meio sorriso

 

—Vamos ver um filme de ação – mudei de assusto o mais rápido que pude. – Vin Diesel ou Bruce Willis?

 

Ele sorriu de verdade dessa vez.

 

—Velozes e furiosos tem meu coração, mas eu sei que você gosta do Willis.

 

Suspirei exagerada.

 

—Você me conhece tão bem – brinquei e ele me empurrou na cama. Antes de colocar o filme me levantei ainda rindo. Abri a gaveta onde ficavam as blusas de Harry, guardava uma em um cantinho especial, tinha sido a única coisa que eu me permiti mudar de lugar na casa de Harry e ele pareceu gostar, mas ela não estava onde eu sempre deixava. – Cadê minha blusa azul?

 

—Sua? – ele gargalhou e eu caminhei até ele brava, apontando-lhe o dedo

 

—Harry Styles, se emprestou minha blusa pra alguma vagabunda eu juro que... – ele segurou meu pulso antes que pudesse terminar, me puxou para a cama ficando por cima de mim.

 

—Nenhuma delas usa minhas blusas, só você. – Sua voz era grave e me causou um arrepio nervoso – Maria deve ter tirado do lugar.

 

Ele soltou meu pulso e o empurrei para o lado de novo.

 

—Então você diz pra Maria que não é pra tirar do lugar. – me levantei e peguei outra blusa.


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