Meredith Gruwell escrita por Karina A de Souza


Capítulo 13
Profecias e Venenos


Notas iniciais do capítulo

Oi



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Sacamos as varinhas, prontos para duelar com quer que fosse, então a luz iluminou Tonks.

—Você quer nos matar de susto?-Sirius perguntou, fazendo cara feia e guardando a varinha.

—Você não devia estar aqui. -A Auror disse. -Precisa ir, agora, antes que Olho-Tonto descubra. Ele vai te arrastar para o Largo Grimmauld se for preciso. Você sabe como ele é.

—Eu não sou uma criança.

—Está parecendo uma. -Remo avisou, aparecendo do nada, Tonks quase derrubou a própria varinha. Quantos sustos íamos receber? Mais um daqueles e meu coração ia parar de bater. -Você sabe dos riscos, mas os ignorou totalmente ao aparecer aqui. -Sirius revirou os olhos. -Vamos, eu te levo até a Casa dos Gritos, pode desaparatar de lá.

—Eu posso ir sozinho. -Remo sorriu.

—Eu insisto. -Sirius bufou, sabendo que o passeio tinha acabado. Se despediu de Harry e eu, então foi com Remo em direção ao Salgueiro Lutador. Tonks acenou e correu atrás deles.

—Foi uma noite e tanto. -Comentei, guardando a varinha. -Quase morri de susto algumas vezes, mas estou ótima. -Harry riu. -Vamos entrar antes que algo nos assuste de novo. Meu coração não aguentaria mais um desses.

***

—Ai, não!-Hermione exclamou, escondida atrás do jornal. Como eu estava mais perto, cheguei nela antes dos garotos.

—Que foi? O que viu aí?

—Alguém disse que viu Sirius em Hogsmeade ontem a noite. -Olhei para Harry, que com certeza pensou o mesmo que eu: droga, Sirius!

—Será que é verdade? Ele não seria...

—Irresponsável o suficiente para dar uma volta num vilarejo bruxo quando está sendo procurado pelo Ministério? Infelizmente, eu acho que seria.

—Eu posso ter a atenção de vocês um momento?-O diretor perguntou, lá da frente. Todos os alunos se calaram. -Como vocês já devem ter lido no Profeta Diário, supostamente Sirius Black foi visto em Hogsmeade ontem. Considerando o quão perto o vilarejo fica de Hogwarts, o Ministro insistiu em mandar alguns Dementadores para cá.

O burburinho foi imediato. Rony soltou um palavrão. Dementadores, em Hogwarts. Levando em conta o que tinha acontecido da última vez (quando eu não estava aqui), dava para entender a onda de pânico.

E com certeza deu para entender quando Remo anunciou na aula, mais tarde, que ia nos ensinar Patronos.

—Alguns de vocês aprenderam a produzir Patronos na Armada de Dumbledore. É um feitiço muito avançado e difícil, mas, dadas as circunstâncias, vocês vão precisar dele. Não estou dizendo que devem enfrentar Dementadores. Eles estão aqui para a nossa segurança. Infelizmente, não seria a primeira vez caso um Dementador atacasse um aluno. -Olhou para Harry. -Em caso de um ataque, vocês estão autorizados a se defender. Então é melhor começarmos.

Eu nunca tinha visto ou produzido um Patrono. Achei lindo ver alguns pela sala, animais prateados flutuando levemente pelo ar. Os membros da Armada de Dumbledore estavam ajudando Remo a ensinar os outros.

A aula acabou e a única coisa que eu consegui foi produzir um fiozinho prateado.

—Não se preocupem. -Remo disse, olhando em volta para os alunos. -Ainda temos várias aulas pela frente. Lembrem-se de focar na lembrança mais feliz que tiverem.

—Professor, o senhor acha que os Dementadores vão ficar muito tempo em Hogwarts?-Parvati perguntou.

—Eles vão ficar aqui até pegarem Sirius Black. -Lilá disse. -Se ele não tivesse escapado, isso não estaria acontecendo. -De repente cada olhar na sala estava direcionado a mim, esperando uma reação. Antes que eu pudesse me manifestar, Remo interrompeu.

