Descendentes: Desenvolvendo Sentimentos escrita por Lanan Tannan


Capítulo 17
Capitulo 15 - Things I’ll Never Say


Notas iniciais do capítulo

..... Olá?
Faz DEZ meses que não apareço por aqui... coloquei até a fic em hiatus, infelizmente. Perdão, mas mesmo com a postagem deste capitulo, ainda não retirarei o status de hiatus de DS.

Vou ser breve nas notas iniciais, para que possam ler as 48 páginas de Word que foi esse capitulo!
É cada comentário maravilhoso que eu recebi e continuo recebendo a cada capitulo, sem contar das DMs... vocês são as melhores pessoas desse mundo, ainda mais por gostarem de Descendentes haha
Mas tem uma em especial, que eu conheci no Nyah! por meio dessa fanfic e que se tornou insubstituível em minha vida.
(Eu tenho certeza que ela já está soltando uns gritinhos agudos, já estou até ouvindo eles)
Enfim, eu nunca vou me cansar de agradecer por ter te conhecido, Bárbara. Apesar de você me chamar de maligna, eu te amo, B!
"Cause you're a part of me
So you can find me in the space between"
Obrigada por ter me aguentado durante este ano de amizade ♥
.



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Minhas bochechas estão ficando vermelhas

Estou procurando as palavras dentro de minha cabeça

Estou me sentindo nervoso

Tentando ser tão perfeito

Porque eu sei que você vale a pena

My cheeks are turning red

I'm searching for the words inside my head

I'm feeling nervous

Trying to be so perfect

Cause I know you're worth it

— Things I’ll Never Say (Avril Lavigne)

 

Local: Auradon Prep., corredor de armários

Hora: 13h50m, terça-feira

 

Mal tinha acabado de sair da aula do Caçador quando encontrou Evie no corredor, seguindo para os armários. Lembrou-se da conversa que tivera com Anxelin sobre Chad e o aviso que a loira havia lhe dado, mas não teve nem tempo de comentar com a amiga, pois Carlos havia acabado de aparecer.

— Hey, meninas! – Carlos as chamou. Ele abriu a mochila para pegar o novo livro de Códigos de Computação que o professor Mitnick emprestara. Colocou o livro dentro do armário e o fechou, no mesmo tempo em que Mal e Evie pararam em seus respectivos armários, próximo à entrada. – Vocês viram o Jay?

— Não desde o almoço. – Mal respondeu. Pegou o caderno que usava para desenhar com alivio e desapontamento de si mesma por ter o colocado por engano dentro do armário.

Evie, ao lado da amiga, apenas acenou concordando.

— Tenho aula com ele. – Carlos puxou as alças da mochila, ajustando-as melhor. – E eu ia perguntar se ele tem algum pendrive.

— A gente pediu umas coisas, ele deve ter ido procurar. – Evie lembrou. Depois do almoço, antes de cada um ter seguido para suas respectivas aulas, a garota havia pedido a Jay alguns utensílios que ela iria precisar para o perfume que ela tanto adorava fazer. Assim como Mal também pedira algumas coisas – como tinta para desenho e spray de tinta.

Provavelmente o quarto delas iria amanhecer com uma decoração a mais nas paredes.

Carlos olhou para as garotas, desconfiado.

— Pediram o que?

Evie não o respondeu. Ao contrário disso, fitou por sobre o ombro de Carlos, surpresa sobre o que acabara de parar no primeiro degrau da escada externa, próximo o suficiente para fazer o garoto ter um ataque do coração.

— Mal... – Tanto o tom de alerta na voz de Evie quanto sua expressão apreensiva fizeram Carlos estremecer com o que estava atrás de si – mesmo sem saber o que ainda.

— Eu vi. – Mal respondeu, também fitando o animal que assombrava os pesadelos do amigo de cabelos brancos.

— O que vocês estão olhando? – Carlos já estava curioso para saber e, quando suas amigas não o responderam, ele virou-se para olhar.

— Não! – Ambas exclamaram e estenderam as mãos para agarrar a jaqueta do amigo e o impedir de ver o animal.

Não era nada assustador, mas sim o cachorro mais fofo e brincalhão que ele tivera o prazer de encontrar. O ofegar aliviado de Carlos fora audível o suficiente para Dude erguer as orelhas e balançar a cauda, esperando o chamado do novo amigo.

Dude!

Mal e Evie soltaram a jaqueta do amigo enquanto este se abaixava. O cachorro rapidamente avançou em sua direção, pronto para receber carinho. Carlos acariciou a cabeça do animal, um sorriso feliz em sua face. Todo o medo e receio que ele antes tivera por cachorros, agora não existia mais. Principalmente depois de ter encontrado Dude pela segunda vez, na noite anterior, e ter passado mais um tempo brincando com ele.

Mal e Evie se entreolharam, expressões incrédulas presente na face de cada uma delas. Aquela era uma cena que nunca imaginaram ver acontecendo, na verdade a única possibilidade que consideraram era uma cena envolvendo gritos de pânicos e não... carinhos e sorrisos.

— Eu estou sonhando? – Evie questionou, observando quando o cachorro apoiou as patas sobre Carlos e fez o garoto rir mais uma vez.

— Estamos tendo o mesmo sonho, então. – Mal respondeu, ainda sem acreditar no que via.

Carlos segurou o cachorro, sorrindo ao desviar o rosto para evitar ser lambido e ficar todo babado. Ergueu-se, com Dude em seu colo, e se virou para suas amigas. As expressões confusas ainda estavam presentes no rosto delas; Carlos podia entende-las. Ele também ficaria surpreso se alguém dissesse a ele que estaria abraçando um cachorro – o animal que sua mãe usara várias vezes como fonte para assustá-lo – como se fosse um ursinho de pelúcia.

— Esse é o Dude. – Carlos segurou a pata do cachorro e acenou para Mal e Evie. Os olhares das garotas correram de Dude para o amigo de cabelos brancos, ainda processando o que estava acontecendo. Carlos estava agindo como se aquele não fosse um fato completamente inesperado!— Dude, essas são minhas melhores amigas, Mal e Evie.

— Ele é um cachorro. – Evie disse, para o caso de Carlos ainda não ter percebido. Onde é que estava todo o pânico e temor que o garoto sentia? Não podiam nem mesmo falar qualquer coisa sobre aquele animal quando estavam na presença do de Vil que ele já começava a tremer!

— Sim. Um cachorro brincalhão, esperto e extremamente fofo! – O de Vil deu um abraço mais apertado em Dude e o cachorro finalmente conseguiu a chance de lamber o rosto de Carlos. Restou ao garoto apenas rir.

A aula provavelmente já havia começado, mas Carlos parecia alheio ao tempo agora, ocupado demais em se divertir com o novo amigo.

Evie virou-se para Mal, mas para sua surpresa, a garota de cabelos roxos apenas riu. Ela aproximou-se mais de Carlos e passou a mão sobre o pelo caramelo de Dude, sua voz ainda risonha ao dizer:

— Algumas coisas são melhores nem serem explicadas.

 

...

— Evie, não é?

— Correto.

No momento em que o garoto sentou ao seu lado, Evie levantou. De repente todos os garotos que passavam perto dela, tinham que ir tentar uma conversa ou chamá-la para sair. E apenas quando ela estava sem a companhia de seus amigos.

Não que estivesse surpresa, mas parecia como se tivessem esperado o primeiro dia passar apenas para terem certeza de que ela não representava nenhum perigo.

E isso a fazia rir. Eram tolos por pensarem assim.

— Você é linda.

— Eu sei.

O garoto continuava a acompanhá-la, mesmo que Evie tivesse acabado de virar em um corredor aleatório. Esperava que não se perdesse naquele lugar – não agora, pelo menos. Ou Evie poderia usar seu mais novo perseguidor como guia, já que o garoto parecia ainda convicto em tentar uma conversa.

Ele apoiou a mão no antebraço de Evie e a garota conteve um revirar de olhos, virando-se para fitá-lo. Evie simplesmente não estava no clima para flertar quanto mais para ouvir aqueles elogios “super originais” que saiam da boca de quase todos os garotos que conhecia. Ainda mais daquele garoto que foi responsável por provocar Jay na aula do dia anterior; o soco que ele recebera em troca a fez sorrir por um momento.

E Taylor interpretou o sorriso de Evie de forma errada. Ele deslizou sua mão pelo braço da garota e segurou a mão dela.

— Eu esqueci completamente o que iria dizer. – Ele murmurou em sua tentativa – falha – de voz rouca. – A única coisa que consigo pensar é no quanto está bonita. Tipo, muito, muito linda.

— E entediada.

O tom de voz usado pela garota foi o suficiente para Taylor recuar intimamente. Evie nem mesmo mudou sua expressão, seus olhos fitando o garoto numa mascarada expressão calculista. Ela sorriu rapidamente quando o garoto abriu a boca algumas vezes, sem saber o que dizer; a mão de Taylor ainda segurando a sua.

— Gostaria de sair comigo?

Um sorriso lento surgiu no rosto de Evie, o mesmo que ela havia oferecido ao garoto loiro do almoço. Ela livrou a mão que ele ainda insistia em segurar e afastou um fio azulado para fora de seu rosto; o olhar de Taylor acompanhando o movimento.

— E para onde iriamos?

— Está dizendo que aceita?

O sorriso que estampou a face do garoto recompensou o tempo que ela estava perdendo conversando com ele. Exatamente porque ela faria aquele sorriso sumir em segundos.

— Não, estou apenas analisando se você vale a pena ou não. – Evie apoiou a mão sobre o braço do garoto, fitando-o. – Suas chances são realmente baixas, mas talvez eu tenha pena de você.

O tempo de reação do garoto foi mais demorado do que Evie esperava. O sorriso ainda se pendurou em sua face por poucos instantes após as palavras proferidas pela garota, no entanto a resposta dele fora interrompida pela nova pessoa que havia aparecido atrás de Evie.

— Aceita sair comigo e vai perceber que sou tudo o que você procura.

A malicia com que aquelas palavras foram proferidas fizeram Evie virar-se para encontrar o dono daquele tom de voz. E ela o reconheceu.

— Roland Hood. – Evie sorriu para o garoto, observando mais uma vez a peculiar escolha de vestimenta dele. Roland realmente tinha um estilo diferenciado de qualquer outro garoto em Auradon, um estilo parecido ao da Ilha dos Perdidos – exceto que suas roupas não aparentavam estar sujas de poeira e fuligem.

— Inesquecível, eu sei. – Roland ergueu a mão em direção a Evie e pegou o colar de coração que a garota usava. Fitou o brilhante rubi curiosamente e um sorriso de lado já estava em seus lábios quando disse: – Belo colar.

Evie segurou o pulso dele, inclinando a cabeça sem deixar por um segundo de fitar seus olhos malandros.

— Bela pulseira. – Evie devolveu o elogio e soltou o braço do garoto. Ele afastou-se um pouco, apesar de ainda continuar sorrindo. – Você sempre se intromete onde não é chamado?

— Roland, cai fora! – O garoto ignorado bateu no ombro de Roland, empurrando-o para trás. Taylor se colocou entre Evie e Roland, apontando para o Hood. – Está atrapalhando!

— Meu amigo, entenda uma coisa. – Roland colocou as mãos nos ombros do moreno e Taylor notou que a expressão do filho de Robin Hood estava muito parecida com a que vira no rosto de Evie. – No dia em que qualquer garota preferir você a mim, o mundo estaria acabado. – Roland ergueu o olhar em direção a Evie e piscou para a garota, recebendo apenas um inclinar de cabeça como resposta. – Não crie muitas expectativas.

Taylor afastou as mãos de Roland e olhou para Evie também. A garota estava com braços cruzados, divertindo-se ao observar os dois.

— As coisas não dão certo para você. Nunca o vi com ninguém.

— Exato. – O sorriso divertido de Roland estava começando a irritar seriamente Taylor. E ele parecia estar se divertindo mais ainda agora. – Você nunca viu, não quer dizer que não tenha acontecido.

Tá, tá, tá. ­– Taylor ergueu as mãos, exasperado. Não conhecia Roland muito bem, mas sabia o suficiente para ter conhecimento sobre o enorme ego do garoto. Ficar naquela discussão não garantiria nada vantajoso para o moreno e só o faria perder tempo. Então, agora foi a vez dele se aproximar e pôr a mão sobre o ombro de Roland, baixando a voz ao dizer: – Agora cai fora que você está atrapalhando meu futuro encontro com a garota mais bonita desse colégio!

Para frustração de Taylor, Roland riu.

— Que garota?

Taylor franziu as sobrancelhas e virou-se em direção onde ele esperava encontrar Evie. Com o final da última aula, alguns alunos saiam da sala de Linguagem das Estrelas e outros de Música e começavam a preencher o corredor onde Taylor e Roland estavam, porém nenhum deles era a filha da Rainha Má.

