Silent Pain - Love Doesn't Have Legs escrita por UnknownTelles


Capítulo 20
Vale a Pena


Notas iniciais do capítulo

Demorei duas semana! Yey!
Estou tentando diminuir o tempo de publicações.
Hopefully, em breve estarei voltando a um capítulo por semana.
Queria que vocês lessem esse capítulo ouvindo a música "My All" da Mariah Carey. Coloquem para repetir até que terminem de ler o capítulo (o link está no primeiro parágrafo).

Boa leitura!



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"My All"

 

— Quem é você? Qual é o seu nome?

— Conhece Evan Roberts?

— Estão em algum tipo de relacionamento?

— Sabe onde ele estava nesses últimos três anos?

A chuva de perguntas que caíram sobre mim teriam me sobrecarregado se a minha cabeça estivesse prestando atenção a elas. Os flashes das câmeras fariam me encolher na cadeira se eu não estivesse focada nele.

Evan.

O que ele estava fazendo ali?

Observei suas mãos, mas elas estavam normais, sem nenhum sinal de tremor. Seus olhos não transpareciam medo, muito pelo contrário. Ele parecia calmo e elegante em seu smoking preto com uma camisa social branca por baixo com os dois botões superiores abertos. Aquelas duas avelãs intensas que nunca falhavam em me cativar e me mostrar o que ele verdadeiramente sentia me diziam naquele momento que ele estava sentindo confiança. Parecia bem relaxado em toda aquela situação na qual seria normal que até mesmo uma pessoa comum entrasse em pânico devido à atenção sufocante dos repórteres.

Em passos lentos e torturantes, como um predador focado na presa, ele fez seu caminho pelo tapete vermelho que se estendia da sargeta da calçada até dentro do hotel; o mar de paparazzi sendo totalmente ignorado, por ele e por mim. Quando chegou ao topo dos degraus, ele parou à minha frente e estendeu a mão. Alternei o olhar entre sua mão e o seu rosto que, de perto, dava para ver melhor o quão belo era sem a barba e com o cabelo cortado. O lindo sorriso que me deu, fez todo o meu estômago inquieto com milhões de borboletas. Ainda um pouco hesitente, pus minha mão na sua. Ele inclinou até que sua cabeça estivesse na altura da minha e levou as costas da minha mão aos seus lábios, beijando-a sem desviar os olhos dos meus nem por um segundo.

Ele então meu puxou delicadamente para frente e se inclinou ainda mais deslizando a bochecha na minha e alcançando a minha orelha com os lábios.

— É uma pena que tenhamos uma plateia tão grande nos assistindo, Sarah.

— Por quê? — Não consegui evitar a pergunta mesmo sabendo que isso era exatamente o que ele queria que eu fizesse.

— Porque senão eu te deixaria sem fôlego como você me faz ficar usando esse vestido.

Eu senti todo o sangue do meu corpo correr para as minhas bochechas. Eu não conseguia acreditar na audácia dele! Ele também não precisava saber que na verdade eu já estava sem fôlego só usando a imaginação. 

Seu rosto recém-barbeado roçou pelo meu até que seus lábios pararam bem próximos aos meus e tão suave quanto uma pluma, ele beijou a minha bochecha. 

Eu queria ter tido uma reação descente. Dar um tapa na cara dele seria uma boa opção, mas eu simplesmente tinha congelado no lugar. Ele recuou e se recompôs ajeitando o terno do smoking. Com um sorriso de fazer qualquer uma desmaiar ele piscou para mim e entrou no hotel como se nada tivesse acontecido.

Eu ainda estava paralisada, e lá no fundo parecia que alguém estava falando comigo, mas eu não conseguia prestar atenção no que era. Senti que alguém havia começado a empurrar a minha cadeira, nos levando para dentro do hotel. Todos os paparazzi ficaram presos do lado de fora e isso já era motivo de alívio o suficiente para mim. Meus ouvidos já estavam começando a queimar com a quantidade de perguntas que faziam. Eu estava tentada a pedir para eles me contarem as respostas que queriam ouvir quando descobrissem porque eu mesma não sabia o que estava acontecendo tanto quanto eles.

Pela cara de Kelly alguma coisa estava acontecendo entre ela e Jonathan porque enquanto esperávamos checarem os nossos nomes para entrarmos no salão do hotel, eles não paravam de se encarar como se a qualquer momento um fosse pular em cima do outro.