—Acredito que tudo vá se resolver em breve. Estão dispensados. Até a próxima aula.

***

—Eu não estava em Hogsmeade. -Sirius repetiu, mal humorado. -O Profeta Diário está mentindo.

—Tem certeza?-Harry perguntou cautelosamente, segurando melhor o espelho. Se possível, Sirius pareceu ainda mais irritado.

—Vocês acham que eu sou o que? Eu sei muito bem que devo ser cuidadoso!

—E mesmo assim apareceu em Hogwarts. -Retruquei.

—Em forma de cão. Ninguém sabe que eu sou um Animago.

—Se Pedro está do lado de Você-Sabe-Quem, os Comensais já sabem da sua forma animaga. Algum filho de Comensais podia ter te visto, o que não falta na Sonserina são alunos envolvidos com as Trevas.

—Além disso, Dumbledore acha que Comensais estão rondando Hogwarts. -Harry contou.

—Eu. Não. Estava. Em. Hogsmeade. -Sirius rosnou. -Não na forma humana. E ninguém me viu. Se Comensais da Morte tivessem me visto, eu não estaria falando com vocês agora. Fui muito cuidadoso...

—Nós só estamos preocupados...

—Não precisam, eu sei me virar. Tenho que ir. -E sumiu do espelho. Suspirei.

—Ele não mudou nada. -Comentei. -Sempre teimoso e emburrado quando discordam dele.

—Ele ficou bravo com a gente. -Harry disse, ainda olhando o espelho, como se esperasse Sirius reaparecer e se desculpar.

—Não se preocupe, o Sr. Mal Humor logo esquece isso. Aposto que amanhã mesmo volta a falar com a gente.

—Como tem tanta certeza?-Fiquei de pé e me estiquei.

—Por que é o que ele sempre faz. A outra opção é não falar com a gente e conversar com Monstro. Eu conheço Sirius. Ele não vai abandonar o afilhado... Principalmente quando quer transformá-lo no novo Tiago Potter.

Deixei Harry no Salão Comunal e fui para os jardins, vazios desde que os Dementadores chegaram. Os alunos estavam com medo de ir para fora do Castelo e encontrar aquelas criaturas horríveis.

Eu não conseguia parar de pensar no temperamento esquentadinho de Sirius. Nós costumávamos brigar muito, porém, isso não significava que não fomos felizes juntos. Nós sempre fazíamos as pazes depressa.

Lílian uma vez se mostrou preocupada com o meu relacionamento com Sirius. Ela disse que talvez tantas brigas não fossem saudáveis. Então Alice disse que o estranho seria se não brigássemos.

“-Meri e Sirius são muito diferentes, mas está claro que se gostam. Eles fazem um casal lindo... Como você e Tiago.

—E você e o Longbottom. -Comentei, deixando Alice vermelha. -Foi tão fofo ele te dando uma caixa de sapos de chocolate.

—Foi mesmo. -Lílian concordou, erguendo a cabeça. -Ele está caidinho por você.

—E falando no bruxo... -Sinalizei com a cabeça. Franco estava na outra ponta da mesa, estudando com alguns amigos. Ele sorriu, corado, quando viu Alice acenando. -Que gracinha, ele fica vermelho.

—Sirius nunca cora?-Ri.

—Não. Acho que fico corada por nós dois.”

Isso, é claro, aconteceu depois de começarmos a namorar. E depois de um encontro levemente desastroso.

“-Você não pode se atrasar. -Lílian disse, ajeitando as fitas que prendiam seu cabelo. Alice estava arrumando o cachecol em volta do meu pescoço.

—Você precisa estar bem arrumada. -Se afastou. -Perfeito.

—Eu não sei se devia ir encontrar Sirius. -Confessei. -Ele com certeza está aprontando alguma.

—Talvez ele só queira se aproximar de você. -Lílian sugeriu. -Agora que estou saindo com Tiago...

—Mas e se for alguma brincadeira?

—Então você azara ele, como sempre. -Sorri

—Tudo bem, eu vou. -Saímos pelo portão. -Tenham bons encontros.