— Isso é culpa...

— Não fiz nada, ela correu de você. – Roland deu de ombros. Ele havia visto quando Evie saiu e virou em direção ao corredor que levaria a saída daquele labirinto chamado escola, mas não comentara nada em favor da bela garota. – Alias, você não era um dos que estavam quase montando um grupo anti-filhos-dos-vilões aqui em Auradon?

— Isso não te interessa. – Taylor murmurou, desviando o olhar. Ele empurrou violentamente o ombro de Roland quando passou ao lado do garoto, afastando-se.

— Ei, cuidado com a jaqueta. – Roland fez uma careta, passando a mão sobre o local atingido. – Ah, eu acabei esquecendo de dizer! – Ele aumentou o tom de voz, fazendo Taylor ouvir sua provocação mesmo que estivesse a alguns passos de distância e por sobre o barulho de conversas. – Aquele soco que você levou alegrou meu dia.

Taylor virou-se, refazendo seus passos até Roland.

— O que há com você?

— Eles são as melhores coisas aqui desde a minha chegada! – Roland ergueu as mãos. Briga era a segunda coisa que ele menos gostava e, pela expressão contrariada de Taylor, parecia exatamente isso o que o jogador queria no momento. – Só estou me divertindo, não seja tão sério.

— Você é mais um dos que foram enfeitiçados por eles?

— Fala sério, cara. Príncipe Ben, Ally, Anxelin, Doug, Chad... para não citar metade da escola, já foram “encantados” por eles. – Roland direcionou um sorriso malicioso para Taylor. – E você também.

Ally? – Taylor balançou a cabeça, afastando esse pensamento. – E você não?

— Tyler, você viu aquelas garotas? – O revirar de olhos do moreno foi a resposta que Roland queria. Ele bateu no ombro do outro garoto, um sorriso presunçoso em face. – Então já sabe a resposta.

 

...

Jay havia acabado de despejar o conteúdo de sua mochila em uma das camas de suas amigas quando batidas na porta soaram para interrompe-lo. Jogou a mochila sobre a cama e segurou um dos frascos a tempo quando este quase atingiu o chão.

Não entendia o motivo de Evie se preocupar tanto em continuar fazendo aquilo, não quando ele simplesmente podia pegar um para ela. Na Ilha dos Perdidos, ele entendia – não era como se a garota pudesse ir em qualquer esquina e simplesmente encontrar o que procurava. E se Jay não ajudasse, provavelmente seria ele a cobaia dos experimentos químicos da amiga.

A primeira vez já fora traumática o suficiente. Aquele cheiro de flores ficou impregnado em seu corpo por semanas!

Outra batida soou na porta e uma voz feminina chamando por Mal atraiu sua atenção. Encaminhou-se até lá e abriu a porta sem nenhuma delicadeza, respondendo asperamente:

— Mal e Evie não estão aqui. – Estava quase fechando a porta quando seus olhos realmente perceberam quem se encontrava parada no corredor. Ainda não haviam se encontrado, disso ele tinha certeza. – Mas eu posso te ajudar no que precisar.

— Sabia que não é permitido garotos no quarto de garotas, e vice-versa?

— É a primeira vez que ouço isso. – E era realmente verdade. Isso poderia gerar problemas, considerando que ele e Carlos passavam mais tempo no quarto das meninas do que em seu próprio dormitório. Como se ele se importasse com isso.— E o seu nome é.…?

— Lonnie. – Respondeu rapidamente. Ela já tinha escutado alguns comentários sobre o filho de Jafar – comentários estes que se ele soubesse com certeza elevariam ainda mais seu ego já enorme. Lonnie apenas não conseguia ver onde estava a fonte de tanto alvoroço feminino.

Jay deu um passo à frente e sorriu ao vê-la recuar.

— E então?

— O que?

O garoto fechou a porta atrás de si e deu mais outro passo à frente, aproximando-se mais da garota.

— O que vai querer de mim?

O passo à frente e a voz rouca não foram o suficiente dessa vez. A garota não se intimidou. Ao invés de recuar outra vez, Lonnie cruzou os braços e o encarou firmemente. Ele era apenas mais um idiota que não se controlava e flertava com qualquer garota que passava na sua frente.

Clássico.

— Não quero nada de você. – Sua voz saiu firme, assim como suas palavras foram diretas, sem deixarem espaço para interpretações erradas.

Jay ergueu uma sobrancelha.

— Difícil acreditar, considerando que você veio atrás de mim.

— Eu vim procurar a Mal e a Evie. – Lonnie frisou os nomes. – Você apenas... apareceu.

Jay cruzou os braços, imitando a pose da garota. Inclinou a cabeça para mais próximo dela e sussurrou:

— Você finge que é verdade e eu finjo que acredito.

Lonnie o empurrou de volta.

— Você não deveria estar no treino?

— Treino? – Jay abriu a boca para questionar sobre o que a garota se referia, mas recuou logo em seguida. Hoje teria o último treino antes do início da temporada de jogos e o treinador havia lhe dito que seria fundamental para a escolha do time principal durante o semestre. E sua memória perfeita havia falhado, o que não costumava acontecer. Tinha esquecido completamente do treino do dia. Jay riu para si mesmo. – Perdi a hora. Me acompanha até lá?

Lonnie ponderou sobre o pedido. Por fim, acenou.

— Claro, jogador. Será um prazer.

— Um segundo e eu já volto.

Jay entrou de volta no quarto e foi em direção a sua mochila jogada sobre a cama. Pegou-a e, quando se virou para a porta, não se impediu de rir alto.

A garota tinha ido embora.

 

...

Evie ainda ria, mesmo que tivesse percebido que estava sendo seguida novamente. Dessa vez, porém, a pessoa não era tão desagradável.

— Posso saber por que está me seguindo dessa vez?

Questionou sem desviar o olhar de seu celular onde o aplicativo mostrava o caminho certo por entre aquele labirinto escolar. A resposta de sua pergunta veio acompanhada de uma risada divertida.

— Por que sempre acha que estou te seguindo?

— Porque é o que você está fazendo agora. – Evie respondeu irônica. Parou e virou-se para o filho de Dunga, observando no momento em que ele arrumava os óculos no rosto.

— Não é não. – Era uma meia verdade. Ele tinha acabado de sair da aula de História dos Reinos quando a viu passando pelo outro corredor. Era o mesmo caminho que levaria para fora da escola, então ele não estava completamente seguindo ela. – Está indo para o castelo?

— Não. – Evie ergueu o celular para o garoto ver. Um ponto vermelho piscava no que Doug reconheceu como sendo o aplicativo que ele havia mostrado para ela. E o ponto indicava um lugar bem próximo de onde estavam. – Biblioteca.

— É no castelo.

— O mapa diz que é ali. – Evie apontou para uma porta simples mais à frente, mesmo lugar onde, de acordo com o aplicativo, se encontrava a biblioteca.

— A do castelo é bem melhor. – Doug afirmou. – Meu primo me pediu para estudar química com ele. Se quiser ir... – Ele puxou a alça da mochila, incomodado ao perceber o olhar de Ally sobre eles. A loira estava ao lado de Jordan e uma outra garota, mas claramente não participava da conversa entre elas, já que tinha um olhar fixo em Doug e Evie.

Estranho.

— Evie. – A voz de Carlos trouxe a atenção de Doug de volta. Carlos o cumprimentou com um aceno e voltou-se para Evie. – O que a gente vai fazer agora?

Eu estou indo para a biblioteca.

— Você não vai ficar sozinha.

— Não estou sozinha. – Evie aproximou-se de Doug e se divertiu ao ver o garoto corar quando ela entrelaçou seu braço ao dele. Carlos não disse nada, apenas observou o sorrisinho exposto nos lábios de Evie. – Estou com o Doug.

— Nós vamos estudar química. – Doug disse rapidamente. Evie pressionou os lábios para não rir, mas continuou fitando o rosto do garoto de óculos enquanto este permanecia a falar: – Temos... temos uma prova na próxima aula, que vai ser na sexta e se você quiser podemos estudar juntos também. Eu já estava indo para lá encontrar meu primo e-

Evie apertou um pouco o braço de Doug e o garoto parou de falar, se arrependendo de ter dito aquilo rápido demais ao ouvir a risada de Carlos. Ele evitou olhar para qualquer um dos filhos de vilões, ao mesmo tempo em que se indignava consigo mesmo.

— Eu ainda não tive aula de química, então vou recusar. – Carlos respondeu à Doug, porém fitava Evie. Ele lembrava do “pedido” de Jay e concordava em partes com o amigo, pois sabia que era apenas mais uma forma que o filho de Jafar encontrara para atormentar Mal e Evie.

E todo mundo ali estava se divertindo, porque ele não podia fazer isso também?

— Quer saber? Acho que vou brincar com o Dude um pouco. – Carlos disse, já sabendo onde encontrar o mais novo amigo. Ele arrumou a mochila nas costas e se direcionou ao garoto de óculos. – Depois você me manda aquela anotação da diferença entre palácios e castelos?

— Ahn, claro. Eu passo pra Evie e ela te entrega – Doug respondeu, agora muito mais consciente do adorável perfume de rosas. É como Evie dissera: “era bem constrangedor ficar vermelho todas as vezes em que conversavam”. Não era uma coisa que ele pudesse controlar, não quando a garota ainda segurava seu braço e Carlos lhe fitava com os lábios pressionado, evitando um sorriso. O de Vil também devia estar se divertindo com aquilo.

Evie soltou o braço de Doug e aproximou-se do amigo, passando a mão sobre o cabelo branco desordenado do garoto.

— Carlos, você não tem um treino para ir? – Evie questionou, inocentemente.

— O treino! Eu tinha esquecido. – Carlos colocou as mãos na cabeça, incrédulo consigo mesmo. Ele se despediu e correu pelo corredor para ir ao campo de Tourney.

— Achei que ele fosse mais assustador, mas até que é divertido. – Doug comentou, seguindo na mesma direção em que o filho da Cruella fora. Evie, que já havia guardado o celular na bolsa, o acompanhou.

— Assustador? O Carlos? – Evie riu. A ideia de alguém ficar assustado com o pequeno e medroso Carlos era engraçada. Ela o fitou, curiosamente divertida. – Você tem medo da gente?

Doug pensou antes de responder, mas acabou sorrindo brevemente.

— Talvez eu tenha.

— O que te assusta?

— Em vocês? – Doug estendeu a mão para ajudá-la a descer a pequena escada. Evie aceitou, assentindo em resposta à pergunta do garoto. – Bem, a presença do Jay por si própria já assusta, a Mal então! Ela pode assustar uma legião de guerreiros sem dizer uma única palavra. E você...

— ... eu?

— Você ainda pergunta?

Evie bateu com a lateral de seu corpo em Doug. O garoto fingiu tropeçar o restante dos degraus e o som da risada de Evie preencheu seus ouvidos e coração.

 

...

— Treinador! – Carlos acenou do outro lado do campo, de onde vinha correndo com Dude ao seu lado. O cachorro o encontrara logo após ter saído do gramado da escola e passara a acompanhar o novo amigo.

Taylor, que conversava com o treinador, revirou os olhos para a figura do baixinho correndo de forma engraçada pelo campo.

— Vai mesmo deixar esses selvagens entrar no time?

— Taylor. – Jenkins bateu a mão sobre o ombro do garoto, empurrando-o levemente. – Comece seu alongamento e não atrase o resto do time mais uma vez.

— Sim, treinador. – Taylor afastou-se a contragosto. Mesmo não concordando com a possibilidade de aceitá-los no time, não iria contra o treinador.

— Desculpe o atraso. – Carlos pediu, a voz entrecortada pelo esforço que fizera.

— Tudo bem, garoto. Hoje você treina com o Aziz. – Jenkins arrancou uma das folhas de sua prancheta e entregou ao menino. – Benjamin pediu permissão para sair e resolver alguns assuntos pessoais, mas deixou uma lista de sugestões para o seu treino. Entregue isso para o Aziz, ele está no vestiário.

— Tudo bem.

— Pode ir pegar o seu equipamento. E garoto? – Carlos virou-se ao ser chamado de volta pelo treinador. – Bom treino.

— Obrigado, treinador. – Carlos sorriu pelas palavras do treinador e seguiu para o vestiário.

Jenkins levou o apito aos lábios e fez o som reverberar pelo campo, anunciando que o tempo de alongamento estava encerrado.

— Akiho, você é o lançador dessa vez. E Chad! – Treinador Jenkins jogou a camiseta azul para o loiro que estava sentado no gramado, terminando de amarrar o cadarço. – Hoje você faz parte do ataque.

Ele sorriu, satisfeito; assumiria a posição que geralmente ficava a cargo de Ben.

Jay jogou a camisa azul que recebera sobre o ombro e apertou a mão em torno do taco, encaminhando-se em direção ao loiro.     

