A Aurora de Castelobruxo - A Harry Potter Story escrita por ThaylonP


Capítulo 20
Primavera de Feitiços




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As cores da floresta mudaram da noite para o dia, diferente da visão progressiva que Aurora tinha das estações em transição. Na verdade, pensando bem, não lembrava de conseguir reconhecer qualquer mudança onde morava, já que boa parte da selva ao seu redor era feita de pedra. Nos arredores de Castelobruxo, entretanto, os ingás povoavam a vista multicolorida. Amarelos, vermelhos, rosa e roxo, sem abandonar o verde que continuou ali.

É claro que a mudança não era mágica o bastante para trazer alterações na rotina consigo, então a menina teve que se conformar com o que acontecera nos últimos dias. Principalmente os recadinhos, que diminuiram a intensidade, assim que Aurora começou a devolvê-los com a justificativa de que tinha um parceiro.

Apesar da saída violenta na noite anterior, Inara manteve sua postura comum, e mesmo que fosse uma faceta emburrada, era um alívio ver que podia contar com ela. Nino, por sua vez, não parava de falar sobre o mês seguinte; sobre sua vestimenta para a festividade, sobre a torcida nos duelos e sobre as cerimônias que antecipariam o evento. Parecia não se lembrar das provas que estavam por vir.

Matheus estava evasivo. Uniu-se ao grupo como nos outros dias, mas só comentava coisas baixinhas que não eram ouvidas direito. Aurora não estava muito bem para insistir em cada uma das falas, aproveitando a desculpa de ter que estudar para contribuir em sua expressão, que insistia em afirmar a mágoa que sentia. Não magoada o suficiente para cortar laços, nem o bastante para ser arrogante, mas numa escala favorável a um aceno de cabeça cínico e a olhares fingindo desentendimento quando havia uma insinuação de que estava entristecida com algo.

Depois das refeições, Inara e ela aproveitavam o tempo de descanso para praticarem. Ficou entendido que praticariam juntas para a matéria de Defesa Contra as Artes das Trevas, uma suplementando a outra nas partes que perderam durante os treinos. Então, naquela tarde do dia dois, as duas se afastaram da amplitude da clareira, na mesma região de pedra que fariam as aulas. Tendo pouco tempo, ao chegarem, lançaram as bolsas ao chão e sacaram seus cajados.

— Tá certo, tem vários aqui, mas não vai dar tempo de... – começou Inara.

— Não, aprendo rápido. Ando praticando antes de dormir – respondeu.

A amiga duvidou, e quando pediu uma demonstração, Aurora aprumou-se toda, apontando para uma pedra.

— Accio – anunciou, e a rocha voou para sua mão vazia. Depois, segurou-a na frente do cajado, ajustando para ficar bem próximo da ponta. – Engorgio – a pedra obedeceu o comando, aumentando três quartos de tamanho. Deixou-a cair no chão abaixo dela, e se afastando, apontou uma terceira mágica. – Reducto!

Dessa vez, não funcionou. Uma porção de faísca foi cuspida da varinha e pareceu resvalar na superfície rígida. Houve uma pequena rachadura no lugar onde foi acertada, porém a pedra engordada estava intacta.

— Tá bom, esse é mais complexo – justificou.

Inara manteve o olhar fixo nos feitiços, quase sem piscar. Quando a menina disse o que disse, engoliu algo preso na garganta, e comentou:

— Aprendeu rápido. Foram o quê... três dias? – perguntou, apertando seu cajado na mão direita.

— É, três noites – corrigiu Aurora. – Ficou bem mais fácil depois que parei de ter medo.

Inara apertou o olhar, a pintura sobre seus olhos encurtou.

— Então... eu te ajudei? – perguntou, comprimindo os lábios.

— Demais! – disse Aurora, orgulhosa, encarando o Orabutã às suas mãos.

A amiga manteve a visão, e por alguns segundos, não disse nada. Depois, fez um aceno de confirmação com a cabeça, caminhando outra vez para o que estava prestes a explicar.

— Miranda ensinou esse para nos protegermos de Bisonhos – começou.

A voz da garota estava fria como uma lâmina, cortando suas palavras a fim de servir uma refeição composta de um aprendizado que Aurora tirou de letra. Os Bisonhos eram criaturinhas a princípio inofensivas, do tamanho de besouros. Dependendo do cheiro que sentissem perto de si, perturbavam-se ao ponto de se tornarem enormes, e por consequência, agressivas. A solução era, em primeiro lugar, o Feitiço de Encolhimento servindo para contê-los em suas formas originais. Depois, auxiliado do Feitiço Congelante, dava uma chance até que o cheiro que tivesse os irritado fosse extinguido.