—Você também. -As duas desejaram.

Nos separamos. Eu fui para o Três Vassouras, hesitante. Sirius já estava lá, brincando com a caneca de cerveja amanteigada. Quando me viu, ficou de pé, sorrido.

—Que bom que veio. -Puxou uma cadeira para que eu sentasse. Franzi a testa, um pouco desconfiada, mas me sentei. -Achei que você não viria.

—Pensei em não vir, mas... -Dei de ombros.

—Por quê?-Se sentou.

—Nós nos conhecemos há cinco anos, e nunca nos demos bem. Então você faz aquela brincadeira de começarmos a sair por que Tiago e Lílian estão fazendo o mesmo e depois me convida para vir até aqui...

—Entendi. Mas eu não estou armando nada. Eu só... Sei lá. Eu queria sair com você por que...

—Não consegue inventar uma mentira convincente?-Arregalou os olhos.

—Mentira? Eu não estou mentindo, só estou nervoso.

—Sirius Black, o adorado conquistador de Hogwarts, nervoso por causa de uma garota? Certo. -Fiquei de pé. -Eu tenho que ir, talvez ainda possa aproveitar o sábado, longe de você.

Saí do bar, irritada. É claro que Black estava armando alguma brincadeira idiota. E eu não ia ser tola o suficiente para ficar lá e ser o alvo da vez.

—Meredith, espera!-Ignorei a voz de Sirius e continuei andando. Porém, o garoto não desistiu. Se meteu na minha frente e não saía de modo algum. -Eu não estou armando nada. Queria, e ainda quero, sair com você por que é uma garota incrível, bonita, engraçada e gentil. Eu demorei pra perceber isso, mas era meio difícil quando você estava gritando comigo e me azarando.

Abri a boca para retrucar (mesmo que não soubesse o que dizer), mas então os lábios de Sirius estavam nos meus e eu não conseguia mais pensar.

Meu primeiro beijo, com gosto de cerveja amanteigada.”

Depois daquilo eu aceitei retornar ao encontro e tudo saiu muito bem.

Se pelo menos as coisas continuassem assim...

Eu não queria estragar aquela lembrança, mas de repente eu estava lembrando das brigas e dos términos relâmpagos. E aí aquela voz irritante me fez lembrar do que Severo disse sobre os boatos de que Sirius tinha me empurrado da Torre do Relógio.

Um absurdo, é claro.

Sirius nunca tinha me machucado fisicamente. Nós trocamos azarações algumas vezes, mas nada grave. Aliás, falando em Severo, ele é quem tinha me empurrado uma vez no corredor. Eu até machuquei o pulso na queda. Depois ele pareceu arrependido, mas não pediu desculpas.

Que isso, Meri? Você não acha que Severo te matou, acha? Isso é totalmente... Que isso?

Esfriou de repente. Estremeci, olhando em volta, confusa. Então eu vi...

Dois Dementadores se aproximavam, deslizando como duas coisas mortas, bem na minha direção. Eu nunca ia chegar ao Castelo antes que eles me alcançassem. Peguei a varinha, lembrando do feitiço que Remo ensinou.

—Expecto...

“Eu estava caindo, o coração acelerado como se pudesse sair do meu peito...”

—Expecto...

A varinha caiu da minha mão. Eu não conseguia pensar ou me manter de pé. Fui pro chão, a cabeça vazia e uma sensação horrível no peito.

—EXPECTO PATRONUM!

Os Dementadores se afastaram, o frio passou. Tentei me colocar de pé, mas minhas pernas pareciam líquidas.

—Meredith? Consegue me ouvir?-Pisquei algumas vezes até conseguir focar o rosto de Remo.

—Demen... Tadores... -Sussurrei. -Eles...

—Ela vai desmaiar!-Alguém exclamou, vindo me apoiar. -Isso, chocolate. Pega. -Colocou um pedaço de chocolate na minha mão.

—Eles não vão voltar, não é?-Outra voz perguntou.

—Não. -Remo respondeu. -Mas vamos sair daqui, só por garantia.

***

O ataque dos Dementadores me deixou muito abalada e decidida a aprender o feitiço do Patrono.