— Então você é o tal Chad.

O filho da Cinderela não ergueu a cabeça para fitar Jay, respondendo enquanto terminava de arrumar o equipamento em seu corpo.

— Eu mesmo.

Jay cruzou os braços, e riu. Aquele era o garoto que Evie escolhera? Ainda não havia entendido exatamente o que estava acontecendo com esse lance dela de escolher um príncipe em Auradon – ainda mais com essa estranha amizade com o filho de Dunga.

Mas podia dizer que aquele ali não duraria muito.

— O que ela viu em você?

Chad ergueu a cabeça, finalmente notando quem era a pessoa a sua frente. Um filho de vilão que provavelmente procurava arrumar confusão, pensou. O loiro ergueu-se para encarar Jay.

— Ei, eu não tenho ideia do que você está murmurando, então- – A voz de Chad esvaneceu ao ver Jay avançar em sua direção. A voz firme que o loiro usara não serviu nem mesmo para fazer Jay reconsiderar ouvi-lo. O filho de Jafar agarrou a camiseta do outro, torceu e o puxou para encarar sua expressão ameaçadora.

— Saiba que se pisar um centímetro fora da linha, não importa o quão insignificante que seja, meu punho terá um encontro com seu rosto, príncipe.

Chad apenas acenou afirmativamente, sem compreender exatamente o porquê da ameaça. Obviamente não era necessário um motivo para que agisse como um selvagem, apenas pensou, não ousando repetir em voz alta – não quando o olhar frio do filho de vilão ainda o tinha como foco.

Jay o soltou, bem no momento em que o treinador soava mais uma vez o apito, chamando a atenção dos jogadores de volta ao campo.

 

...

A biblioteca era completamente diferente do que Evie esperava. Começando pelo tamanho do lugar e aquele teto incrivelmente alto – duvidava que ocupava apenas um andar. Ao lado da porta, um homem preenchia algum documento enquanto analisava cada uma das várias pilhas de livros que enchiam o balcão onde estava. Pouco mais à frente, pequenas mesas com tampa de vidro exibiam os documentos mais delicados, cada uma dispostas a poucos centímetros de distância.

E ao fundo, ocupando a maior parte da biblioteca – como devia ser – prateleiras de madeira com inúmeros livros por toda sua extensão, organizadas de forma que os livros estivessem em frente ao da prateleira ao lado. E os enormes corredores entre cada uma fazia o lugar parecer ser tão profundo quanto era alto.

— Lá em cima. – Doug disse, apontando para a escada na parede lateral que Evie não havia notado. Subindo o olhar, ela pode ver até onde a escada levava: uma área suspensa, como um segundo andar que seguia contornando por toda a lateral da biblioteca, terminando pouco antes de chegar a parte superior das portas.

— É enorme.

Foi a única coisa que Evie pode dizer no momento.

— Você nem viu a da Capital ainda. – Doug começou a seguir para a escada e Evie o acompanhou, passando entre as mesas com tampa de vidro. O garoto ainda continuava a falar, agora com a voz mais baixa para evitar o eco do lugar. – Basicamente qualquer coisa que você procure, vai encontrar naquela biblioteca. – Evie observava por entre cada corredor os inúmeros livros ali dispostos, capas de diferentes cores e aspectos destacavam-se rapidamente. Os corredores não eram tão profundos quanto imaginara, pensou Evie. Provavelmente era apenas uma ilusão de ótica, o que deixou aquela biblioteca ainda mais fascinante. – A proposta da Rainha Bela era garantir uma plena integração pelo saber, oferecendo fácil acesso as publicações de quase todos os reinos. – O corrimão de madeira com a base transparente acompanhava-os enquanto subiam pela escada. – Diversas obras literárias tão antigas quanto nossos pais! – Doug riu brevemente antes de finalizar. – E isso resultou no maior acervo literário que você possa imaginar.

Assim que chegaram ao piso superior, Doug virou-se para Evie em dúvida se a garota realmente havia ouvido toda aquela sua falação sobre bibliotecas. E não pode deixar de surpreender-se ao vê-la com as mãos apoiadas no corrimão enquanto olhava ao longo de toda a extensão de prateleiras.

E a expressão no rosto dela deixava claro sua admiração.

— Uma biblioteca de Alexandria em Auradon!

— Basicamente. – Doug respondeu depois de ponderar por um instante. – E essa daqui é apenas uma demonstração.

Doug acenou e ambos seguiram mais à frente.

Mesas de leitura estavam espalhadas por toda a extensão do ambiente, poucas delas ocupadas por ocasionais estudantes e suas pilhas de livros. Ao fundo, Evie podia ver alguns sofás também, todos destinados ao conforto na hora da leitura.

A mesa para a qual Doug apontara estava sendo ocupada por um ruivo aparentemente muito cansado. Três livros formavam uma pequena pilha no canto da mesa, um estojo aberto com canetas, lápis e borracha espalhados, assim como também havia papeis usados para anotações. E no meio de tudo isso, o garoto dormia com a cabeça apoiada em um dos livros abertos.

Doug riu consigo mesmo. Não era novidade encontrar o primo naquele estado, ainda mais quando o garoto passava horas e mais horas da madrugada jogando ao invés de dormindo.

Evie apenas observava quando Doug aproximou-se mais e apoiou as mãos sobre a mesa, preparando-se para acordar o primo.

Sam! – O ruivo acordou sobressaltado com a voz de Doug. O garoto ergueu a cabeça, piscando ao fitar a mesa, os óculos tortos no rosto e metade do cabelo bagunçado. – Dormindo na biblioteca de novo?

— Não me culpe. – Sam tirou os óculos e passou a mão no rosto para despertar. – Não dormi nada essa noite. Peter insistiu que eu tinha sumido com o gato dele e não parou de me ligar. Não tenho culpa nenhuma se o Sky percebeu que não tem um bom dono e fugiu. – O garoto continuou a se explicar ao mesmo tempo em que arrumava o material espalhado pela mesa. A voz dele era calma, mesmo parecendo frustrado pelo acontecido. – E eu ainda passei a madrugada inteira acordado, tentando arrumar a caixa que o papai mandou. Você também recebeu a sua? – Levantou a cabeça e finalmente notou a garota parada ao lado do primo, fitando-o com um sorriso contido. O livro caiu de sua mão e o barulho alto reverberou pelo tempo em que Sam alternava o olhar entre Evie e Doug. O ruivo piscou por trás dos óculos e apontou, hesitante, para Evie. – Ela é a...

— Evie. – A garota sorriu.

— ... filha da Rainha Má? – Completou em voz baixa, a mão ainda erguida entre eles.

— Isso também. – Dessa vez, Evie deu uma piscadinha. O gesto pareceu deixar o garoto mais assustado, pois sua voz tremeu rapidamente quando fez a próxima pergunta:

— O que- O que vocês dois...?

— Viemos estudar. – Doug respondeu, torcendo para que seu rosto não corasse. Não devia, óbvio. Estudar era exatamente o porquê de estarem naquela biblioteca. – Você tinha me pedido ajuda com química, não?

— Estudar? – Sam pronunciou calmamente. Era incrível como ele não havia alterado o tom de voz, a não ser pela surpresa e um pouco de receio que permanecia em suas palavras. – Eu, você e.… ela? – O ruivo fez uma careta para Evie e ela ergueu as sobrancelhas, surpresa. Apesar disso, não disse nada e apenas observou quando o garoto pegou a mochila e empurrou a maioria das anotações para dentro, junto com as canetas e o resto do material escolar. – Acho que não. – Fechou a mochila, pôs no ombro e encarou mais uma vez a expressão confusa de Doug. – Tchau.

O ruivo contornou a mesa e passou o mais longe que podia de Evie, seguindo em direção a escada. Doug o acompanhou com o olhar, sem compreender a atitude do primo. Não imaginava que o ruivo fosse agir daquele modo, fugindo exatamente como Meg costuma fazer quando acontece os jantares em família e alguém resolve fazer um discurso.

Talvez a presença da filha da Rainha Má realmente não fosse uma coisa boa – vista pelos olhos de Sam, pelo menos.

Talvez Sam não conseguisse ver o mesmo que Doug.

— Depois meus amigos é que são estranhos. – Evie comentou, observando o ruivo atravessando o saguão principal da biblioteca rapidamente em direção as portas abertas.

— Aquele é o meu primo Sam. E ele não costuma ser assim. – Doug sentou no lugar deixado pelo primo e pegou um dos livros para ler seu título. Pelo menos era sobre o assunto que iriam estudar.

— Deixe-me adivinhar... – Evie sentou na cadeira de frente para Doug e apoiou as mãos sobre a mesa. – Filho do Soneca?

— Nem sei o que te fez pensar nisso. – Doug sorriu, abrindo a mochila para pegar o caderno. – Foi a baba em cima da mesa?

Doug ergueu o olhar ao ouvir a risada de Evie. E lá estava novamente: o sorriso espontâneo e verdadeiro que ele havia notado durante a festa. Raramente visto depois daquele dia. Apesar dos vários sorrisos da garota, Doug podia perceber a diferença daquele para os outros. A boca levemente aberta, os olhos puxadinhos, como se sorrissem.

E o fazia sorrir também.

 

...

— Aziz? – Carlos chamou, observando o ambiente em busca do garoto a quem ainda não conhecia.

Dude latiu ao ouvir uma batida próxima dos armários de equipamentos.

— Só um minuto.

Carlos seguiu na direção da voz notando os vários tacos de Tourney largados pelo chão e encontrou o garoto com metade do corpo por trás do armário de ferro. Apenas seu lado direito estava visível, enquanto este se inclinava para alcançar o que buscava.

— O que você está fazendo?

— Tentando pegar minha luva. – A voz soara abafada enquanto Aziz se espremia ainda mais. Usando a mão direita, ele segurou-se no armário e esticou a esquerda o mais longe que conseguiu. O taco que segurava finalmente alcançou a luva e ele sorriu em meio a poeira. – Ah! Acho que consegui.

Carlos deu um passo para trás quando ouviu o rangido que o armário fez no momento em que Aziz movimentou-se para voltar. O moreno suspirou, parando de se mexer. Com a mão que estava livre, ele acenou para Carlos.

— Pode me ajudar? Acho que estou preso.

— Claro. – Carlos enfiou o papel no bolso de qualquer jeito e correu para próximo do garoto. Segurando o braço de Aziz, o puxou com força e tropeçou ligeiramente quando o garoto conseguiu sair de trás do armário.

— Uf, obrigado. – Aziz passou as mãos sobre o cabelo, bagunçando-o para se livrar do pó que repousara ali. Ele sacudiu a luva e largou o taco junto com os outros.

— Como ela foi parar aí? – Carlos questionou, apontando para a luva.

— Nem pergunte. Minhas coisas tendem a sumir e aparecer em lugares improváveis. – Aziz riu brevemente e estendeu a mão em cumprimento, um sorriso simpático nos lábios. – Bom, me chamo Aziz.

— Carlos. – Apertou a mão do colega, reconhecendo agora sua voz. – Foi você que me ajudou no campo ontem, com o capacete.

— Ah, sim. – Aziz se direcionou para o outro lado do vestiário, onde tinha um capacete e algumas proteções sobre a bancada. Ele pegou também uma das bolinhas e a enfiou no bolso. – Ben me pediu para te ajudar com o treino de hoje, está preparado?

— Você é filho de quem? – Carlos perguntou inesperadamente. Aziz virou-se para o garoto, surpreso pela pergunta. – É que todo mundo fica falando quem são seus pais e essas coisas, que agora eu fico curioso.

— Entendo. – O máximo que Aziz revelava ao cumprimentar alguém era a Casa a que pertencia, já que aquele sim era um ato cordial e respeitável. A maioria dos alunos de Auradon gostavam mesmo de se gabar de seus ascendentes. Normalmente faziam aquilo por não serem capazes de fazer sua própria história e precisavam da “fama” dos pais. – Meus pais são Aladdin e Jasmine.

Aladdin? Tipo... o Aladdin da lâmpada magica, gênio e tapete voador?

— Algum problema?

Carlos desviou o olhar para Dude que se mantivera quieto a todo instante.

— Carlos, eu não quero causar nenhum problema para vocês, pode confiar em mim. – Aziz sorriu para o garoto. Ele estendeu o capacete para o de Vil e voltou a bancada para verificar se as tiras do escudo estavam firmes. – Já conheci o filho de Jafar.

— Quando?

— Na festa. Roland e eu fomos cumprimentar suas amigas, mas meu amigo acabou falando mais do que o necessário. – Aziz riu, lembrando-se da cena. Roland havia insistido muito para irem cumprimentar as garotas, mas acabara desistindo de conversar com elas ao sentir a “leve” impressão de que Jay iria bater neles.

— E o Jay viu e ameaçou vocês dois?

