Monstro escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
monstro


Notas iniciais do capítulo

Estou preso no hospital por conta do trânsito infernal dessa cidade e não tem mais ninguém por aqui, então né... vamos usar bem o tempo.



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Abraxas sabia que aquele momento iria chegar. Estava contando os dias, aguardando o momento em que entraria em seu quarto ou escritório e o encontraria ali, quieto e sério. Tom não demonstraria ódio tão cedo, apesar de Malfoy saber que ele o estava sentindo... Mas, não, o homem manteria a calma, o rosto pleno e calmo, talvez com a musculatura da mandíbula tensionada, o único sinal de que não estava completamente relaxado.

Achei que fosse passar mais dez anos sumido,” disse Malfoy, deixando os lábio se curvarem em um sorriso enquanto atravessava o escritório, indo até a sua mesa como se o outro homem não estivesse parado perto da lareira, quase completamente escondido pelas sombras.

Tenho assuntos importantes para tratar por aqui, não posso mais me dar o luxo de sumir por tanto tempo.” A voz de Tom, se fosse possível, parecia mais fria do que da última vez que conversaram.

A vida adulta é uma merda, não é? Se fosse uns vinte anos atrás, estaríamos preocupados com as tarefas de verão do Slughorn ou redações idiotas de Adivinhação.” O loiro riu, puxando a cadeira de sua escrivaninha, mas não se sentando de imediato. Encarou as pastas e pergaminhos sobre a mesa e suspirou. “Agora temos papeladas do Ministério e... Bom, você tem os seus negócios.”

A risada fraca que ecoou de perto da lareira fez um arrepio percorrer a espinha de Malfoy. Ambos sabiam que os “negócios” de Tom envolviam a coordenação de ataques a qualquer um que não fosse sangue-puro e perseguição dos membros da Ordem da Fênix, além de outras coisas envolvendo magia negra.

Ouvi dizer que você perdeu o interesse pelos nossos negócios.”

Abraxas respirou fundo. Estava apenas esperando por isso, agora era apenas uma questão de tempo até a primeira maldição o atingir.

Você tem vários seguidores mais jovens e mais bem dispostos, Tom,” o loiro falou. “Aposto que não precisa mais de alguém como eu... Convenhamos, eu nunca servi para nenhuma missão muito arriscada, não é? Atlas e Canopus eram quem faziam isso bem.”

Mantendo os olhos fixos nos pergaminhos nos quais agora mexia, Malfoy ouviu o barulho abafado de passos. Ele podia sentir a presença de Riddle mais próxima, como se a magia deste o pinicasse, exigindo a sua atenção.

Então decidiu desistir por conta da idade?” O loiro sentiu a sua respiração ficar presa na garganta quando os dedo longos do outro bruxo percorreram os seus cabelos. O afago era quase carinhoso, não fosse pela força discretamente maior exibida pelo toque. “Quem diria que Abraxas Malfoy se deixaria dominar pelos anos...”

Tom...” Malfoy começou a falar, antes de puxar o ar, assustado, quando os dedos do outro agarraram os seus cabelos com força e o puxaram para trás. Seu corpo agora estava apoiado no de Riddle e o bruxo tentava controlar o medo a todo custo. Tom o conhecia muito bem, qualquer mudança de postura ou movimento seria o suficiente para entregá-lo.

Ou foi por outra razão, Abraxas? Talvez você realmente tenha perdido interesse... Ou, talvez, você nunca tenha tido interesse, em primeiro lugar?” A voz do homem pareceu ficar mais baixa e quase aconchegante em seu ouvido, a respiração quente acariciando o seu pescoço. “E então? O que me diz?”

Malfoy sentiu os olhos lacrimejarem com a dor em seu couro cabeludo. Respirou fundo e tentou virar a cabeça para olhar o outro, mas Tom segurou-o no lugar.

Você sabe a razão de eu ter... de eu ter me juntado à sua causa.”

Necessidade de sentir alguma emoção nessa sua vida de puro-sangue rico, meu caro? Novamente, de todos, você era o último que eu esperaria abrir mão disso.”

Merda, Tom, foi por você.” O loiro sentiu o coração acelerar de tal forma que podia senti-lo em sua garganta. O bruxo atrás de si ficou estático. “E você sabe muito bem disso, não se faça de desentendido.”

O ar fugiu dos pulmões de Abraxas quando o outro o empurrou para longe, fazendo o loiro esbarrar contra a escrivaninha. Ao se virar, deparou-se com Riddle o encarando com as sobrancelhas franzidas e os olhos quase faiscando... Olhos os quais, Malfoy agora notava, haviam perdido ainda mais do tom azul que ele tanto conhecia.