Pigarreei tentando ser polida. Quando ele voltou atenção para mim, seus olhos ainda estavam brilhando de excitação.

— Jonathan, se importa de explicar o que está acontecendo? 

Ele suspirou e afundou as mãos nas calças.

— Acredite em mim, Bright. Estou tão perdido nesse show quanto você.

Levantei um sobrancelha e ele deu de ombros.

— Pergunte ao Evan você mesma. Quando tentei tirar uma resposta dele mais cedo só recebi insultos.

Suspirei e afundei mais na cadeira cruzando os braços. Quando é que Evan iria crescer e entender como os outros se preocupavam com ele? Será que ele não podia pensar nem mesmo por um segundo em como ele causa dor aos que se importam com ele quando toma uma decisão tão precipitada?

Um dos empregados do hotel guiou a mim e a Lana até onde a Confraternização estava tomando lugar. Jonathan e Kelly ficaram para trás por algum motivo. 

Uma porta dupla de vidro estava aberta e um tapete púrpura com detalhes dourados cobria todo o chão. O teto era absurdamente alto e estava enfeitado com muitos candelabros de cristal. Conforme caminhávamos até a mesa designada à nós três, era impossível não admirar a beleza das pessoas que estavam ali. Aquela não era a minha primeira vez em um dos eventos para as crianças, mas infalivelmente eu sempre me surpreendia com a falta de ruga no rosto das mulheres de mais de cinquenta anos ou espinhas no das que tinham a minha idade. Os dentes tão brancos como cal pura e alinhados perfeitamente também eram impossíveis de passarem desapercebidos.

Eu me sentia totalmente deslocada e desconfortável, como se eu fosse uma aberração no meio de tanta perfeição.

Nada novo sob o sol.

A mesa na qual ficaríamos, assim como as outras, era de vidro com suporte único. Uma luz fraca vinha debaixo iluminado o vidro por dentro. Era lindo. Mas o que me chamou mais a atenção foi a localização. Geralmente, eu era designada a uma mesa nos fundos do salão ou em algum canto, mas a mesa em que ficaríamos estava de frente para o palco com uma visão totalmente privilegiada. Aquela era a área VIP, a mais cara. Por que estávamos ali?

Enquanto varria o local com os olhos de repente senti uma mão tocar os meus ombros e virei para trás. Kelly estava agitada e parecia prestes a perder o equilíbrio. Sentando na cadeira ao meu lado, tomou um longo gole do copo de água que estava ali perto e respirou fundo. Não precisava ser um gênio para saber o que tinha acontecido. Só de ver os lábios inchados e sem batom, bem como os cabelos que chegaram no hotel em um coque alto e arrumado, mas agora estavam caídos pelos ombros precariamente, eu não tinha dúvidas que Jonathan havia feito questão de dar "boa noite" a ela em um local mais privado.

Quando os olhos dela encontraram os meus eu ergui uma sobrancelha em questionamento, mas ela ruborizou.

— É oficial — sussurrou tão baixo que mal pude escutar.

Sorri feliz por ela.

— O que é o oficial? — Perguntou Lana.

— Eu e Jonathan — respondeu rápido e deu outro gole na água para desfarçar o embaraço.

— Finalmente! — Lana exclamou.

O evento iniciou pouco depois disso. Evelyn Roberts, como todo ano, era a anfitriã e responsável pelo pequeno discurso de abertura. Ela estava absolutamente fabulosa em um vestido preto de veludo que não decepcionava em ressaltar todas as suas curvas. Era incrível como ela conseguia manter o corpo de modelo mesmo tendo mais de quarenta anos. 

— Esse ano gostaríamos de começar a nossa noite de uma forma diferente. Anualmente a Roberts-Vermont Corporation sempre inicia com agradecimentos porque verdadeiramente a presença de todos vocês é indispensável. Porém, existe alguém que está presente aqui hoje, assim como esteve presente todos esses anos, cuja presença é crucial para a realização desse evento. Nada do vocês vieram assistir e prestigiar nessa noite seria o mesmo sem ela — a Sra. Roberts pausou por alguns segundos e eu tinha quase certeza de que estava olhando na minha direção. — Como todos aqui sabiam, devido a alguns problemas esse ano nós não teríamos a nossa Confraternização. Contudo, foi graças a Srta. Wright que, além de não receber qualquer reconhecimento todos esses anos por todo o trabalho em ensaiar, encorajar e amar essas crianças as quais também somos afeiçoados, ainda assim ela se mostrou corajosa mais uma vez ao aceitar o desafio quase impossível de tomar as rédeas da situação e fazer essa noite acontecer. Por favor, recebamos com uma grande salva de palmas, Sarah Wright! — a Sra. Roberts começou batendo palmas vigorosamente e logo todos levantaram e a acompanhavam no mesmo ritmo.