— Basicamente.

Os dois riram. Carlos chegara depois dos amigos na festa, então não vira isso acontecer, mas podia imaginar muito bem como teria ocorrido.

— Lonnie! – Aziz exclamou ao desviar o olhar para a porta. Carlos virou-se e encontrou uma garota asiática que parecia um pouco decepcionada em encontrá-los ali.

— Ah, Aziz. Oi. – Ela fez um aceno para ambos e olhou ao redor mais uma vez, buscando por algo – ou alguém. Baixou os ombros ao não encontrar quem procurava. – Meu irmão não veio hoje?

— Sim, mas o treinador pediu para ele buscar protetores novos na capital.

— Se o vir, diz que estou procurando por ele.

— Claro, como quiser. – O enorme sorriso no rosto de Aziz fez Carlos balançar a cabeça negativamente. Ele esperou até a garota sair, antes de questionar o colega:

— Gosta dela?

Aziz deitou a cabeça sobre o escudo.

tão na cara assim?

Carlos deu de ombro. Já havia visto aquele tipo de expressão tantas vezes que reconhecia o significado.

— Garotos fazem essa expressão para Evie a quase todo instante, então consigo perceber com facilidade.

Aziz pegou o escudo e um dos tacos, e fez um aceno para Carlos o acompanhar.

— Ela nem liga pra mim.

— Deu pra perceber. – Carlos riu pelo olhar indignado que Aziz lhe lançou enquanto saiam do vestiário e seguiam para a parte mais afastada do campo, mais próximo as arquibancadas. – Ela olhou para você sem demonstrar nenhuma emoção a mais.

— Obrigado por me animar. – Aziz ironizou, parando para pegar a bolinha que estava em seu bolso. Ele jogou para Carlos que a deixou cair. – Vamos começar com o treino ou você ainda tem outras observações a fazer?

— Eu tenho várias, tipo: Por que a água daqui é tão quente? Vocês cozinham as pessoas ou é apenas o meu chuveiro que está estragado? – Aziz riu pela pergunta, observando-o buscar a bola que derrubara. – Ou, por que não colocam um sistema de trancas nos armários? Vocês são bem inocentes em agir assim... – Nisso ele tinha razão, Aziz ponderou. Carlos jogou a bolinha de volta para Aziz que a pegou. – Mas confesso que estou ansioso para treinar, então minhas perguntas ficam para depois.

 

...

Mal fechou a porta, jogou a mochila no chão e caiu na cama, afundando a cabeça no travesseiro. A aula de Regras de Segurança envolvia muito mais números e letras do que imaginava, numa mistura completamente desnecessária. Isso sem mencionar as regras e códigos incapazes de serem memorizados e um tal de “1 e 0” que quase a fizeram explodir a tela do computador.

E agora era a cabeça dela que estava explodindo de dor.

Seu celular apitou e Mal tateou a cama para encontrá-lo. Quando finalmente encontrou, resistiu a vontade de o atirar pelo quarto e abriu um olho apenas o suficiente para poder ver que havia acabado de receber uma mensagem:

“Como está seu dia?”

Um ofegar de sofrimento escapou de seus lábios. Sério que estavam perguntando aquilo? Quem quer que fosse, deveria ficar feliz por não ter feito aquela pergunta pessoalmente.

Mal apenas digitou dois sinais de interrogação e, tão logo enviara a mensagem, afundou o rosto novamente no travesseiro.

Deve ter algum feitiço para isso, pensou. Porém, não estava com a menor coragem de levantar e pegar o livro de feitiços dentro da mochila jogada no chão.

O celular apitou novamente e Mal o pegou, deixando-o no silencioso o mais rápido que conseguira. A resposta havia chegado e não deixou a garota nem um pouco surpresa.

“É o Ben.”

Só podia ser ele.

Mal forçou seu corpo a se erguer e puxou a mochila para cima da cama, procurando o precioso livro com o desenho de um dragão na capa. Usando apenas uma mão, digitou outra mensagem ao Príncipe: “E é claro que você tem esse número.”

“Me desculpe se te deixei chateada com isso.”

“Não me importo.”. Respondeu, folheando as páginas do livro de magia. Não conseguia encontrar nada que ajudasse com a dor de cabeça no momento, e duvidava que fosse encontrar tão rápido – se tivesse alguma coisa ali. Malévola deveria ter feito um sumario naquele livro, ou pelo menos organizado os feitiços de uma maneira que desse para entender.  Ordem alfabética seria maravilhoso!

Mal jogou o livro sobre a cama, frustrada. Tudo estava uma bagunça enorme, era impossível encontrar qualquer coisa ali sem saber exatamente em que página estava.

A tela do celular iluminou-se e o símbolo de chamada atraiu sua atenção. Mal atendeu a ligação, desconfiada.

— E você se importaria se eu ligasse?— A voz risonha do Príncipe soou do outro lado da linha.

Mal revirou os olhos.

— Você já ligou.

— Assim não tem como você negar. — Pelo modo como falava, Ben ainda continuava a rir.

— Sabia que tem um botão que eu posso desligar essa chamada a qualquer segundo?

— E por que não o fez até agora?

Mal afastou o celular. O ícone vermelho destacou-se na tela e a garota hesitou, enfim escolhendo ativar o viva-voz e jogar o celular em cima da cama.

— Não me tente, principezinho.

Ben demorou um pouco a responder enquanto a atenção de Mal ia para a outra cama naquele quarto. Ela sorriu ao perceber o que era.

Eu não ousaria. — Dessa vez, a voz de Ben não soou risonha como antes; ele estava sério.

Mal não se ateve tanto a mudança de tom do garoto; coisas melhores estavam a sua frente. Jay fora extremamente rápido, a garota pensou ao analisar o que se encontrava em cima da cama de Evie.

— Estou com dor de cabeça, então será que dá pra acelerar essa conversinha?

É por isso que está mal-humorada?— Mal não se deu ao trabalho de responder. Em sua mão estava uma latinha de spray, mas não parecia muito cheia. Além do spray, alguns lápis coloridos e dois cadernos estavam em cima da cama, e mais alguns frascos que seriam para Evie – e ela não tinha a mínima ideia de como Jay encontrara aquelas coisas. – Já experimentou tomar algum remédio?

Mal pegou o celular e o encarou, ultrajada com o tom irônico que fora usado pelo Príncipe.

Por que ele estava conversando com ela, afinal? Ele não tinha nada mais importante do que manter aquela conversa desnecessária?

— Já experimentou não se intrometer? – Mal respondeu no mesmo tom.

E por que ela estava conversando com ele?

Estou cuidando. É diferente. É isso que reis fazem, cuidam de seu povo.

Mal riu, sem acreditar nas palavras do jovem Príncipe. Os vilões não faziam parte do povo a qual o Rei deveria se preocupar. E por que deveria? Não era como se merecessem, também.

Porém, ela não argumentou contra essa ideia – apesar de não deixar de retrucar:

— Você não é rei.

Ainda.

 

...

Doug fitou mais uma vez a capa do caderno que Evie tinha fechado há poucos minutos. Capa com coroas douradas e um enorme “C” no centro? Ele o reconhecia. Pertencia a seu amigo, um certo príncipe loiro mimado e que dividia o quarto com Ben.

Chad era realmente um aproveitador sem noção, do mesmo modo que era com Anxelin. E Evie estava fazendo as atividades escolares dele, pelo que parecia.

Apesar de que agora ela estava mais concentrada em músicas.

— Ouve essa. – Evie colocou mais uma música para tocar em seu celular e Doug, sentado agora ao lado dela, riu. A garota havia alegado estar entediada por “estudar o que já sabia” e pedira emprestado o fone de ouvido de Doug. Agora os dois o dividiam, ouvindo as músicas que Evie tanto gostara.

Doug olhou para o visor do celular em busca do nome da música. True Blue. A voz do cantor era grave, e o áudio parecia um pouco antigo. Contava a história de alguém verdadeiramente “azul” e descrevia sua rotina “azul” até seu encontro com outra pessoa “azul”. E, apesar da letra aparentar ser mais triste do que o ritmo transparecia, era uma música interessante já que true blue também é uma expressão idiomática que significa “Fiel de Verdade”.

— Você gosta dessa só pela quantidade de vezes que a palavra azul é dita, não é?

— É claro que não. – Evie respondeu em um tom de indignação, mas Doug viu que ela sorria. – Eu gostei da letra.

Doug franziu a testa e tirou o fone, perscrutando a expressão de Evie.

— Sabia que a palavra azul é associada a tristeza?

— Não é não. – Evie murmurou, mas Doug continuou a observá-la; os óculos em seu rosto começavam a escorregar e ele nem mesmo parecia notar. A garota mordeu o lábio inferior para evitar um sorriso e desviou o olhar, voltando-se para sua lista de músicas. – Não importa. Tenho outra música.

Doug sentiu o ar escapar de seus pulmões. Evie buscava em sua playlist a música enquanto o filho de Dunga esperava seu coração voltar a bater e sua alma retornar ao corpo, porque ele tinha certeza absoluta de que havia ido ao paraíso ao ver aquele pequeno ato de Evie.

— Doug? O fone.

— Ah, sim. – Ele esperou que seu rosto não estivesse corado; pelo menos Evie não parecera notar – ou decidiu não comentar. O garoto colocou de volta o fone a tempo de ouvir a primeira frase da música. Essa tinha um som mais animador; o ritmo completamente diferente da música anterior.

Evie acompanhava a letra, os lábios movimentando-se em silêncio. Doug se perguntou quantos vezes ela teria escutado aquela música.

— Você passou a noite baixando músicas?

— Tive que fazer alguma coisa de útil enquanto estava trancada fora do meu quarto. – Evie respondeu tranquilamente enquanto pulava algumas partes da música, parando no que provavelmente era o refrão.

— Não vou nem questionar sobre isso. – Doug murmurou, risonho. Concentrou-se na letra da música; já tinha ouvido aquela e conseguia compreender o porquê de Evie ter gostado. – Você usou essa música como uma indireta...?

Evie riu, mas não respondeu à pergunta. Ao invés disso, iniciou mais outra em sua playlist.

— Já ouviu essa?

— Não devíamos estar estudando?

—Ah, verdade. – Evie puxou os fones e colocou o celular sobre a mesa. Ela olhou para o caderno fechado e depois voltou-se a Doug com um olhar confuso. – Em que parte paramos mesmo?

Doug riu. Eles tinham perdido completamente a concentração de antes. E ele tinha adorado. Na verdade, qualquer momento em que passava na presença dela era incrível – mesmo que ficasse maior parte do tempo corado e com vergonha.

— Antes disso... – Doug pegou o fone sobre a mesa e o ofereceu de volta para Evie. – Você tem que ouvir essa música incrivelmente maravilhosa que eu baixei semana passada.

Evie riu e colocou o fone, esperando que o garoto encontrasse a música incrivelmente maravilhosa.

— Quatro e cinquenta. – Evie murmurou, observando a tela do celular de Doug. – Acha que o treino acabou?

— De Tourney? Sim, geralmente dura uma hora e meia. – Doug temia a resposta, mas mesmo assim arriscou-se a perguntar: – Por que?

— Preciso encontrar o Chad.

Tão logo finalizou a frase, a garota começou a recolher o material sobre a mesa, preparando-se para ir encontrar o filho da Cinderela.

Doug desviou o olhar.

Estava indo bem demais para ser verdade.

— Evie. – Doug segurou levemente o pulso da garota, levantando-se para fitar seus olhos castanhos. Ele baixou a voz, cuidadoso. – Você gosta mesmo dele?

— Por que a pergunta?

— Chad não está sendo... – O toque do celular da garota soou e Doug reconheceu como sendo a segunda música que Evie havia lhe mostrado naquele dia. Ele olhou para o aparelho, completando desanimadamente a frase. – ... uma pessoa muito legal ultimamente.

Doug soltou o braço de Evie e esperou que ela atendesse.

— Só um minuto. Alô? – Evie franziu as sobrancelhas rapidamente antes de seus lábios curvar-se em um sorriso. – Chad?

Doug revirou os olhos, jogando-se de volta na cadeira. Então Chad já estava com um celular novo e não tinha perdido tempo antes de pedir o número de Evie para o Ben.

— Claro. Eu passo aí em um minuto.

Doug debruçou-se sobre a mesa, observando Evie seguir em direção a escada. Ele sorriu quando ela se virou para acenar uma despedida, e bateu a testa sobre o caderno, suspirando logo depois que ela fora embora. Por que eles não podiam continuar ouvindo música como estavam antes?

Era horrível ver o quanto ela demonstrava interesse em Chad. E a garota nem mesmo pensara duas vezes antes de ir até o filho da Cinderela; até o príncipe.

Evie havia saído com tanta pressa que nem percebera que deixara seu livro de química sobre a mesa.

 

...

— Ainda está aí?

— Infelizmente. — O tom entediado usado pela garota o fez rir. Ela realmente tinha sido a melhor opção para aquele momento. O mal humor ácido dela o divertia. – Por que você me ligou?

Benjamin assinou o último papel e finalmente se sentiu mais aliviado. Colocou a folha dentro da pasta ao lado, junto com todos os outros documentos que tivera de ler e assinar na última hora. Documentos estes não só relacionados a Coroação e seu futuro como Rei de Auradon, mas, também, ao seu projeto Descendentes. Que, inclusive, ainda faltava um relatório para fazer e enviar ao Conselho.

— Consegui uma pausa e queria conversar com alguém da minha idade. – Era uma meia verdade, porém. Ele só estava cansado da reunião urgente que tivera e os comentários pretensiosos de alguns conselheiros ainda permaneciam em sua mente. Eles não estavam felizes.

E Ben precisava conversar com alguém, se distrair pelo menos. Alguém que não fosse comentar nada sobre qualquer coisa relacionado a Auradon no momento.

— Se está entediado, ligue para sua namorada. — A sugestão de Mal o fez se sentir levemente culpado por não ter pensado nisso imediatamente. Audrey provavelmente está tão ocupada quanto eu, conformou-se a si mesmo. Pelo que soubera, Audrey havia saído logo pela manhã a pedido do pai. – Ou para as milhares de pessoas que gostariam de conversar com o Príncipe de Auradon.

— Você fala como se não gostasse de mim. – Ben se queixou, percebendo logo em seguida que soara como um garoto mimado. E aquilo não o representava.

Não tenho uma opinião formada sobre você.

Ben sorriu com aquilo. Pareceu tê-la deixado desapontada, a julgar pelo suspiro descontente que ouviu do outro lado da linha. Poderia não ser a resposta que ela queria ter dado, mas foi a que ele buscava ouvir.

— Isso é bom, não? – Ben sentiu parar a limusine onde estava, o que significava que eles haviam chegado a fonte da entrada de Auradon Prep. Ele verificou se a chamada não havia sido encerrada, mas a contagem dos minutos ainda corria o que significava que Mal apenas ignorou sua pergunta naqueles últimos minutos. Seu sorriso alargou-se mais ainda. – Como está sua dor de cabeça? Quer que eu leve algum remédio para você?

Ben agradeceu ao motorista quando este abriu a porta. Pegou os papeis e os ajeitou no braço esquerdo, deixando a mão livre para segurar o celular ainda em espera por qualquer resposta de Mal.

— Mal, quer que eu leve algum remédio para você? – Questionou novamente, sentindo-se um pouco desconfortável com a falta de resposta, apesar de conseguir escutar um leve som ao fundo.

Não precisa. — Finalmente a garota respondera, e Ben conseguiu ouvir bem o riso que agora preenchia sua voz. – Você é um pouco carente, não?

— Talvez. – Respondeu no mesmo tom. Ele estava gostando cada vez mais de conversar com ela. – Está ocupada agora?

— Estou. — Dessa vez, a resposta fora rápida. – E muito, por falar nisso. Então, tchau.

As palavras seguintes escaparam de sua boca antes que o Príncipe tivesse sequer pensado direito sobre elas:

— Algum dia eu posso ver seus desenhos?

A Fada Madrinha havia comentado com ele o fato de que Mal passara boa parte da aula focada em desenhar e, pela obra feita pela garota no armário, Ben ficou interessado em ver. Afinal, ele também era um amante por arte – secretamente, claro.

— O que? — O choque surpreendente ficou claro na voz de Mal e o garoto ficou sem graça – mesmo que ela não pudesse vê-lo no momento. Provavelmente aquele seria um assunto particular à garota. – Tchau, Benjamin.

Foi a última coisa que Ben ouviu antes da chamada ser encerrada e seu pedido ser esquecido.

 

...

— Seu amigo é bem estressadinho. – Chad comentou enquanto jogava-se no sofá com a mochila sobre o colo. Evie sentou-se no braço do sofá, de frente para o garoto. A sala de estar estava vazia, Chad fizera questão de expulsar o jovem auradoniano que estivera assistindo a um filme, minutos antes. – Ele não deveria arrumar briga com todo mundo que passa na frente dele. – Chad aconselhou, virando-se para Evie. – Pode acabar se dando mal.

Evie pôs a mão sobre o peito de Chad, afastando-o quando ele se inclinou em direção a ela.

— O que aconteceu?

— Já foi resolvido. – Evie continuou o fitando, esperando uma resposta melhor do que aquela. O comentário feito por Chad não havia saído tão casualmente quanto o loiro queria transparecer e Evie sabia que se isso envolvia Jay, alguém provavelmente teria saído machucado. – Foi só uma discussão que ele teve com um garoto do time. Nada demais.

Evie não achava que estivesse tudo resolvido, principalmente por ser Jay o envolvido nessa discussão. Porém, Chad mudara de assunto antes que ela pudesse expor sua dúvida sobre como realmente acontecera.

— Como foi que você conseguiu responder esses exercícios tão rápido? – Ele folheou o caderno que Evie havia lhe entregado assim que se encontraram. Chad se conteve para não rir ao ver os exercícios passados pelo professor Deley completamente respondidos.

— Ahn... tive uma ajudinha. – Evie respondeu, hesitante. – Mas ainda tem aquela pesquisa de História dos Reinos. Poderíamos fazer juntos mais tarde, o que acha?

— Esse seu espelho é incrível. – Chad comentou, ignorando a pergunta que a garota fizera. Ele guardou o caderno e lançou um olhar rápido em direção a bolsa de Evie. – Queria que meus pais me dessem algo desse tipo.

— Seus pais são a Cinderela e o príncipe encantado. – Evie suspirou ao dizer. – Uma das histórias de amor verdadeiro mais conhecida de todos os reinos.

— É, eu realmente tenho muita sorte. – O orgulho na voz de Chad era quase palpável sempre que falava de seus pais. – Mas esse espelho ainda é incrível. Você poderia me emprestar no dia da prova.

— Ah, não. Ele só funciona comigo. – Evie direcionou ao garoto um sorriso forçado. O espelho era um presente de sua mãe, apesar de que só fora entregue a Evie para que conseguisse concretizar o plano do roubo da varinha, mas ainda assim, era um objeto extremamente valioso e poderoso. Ela não devia nem mesmo ter revelado ao loiro, se não fosse para fazê-lo acreditar que Evie não era tão inteligente – assim como a Rainha Má costumava sempre afirmar que inteligência não atrairia seu príncipe.

— Que pena. – Chad procurou não parecer tão desapontado com a resposta que recebera; esperava que fosse outra. Ele apoiou o joelho sobre o sofá e aproximou-se mais da garota. – Então só me resta agradecer por ter me ajudado com o dever.

O loiro segurou na cintura de Evie e sorriu, aproximando seus rostos. Evie não o afastou dessa vez, ela fechou os olhos em resposta. Porém, ao invés de beijá-la como esperava, Chad apenas apoiou a testa na dela, sussurrando um pedido:

— Quer sair comigo amanhã depois do jogo?

No mesmo tom, e sem afastar-se, Evie o respondeu:

— Adoraria.

O sorriso de lado de Chad foi a primeira coisa que Evie viu ao abrir os olhos quando o sentiu afastar-se. O breve toque do novo celular dele fora o motivo.

— Eu... eu preciso ir. – Chad anunciou, com o olhar ainda no visor do celular.

— Agora?

— Deveres de príncipe. Não é só o Ben que está ocupado nesses dias. – Chad respondeu sem nem a olhar. Começou a digitar alguma coisa no celular e, com a outra mão, puxou a mochila sobre os ombros.

— Nos vemos depois? – Evie perguntou esperançosa, mas não recebeu resposta nenhuma do garoto que acabara de sair de maneira apressada sem nem mesmo lançar um olhar para trás. – Maravilhoso.

 

...

— Mal? Está dormindo? – Carlos abriu um pouco mais a porta, colocando metade do corpo para dentro do quarto. O treino havia acabado a poucos minutos e ele não encontrara nenhum dos amigos no caminho de volta. Jay ficara para conversar com o treinador e Evie... preferia não saber o que ela andava aprontando naquele castelo. Então sobrara a filha da Malévola.

— Não. – A voz da garota soara abafada, provavelmente pelo fato dela estar com o travesseiro sobre a cabeça.

Carlos entrou no quarto e colocou Dude no chão, fechando a porta atrás de si. Jogou a mochila sobre a mesa e aproximou-se da cama da amiga.

— O que você tem?

— Dor de cabeça.

— Não sabia que você sentia dor de cabeça.

— Não sou imune a todas as doenças, Carlos. – Mal levantou a cabeça em direção ao amigo, mas foi o animal sentado observando o novo ambiente que lhe chamou a atenção. Ainda era uma surpresa muito grande ver o quanto Carlos não se intimidava com o animal, ainda mais depois de todas as histórias que sua mãe contava – ele havia compartilhado algumas delas com os amigos. Mal apontou para o animal. – Você pode trazer esse cachorro para dentro do castelo?

— Tem problema?

Mal fitou o cachorro antes de responder. Dude ainda permanecia no mesmo lugar em que Carlos o deixara e agora fitava com a cabeça inclinada o filho da Cruella.

— Por mim, não. – Mal deu de ombros, afundando a cabeça de volta no travesseiro. Desde que ele não destrua o quarto e faça Evie pirar. Só de imaginar os gritos agudos que viriam de sua amiga, o latejar em sua cabeça piorava.

Carlos observou um pouco mais a garota deitada de bruços. Ele queria fazer uma pergunta a ela, mas não tinha exatamente certeza de como começar. E receava como essa pergunta seria recebida.

Mal notou uma movimentação no quarto e ergueu um pouco a cabeça, o suficiente para notar Carlos indo em direção as grandes janelas do quarto.

— O que está fazendo?

— Fechando as cortinas. – O garoto respondeu no momento em que realizava a ação, diminuindo assim a luz que incidia no quarto. – Melhorou?

— Muito.

Carlos aproximou-se da cama de Mal, ponderando se aquela realmente era a hora para expor o que passava em sua cabeça sobre a situação deles em Auradon. O garoto sentou no chão, ao lado da cama, e Dude aproximou-se do amigo, colocando a cabeça sobre a perna dele.

— Mal? – Chamou ainda hesitante.

— Estou ouvindo.

— Sente falta da sua mãe?

Mal ergueu a cabeça perante a inesperada pergunta. Ela tinha tentado não pensar tanto na mãe desde aquele acontecimento no museu, porém sempre acontecia alguma coisa para lembrá-la de novo – assim como ocorria com aquele estranho sonho.

— Minha mãe, a incrivelmente assustadora Malévola? – Mal apoiou a mão sobre o queixo, sua voz soando amarga. – Não sei do que eu poderia sentir falta.

— Mas ela ainda é a sua mãe...

— ... que sempre enfatiza o quanto eu não mereço ser chamada pelo meu nome real. Além do fato dela me fazer estudar todos aqueles planos toscos dos vilões da antiga geração. – Aquela ideia de apreender com os erros de seus “antepassados” era ridícula na visão de Mal. Ainda mais quando ela tinha que ficar confinada na presença imponente de sua mãe e rodeada de repugnantes livros cheios de poeira, com páginas tão velhas que se desfaziam ao menor dos toques. E ela sempre era punida quando isso acontecia. – Como eu sentiria falta dos capangas dela me perseguindo sempre que eu saia de casa ou dos gritos dela cada vez que eu pegava meu caderno de desenhos?

— Então você...

Mal suspirou.

— Eu nem ligo mais para isso, já me acostumei.

— Eu não. – Carlos confessou, as palavras saindo rapidamente de sua boca. – Na verdade, estão sendo os dias mais tranquilos da minha vida.

— Estamos aqui há poucos dias, nem deu tempo de ter saudades.

Carlos deu de ombros. A verdade era que aqueles poucos dias pareceram uma eternidade muito boa comparado a todos os anos em que viveu na Ilha dos Perdidos. Sua vida lá parecia um mero pesadelo – que talvez nunca poderia ser deixado para trás e que provavelmente retornaria assim que eles conseguissem roubar a Varinha Mágica.

Mas, caso conseguissem realmente realizar essa façanha, talvez sua mãe o deixasse em paz. Pelo menos por um tempo, o suficiente para continuar aproveitando a vida sem ouvir gritos, brigas e reclamações contra si. Apenas ter tranquilos dias onde ele ficaria com seus amigos, fazendo algo que gostasse, sem ter a preocupação de que, quando voltasse para casa, seria trancado no armário de casacos, sem escolha a não ser dormir encolhido para evitar as armadilhas que sua querida mãe guardava.

Um lugar calmo, era o que queria. Do mesmo modo como... era em Auradon.