Remo e o trio tinham me encontrado no jardim aquela tarde. O professor, junto com Harry, haviam conjurado seus Patronos, afastando aquelas criaturas horrorosas.

Por mais que os alunos tivessem ficado com mais medo ainda dos Dementadores, o Ministro se recusou a mandá-los embora, dizendo que o ocorrido era um caso isolado. “Na verdade, é a segunda vez que Dementadores atacam um aluno em Hogwarts, tirando o ataque no trem”, Hermione lembrou.

Dumbledore estava furioso, novamente as ordens de não entrar na escola e de não chegar perto dos alunos tinham sido quebradas pelos guardas de Azkaban.

Mesmo assim, o Ministro afirmou que os Dementadores permaneceriam em Hogwarts.

—Talvez eles quisessem levar Gruwell para fazer companhia ao namorado homicida dela. -Malfoy alfinetou da mesa da Sonserina. -Será que Azkaban tem cela de casal?

—Por que você não pergunta para sua tia, Bellatrix Lestrange?-Retruquei. -Ela não foi presa com o marido?-Draco se levantou, mas voltou a sentar quando viu Snape se aproximando.

—Por que não estão estudando? Preciso tirar pontos de vocês?-Perguntou, fingi estar revisando minha redação.

É. Ele sabia mesmo como impedir brigas.

***

Mais uma vez Patronos enchiam a sala. Os alunos estavam progredindo. Havia poucos que não conseguiam reproduzir o feitiço, eu, inclusive.

—Use a sua lembrança mais feliz. -Remo repetiu, parando ao meu lado. -A mais feliz de todas.

Me concentrei. Sim, eu sabia qual era a tal lembrança: uma festa no Salão Comunal da Grifinória, com Lílian, Sirius, Tiago, Remo... Meus amigos, minha família. Naquele momento, eu me senti em casa, como nunca tinha sentido antes no orfanato.

—Expecto Patrono!

Um animal prateado saiu da minha varinha, um cachorro grande, que saiu flutuando em volta de mim, e sumiu.

—Eu consegui!-Gritei. Me virei, Harry, Rony e Hermione trocavam olhares. -Que?

—Seu Patrono é um cão. -Mione disse, sorridente. -Por acaso você conhece algum Animago que se torna um cão?-Revirei os olhos.

—O Patrono dele é um cachorro-lobo. -Harry comentou, um pouco distraído.

—Interessante. -Murmurei.

—Era um São Bernardo, Meri. -Remo disse, olhando pra mim. Sorri.

—Vou tentar de novo.

E foi assim que eu passei a aula toda brincando com um São Bernardo prateado.

***

—Falei com Almofadinhas hoje. -Harry disse, na aula de Poções. -Ele estava pirando por causa do ataque dos Dementadores. Será que Remo contou a ele?

—Fui eu. -Mexi um pouco a poção que estava fazendo, torcendo para que não explodisse. -Mandei uma carta hoje cedo, contando o que houve. Sabia que ele quebraria a greve de silêncio dele.

—Como foi a aula com Hagrid?

—Legal. Ele está indo muito bem como professor, e ficou animado quando eu disse que queria ser Magizoologista e que gosto de dragões.

—Agora ele vai ser seu melhor amigo. Hagrid é apaixonado por dragões.

—A conversa parece muito interessante, Potter e Gruwell. -Snape disse, aparecendo atrás de nós. -Mas onde estão suas poções?

—Estamos quase terminando, professor.

—Assim espero, ou terei que separar o casal. -A parte Sonserina da sala explodiu em risos, o que Snape ignorou, quando se irritava com qualquer barulho vindo dos alunos da Grifinória. -Gruwell, quero você na minha sala após o jantar.

—Mas eu não fiz nada!-Exclamei. Eu nem tinha o xingado em voz alta. Ih, será que ele tinha lido a minha mente? Aí eu ficaria em detenção pelo resto do ano letivo.

—Eu não perguntei se fez ou não. -Se afastou. Engoli vários xingamentos, até aqueles que ia dizer mentalmente. -Acabou o tempo. Coloquem suas poções em frascos e deixem na minha mesa.