A bruxa executou os dois. Diminuiu a pedra que havia aumentado, e quando a mesma foi lançada ao ar, conseguiu interromper sua trajetória. Ainda assim, a rocha despencou devido a gravidade, mas foi percebido por Inara como um sucesso.

As duas saíram assim que o sinal tocou, e Aurora estava confiante de que suas provas teriam excelentes resultados, mas apenas pôde colocar isso à prova na sexta-feira.

Ruína foi a primeira, numa longa aula que envolveu a parte teórica, onde Aurora sentiu que acertou boa parte, acompanhada da execução dos feitiços utilitários que haviam sido tema do trimestre. Nino atraiu os objetos para si, assim como conseguiu levitá-los, entretanto a segunda execução manteve um voo de poucos segundos, devido a inconsistência no aceno com o cajado, deixando a pena com uma jornada trêmula. Inara foi quase impecável, a descontar de um pequeno momento onde a atração de seu objeto não percorreu todo o caminho até sua mão. Aurora por sua vez, nem acreditou quando mesmo com a pouca prática da levitação, manteve a fluxo no ritmo correto, e aterrissou a pena na pilha de livros. A professora abaixou a cabeça depois de cada testado, riscou algo em sua planilha, e deixou-os apreensivos sobre as notas.

Depois, na vez de Rodinhas, a transformação dos bichos em cálices foi mais difícil. A taça de Nino adquiriu o mesmo tom rosado de antes, mas pela falta de escamas e outros elementos que lembrassem Celeste, o professor concordou que era uma boa performance. Aurora e Inara dividiram a mesma ratazana, já que Blu ainda não voltara de sua entrega. A garota indígena foi a primeira, e alguns pelos sobraram na base do cálice. Aurora deixou ainda mais a desejar, quando um desenho perfeito de um focinho marcou-se no exterior da taça, como se o roedor estivesse preso numa casa de espelhos. 

Ao ar livre, seguiram para Miranda. Diferente da simpatia habitual, a moça mantinha um rosto fechado, para que a sua aplicação fosse levada a sério. É claro que não se manteve por toda a aula, pois a cada execução malfeita de um feitiço, a turma explodia em gargalhadas. Um deles veio de Matheus, que disparou uma azaração para petrificar um Bisonho, mas acertou uma rocha atrás do bicho. A professora fez uma expressão de consideração, depois conteve a criatura, antes que ela crescesse para atacar a turma. Inara, metódica, surpreendeu a todos quando sua sequência foi tão eficaz quanto a demonstração exemplo da instrutora. Aurora não ficou atrás, e tendo que executar mais feitiços por ter perdido matéria, disparou as faíscas vermelhas primeiro como distração do Bisonho, diminuiu-o enquanto estava confuso e o petrificou direto para a caixa de onde a professora o trouxera. Todos saíram da classe com sorrisos confiantes, até Nino, que errou a área de diminuição, englobando um pouco da natureza ao redor junto.

As semanas passaram até que o meio de Outubro os alcançasse com os boletins. Foram entregues por araras negras, desceram das aberturas do teto no meio do jantar de fim de trimestre. Muitos alunos pararam de comer para focarem nas entregas, e assim que as cartas começaram a ser abertas, houveram lamentos e exclamações com os resultados. Além de, é claro, uma bagunça controlada em cada mesa, onde as casas comparavam as pontuações uns dos outros.

Aurora abriu a sua primeiro, e os meninos a acompanharam. Os olhos se apertaram para ver cada número depois da linha traçada que indicava a matéria. Qualquer coisa acima de seis, significava que havia atingido a média daquele trimestre, o que também significava que estava um passo mais longe da reprovação:

"Feitiços" de Valéria Ruína –- 8,78
"História da Magia" de Thomás Aquino –- 7,13
"Teoria da Magia" de Ricardo Sampaio –- 7,35
"Transfiguração" de José 'Rodinhas' Rueda –- 6,89
"Bebidas e Poções Mágicas" de Morgana Stradivarius –- 8,35 (R)
"Herbologia" de Joana Dourado —- 6,09 (R)
"Magizoologia" de Júlia Negrini —- 7,98 (R)
"Defesa Contra as Artes das Trevas" de Miranda Dourado —- 9,17

— Ah! – comemorou, Aurora. – Consegui! Eu não acredito que consegui... – depois, passou o olho pelas notas e encarou a nota da matéria dada pela professora Dourado. – Vocês são ótimos professores, é sério, mas me desculpa Matheus, Herbologia não dá!

Nino abriu um sorriso para comemorar a conquista alheia, mas Matheus ressentiu-se em qualquer movimento. Era a primeira vez que havia uma felicidade compartilhada entre os dois, desde o incidente com Letícia. Naquele fragmento de confusão sobre o estado das coisas, Aurora deixou-se vacilar, e o amigo fez o mesmo, deixando aquilo de lado por um momento. Comparado com tudo, era uma besteira. Trocaram uma curta confirmação, e passando por cima do evento, voltaram a falar das notas.

— Não sei como consegui passar em Teoria – comentou Matheus, alegre por ter tirado o mínimo exato de seis pontos. – Mas consegui, não vou reclamar. E a Miranda foi generosa comigo, olha – apontou um 6,5 no boletim. 

— Eu acho um absurdo – começou o outro rapaz, tomando a sua vez de reclamar, apontando um sete que pareceu gigantesco ao lado do nome do professor Rueda. – Ele não ensina na metade das aulas, e quando faço o feitiço querendo que a taça fique rosa, ele implica? Foi de propósito! – gritou para o papel, como se pudesse se comunicar com Rodinhas dali.

— Mas por que você queria rosa? – perguntou Matheus, confuso.

— Porque é mais... elegante – justificou, sentindo que se perdera em seu próprio argumento.

Matheus riu, contagiando o trio, que se virou para a única pessoa que mantivera-se calada desde que pegara o boletim. Estava muito focada em ler e reler cada uma de suas notas.

— Vai falar pra gente quanto tirou? – perguntou Nino.

O outro rapaz apagou o riso. Talvez conseguisse esconder o atrito com Aurora, mas com Inara seria bem mais complicado. A menina conferiu a curiosidade do grupo, acenando uma certeza, e em seguida, mostrou a sequência de notas. Apenas uma estava abaixo de oito, História da Magia.

— Uau – rebateu Nino, quase atacado por tantas notas altas. Principalmente em Transfiguração, já que a menina tirara oito, mesmo deixado transparecer os pelos da ratazana.

Aurora passou o olho, procurando as classes de Feitiços. Inara gabaritara Defesa Contra as Artes das Trevas, e havia uma estrela ao lado da nota.

— Dez! — comentou Aurora, pensando se teria gabaritado se conseguisse dominar o Orabutã antes. – Da próxima vamos nós duas – disse, piscando um dos olhos, numa rivalidade saudável.

Inara puxou o boletim de volta, sem compartilhar da mesma sensação. Aurora pensou se teria errado em algum lugar, se não transmitira a mensagem direito. Também pensou se a amiga não interpretara errado, e tivesse mais uma vez, enraivecida por nada além de ser ela mesma. Abriu a boca, para perguntar o que havia sido, porém, perdendo a chance assim que Dourado tomou a palavra.

Não a diretora, a filha, Miranda Dourado.

— Ei, olhem pra mim. Isso, isso mesmo – a energia incendiou o aposento. A mulher tinha uma espécie de abraço na voz. – Minha mãe não pôde comparecer ao jantar essa noite, mas ela deseja que cada um de vocês tenham aproveitado o trimestre, e que o próximo seja ainda melhor do que esse foi. E também... – a moça parou, como se tentasse se lembrar. – disse que a primavera é um tempo de renovo, e as mesmas flores que desabrocham, podem ser os alunos conseguindo o que precisam nessa próxima estação – Aurora duvidou se a diretora dissera aquilo mesmo. – Pra você não né, João? Tudo bem, primavera tem todo ano – comentou, e a mesa de Guaraci explodiu em gargalhadas. Até o aluno repetente falhou em manter uma cara séria. – Também preciso avisar que o festival do Dia dos Mortos está chegando – as mesas fizeram um viva, que foi repreendido em seguida. – Calma, meus anjos, me deixem molhar o bico. Ótimo, então, como eu dizia, a escola inteira começará a se mobilizar para o evento, e tudo se organizará aos poucos agora no meio de Outubro. Alguns alunos mais velhos serão requisitados para participar das montagens das barracas e da decoração – alguns guincharam pelo sacrifício. – É, pois é, eu avisei. Duelistas, estejam bem preparados, hein? O sinal tocará em breve, portanto, se apressem. Que a luz dos primavos esteja sobre cada um de vocês! – falou, e todas as pedras preciosas nas estátuas brilharam.

A mulher deixou o púlpito, voltando ao seu lugar à mesa.

— Ela sabe dar um show – Matheus notou, para uma concordância do resto do grupo.

A noite terminou mais calma do que começara, e essa sensação se estendeu pro restante do mês, com exceção de pequenos momentos de tensão com Ruína, de volta ao campo aberto.

Desde que o anúncio de Miranda chegara, o treino havia ficado mais intenso. Agora que ambas duelistas sabiam conjurar os feitiços de batalha, passaram pouco tempo mais atirando contra os bruxos de mentira e finalmente enfrentariam a si mesmas. Com a supervisão dela, depois de aprenderem a defletir as faíscas, as duas tinham de treinar as estratégias de combate. Primeiro, começaram sem que o adversário oferecesse muita resistência, porém, com pouco tempo de sobra até a festividade, não tardou até terem o primeiro confronto direto, simulando um duelo real. 

As duas se aproximaram, fazendo uma reverência no meio do caminho. Ambos os cabelos estavam presos, trançados no caso de Inara e amarrados num coque em Aurora. Próximas, olharam-se nos olhos, ergueram os cajados na frente do rosto e ficaram de costas uma para outra. Ainda de arma erguida, contaram uma dezena de passos, e com a distância marcada, viraram-se de uma vez, apontando nas direções opostas.

— Muito bem – avaliou Ruína, indo para o centro que dividia o combate das duas. Ambas mantiveram as poses de combate. – Num duelo primeiranista, sem as estratégias que poderiam ser usadas com uma gama de feitiços, a esperteza se sobressai. Portanto, o mais esperto, sempre vence – mesmo mais otimista com o treino, ainda era horripilante vê-la de mãos escondidas pelas mangas. Dava um ar de perigo, como se pudesse tirar algo dali a qualquer instante e atacar. – Na contagem de três, começarei a partida. E ela apenas terminará quando houver uma vencedora. Sejam rápidas, não tenho paciência para duelos esticados além da conta – disse, fazendo as duas entenderem a ameaça. – Pois bem. Dou-lhe uma, duas... três – anunciou, dando um passo para trás.

Inara se moveu primeiro, pisando uma dupla de passos largos, tomando mira. O braço voou por cima da cabeça, interrompendo a trajetória logo de frente ao corpo, como se desse impulso ao feitiço.

— Periculum! – gritou, e uma tríade de faíscas foi disparada, explodindo no meio do caminho, dificultando a escapatória.

Aurora moveu o corpo por dentro das faíscas vermelhas, deixando-as passar pelo flanco; uma explodiu de raspão perto de sua costela, quase acertando. Percebendo o erro da amiga, avançou com seu feitiço. Pensou em sua execução, deixando o punho leve, para concluir num movimento sereno, contudo, perdeu postura, lançando-o mais forte do que planejara.

— Expelliarmus – a voz saiu imperfeita.

A magia acertou a amiga, empurrando-a para trás, caindo com os glúteos na grama e depois colidindo as costas. O impacto a fez largar o cajado, e Aurora chegou perto para ver o que acontecera.

— Me desculpa! – exclamou, preocupada, já se aproximando do centro onde Ruína estava.

A professora entretanto, colocou-se entre as duas, interrompendo o caminho de Aurora. Sem se aproximar, questionou:

— Está bem?

Inara acenou que sim, levantou-se batendo a poeira da roupa, recolhendo o cajado. Quando se virou de volta para a professora, não conseguia erguer o rosto para encará-la nos olhos.

— Certo – confirmou Ruína, e em seguida olhou para o céu, vendo o entardecer se aproximar. – Vou liberá-la mais cedo hoje. Preciso falar algumas coisas com a srta. Magalhães.

A menina levantou as vistas. Fitou a mulher, depois descreveu um desvio a Aurora, que devolveu-lhe um olhar que sentia muito. Não soube se foi aceito, pois depois de concordar com a dispensa, saiu de lá, caminhando depressa em direção a Torre de Anhangá. A boca de Aurora abriu, pensando em gritar outro pedido de desculpas, porém uma mão que pousou em seu ombro lhe impediu de dizer qualquer coisa. Nunca havia sentido um toque tão gelado antes. Os dedos eram feitos de puro osso.

— Senti uma pequena instabilidade no seu desarme – Ruína sugeriu. – Estou correta?

O tom lembrava uma simpatia, porém, tão deturpada que ficava difícil confirmar.

— E-está. Está sim – disse, posicionando o Orabutã na palma da mão aberta. – Acho que me desconcentrei.

— Foi o que vimos – confirmou a professora, dando um espaço para rondar a área verde sem olhá-la. – Percebo, srta, que essa estabilidade é fundamental para produção de seus feitiços. O que quer dizer, que um desbalanço pode ser definitivo para um eventual acidente.

Aurora acenou que sim.

— Cajados temperamentais têm esse problema, mas o pior disso é o bruxo. Um desequilíbrio no portador torna-se uma tormenta na arma – explicou, ajeitando os óculos acima do nariz, com a rotineira acidez característica. – Me diga, eu estaria sendo injusta se, por acaso, buscando a proteção dos outros estudantes, te suspendesse dos Duelos?

As pernas da menina derreteram, e por pouco ela não caiu com o baque daquela frase. Não podia ser retirada. Não depois de tanto tempo. Não depois de ter conseguido.

— Não, não faz isso, por favor, professora Ruína. Eu... – a voz ficou tão nervosa que pareceu um guincho, porém uma palma erguida travou sua glote, pedindo silêncio.

— Perguntei se estaria sendo injusta – repetiu, incisiva ao tema da pergunta anterior. – Apenas isso.

— Voc... – balbuciou, mas resolveu responder o que ela queria ouvir. – Não, senhora. Não estaria – respondeu, sem conter uma decepção.

— Pois então, mantenha seu eixo, e não me faça ter de excluir sua participação – pediu, e logo após, seguiu para fora da área de treinos, completando: – Espero que tenha sido clara.

— Foi! – rebateu, a mulher tomando distância. – A senho... senhora não vai se arrepender! – prometeu, vendo-a se tornar do tamanho de um polegar a esse ponto.

Guardou o instrumento no bolso de trás e partiu em direção a sua torre. Sempre que estava empolgada assim, sentia-se como se pudesse correr por milhas sem se cansar. Alcançou a porta, abriu para um grupo na Primeira Sala que a cumprimentou com algum apelido, e subiu as escadas saltando degraus até chegar na sua Sala Comunal. Estava cheia de meninas conversando com papéis de convite em mãos, algumas com mais de um.

Aurora passou por elas até chegar em seu quarto, até que viu quem estava procurando, de costas, guardando livros no baú do beliche, sem prestar muita atenção na menina que chegara saltando. Olhou por cima do ombro, e ao notá-la, apertou os lábios para voltar ao serviço.

— Ei – disse a bruxa, se aproximando. – Me desculpa, tá bom? Eu não sou uma expert nisso ainda, então às vezes acontece de errar.

— Tá tudo bem – rebateu Inara, aceitando as desculpas, sem abandonar a tarefa.

— Tem certeza? Tá tudo bem mesmo? – sustentou, tentando ver o rosto da amiga ao responder.

— Está sim – disse, virando-se para ela por um instante.

O pôr do sol ao fundo pintava tudo de laranja, estendendo-se também ao rosto da menina. Havia uma curva semelhante ao que devia ser um sorriso. Estava dizendo a verdade.

— Tá bom, me escuta nisso aqui, que é bem importante – sentou-se na cama de baixo, a amiga fechou o baú, cruzou os braços.

A resposta demorou a vir.

— O quê foi?

— Preciso que você me ensine a estuporar – pediu, com um sorriso amarelo.

— O quê? – Inara se sobressaltou. – Por quê?

— Olha, é que a Ruína disse que eu não posso me descontrolar, senão ela vai me tirar dos Duelos – começou, caminhando de joelhos na cama, como se pronta para implorar. – E aí eu pensei que se eu aprender mais feitiços, eu pratico e controlo mais. Claro, tem um monte pra aprender nos livros, mas... – apertou o rosto, forçando para a teoria sair. – Se eu aprendesse um avançado, talvez fique ainda mais confiante em todo o resto, entendeu?

A menina fez que sim, mas ainda não estava convencida a ensiná-la.

— Foi minha mãe que me ensinou esse feitiço – começou, engolindo em seco. – Não sei se...

— Ah, vamos, Inara, por favor!

Inara duvidou mais uma vez, e enquanto olhava para baixo, pensativa, começou a fazer um movimento negativo com a cabeça. Aurora impediu-o, ao dizer:

— Vamos, não dá pra ensinar pra uma amiga? – implorou.

A amiga bufou, num fluxo de ar demorado demais.

— Tá bom – concordou, mesmo parecendo ter uma centena de ressalvas. – Mas amanhã.

Aurora concordou, quase arriscando um abraço. O gesto foi negado, então ela limitou-se a uma euforia durante o restante da noite. Dali, até o jantar que levou a leitura de feitiços antes de dormir. Acabou percebendo a amiga mais agitada àquela noite, se debatendo bastante, como fazia quando tinha sonhos ruins.

Aurora, entretanto, usou a falta de sono para avançar madrugada adentro, embarcada naquele mundo mágico que parecia cada vez mais abraçá-la de volta.  

 


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