— Eu tive treino hoje. – Carlos comentou. Dessa vez ele direcionou seu olhar para Mal, apesar de não conseguir ver com clareza a expressão da garota. – De novo.

— Achei que não tivesse gostado.

— Eu gostei. – Declarou verdadeiramente. E se sentiu bem com aquilo, apesar de ser Mal a pessoa que o estava ouvindo dizer aquelas coisas – sendo ela a responsável pelo plano da varinha, dominação mundial e tal – ele não se importou. Ela também era amiga dele, aquilo deveria ser mais importante. – Quer dizer, ainda estou com muito medo de levar uma surra e ser massacrado no campo, mas... – Ele não tinha realmente pensado sobre isso no dia anterior, mas agora parecia apenas... – É divertido.

Primeiro o cachorro e agora esse esporte, a garota pensou, apesar de não dizer nada. A princípio.

Virou-se para observar o amigo, como este fizera antes. Ele havia baixado o olhar para o cachorro em seu colo, mas Mal ainda conseguia notar o diferente sorriso que Carlos tinha em face.

Auradon estava o conquistando.

— Carlos, você sabe o porquê de estarmos em Auradon.  – Mal sentou-se sobre a cama; sua voz séria fazendo Carlos fitá-la. – Pegar a varinha, derrubar a barreira mágica e libertar nossos pais daquela prisão.

Aquelas eram palavras que ela sempre repetia para si mesma antes de dormir e ao acordar desde que chegaram em Auradon – por mais difícil que estava conseguir realizar aquele plano, ainda assim não se tornara impossível.

— Eu sei. Mas, Mal-

A garota desviou o olhar, porém sua voz soou mais firme do que esteve em toda aquela conversa.

— Não podemos decepcionar nossos pais.

— Eu sei disso, Mal. – Carlos repetiu, mas não pode se impedir de confidenciar mais um fato: – Aqui é tão diferente do que eu imaginava. Parece errado fazermos isso.

Mal não o contraditou. Não poderia dizer que o amigo estava errado ao confessar aquilo, não quando ela mesma já pensara algo parecido. E aquele pensamento não a abandonava desde o momento em que surgiu em sua mente pela primeira vez – quando estavam no museu.

Assim como a voz de sua mãe também nunca saia de sua cabeça, lembrando-lhe qual era o objetivo deles – qual era a missão dela.

— Carlos. – A voz de Mal pode ter soado mais baixa do que de costume, mas o tom firme ainda permanecia. – Eu não posso decepcionar a minha mãe.

E aquela frase pôs fim a conversa.

 

...

Jay cruzou os braços e reclinou-se sobre a arquibancada, observando o campo agora completamente vazio. Já havia passado uns bons minutos em que estivera sentado ali, à espera do treinador. Este havia lhe pedido para que esperasse após o treino e Jay assim o fez. Um pouco nervoso, admitia a si mesmo.

Pouco antes do término do treino, treinador Jenkins anunciara que o time tinha um jogo marcado para o dia seguinte, contra um dos rivais clássicos dos Cavaleiros Lutadores: os Falcões de Sherwood. Pelas reações que vira dos outros jogadores, Jay entendera que aquele seria um jogo muito importante. E difícil.

Até mesmo ele ficara animado com a possibilidade de enfrentar um time forte e não os delicados príncipes de Auradon.

Assim que terminou de guardar todos os equipamentos, treinador Jenkins voltou do vestiário e seguiu em direção a Jay; uma camiseta azul estava jogada sobre o ombro do homem e ele segurava o que parecia um pequeno livro.

— O que achou do treino de hoje? – Questionou, parando na parte mais baixa da arquibancada, de frente para o garoto.

— Eu fui incrível! – Jay respondeu, orgulhoso de si mesmo. O treino de hoje foi bem satisfatório: marcou quatro dos cinco gols do jogo e derrubou quase todos os jogadores que tiveram o azar de ficar no time oposto.

— É, você foi. – Jenkins o observou por alguns segundos e, por fim, estendeu o pequeno livro para o garoto. Diante do olhar confuso de Jay, Jenkins riu antes de esclarecer: – É o livro de regras. Sempre é bom conhecer as regras de um jogo se quiser se sair bem.

— Eu não preciso disso. – Jenkins ignorou o murmúrio ríspido de Jay, pois viu que o garoto folheava as páginas do livro de regras com certa curiosidade.

O treinador subiu os dois lances da arquibancada e sentou-se ao lado de Jay.

— Eu vou fazer uma pergunta e quero que você seja honesto comigo, certo?

Jenkins encarou o garoto, esperando sua confirmação, e ignorando o sorriso travesso que se fez presente nos lábios de Jay.

— Claro, treinador.

A expressão travessa passou brevemente pelo rosto de Jay, mas sumiu ao notar a expressão séria do treinador. Quando Jenkins falou, sua voz possuía um tom de seriedade que impressionou Jay mais do que a pergunta proferida.

— Por qual motivo você participou do treino de hoje?

A resposta, no entanto, fora rápida.

— Fada Madrinha nos colocou nisso.

Não era a resposta que Jenkins queria, o filho de Jafar percebeu ao vê-lo franzir a testa. Porém aquela era a verdade. Tanto Jay quanto Carlos só estavam participando daqueles treinos porque a Fada Madrinha resolvera interferir e os incluir no Tourney.

Mas... era apenas isso?

— Não. Ela inscreveu vocês dois apenas no treino de ontem. Você não tinha nenhum motivo para aparecer aqui hoje, Jay. Mas veio. E eu quero saber o porquê. – Jenkins frisou. Ele apoiou ambos cotovelos sobre os joelhos e cruzou as mãos embaixo da cabeça, fitando o campo. – Seja sincero: veio participar do treino apenas porque a diretora disse para fazer isso?

Jay não respondeu a princípio. Fitou a capa do livro de regras em suas mãos, a lembrança do treino anterior retornou a sua mente. O sentimento de euforia que sentira era a resposta para a pergunta do treinador.

— Não, eu vim porque gostei do treino de ontem que me deixou muito empolgado para hoje. – Jay respondeu firme, erguendo o olhar para o treinador. – Eu acredito que sou capaz de entrar no time, e eu queria muito.

— Por que? – Jenkins tornou a perguntar, intrigado pelo rumo em que a conversa seguia.

— Tourney é.… muito diferente do que eu imaginava. Há muito mais violência do que aparenta, mas a sensação de liberdade e euforia que eu senti em campo...

—... foi diferente? – Jenkins completou ao ver que o filho de Jafar encontrava dificuldades em encontrar as palavras.

— Não diferente, mas sim memorável. Me fez lembrar de casa. – Pelo menos da parte feliz, completou em pensamento. Não era mentira, no entanto. Aquele sentimento de excitação e vivacidade que ele só conseguia encontrar quando estava acompanhado de seus amigos, fazendo baderna pelas ruas da Ilha dos Perdidos enquanto riam... nunca imaginou que sentiria aquilo em Auradon, terra dos contos de fadas entediante. – E eu quero muito participar do jogo de amanhã.

— Era isso que eu queria ouvir. – Jenkins sorriu, satisfeito de ter ouvido aquela frase e orgulhoso pelo garoto ter expressado o que realmente passava pelo seu coração. – Eu preciso de um cara durão como você. Porque o time é um bando de príncipes, se entende o que eu digo.

— Nossa, nem me fala. É tipo: “primeiro você, amigão. Oh, desculpe-me, eu esbarrei em você. ”.

Jenkins riu pela imitação exagerada de Jay. O time não chegava a ser daquele jeito, mas o treinador não podia deixar de pensar que precisavam de mais fibra e coragem para enfrentar os novos times daquele ano.

— De onde eu venho, é prepare-se para sofrer, mané. – Jay continuava com sua empolgação, dessa vez jogou o livro de regras no chão e levantou-se, bradando estoicamente: – Igual o meu pai disse: “o único jeito de vencer é ter certeza de que todos os outros percam-”

— Jay, Jay, Jay... – Jenkins levantou-se, segurando o braço do entusiasmado garoto procurando acalmá-lo. – Deixa eu explicar o time. – O treinador conseguiu fazer o garoto sentar-se novamente, enquanto pensava em uma forma de explicar o conceito de um time. – Ahn, é como uma família.

— Você não ia querer estar na minha casa na hora do jantar.

— Tudo bem, tudo bem. – O tom usado pelo garoto fez Jenkins nem querer imaginar esse momento de Jay e sua família. –  Er.... Sabe como o corpo tem várias partes diferentes? As pernas, cotovelos, orelhas... – Jay fitava seus gestos estranhos, mas ouviu atentamente o que o treinador dizia. – Mas todos precisam uns dos outros. É exatamente isso que um time é: jogadores diferentes que trabalham juntos para ganhar. Faz sentido para você?

Ele entendeu sim ao que o treinador se referia. Não era assim que acontecia com ele e seus amigos? Eram um time perfeito, um complementava o outro e protegiam-se mutualmente. Desde que se conheceram, não passaram mais de um dia longe um dos outros, seja fazendo brincadeiras e pegadinhas, ou apenas encontrando-se no esconderijo para esquecerem por um momento o lugar em que moravam.

Apesar de que não conseguia identificar a que parte do corpo Mal, Evie e Carlos representavam, de acordo com a analogia de Jenkins. Jay sabia exatamente qual era a sua.

Ele virou-se para o treinador, erguendo a mão fechada para enfatizar sua pergunta:

— Eu posso ser o punho?

Em resposta, Jenkins puxou a camiseta azul do ombro e a abriu. Jay abriu a boca em surpresa ao observar seu nome escrito acima do número 8. Ele hesitou em pegar a camiseta.

— Mesmo eu sendo da Ilha dos Perdidos?

— Garoto, não me importo em onde você nasceu e cresceu. – Jenkins respondeu, sendo o mais verdadeiro possível em suas palavras. – Você tem um talento incomparável, apenas precisa focalizar melhor sua força em campo. – Ele riu brevemente ao ver o revirar de olhos de Jay com aquela frase. – Acredite no que eu digo, se você quiser permanecer jogando, terá um futuro brilhante esperando por você, jovem atleta. E eu garanto que vou te ajudar a conquistar isso.

Ele estendeu novamente a camiseta e Jay dessa vez a segurou. Aquela era a confirmação de agora era um jogador oficial dos Cavaleiros Lutadores de Auradon.

— Obrigado, treinador Jenkins.

— Então... vai ser meu camisa oito e vencer o jogo de amanhã?

Nós vamos vencer amanhã, treinador.

— Isso mesmo, meu garoto. – Jenkins bateu no ombro de Jay, sorrindo ao vê-lo ainda fitar a camiseta. – Agora pode ir, acho que você está louco para mostrar para os seus amigos.

— Okay. – Jay levantou-se em um pulo, mas antes que pudesse seguir para o castelo precisava revolver um outro assunto. – Carlos vai entrar para o time?

Jenkins ponderou sobre a pergunta. Pelo primeiro treino, o garoto não apresentou muito talento em campo. Porém, Benjamin havia se encarregado pessoalmente de treiná-lo e isso demonstrava que ele havia visto algum potencial no jovem de cabelos brancos.

— Ainda não me decidi. – Jenkins respondeu. Apesar de tudo, ainda precisava analisar os relatórios dos treinos particulares de Carlos para tomar qualquer decisão. Afinal, não poderia expor o garoto a um jogo em que este pudesse acabar se machucando.

— E para o jogo de amanhã?

— Verei isso. – Jenkins inclinou-se para pegar o livro que Jay esquecera no chão e o jogou para o garoto, que se encontrava agora na parte mais baixa da arquibancada. – Não esqueça de ler as regras.

— Até mais, treinador!

 

...

— Use protetor solar.

Evie abriu as cortinas, apesar dos protestos de Mal.

Evie!— Mal vociferou, irritada. Dude se encolheu e Carlos acariciou a cabeça do cachorro, acalmando-o.

Evie apenas riu deles. A garota colocou a mochila de Carlos no chão e abriu um dos livros que estavam sobre a mesa. Fazer o dever de Chad a deixara sem tempo de fazer o seu próprio, mas valeria a pena o tempo perdido. No fim, depois do encontro deles provavelmente, Evie ficaria com o príncipe que sua mãe sempre quisera para ela.

E, tanto para garantir isso quanto para ajudar Mal com o plano, precisavam fazer o mínimo possível para não chamar mais atenção – o que já não estava indo muito bem. Ir mal nas aulas levaria a problemas com professores e, naquele lugar tão perfeito, logo acarretaria em expulsão e voltariam para a Ilha dos Perdidos sem ter conseguido nada.

Pelo menos um deles deveria ir bem nas aulas, Evie pensou ao abrir o caderno para começar o trabalho de História dos Reinos. Não era como se fosse um enorme sacrifício para Evie, apenas tomaria tempo. Mas nada que seu Espelho Mágico não ajudasse.