—Eu ainda não acabei. -Resmunguei, chateada.

—Pelo menos ela não explodiu. -Rony disse. -Podia ter sido pior.

—Verdade.

Entreguei minha poção junto com o trio, peguei minhas coisas e saí das masmorras pensando em que encrenca tinha me metido agora. Por que Snape queria falar comigo?

—Eu não o xinguei em voz alta sem querer de novo, xinguei?

—Não. -Harry respondeu. -E se fosse pela conversa, ele teria me chamado também.

—Ele não descontou pontos da Grifinória. Isso é um bom sinal.

—Está claro que você não vai ser punida. -Hermione disse. -O professor Snape é seu responsável, lembra? Ele deve querer só conversar.

—Conversar? Ainda acho que ele leu minha mente e deve saber que eu o chamei de “morcego velho e rabugento” no começo da aula.

—Bom, vamos descobrir essa noite, não é?

Infelizmente, sim.

Depois do jantar, eu praticamente me arrastei para a sala de Snape, sem ânimo algum. Pirraça me encontrou pelo caminho e atirou alguns pedaços de barro em mim, só parando quando eu disse que Dumbledore estava vindo, o que era mentira.

Bati na porta e a abri depois de um “entre”. Severo estava lendo alguma coisa, torci para não ser o Profeta Diário e fechei a porta.

—Sente-se. -Obedeci. -Gruwell, quem permitiu que você desse uma entrevista?-QUE? Depois de tanto tempo ele implica com isso?

—Eu precisava de permissão?

—Apoiar Sirius Black, um fugitivo e assassino...

—Ele não é um assassino!

—É isso o que o Ministério acha. Você não tem uma boa imagem diante da comunidade bruxa. Apoiar Black não ajuda você a ser vista de outra forma.

—Eu não me importo. Estava só dizendo a verdade.

—Às vezes é preciso mentir, Gruwell.

—Disso você entende, não é?-Murmurei, encarando a mesa.

—O que disse?

—Nada, professor. -Suspirei. Não o confronte. Você não precisa de mais detenções e nem perder mais pontos da Grifinória. -Era só isso?

—Suas notas em Poções estão horríveis. Eu preciso colocá-la em aulas extras?-Só se quiser que eu me mate.

—Não é necessário. Eu vou me esforçar mais.

—Ainda tem a poção para dormir?-Assenti. -Quando terminar, você pode pegar mais.

—Tudo bem.

—Amanhã Dolores Umbridge virá aqui. Ela quer analisar seu comportamento, ter certeza de que não é uma ameaça. Nem preciso dizer para se comportar. E para ficar longe de Potter.

—O que?

—Umbridge detesta Potter, com toda razão, e vai perseguir você se ver que é amiga dele -Suspirei. -Mantenha-se comportada.

—Entendi. Eu sempre sou comportada. -Olhou pra mim, erguendo uma sobrancelha. -Ou talvez nem sempre. Ela vai ficar me seguindo ou algo assim?

—Provavelmente. -Que maravilha.

—Acha que... Se ela não gostar de mim... Eu vou ser expulsa?

—Dumbledore com certeza não deixaria isso acontecer.

—Certo. -Fiquei em silêncio, olhando para baixo. A única coisa que eu ouvia era o arranhar da pena no pergaminho. O que ele estava escrevendo?-Você pensa nela? Na Lílian?

—Sempre. -Sussurrou.

—O que?

—Você deve ir. Agora.

—Eu sinto falta dela, todos os dias.

—Vá, Meredith.

Me Levantei e saí, sabendo que insistir só ia causar problemas maiores.

***

Eu desci com Gina e Neville naquela manhã, para tomar café. Dolores Umbridge estava esperando na porta do Salão Principal, uma prancheta em mãos.

—É quase como os velhos tempos de novo. -Neville murmurou, um pouco nervoso.

—Mas o alvo dela é só um agora. -Gina comentou. -Finge que não vê essa sapa rosa.

Estávamos entrando no Salão quando Umbridge limpou a garganta de modo exagerado, até que eu parasse e a encarasse.

—Espero que já tenha sido avisada sobre a minha visita. -Visita?

—O professor Snape me avisou.

—Falando nisso... Por que Severo Snape é o seu responsável?

—Eu não sei. -Dei de ombros. -Nós nos conhecemos quando entramos em Hogwarts... Não sei. Pode perguntar para ele.

—Ah, certo.

Como ela não disse mais nada, fui para a mesa da Grifinória. Ia me sentar ao lado de Hermione, que estava com Harry e Rony, mas ela balançou a cabeça negativamente.

—Umbridge. -Sussurrou. -Senta com a Gina.

Suspirei e me sentei ao lado da Weasley mais nova. Eu havia contado aos outros, na noite anterior, que seria avaliada. Eles começaram a me dar conselhos e aprovaram o que Snape disse: nada de ficar perto de Harry. O Ministério não gostava muito dele... E por associação...

—Não sei por que tanta raiva de Harry. -Comentei. -Ele estava falando a verdade, não é? O Lorde das Trevas está vivo.

—Harry não aceitou ser amiguinho do Ministro. -Gina disse. -Então ele não gosta do Harry. E a Umbridge menos ainda.

—Entendi. Mas quer saber? Eu não ligo para o que o Ministério ou essa sapa rosa acham...

—Sua permanência em Hogwarts depende do que ela vai escrever sobre você. É melhor se comportar e tentar passar uma imagem impecável. -Sorri.

—Gina Weasley, você é uma das garotas mais espertas que eu conheço.

—Bem, alguém tem que ser a inteligente da família. -Rimos. -Ah, você tem que conhecer o Carlinhos, ele trabalha com dragões, você ia adorar...

***

Minha primeira aula era Trato das Criaturas Mágicas. Tentei fingir que não via Umbridge me seguindo até ate lá. Hagrid pareceu um pouco assustado quando viu a sapa rosa.

—Ela está aqui por minha causa. -Sussurrei, fingindo espiar uma caixa grande perto do professor. -Que criaturas são essas?

—Ah, vocês vão adorar! Aproximem-se! Venham, elas não mordem... A não ser que as machuquem ou ameacem...

O restante da turma se aproximou, todos um pouco temerosos. Hagrid começou a falar das criaturinhas estranhas, mas eu não estava ouvindo.
Dentre as árvores, criaturas bizarras surgiram. Pareciam cavalos, mas eram esqueléticos, com asas negras que pareciam couro. Eu tinha os visto puxar as carruagens na última ida e volta de Hogwarts, mas ainda assim, era um pouco assustador vê-los de novo.

—Meredith?-Hagrid se aproximou.

—O que são aquilo?-Perguntei.

—Testrálios. É uma raça de cavalos alados. Eles são um pouco estranhos, mas esses estão domesticados e são dóceis, na medida do possível.

—Por que eles estão puxando a carruagem agora? Elas sempre funcionaram sozinhas. -Hagrid pareceu levemente desconfortável.

—Eles sempre puxaram as carruagens, só que você não podia vê-los, por que...

—Por quê...?

—Testrálios só podem ser vistos... Por pessoas que viram a morte. -Franzi a testa.

—Mas eu nunca vi ninguém morrer... Ah. Eu. Eu vi a morte por mim mesma. -Meus olhos se encheram de lágrimas, mas as sequei rapidamente. -Hã... E essas criaturas que trouxe para a aula de hoje? Eu posso pegar uma delas? O que são?

Hagrid pareceu mais tranquilo em mudar de assunto, e começou a explicar sobre as estranhas fadinhas que bebiam sangue.

Depois, Umbridge me seguiu até a aula de Poções. A ignorei, indo para o meu lugar habitual, mas Hermione cortou a minha frente.

—Aqui não. -Sussurrou.

Suspirei e me sentei ao lado de Neville.

—Eu posso ficar aqui?-Perguntei.

—Claro. Você normalmente não senta lá atrás?

—Umbridge. Ódio a Harry Potter. Me manter comportada.

—Ah, é. -Espiei por cima do ombro. Umbridge estava falando com Snape, no fundo da sala. O professor não parecia feliz, mas a verdade é que ele nunca parecia feliz.

Snape deixou a sapa rosa de lado e passou nossa tarefa do dia: uma poção difícil e que precisava de muita concentração. Provavelmente eu acabaria fazendo besteira, por causa do nervosismo. Não era só Snape observando, era Umbridge, tirando os Sonserinos, que torciam para qualquer um da Grifinória errar e levar uns puxões de orelha.

—É só fingir que ninguém está olhando. -Neville sussurrou. -Isso ajuda muito.

—Obrigada. -Sussurrei de volta.

Então, graças ao conselho, eu fiz a primeira poção completamente correta da minha vida.

Snape até pareceu um pouco surpreso e passou algum tempo olhando o líquido verde claro.

—Muito bem. -Murmurou.

—Acho que isso é equivalente a um “ótimo trabalho”. -Brinquei, fazendo Neville rir.

No fim do dia, após a aula de Transfiguração, Umbridge me fez segui-la até uma sala vazia para conversarmos.

—Certo, senhorita Gruwell, -Começou, se ajeitando na cadeira e olhando suas anotações. -falei com seus professores e com o professor Snape, obviamente, como ele é seu responsável. -Assenti. -A senhorita planeja algum futuro? Tem alguma profissão em mente?

—Eu pretendo ser Magizoologista.

—Para onde vai depois de terminar seus estudos aqui? Será maior de idade, não haverá vagas para você no orfanato onde cresceu.

—Eu... Vou ter que falar com o professor Snape sobre isso. -Assentiu, fazendo uma breve anotação.

—Desculpe pela sinceridade, querida, mas você parece um pouco... Perdida.

—Na verdade, senhora, eu estou. Tudo aconteceu muito rápido.

—Claro. Bem, terminamos aqui. Você está dispensada.

Eu queria chegar logo no Salão Comunal da Grifinória para contar como tinha sido o meu dia, atormentado com a presença de Dolores Umbridge. Mas, quando a professora de Adivinhação surgiu no meu caminho, eu sabia que não chegaria tão rápido quanto queria.

—Ah, senhorita Gruwell, é muito, muito bom encontrá-la. -Assentiu rapidamente, para enfatizar o que disse. -Eu estava mesmo querendo falar com você. Adoraria que pudesse ir até a minha sala, para desvendarmos o seu futuro. Eu às vezes vejo algumas coisas... Muitas coisas.

—Que tipo de...

—Mas acho que há muito ainda para ser desvendado, entende. Eu... -Encarou um ponto acima do meu ombro e pareceu assustada. Virei lentamente, com medo do que poderia ver, mas era apenas Snape, com uma expressão nada amigável. -Ah, isso é muito ruim. -A professora sussurrou.

—Acho que você devia estar no seu Salão Comunal, Gruwell. -Snape disse, ainda encarando a mulher atrás de mim. Parecia que ele queria atacá-la com um Avada Kedrava.

—Eu queria falar com o senhor, professor. -Disse. -Sobre...

—Falaremos disso amanhã. Eu preciso trocar umas palavras com a professora Trelawney.

—Tudo bem.

Me afastei lentamente e virei a esquina do corredor. Porém, alguma coisa me prendeu ali, e eu parei para ouvir a conversa.

—O que eu disse sobre manter suas “visões” longe de Meredith?-Snape perguntou. Ele parecia furioso. Já Trelawney, apavorada.

—Ela tem o d-direito de s-saber sobre o futuro dela, se quiser.

—Mantenha-se longe dela, você e suas previsões.

—O senhor fala como se eu representasse um risco à segurança daquela jovem!-Agora ela parecia indignada.

—Eu já vi o que suas profecias podem fazer. -Se ele tivesse falado comigo naquele tom de voz, eu já estaria correndo pela minha vida. Mas a professora resistiu bem.

—Eu não sei do que o senhor está falando, mas se insistir em me perseguir, eu vou procurar o diretor Dumbledore. Ouviu bem? Me deixe em paz!-E começou a se afastar rapidamente.