Como se eu precisasse de você fazendo algo por mim.”

Bom, tudo indica que sim, você precisa de alguém tentando cuidar do que você faz, Tom.” Malfoy estufou o peito, apesar de sentir as pernas bambas. “Infelizmente, eu não sou eficaz o suficiente quando se trata de evitar que você cometa erros terríveis.”

A primeira coisa que sentiu foi o mundo perder o foco quando sua cabeça girou com o solavanco e, logo depois, a ardência em seu rosto e a dor nos joelhos, devido à queda. O homem prendeu a respiração, mantendo os olhos no chão e se controlando para não levar uma mão até a bochecha dolorida, se perguntando se, mais tarde, iria ver os dedos longos e elegantes de Tom marcados na sua pele por conta do tapa.

Eu nunca precisei de você,” Riddle sibilou, aproximando-se e projetando uma sombra sobre ele. “Você é quem sempre precisou de mim, Abraxas. Precisando de atenção e carinho e validação. Necessitando o sentimento de novidade e aventura. Eu lhe proporcionei tudo isso, não é mesmo? Mas agora perdeu a graça. Agora você está velho demais, acomodado demais” O homem riu e Abraxas viu vários pergaminhos caindo sobre si. “Quem diria que um maço de papelada do Ministério iria te cansar!”

Malfoy encolheu-se e esperou. Um ou dois minutos se passaram, apesar de estes parecerem durar horas, enquanto o silêncio preenchia todos os cantos vazios da sala. Antes que tivesse coragem de erguer o rosto, o loiro sentiu a movimentação ao seu lado, vendo o corpo de Riddle se abaixando até que este estivesse ajoelhado, próximo de si, e os dedos dele estivessem, outra vez, em seus cabelos.

“Estava apenas esperando que eu chegasse já o atingindo com uma maldição, não é, Brax?” Toda a frieza havia sumido da voz de Tom enquanto a carícia em seus cabelos lhe passavam uma falsa segurança. “Não,você não merece isso, meu caro. Aprendi talvez tarde demais que certas pessoas não merecem a morte ou um Cruciatus.”

O bruxo segurou a respiração quando a proximidade do Lorde das Trevas se intensificou. Tom pressionou os lábios contra o topo de sua cabeça por um momento, ainda o afagando como alguém que dá carinho para um cão desesperado por atenção.

“Você vai continuar aqui, Abraxas. Vai continuar lendo e assinando infinitos documentos do Ministério, indo à infinitas festas cheias de puro-sangues ricos e bem vestidos, vai continuar indo trabalhar todos os dias com outros bruxos tão bem conceituados quanto você,” disse Riddle, antes de suspirar e se afastar um pouco, erguendo o rosto do outro com uma mão. “Aqueles que me apoiam irão saber que você me desertou, enquanto aqueles que lutam contra mim continuarão achando que você não passa de um Malfoy filha da mãe que está mais preocupado em manter a linhagem pura do que com o bem do mundo bruxo.” Um sorriso torto repuxou os lábios do bruxo. “Você vai continuar aqui enquanto ouve seu filho falar sobre as missões nas quais serve, sobre as torturas aos trouxas e traidores do sangue, sobre os encontros com aurores e as vezes em que ele quase irá parar em Azkaban... Se viver o suficiente, vai poder ver o seus netos se juntarem a mim!”

Abraxas desviou o olhar, mas logo sentiu os dedos de Riddle em seu queixo o forçarem a encará-lo outra vez. O rosto que lhe fora tão conhecido durante os anos de Hogwarts preservava boa parte de suas feições elegantes, mas agora parecia mais pálido, mais magro, com olheiras mais profundas sob os olhos azuis que pareciam tingidos de vermelho nos cantos das íris.

“E você vai ouvir falar de mim, ah, sim, Abraxas. Você se esforçou por tantos anos para fazer tudo isso por mim, não é verdade? Não irei deixá-lo sem notícias, não mais. Você irá ter notícias sobre Lord Voldemort pelo resto da sua vida.”

“Tom, por favor...” o loiro murmurou, ouvindo as suas palavras saírem fracas e sem saber pelo que implorava.

“Não se preocupe.” Tom sorriu, passando o polegar pelo rosto do outro com delicadeza. “Eu não virei um monstro, não precisa ter medo disso... Afinal, um monstro não seria tão piedoso, seria, Brax?”

 


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Notas finais do capítulo

Reviews são sempre muito bem vindos. Pense na pessoa que passou o dia cheirando formol e está morrendo de sono, mas está ilhado por conta do trânsito... pensem o quanto um review vai ser bem vindo (: