Meredith Gruwell escrita por Karina A de Souza


Capítulo 4
Boatos


Notas iniciais do capítulo

Boatos sobre a morte de Meredith começam a aparecer...



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—Mas... Se eu não ficar em Hogwarts, pra onde vou?

—Você vai ficar aqui, Meredith. –Dumbledore disse. –E não sairá daqui a não ser que seja necessário.

—Ela não pode ficar aqui!-Lúcio gritou. O garoto maldoso que ele era aos 17 anos piscou na minha mente.

—E por que não? Não vejo motivos...

—Eu vejo, e tenho certa de que Fudge verá também. –Ele realmente parecia disposto a me expulsar dali. Olhou pra mim, um olhar tão afiado quanto uma espada nova. –Não ficará por muito tempo aqui, Gruwell, ou seja lá quem for. –Então se virou e saiu.

—Não deixe que Lúcio te assuste, Meredith. Você não será expulsa de Hogwarts.

—Não gostam de mim. –Avisei, me virando pra ele. -Não me querem aqui. Vou ter que ir.

—No momento o melhor é que permaneça aqui e que continue com seus estudos. Tem sua vida de volta, tem que continuar com ela.

—Mas não me querem em Hogwarts.

—Não ligue para o que os outros querem. Estar aqui é um direito seu. Não está fazendo nada de errado. –Assenti. –Sua próxima aula logo vai começar, se estiver se sentindo calma o suficiente...

—Tudo bem. Obrigada por ter paciência comigo. Eu... Vou indo.

***

—O que dizem sobre minha morte?-Perguntei, indo com Harry até o Salão Principal. Era hora do jantar.

—De acordo com Sirius, alguns achavam que Snape tinha matado você. –Parei de andar, ele fez o mesmo.

—Snape?

—Sim.

—Ele... Nunca faria isso. Ele...

Me lembrei de vinte anos atrás. Snape e eu havíamos discutido depois que Lílian começou a namorar Tiago. Eu havia ajudado o casal, e Severo me culpou por isso, me culpou por tirar dele a garota que ele amava. Eu não sabia que ele gostava dela, nós não falávamos sobre esse tipo de coisa, então não fiz de propósito para magoá-lo. Ele não acreditou.

“-Como pode dizer isso, Severo? Sabe que somos amigos.

—Não somos mais. Me deixa em paz, Gruwell. –Se virou para ir. O segui.

—Severo, não me dê as costas!

—Você empurrou Lílian pro Tiago, como se... Como se... –Fiquei na frente dele.

—Se tivesse me dito que gostava dela... Achei que contávamos tudo um para o outro. Por que não me contou?

—Se é tão esperta, deveria ter descoberto sozinha. –Passou por mim e se foi.”

—Ele estava com raiva. Mas jamais faria isso.

—Você não tinha inimigos?-Harry perguntou.

—Não. Quer dizer... Não era amiga de todo mundo, mas não havia motivos pra alguém me odiar à ponto de me matar.

—Parece que alguém odiava.

—É. Parece que sim. –Entramos no salão, mas a conversa não saía da minha cabeça. Como assim suspeitavam de Severo?

Significava que ele podia mesmo ter me matado? Tentei me lembrar de cinco de dezembro, mas não consegui. Nada vinha na minha cabeça sobre dia. Alguém havia me seguido e me empurrado da Torre do Relógio, mas quem?

Me apoiei na porta, repentinamente tonta. Harry parou de andar e se virou. Não consegui ouvir o que ele estava falando. As coisas estavam girando muito rápido. Abri a boca pra pedir ajuda, e a escuridão me engoliu.

***

Agradeci pelo mundo ter parado de girar como um carrossel. Abri os olhos, estava de volta na enfermaria. Próximo e de costas pra mim, Severo. Me sentei. Talvez tivesse que adiantar uma conversa bem séria.

—Severo. –Ele não se virou. –Você me empurrou da Torre do Relógio?

—Por que acha que eu a empurraria?

—Por que depois que uni Lílian e Tiago, você passou a me odiar. –Agora se virou. Procurei por algo que denunciasse o que ele estava pensando. Não encontrei.

—E por isso acha que eu a mataria, Gruwell?

—Pare de agir como um professor! Éramos amigos! E aí você simplesmente decidiu me odiar. Se passaram vinte anos, Severo, e você e não me perdoou?

Esperei por alguma explosão de raiva. Ou até mesmo um pedido de perdão. Não aconteceu nem um, nem outro. Meu antigo amigo apenas olhou pra mim e saiu.

Soquei o colchão, frustrada. Parece que não era só eu que tinha problemas.

Sirius entrou, o que me surpreendeu bastante. O que ele fazia ali?

—Meri. –Sorri. Ele não havia mesmo esquecido meu apelido.

—Aconteceu alguma coisa?

—Me disseram que desmaiou.

—Ah, eu... Estou bem, na medida do possível. –Se aproximou, tinha alguma coisa errada.

—Meredith, quero deixar avisado que talvez você tenha que ir embora de Hogwarts.

—Por quê? O que eu fiz?

—Nada. Algumas pessoas não a querem aqui. Então você pode ter problemas.

—Vão me expulsar, não é?

—Talvez. –Suspirei. Por que tinha tantos problemas?

—Acham que vou machucar alguém? Ou que... Sei lá, sou louca... Ou...

—Meri, você passou vinte anos morta, e então acordou, intacta, como estava antes de morrer. Tem que admitir que é estranho, e algumas pessoas estão com medo.

—Sirius, Harry me disse que... Há gente que acha que Severo me matou. Isso é verdade?

—Sim. Muitos acharam que havia sido ele.

—Não acho. Ele... Não faria isso. Não. Eu o conheço... Conhecia, e ele nunca faria isso.

—Eram apenas boatos. –Se sentou na minha frente. –Você não se lembra de nada?

—De cinco de dezembro? Não. Só me lembro de ter medo... E de correr... Então ser empurrada... Só.

—Dumbledore me contou que você tem pesadelos. E acha que alguém está a seguindo.

—É verdade. Tem mesmo alguém me seguindo. –Parei por alguns segundos. –Você também acha que eu sou maluca...

—É apenas estranho, Meri.

—Para.

—Com o que?

—Para de me chamar de Meri. Isso me faz lembrar do Sirius adolescente que eu conheci. –Limpei os olhos com a mão, sabia que estava quase chorando. Sirius segurou minha mão livre, apertando-a de leve. –Um dia vão me pegar, sabe. Estão atrás de mim.

—Quem está atrás de você?

—Eu não sei.

—Você está com medo. O que aconteceu marcou você. Talvez suas lembranças...

—Você me acha louca!-Me levantei, me afastando dele. –Acha que sou louca como todos os outros acham!

—Meri...

—Para de chamar de Meri!

—Como quer que eu a chame, então?-Não respondi, não sabia. –Meredith... Tente nos entender também. É... A primeira vez que vemos algo assim. Você estava morta, e... Tudo é confuso para nós. –Se levantou.

—É confuso pra mim também.

—Entendo. Mas...

—Vai embora. Por favor. Eu quero ficar sozinha.

—Meri...

—Por favor. –Assentiu, então foi pra porta, hesitando antes de sair. Assim que se foi, me joguei em cima da cama.

O passado, infelizmente, era muito presente.

***

Após a aula de Poções, eu esperei todos saírem para levantar e ir até Severo. Ele olhou pra mim como se eu tivesse jogado sangue nas paredes.

—O que quer, Gruwell?

—Respostas. Você me empurrou da Torre do Relógio? Fez isso? E não me venha com “acha que eu a empurraria por isso?” e sei lá mais o que! Responda, sinceramente. Me falaram dos boatos de que você teria...

—Ah, os boatos. E quanto os boatos envolvendo Black?

—Sirius? Acham que ele...

—Podia tê-la matado? Sim.

—Não. Não... Sirius não... Faria isso comigo. Nós... –Parei de falar. Será que Sirius estava se afastando de mim por culpa? Ele havia me matado?

Severo parecia esperar alguma continuação, mas não consegui. Apenas me virei e saí correndo.

***

—Professora Minerva, eu poderia...?

—Entre, Meredith. –Entrei e fechei a porta. –Eu ia procurar você agora mesmo. –Fez um gesto, me mandando sentar em sua frente. –Perdeu muitas aulas hoje. O que aconteceu?

—Eu... Fui falar com Severo... Digo, com o Professor Snape, e... Não consegui me concentrar o suficiente para ir para as próximas aulas. Me desculpe, prometo que vou me esforçar.

—Entendo. Ainda quer entender o que houve.