Eu gelei na mesma hora. Arregalei os olhos para Kelly e Lana, mas elas estavam tão perdidas quanto eu.

De repente, senti alguém virar a minha cadeira e tive que conter um grito de surpresa quando virei para trás para ver quem era. Meus olhos encontraram duas avelãs intensas me encarando de volta. Ele tinha um sorriso encorajador, mas isso pouco me ajudou. Eu ainda estava chateada com ele.

Mantive a cabeça em pé, mas não estava prestando atenção em nada em particular. Quando chegamos próximo às escadas do palanque vi a Sra. e o Sr. Kendrick na primeira fileira de mesas sorrindo e aplaudindo. Respirei aliviada por ter uma rampa. Pelo menos minha humilhação em público não seria total. 

A expressão no rosto de Evelyn Roberts era de puro choque, ela foi parando de bater palmas conforme nos aproximávamos. Aparentemente ela também não estava sabendo da decisão do enteado de sair em público. Eu tambpem não estava entendendo mais nada, mas não poderia deixar o turbilhão de perguntas me dominar, pois precisava concentrar no que viria à frente. Ainda desconfiada quando paramos ao seu lado, ela retirou o microfone do suporte e estendeu-o em minha direção. Engolindo em seco, peguei-o em meus dedos trêmulos.

Eu não tinha problemas para falar em público, eu havia sido oradora tanto da minha formatura do ensino médio como a da faculdade. Por isso eu podia afirmar com toda certeza que o que me deixava nervosa naquele momento não era o público em si, mas o porquê de eu estar ali. 

Respirando fundo, comecei meu discurso improvisado. Setenta por cento do que eu falei foi para agradecer a oportunidade e presença de todos. Sem falsa modéstia, ressaltei como tudo que ali estava para acontecer era graças ao talento e dedicação das próprias crianças. O que eu, Lana e a equipe de profissionais contratados pela Sra. Roberts fizemos foi apenas lapidar um pouco aquelas joias brutas.

Quando terminei de falar, um por um se levantou da cadeira e começou a bater palmas de pé. Um sorriso acanhado se estendia pelo meu rosto. Ter seu trabalho reconhecido depois de tanto esforço é simplesmente impagável.

Estendi o microfone na direção da Sra. Roberts, porém quando ela estava quase o pegando, Evan pegou primeiro.

Sem falar qualquer coisa no microfone, ele sinalizou com as mãos para que todos sentassem. Aos poucos cada um dos convidados obedeceu e o salão caiu em silêncio novamente. Ele gesticulou para um dos que trabalhavam no staff e, como se fosse algo previamente acordado, o homem trouxe uma cadeira colocando-a ao lado da minha. Ainda sem dispensar qualquer explicação ou até mesmo um olhar, ele sentou e sorriu. Tinha certeza que muitas mulheres deveriam ter suspirado naquele momento.

— Boa noite — cumprimentou em sua voz baixa que sempre me fazia arrepiar. — Eu sou Evan Roberts pra quem não sabe — toda a plateia gargalhou e eu não consegui impedir um sorriso de espreitar em meus lábios. — Talvez eu no seja tão bom com palavras como Sarah — sem desviar os olhos das pessoas, ele deslizou a mão livre pelo meu cotovelo e antebraço, até que seus dedos encontrassem os meus e então se entrelaçassem. Ele levou minha mão até os seus lábios e beijou o dorso arrancando sussurros de todos ali presente, — mas o que eu tenho para falar é igualmente importante. Como todos aqui já sabem...

— Evan! — Uma voz familiar o interrompeu repercutindo por todo o salão, era um grito desesperado. Vasculhei o lugar um pouco confusa procurando a origem da voz e encontrei Jonathan correndo na direção de um homem vestido com o uniforme de hotel e com... Meu Deus, ele tinha uma arma na mão. Comecei a entrar em pânico na expectativa do que estava para acontecer. O homem estava quase sendo alcançado pela segurança e pelo próprio Jonathan, mas o ângulo em que estava dava total abertura para Evan. quando os convidados entenderam a situação jogaram-se no chão por suas vidas sob a orientação do staff. 