— Gente. – Mal chamou a atenção dos amigos. – Mensagem da Jane.

Mal leu a mensagem em silencio, enquanto seus amigos voltavam suas atenções ao que faziam antes. A filha da Malévola pressionou o maxilar com força e atirou o celular sobre a cama. Felizmente, este apenas afundou no travesseiro.

Celular e Mal não parecia uma combinação muito saudável.

Carlos afastou-se de Mal e foi em direção a sua mochila, retirando o notebook que Jay lhe entregara – provável objeto de furto que Carlos nem entendera ainda como o amigo havia encontrado.

— Vou procurar alguma informação que nos ajude com a varinha. – Pela reação de Mal, Carlos sabia muito bem que o conteúdo da mensagem não fora nada positivo para a situação deles. Assim como também sabia que a garota não ia se acalmar enquanto não encontrassem outra solução, e era melhor começar a procurar rapidamente.

— Isso está começando a ficar ridículo. – Mal reclamou, não soando tão irritada quanto Carlos esperava. A própria garota já não tinha esperanças de que o plano com Jane iria funcionar, mas ainda era frustrante saber que havia dado errado. Ela sentou-se sobre a cama de Evie e pegou o livro de feitiços que deixara ali.

Estava na hora de encontrar o plano “B”.

 

...

Chad saltou do banco assim que viu a limusine branca parar em frente a fonte do Rei Fera. Enquanto aproximava-se, viu o motorista correr para abrir a porta de seu passageiro. Audrey desceu do carro, sorrindo agradecida ao motorista; estava mais bem-disposta a enfrentar o novo ambiente de Auradon Prep., depois do relaxante momento de compras que tivera na companhia de seu pai.

— Hey, Audrey! – Chad direcionou um aceno para o motorista e pegou as três sacolas que a garota segurava. – Eu te ajudo com as sacolas.

— Obrigada, Chad. – Audrey tirou os óculos e pôs a mão na cintura, sorrindo para o loiro. – O que acha?

— Mais linda impossível.

O sorriso de Audrey aumentou pela resposta que recebera, não que esperasse coisa diferente.

Caminharam em silencio, seguindo em direção ao castelo. Chad lançava olhares para Audrey, mas a garota apenas fitava seu celular. O loiro pigarreou quando passaram pelas grandes portas de madeira, decidido a acabar aquele silencio.

— Como foi na Capital?

— Melhor impossível! – Audrey exclamou, guardando o celular em sua bolsa. Apontando para as sacolas que Chad segurava, completou: – Rei Phillip sabe do que a filha precisa.

— Eu poderia ter ido com você.

— Não, Chad. Eu precisava de um momento com meu pai. – Era verdade. Eles não passaram muito tempo juntos durante as últimas férias, já que rei Phillip precisava viajar quase todos os dias para resolver o problema de agua que assolava uma cidade distante a Capital. Então aquela fora uma oportunidade de pai e filha apenas aproveitarem a tarde juntos, passeando em shoppings e conversando. Inúmeros assuntos formaram a pauta da conversa, incluindo uma sobre os alunos da Ilha dos Perdidos. Seu pai, sempre preocupado em como ela estava, lhe questionou sobre como estava depois da vinda da filha da Malévola e se esta estava lhe causando algum mal. Outra pergunta, dessa vez uma que ela não esperava, foi feita sobre seu relacionamento com Benjamin. – Ele perguntou como vai meu namoro com o Benny.

Chad quase derrubou as sacolas enquanto subia os degraus para a área dos dormitórios femininos, mas procurou esconder sua surpresa e ansiedade ao questionar:

— O que você respondeu?

Perfeito. O que mais eu poderia responder?

— Prefere mentir para o seu pai?

— Dos males, o menor. – Audrey respondeu parando ao chegar na porta de seu quarto. Ela relembrou o quanto hesitara em contar a verdade ao pai, mas preferira mentir ao ter que frustrá-lo. Então apenas disse que seu namoro estava melhor a cada dia, e isso o deixou feliz. – As coisas vão voltar a ser o que eram antes, tenho certeza disso.

— Você sabe tanto quanto eu que isso não é verdade.

Audrey não o respondeu.

Chad olhou para os lados, verificando o corredor. Ao notar que não havia ninguém por perto, aproximou-se mais de Audrey. A garota percebeu a intenção do loiro e colocou as mãos no peito dele, empurrando-o para fora do quarto.

— Nem pense nisso.

— Não é como se nunca tivéssemos feito. – Chad revirou os olhos, entregando as sacolas de compras para a garota. – Achei que fosse terminar com o Ben.

Novamente, Chad não recebera uma resposta.

— Você nem mesmo gosta dele como antes! – Chad irritou-se consigo mesmo, com a situação confusa em que estavam, com seus sentimentos conflituosos, com a culpa que sentia mesclado ao amor que sentia por aquela garota.... Sabia que não devia, mas sentia uma pontinha de raiva por Audrey não pôr um fim em seu relacionamento com Ben. – Admita, esse relacionamento ainda está de pé por causa do Rei Adam e do seu pai.

— Não é só por isso...

Audrey desviou o olhar, lembrando-se da primeira vez em que beijara Chad e a situação teve um resultado completamente desastroso. Mesmo sem admitir ao loiro, ela se arrependia daquele gesto.

E agora se encontravam mais uma vez na mesma situação de antes.

— Vocês nem passam mais tempo juntos!

— Por causa daqueles delinquentes da Ilha dos Perdidos! – Audrey enfurecia-se sempre que lembrava o quão animado Ben estava com aquele plano inconsequente. Ela sabia que uma hora ou outra, tudo iria desmoronar. – Ben está se dedicando muito a eles.

— Com uma em especial, se você não lembra. – Chad provocou, observando a reação que causaria.

— Aquela garota...

— Se ele te amasse como todo mundo acha, não estaria trocando você pela Mal!

Aquelas palavras atingiram Audrey de maneira arrasadora. Saber que seu atual namorado demonstrava interesse por uma vilã, e ainda por cima filha da mulher que quase acabara com a vida de sua mãe e ele parecia nem mesmo se importar com isso – ou tentar esconder...

Era demais para aguentar.

— Audrey, me desculpe.... Eu não quis...

— Se fosse só ele. – Audrey murmurou amargamente. Lembrava-se muito bem do que ouvira de algumas garotas na noite anterior, durante o jantar. – Você saindo com a filha da Rainha Má também não é segredo para ninguém!

Chad virou o rosto, não suportando encarar o furioso olhar que Audrey lhe direcionava.

O fato de Chad não ter ousado nem mesmo negar aqueles boatos fizeram com que a raiva em Audrey aumentasse. Ela entrou no quarto e fechou a porta com violência, deixando o jovem encantado aflito em meio ao corredor vazio.

 

...

— Queria saber a necessidade de ter tantos feitiços do amor. – Mal resmungou ao ver mais uma vez a descrição de uma poção para conseguir o amor de alguém; esta provavelmente já era a quinta que via, incluindo feitiços e encantamentos. – Que inútil.

— O amor não é inútil, Mal. – Evie respondeu sem desviar o olhar do caderno. Ela franziu o cenho ao refletir sobre o que falara, o lápis pairando sobre o caderno. – Ou é?

— Yohoho!

Um Jay extremamente animado irrompeu no quarto, fazendo pose para exibir sua camiseta azul do time. Ele estava ofegante por ter corrido o caminho todo do campo ao castelo, mas isso não chegara nem perto de desfazer o sorriso em seu rosto.

Carlos assobiou e sorriu, feliz pelo amigo ter conseguido entrar no time. Ao contrario deste, ambas as garotas continuaram concentradas em suas tarefas: Evie, com seu espelho erguido em frente ao rosto, voltou a copiar em seu caderno as respostas que eram exibidas pelo objeto magico; e Mal, sentada sobre a cama, permanecia folheando o livro de feitiços em busca de algo útil para conseguir roubar a Varinha.

Jay nem se incomodou com a falta de reação de suas amigas e, ainda sorridente, aproximou-se de Mal.

— Seu plano funcionou com a Jane? Você vai lá ver a varinha?

Mal ergueu o olhar do livro, mas não fitou nenhum de seus amigos. Sua mente estava vazia de ideias que poderiam ser usadas para conseguir completar aquele plano o mais rápido possível.

Então nada de plano B até agora.

— Você acha que eu ia ficar lendo todos os feitiços desse livro se eu não tivesse pisado na bola geral? – Além disso, Mal já estava começando a se irritar com aquele livro e a dificuldade em que estava para encontrar alguma coisa de útil.

Aquilo deveria ser fácil para a filha da Malévola, então porque haviam feitiços naquele livro que ela não tinha a mínima ideia da utilidade?

Sua irritação transpareceu em seu tom de voz, pois até mesmo Evie a olhou com receio, apesar de não comentar nada. Jay afastou-se da cama, fazendo um gesto para que Mal se acalmasse.

— Ah, tem gente que de mal humor. – As palavras escaparam da boca de Carlos antes que ele pudesse medi-las. E a consequência de sua frase foi o peteleco que recebeu da garota.

— Minha mãe está contando comigo, não posso deixá-la na mão.

 

...

Ben ergueu a mão e tornou a baixá-la mais uma vez, ainda não completamente certo sobre o que iria dizer. A ligação que recebera de seu pai, meia hora atrás, o deixou preocupado. Apesar do relatório sobre o projeto ainda não ter sido entregue ao Conselho, algumas informações já foram repassadas a seus membros – provenientes de seus próprios filhos, provavelmente. O preocupante era que alguns dos membros, incluindo o rei Phillip, demonstravam uma insatisfação cada vez maior em relação ao projeto do jovem Príncipe e herdeiro.

A reunião com o Conselho seria realizada no fim de semana e, dependendo da avaliação do primeiro relatório, o projeto poderia ser revogado e os jovens da Ilha dos Perdidos seriam mandados de volta – seu pai fora bem enfático ao dizer isso.

E Ben se empenharia cada vez mais para que aquilo não acontecesse.

Repassou mais uma vez na mente o porquê de estar ali – perguntar se tinham alguma dúvida, oferecer ajuda e convidá-los para assistir um filme ou ir para a sala de jogos –, e deu cinco batidas rápidas na porta. O tempo de espera não foi grande, pouco menos de um minuto, mas foi tempo suficiente para que suas mãos começassem a suar. O que era estranho, considerando que seria apenas uma conversa normal e não havia nenhum motivo para que ele ficasse tão nervoso – pelo menos era o que dizia a si mesmo enquanto esfregava as mãos no momento em que a porta fora aberta.

Ele sorriu para a garota de cabelos roxos.

— Oi, Mal. – Ela o olhou de volta, esperando que ele continuasse. As palavras começaram a escapar de seus lábios mais rápido do que o normal, enrolando-se. – Eu não vi vocês hoje e estava pensando se.… tinham alguma pergunta ou alguma coisa... que precisam?

— Não que eu saiba. – Mal respondeu, olhando para seus amigos atrás de si. Os três acenaram em negação.

— Tudo bem, beleza. – Ben hesitou antes de afastar-se, esfregando as mãos. As palavras que antes iria dizer, pareceram sumir de sua mente. Ele estava conversando com ela há pouco tempo, por que estava tão nervoso?— Bem, se precisarem de alguma coisa, é só...

— Oh, não, espera! – Mal exclamou, chamando-o de volta. A revelação que Evie fizera poucos segundos antes do Príncipe aparecer iluminou sua mente. E apesar de não entender porque Evie não havia lhe contado nada sobre a Coroação antes, precisava saber se realmente era verdade. – Ahn, é verdade que todos podem ir na sua Coroação?

Ben aproximou-se novamente, sorrindo.

— É, a escola toda vai.

— Uau, isso é pra lá de emocionante. – Mal quase riu ao perceber que o sorriso de Ben se tornara mais enfático. – Acha que é possível nós quatro ficarmos na primeira fila, do lado da Fada Madrinha para nós podermos aproveitar toda aquela bondade?

Nesse momento, Jay, Evie e Carlos já haviam entendido o pretexto para aquele dialogo. Esperaram, ansiosos pela resposta do Príncipe, mas infelizmente não foi a que esperavam.

— Eu queria que pudessem. Mas na frente sou só eu, meus pais e minha namorada. – O sorriso no rosto de Ben se desfez. Havia ficado feliz ao notar a animação dos jovens por algo de Auradon, ainda mais sendo a sua Coroação, porém não poderia colocá-los tão próximos. O espaço era reservado e determinado por certa hierarquia: primeiro os mais próximos ao Rei e futuro Rei, e depois o Conselho.

As duas últimas palavras ecoaram na mente de Mal, assim como uma vaga lembrança de uma página do livro de feitiços.

Sua namorada? — A garota repetiu lentamente.

— É, eu sinto muito.

