Resiliência escrita por Ahelin


Capítulo 3
Morte


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi inspirado no meu tema da Era III, a frase "A recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais", de Nietzsche.
Boa leitura!



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Estúpida. 

Vadia. 

Egoísta. 

Você nem merece estar viva. 

Por que você existe?

Eu gostaria que você morresse. 

Luíza não conseguia mais ignorar as vozes. Vinham de todos os lados, atingiam-lhe como socos. Sentia-se cada vez menor, mais fraca. Começava a acreditar nas centenas de pessoas que falavam dentro de sua cabeça.

Oh, que tal você dar um fim em tudo isso?

— Não! — implorou ela. 

Vamos, baby, você sabe como. 

Sim, escute-o, ele sabe o que diz. 

A recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais. Um homem muito inteligente disse isso, não eu.

— Não posso...

Você pode, tenho fé nisso. 

Seja útil apenas uma vez!

Sim, sim, ouça-os.

Faça. 

Faça!

Tudo ficará bem. 

— Não... 

O que tem a perder? Você nem mesmo tem vida. 

Ou amigos. 

Ou família. 

Ninguém se importaria.

— Não consigo... — Sua própria voz mal passava de um sussurro a essa altura. Suas mãos tremiam quando correu até o armário de remédios no banheiro. 

Isso, garota esperta!

Sabia que conseguiria. 

Tenha coragem, falta pouco. 

Ficaremos bem quietinhos depois que você fizer. 

Por acidente, ela derrubou alguns frascos no chão. Não conseguia achar o certo. As vozes começaram a ficar zangadas. 

Olhe só o que você fez!

Não consegue fazer nada sem estragar tudo?

Finalmente, encontrou o que procurava. Sem firmeza nos dedos para desenroscar a tampa, arrancou-a com os dentes.

Sim! Continue!

Falta pouco, baby. 

Derramou o conteúdo na mão e respirou fundo. Não conseguia mais segurar o choro. Precisava fazer aquilo, precisava daquela paz. 

Basta engolir. 

É tão simples que até você consegue. 

Um ganido chamou-lhe a atenção; seu velho beagle a encarava do corredor, exibindo um ar tristonho.

Não na frente do cachorro!

Pare com isso, não há tempo para hesitações. Faça, rápido. 

Thor deu uma volta em torno do próprio corpo e ganiu mais uma vez. 

— Desculpe, garoto — sussurrou, encarando os comprimidos. 

Pare de falar com o cachorro!

Estúpida. 

Faça, vamos, faça!

Luíza estava pronta. Mordeu o lábio inferior com força antes de abrir a boca, fechou seus olhos e...

Thor latiu. Ela se assustou e olhou para seu companheiro. No chão, a seus pés, estava uma meia azul com estrelas roxas, a mesma que havia sumido há vários meses. 

— Meias te fazem feliz, não é, garoto? — Ele inclinou a cabeça para o lado e ganiu mais uma vez. Ela sorriu, apreciando o gesto. 

Foco!

Você já desistiu?

Faça, garota tola!

Vejam, ela está saindo... Onde vai? Pare!

Ela desviou da bagunça no chão da sala e chegou à sacada. Abriu a porta com a mão livre, ainda segurando os comprimidos na outra. Deixou que a brisa noturna roçasse em sua pele. Estava descalça. O chão frio lhe deu arrepios. 

Ela vai pular?

É uma opção. 

Prefiro os comprimidos. 

Qualquer modo serve. 

O quê?

Espere, o que ela pensa que está fazendo?

Não, ela não seria tão burra.

Pare!

Idiota!

Luíza colocou um dos comprimidos na boca e o engoliu sem dificuldade. 

Vá em frente. 

Você consegue. 

Imprestável. 

Morra!

— Calem a boca! — gritou, tão alto que sua voz ecoou pela rua vazia. 

Silêncio. Ninguém mais falava. 

Ela abriu a mão e deixou que as pequenas cápsulas caíssem, uma a uma, do décimo andar. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!
Boa sorte pra mim :3



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