O homem apontou a arma para a cabeça de Evan, mas poucos segundos depois um dos seguranças o alcançou e o agarrou. Ele lutava tentando manter a arma em mãos e o vi apontar para Evan de novo.

Eu não sabia o que estava pensando, na verdade, pela primeira vez na vida eu fiz algo sem sequer dispensar um mero pensamento para considerar a situação. Antes que eu pudesse entender o que meu corpo estava fazendo, joguei-me com força em cima de Evan cobrindo o seu corpo com o meu. O impacto fez com que caíssemos com as cadeiras para trás. Automaticamente seus braços circundaram meus ombros  para amortecer a queda. 

Primeiro eu ouvi o som da arma disparando atrás de mim e então....

... eu senti.

— Sarah, você está bem? Se machucou? — Evan perguntou preocupado.

Eu não conseguia falar, com certeza teria sido um momento embaraçoso em cima dele no chão na frente de todo mundo, mas eu não conseguia sentir embaraço. Só conseguia sentir uma coisa. 

Dor.

— Por que você está tão pálida, o que... — suas mãos percorram minhas costas como uma forma de me fazer sentir segura, mas parou imediatamente abaixa da minha cintura. 

O único som que saiu dos meus lábios foi um sibilo de dor que me fez ver estrelas. Quando Evan tirou as mãos da minha cintura e a levantou, seus olhos se arregalaram com o sangue que via. Em um movimento delicado, ele se sentou comigo no colo, mas a posição só me fazia chorar ainda mais de dor.

Ele então me deitou no chão com cuidado. Eu só conseguia encarar o lindo candelabro que estava no teto enquanto ele gritava ordens e ligava para uma ambulância. 

Eu sabia que ele estava falando comigo, alguma coisa, mas não sabia o que era. Não conseguia ouvi-lo.

Comecei a sentir o controle sobre a minha própria consciência se esvair, eu não sabia o que aconteceria comigo, mas acreditava que aqueles eram meus últimos momentos. Parecia impossível que a vida fosse me deixar sobreviver a outro acidente. 

Antes que meus olhos perdessem a total capacidade de captar a luz, a última coisa que eu queria ver era o rosto dele. Aquele sorriso lindo de fazer perder o fôlego. Usando toda a força que tinha, levantei a minha mão e a pus no rosto dele. Seus olhos voaram para os meus imediatamente. Aquelas avelãs intensas e tão inteligentes as quais eu aprendi a amar estavam cheias de dor e agonia. O desespero que eu havia visto nele quando falara sobre a sua mãe estava ali de volta, bem presente.

— Sarah, não feche os olhos — minhas pálpebras começaram a pesar ainda mais e me manter acordada estava se tornando uma tarefa quase impossível. — Droga, Sarah, abra os olhos! Fique acordada, eu estou aqui!

Senti seus lábios sobre os meus pressionando-os com tanta força como se tivesse fome de mim. Desespero era evidente quando senti suas lágrimas se juntarem aos nossos lábios dando um gosto salgado.

Ele se afastou lentamente e fiz toda a força que pude para abrir os olhos de novo.

— Você prometeu... — Comecei, senti minha garganta seca como um deserto. — Você prometeu cinco horas por dia fora daquele buraco que você chama de quarto...

— Eu nunca mais entro lá se você quiser, apenas fique aqui comigo, Sarah. Não feche os olhos.

Sorri com o pouco de força que ainda me restava, eu sentia que estava próxima de perder a consciência por completo independente dos meus esforços. 

Eu precisava contar para ele.

— Evan...

— Sim, eu estou aqui, meu amor... — ele disse com uma mão no meu rosto acariciando a minha bochecha.

Seu gesto tão suave e caloroso fez com que uma lágrima escapasse dos meus olhos. Fechei-os sentindo uma dor terrível começar a sufocar o meu peito.

— Eu te amo.

E então a escuridão meu engolfou.


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Notas finais do capítulo

Nãooooooo.
Eu estou quase chorandooo, esse capítulo é muito triste! T-T
Desculpa terminar assim, prometo que recompenso no próximo capítulo.
Boa semana!



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