O Príncipe parecia realmente culpado por algo, porém Mal não estava mais concentrada naquela conversa. Sua mente começou a trabalhar de forma frenética, e ela já tinha uma ideia do que fazer a seguir.

, obrigada. Tchau! – Com um sorriso exagerado, Mal se despediu de Benjamin.

— Ah, não, espera! – Ben esticou a mão para impedir que a garota fechasse a porta, lembrando-se do pedido que queria fazer. – Mas tem outras coisas...

Ele interrompeu-se, a porta fechada encerrara a conversa.

 

...

Mal encostou-se na porta, um sorriso brincando em seus lábios enquanto fitava seus amigos.

— Acho que está na hora do Bennyboo arrumar uma namorada nova. – Jay não entendera a fala de Mal, mas sabia que a mente maligna da garota já havia planejado tudo. Ao contrário dele, Evie entendera perfeitamente o que a amiga estava propondo, e entendera mais ainda o sorriso que permeava seu rosto. – Preciso de um feitiço de amor.

Carlos jogou o livro de feitiços para Mal e esta o pegou, animada com o plano em sua mente. A risadinha suave de Evie chamou a atenção dos outros três. A filha da Rainha Má fitava a amiga com uma expressão divertida.

— Ah, Mal. Esse sorrisinho fica muito lindo em seu rosto, sabia disso?

— Não estava sorrindo. – Mal murmurou em negação. Ela pressionou os lábios e tinha certeza de que Evie continuaria a provocar-lhe, mas a garota não o fez.

Evie apenas a fitava, a expressão divertida ainda permanecia em seu rosto.

— Então... – Jay pigarreou, com o objetivo de discutirem sobre algo realmente relevante para eles naquele momento. – Sobre a Coroação...?

— Ah, verdade. – Mal pos as mãos sobre a mesa em que estavam os materiais de Evie. – Por que não me contou sobre a Coroação antes?

Jay revirou os olhos. Não era aquilo que queria saber.

— Eu esqueci.

A resposta simples de Evie fez uma indignação surgir em Mal.

— Como você esqueceu? A informação mais importante-

— Eu tinha outras coisas em mente. – Evie interrompeu o que viria a ser uma sequência interminável de reclamações. Ela não tinha culpa de ter encontrado uma Mal super mal-humorada e sem disposição para conversas quando adentrou o quarto, no dia anterior, pronta para contar o que Doug lhe revelara. E os acontecimentos que ocorreram depois a fizeram esquecer completamente. As rosas próximas a janela ainda lhe faziam sorrir.

— E por que não me contou quando descobriu?

— Você estava ocupada demais desenhando seja-lá-o-que-era-aquilo.

Apesar de ainda não acreditar que Evie não mencionara aquela descoberta tão importante antes, Mal não conseguiu sustentar o olhar incrédulo que lançava para a amiga. A frase dita por Evie trouxe de volta o desenho a mente de Mal e a garota desviou o olhar.

— Não gosto de te interromper quando está desenhando. – Evie comentou em voz baixa, voltando-se para seu caderno.

Jay e Carlos se entreolharam, confusos. Não estavam entendendo o que estava acontecendo ali.

— Vocês não vão brigar de novo, vão?

— Não estamos brigando. – Disseram em uníssono. Jay ergueu as mãos, se colocando de fora daquele assunto.

 

...

Chad jogou-se sobre o sofá, frustrado consigo mesmo. Sentia vontade de chutar alguma coisa, mas tinha certeza de que se arrependeria depois.

Quanto mais o tempo passava, mais complicado tudo se tornava. Queria voltar para quando eram crianças e apenas corriam pelas propriedades dos reinos, divertindo-se e aproveitando a infância como devia ser. Naquela época, Audrey e Ben não namoravam, e Chad não sentia inveja do relacionamento de seu melhor amigo.

No começo de tudo, eram apenas Audrey e Chad e era assim que o loiro esperava que tivesse terminado. Conheciam-se desde antes de falarem a primeira palavra ou darem os primeiros passos. Chad não lembrava de um único momento sequer em sua vida em que não tivesse Audrey como sua amiga, assim como também não lembrava de quando se apaixonara por ela. Sabia, com certeza, de que fora muito antes do namoro de Audrey e Ben, e antes até mesmo de quando namorou com Anxelin...

Chad interrompeu seu devaneio ao escutar algumas palavras cantadas alegremente por uma garota. Ouviu em silencio a música, relembrando a expressão sonhadora que já vira tantas vezes tomar o rosto da garota ao cantar.

Ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

— Anxelin! – Ela parou de cantar, mas continuou seu caminho, ignorando-o como vinha fazendo na última semana. Chad rapidamente ajoelhou-se sobre o sofá, esticando-se sobre o encosto para alcançar o braço da garota. – Eu não te vi mais depois-

Anxelin puxou seu braço, livrando-se de Chad. Ele fez menção de segurá-la novamente, mas a garota deu um passo para trás, saindo do alcance do Charming.

— Conversei com a Mal hoje.

— Ah? – O loiro apoiou os braços sobre o encosto do sofá, fitando-a confusamente. – Por que você conversaria com ela?

Anxelin cruzou os braços, encarando-o firmemente. Sua expressão havia mudado assim que ela ouvira seu nome ser pronunciado pelo loiro.

— Alertei sobre você estar saindo com a amiga dela.

— O que você acha que estava fazendo?

— Contando a verdade sobre você? – Rebateu ironicamente. Anxelin aproximou-se do garoto, apoiando as mãos sobre o sofá e o fitando intensamente. Chad recuou, encolhendo-se ligeiramente. Olhos verdes podem ser bem assustadores e ele já tinha sentido uma amostra de quando Anxelin ficava irritada. – Não é só porque a garota é nova aqui ou filha de não sei quem, que eu vou deixar você bancar o idiota aproveitador de novo!

— Anxelin! – Chad a interrompeu, antes que a garota acabasse contando mais do que deveria.

— Você sabe que é verdade.

Chad não rebateu, preferindo apoiar suas mãos sobre as dela, e sorriu. Por mais trêmulo que fosse naquele momento, ele sabia que Anxelin adorava seus sorrisos. Ela mesma já havia dito tantas vezes antes.

— Nós temos que conversar sobre aquilo...

— Não mesmo. – Anxelin o empurrou e por pouco o garoto não caiu do sofá. Ela nem mesmo se importara. – Vamos conversar só quando você deixar de ser esse babaca inútil e voltar a ser o garoto que era um dos meus melhores amigos. Até lá, não tenho motivos para conversar com você.

 

...

— Então é isso que está planejando?

— Basicamente. O que acha? – Doug sorriu mais uma vez ao lembrar do que estava planejando para aquela noite. Era uma coisa simples, uma ideia que surgira em sua mente naquele dia graças a conversa que tivera com Kyle e Ben mais cedo, e este parecia apoiar-lhe pois sorria, feliz pelo amigo.

— É uma ótima ideia. – Ben respondeu, sincero. Ele ouvira atentamente o pedido do amigo, sem deixar de rir ao vê-lo andando pelo quarto e gesticulando tão euforicamente. Porém, sentiu falta de uma informação importante para realizar aquele pedido. – Você já pediu permissão à Fada Madrinha?

Pelo olhar espantado no rosto de Doug, a reposta para aquela pergunta era um “não”. Doug passou as mãos sobre o rosto, indignando-se consigo mesmo por ter esquecido daquele detalhe. E que seria difícil resolver a tempo.

— Como eu fui burro, esqueci completamente da permissão de saída. Fada Madrinha não vai conceder, não quando a chegada deles ainda é tão recente. – O garoto sentou-se na cadeira e apoiou o braço sobre a mesa, a animação de antes desvanecendo rapidamente. – E mesmo com a permissão eu nem sei se vai acontecer.

— Ah, não desanima. Você estava tão feliz. – Ben levantou-se para sentar na cadeira ao lado do amigo. – Entrou até saltitando no quarto e estava andando de um lado para o outro-

— Que mentira! – Doug o cortou, mas sem conseguir evitar rir.

— Só estou contando o que vi.

— E você estava deitado aí, sorrindo pro nada. – Doug rebateu, deixando o Príncipe constrangido, pois ele nem mesmo percebera que estivera sorrindo naquele momento.

Ben se absteve de comentar qualquer coisa a respeito disso já que fora interrompido por um irritado Chad que acabara de entrar no dormitório. O Charming fechou a porta bruscamente e sentou-se em sua cama, apoiando a cabeça em suas mãos.

Ben e Doug o fitaram esperando uma resposta quanto a entrada tempestuosa do loiro, mas quando percebeu nenhuma movimentação do amigo, Ben o chamou:

— Chad? O que aconteceu?

— Aquela loira me irrita.

Chad não precisava explicar nada, seus amigos tinham entendido perfeitamente a quem ele se referia. Já estavam mais do que acostumados a escutar as reclamações indignadas de Chad contra Anxelin.

— Não sei porque namorou com ela.

— Não sei porque você terminou com ela. – Doug corrigiu a frase do Príncipe. O termino do namoro aconteceu de uma forma muito inesperada, sendo o motivo ainda uma incógnita para todos – inclusive para os amigos.

— Anxelin não é a garota de quem eu gosto.

Ben ficou surpreso. Chad costumava apenas ignorar quando alguém fazia algum comentário sobre seu namoro com a filha da Rapunzel, então a resposta do loiro fora completamente inesperada de sua parte.

O Príncipe riu sem acreditar e virou-se para Doug, esperando vê-lo igualmente surpreso, mas não foi o que encontrou.

— E você gosta de alguém? – Ben voltou a questionar Chad, e a resposta que recebera de Doug não podia ter sido mais inesperada.

— Ele está saindo com a Evie.

— Não brinca! Mas eu achei que você... – Ben notou o discreto aceno negativo de Doug e alterou a frase que iria dizer, voltando-se novamente para o loiro. – ... não tinha interesse em ninguém.

— E não tenho.

— Mas você acabou de dizer-

— E a Evie? – Doug interrompeu, mal percebendo que tencionava o maxilar à espera da resposta do loiro.

— Eu... – Chad interrompeu-se, erguendo o olhar para os outros dois garotos no quarto. Estes esperavam por sua resposta, mas o loiro apenas suspirou, passou as mãos sobre o rosto rapidamente e levantou-se. – Eu vou dar uma volta.

Benjamin abriu a boca para chamar por Chad, mas o garoto já havia saído do quarto. O Príncipe encarou a porta aberta quarto e depois voltou-se para o Doug cabisbaixo ao seu lado.

— Fiquei confuso agora. – Chad estava saindo com a Evie? Em que dimensão alternativa ele esteve para não estar sabendo disso? Claro, Ben havia escutado alguns comentários soltos pelos corredores, mas... Ah! Agora ele entendia porque Doug se mostrara preocupada há alguns minutos. – Doug, eu não sabia que o Chad estava-

— Eles não estão, bem, saindo. Eu acho.

Ben pulou da cadeira e bateu as mãos sobre os ombros de Doug, sacudindo-o fortemente.

— Vamos lá, Doug! Cadê aquela animação?

— Você está tentando me matar ou o que? – Doug questionou arrumando os óculos que quase caíra pelo ataque do amigo. Ben sorriu e afastou-se, indo em direção a porta. – Onde você vai?

— Estou indo falar com a Fada Madrinha. – Ben respondeu e apontou o dedo em direção ao amigo, ordenando. – E você, levanta daí que o Family Pavilion está esperando por vocês.


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Notas finais do capítulo

Teve muito Chad neste capítulo. Que desnecessário. E esse Chevie, mais desnecessário ainda. Minha vontade de viver ia diminuindo a cada instante em que eu escrevia eles juntos. Pelo menos ainda continuo no meu desafio pessoal de sempre ter uma cena da Evie com o Doug, antes de uma dela com Chad.
Um aviso: eu não vou, repito, NÃO VOU em hipótese alguma escrever um beijo entre Evie e Chad. Isso está completamente fora de questão.

Enquanto eu escrevia as cenas Devie, as únicas músicas que eu escutava era Kiss The Girl e Uma Flor ^.^ Alias, a música-título desse capitulo seria uma dessas, mas enquanto escrevia outras partes do capitulo, tocou essa música da Avril e o meu coração me obrigou a mudar o título rsrs

Agora uma coisa muito importante e que eu não poderia deixar de comentar: já leram a one Elliot? E True Love’s Kiss?
Se não, estão perdendo tempo. Leiam e desfrutem dessas magnificas histórias ♥

Elliot: https://www.spiritfanfiction.com/historia/elliot-13288624
True Love’s Kiss: https://www.spiritfanfiction.com/historia/true-loves-kiss-14694647


Criei um grupo no whatsapp, caso tenham interesse aqui está o link https://chat.whatsapp.com/CPOzZPSVHvI6h9wvUZSWjS



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