—Sim. Eu... Snape e Harry me falaram de boatos... Boatos sobre minha morte.

—Oh, sim, tivemos muitos boatos. Alguns até diziam que você havia pulado da Torre sozinha.

—Alguns... Envolviam Sirius e Snape.

—Sim, sim, me lembro disso. Achavam que Severo poderia ter lhe matado por causa das brigas que tiveram. –Eu me lembrava das brigas, todas feias, após Lílian e Tiago ficarem juntos.

—Mas e Sirius?

—Bom, vocês brigavam muito, o tempo todo, lembra? Uma vez, no meio da minha aula, você fez um feitiço que desfigurou o rosto dele por um dia inteiro.

—Ah, sim. Eu lembro.

—Não sei por que brigavam tanto. Não era difícil vê-los pelos cantos trocando beijos. Mas era igualmente fácil vê-los brigando.

Sirius e eu discutíamos muito. Isso era verdade. Ele era... Muito... Namorador, mesmo estando comigo. Havia um grupo enorme de garotas o cercando, esperando para chamar mais atenção que eu. Sirius sempre dizia que não tinha nada com nenhuma delas, mas eu sempre o via cercado, ou suspeitosamente próximo de alguma garota bonita. Isso nos fazia brigar muito, mas sempre fazíamos as pazes.

—Não estávamos brigados no dia da minha morte. –Comentei. –Não faria sentido...

—Claro que não faz. Sirius e Severo jamais a matariam.

—Deve ter razão. –Me levantei. –Desculpe por não aparecer nas aulas. Vou tentar... Aparecer amanhã.

—Se precisar se retirar um tempo, Meredith, avise. Não precisa continuar tendo aulas normalmente. Pode ir... –Não completou. Para onde eu iria? Não havia nenhum lar me esperando fora de Hogwarts.

—Não, tudo bem. Eu posso fazer isso. Mas obrigada, mesmo assim.

***

Hermione me disse que eu deveria tentar lembrar de todos os desafetos que eu tinha. Era provável que algum deles havia me matado, mas era impossível descobrir. Eu brigava com muita gente, e muita gente não falava comigo. Porém, não havia nada realmente grave, nada que faria alguém me matar.

Severo era um enigma. Sirius... Ele me mataria? Sempre nos acertávamos...

“-Gruwell, pare aí mesmo! - Acertei alguma coisa, uma parede invisível. Me virei, Sirius abaixou a varinha.

—O que quer? Já não falamos tudo o que tínhamos para falar?

—Ah, Meri, tem que ser tão ciumenta?-Se aproximou. –Não precisa disso.

—Não preciso? Está sempre cercado por garotas, sempre... Como posso ter certeza de que gosta de mim?

—Eu não teria me “amarrado”, como diria Tiago, em uma só garota, se não gostasse dela de verdade. Gosto de você, Gruwell, só de você. –Suspirei.

—Vai dizer para aquelas garotas se afastarem?

—Vou. Satisfeita?

—Sim. –Sorri. Ele abaixou a varinha se aproximou para me beijar. Passos foram ouvidos. Era tarde, deveríamos estar dormindo. Sirius se afastou e pegou minha mão, começando a correr. –Aonde vamos?

—Já vai descobrir.”

Não. Ele não me mataria. Seria um pouco lógico se fosse ao contrário, mas não era.

Lembrei de outra pessoa que costumava discutir comigo sempre que nos encontrávamos.

Mas não dava pra evitar. Lúcio Malfoy era odioso.

“Eu estava perto do lago quando uma borboleta azul e preta se aproximou, voando em volta de mim. Sorri e estendi o braço, torcendo para que pousasse nele. Assim que ela tentou fazê-lo, pegou fogo e virou cinzas. Me virei, Lúcio ainda estava com a varinha erguida.

Abri a boca, mas parei. Não ia dar resposta alguma, apenas passei por ele e voltei ao castelo.”

Ok, Lúcio me odiava. Eu nunca fiz nada contra ele, para gerar tanto ódio. Então por que ele tinha tanta raiva de mim?

Desisti de encontrar um suspeito nas minhas lembranças. Sozinha, jamais descobria quem havia me matado.


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Notas finais do capítulo

Alguém já tem suspeitos ou teorias? Quem matou Meredith Gruwell e por quê? Sexta, no Globo Repórter... Não, pera...