Achei melhor fazer o mesmo, antes que Snape me pegasse ouvindo escondida.

Quando cheguei no Salão Comunal, Harry, Hermione e os Weasley estavam me esperando. Eu mal entrei e me encheram de perguntas.

—O que a sapa rosa disse?

—Você foi expulsa?-É, essa pergunta foi da Hermione.

—A gente precisa aterrorizá-la?

—Se você for embora, mamãe com certeza vai fazer você morar com a gente.

—Dumbledore nunca deixaria Meri ser expulsa.

—É melhor deixar ela contar como foi.

—Eu posso mesmo ou vocês vão continuar?-Perguntei, me sentando.

—Desembucha. -Rony pediu.

—Okay...

Contei como foi meu dia com Umbridge me seguindo para lá e para cá, e sobre nossa conversa minutos antes.

Sim, eu omiti a confusão no corredor. Só contei para o trio, depois que Gina e os gêmeos nos deixaram sozinhos.

—O que ele quis dizer com “Eu já vi o que suas profecias podem fazer”?-Perguntei, confusa. Hermione olhou para Harry, um olhar significativo.

—Nós não contamos a ela, Dumbledore achou que era demais para um primeiro dia. -Ele explicou.

—Podem me manter na conversa?

—Snape já ouviu uma profecia da Trelawney. Era sobre Voldemort, -Mione e Rony estremeceram. -e eu. E ele contou a Voldemort sobre ela. Contou sobre uma criança que poderia derrotá-lo, nascida em junho... Eu.

—Snape... Snape, ele causou tudo... A morte dos seus pais... -Fiquei de pé. -Ele não podia!-Gritei. Os alunos em volta olharam pra mim, assustados. Harry me puxou para baixo, me fazendo sentar.

—Ele não sabia, não tinha como saber.

—Você está defendendo ele.

—Dumbledore confia nele... E eu confio em Dumbledore. -Respirei fundo, tentando me acalmar.

—Melhor irmos jantar. -Hermione disse. -Vamos...

—Estou sem fome. -Me levantei. -Podem ir.

—Meri...

—Vão. -Então fui para o dormitório, com uma sensação estranha no peito.

***

Eu não consegui dormir. Me revirei na cama, morrendo de calor como se tivesse sido jogada num forno quente. Abri os olhos, o mundo girou no escuro, e eu me senti como se a minha cabeça tivesse sido empurrada contra o travesseiro.

Uma forma humana apareceu ao lado da cama, uma forma alta e masculina. Gritei o mais alto que pude e tentei levantar. Acabei engatando o pé na coberta e caí batendo a cabeça na cama do lado.

Houve uma grande movimentação em volta de mim, o quarto clareou e de repente Hermione estava ajoelhada ao meu lado.

—Está sangrando!-Lilá Brown gritou, apontando pra mim.

—Chame a professora McGonagall, nós temos que levá-la para a enfermaria. Parvati, vem cá, me ajuda a levantá-la.

Minhas pernas não respondiam, então as meninas tiveram que me erguer. Do lado de fora, quase toda Grifinória estava no Salão Comunal, em seus pijamas e roupões.

—O que aconteceu?-Harry perguntou.

—Nos ajudem a levá-la, ela precisa ir para a enfermaria, agora.

Nem lembro de como chegamos lá, só de ter sido colocada numa das camas e de Madame Pomfrey expulsando todo mundo, agitada.

McGonagall e Snape estavam na porta, discutindo, o professor estava com a minha poção de dormir.

—Foi adulterada. Alguém adicionou ingredientes que jamais devem ser ingeridos se colocados juntos.

—Mas quem faria isso?

—Imagino que saiba que apenas alguém da Grifinória teria acesso a poção.

—Mas...

Parei de ouvir, Madame Pomfrey estava outra vez verificando minha temperatura.

 

—Ela está ficando cada vez mais quente. Não sei o que fazer. É melhor mandá-la para o St. Mungus.

E foi assim que eu fui internada, por envenenamento.


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Notas finais do capítulo

Ih, quem será que envenenou a Meri? Suspeitos? Digam aí, gente :3
Até o próximo ♥



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