How Could You Cry For Me? escrita por Lilly Bandit


Capítulo 1
Capítulo Único




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Muitas pessoas não dão valor a vida enquanto tem saúde. Somente quando estão a beira da morte, sentem que o resto de suas vidas tem uma trilha sonora que fica lhes bombardeando fatos de suas vidas que poderiam ter tido finais diferentes e até mesmo felizes. Alguns ficam depressivos, outros revoltados e poucos aceitam seu fim.

 

Na ala dos pacientes terminais deste hospital, é freqüente ver crises de choro e de fúria, chororô em grupo em despedidas... É algo de cortar o coração de qualquer um, até mesmo para quem não se importa com ninguém. De crianças até idosos, a morte não perdoa.

 

Ah, eu disse “deste hospital”, certo? Bom, o que relatei acontece em todos os hospitais, mas este é especial. Há uma história em que muitos ouviram falar e pouquíssimos acreditam. Houve especulações, explicações através de mitos, mas nenhuma chegava perto da verdade que contarei agora e que começará como todas as histórias.

Era uma vez... Um paciente de câncer terminal que mal conversava com as enfermeiras. Apenas respondia quando era realmente necessário. Gostava mesmo era de falar estava sozinho. Ninguém sabia o nome dele. Havia sido transferido de um hospital, mas os documentos dele desapareceram no meio do caminho. Estagiários: complicando um trabalho simples desde sempre! O estagiário foi demitido e o paciente sem identificação continuava sem falar com ninguém.

 

Certo dia, uma enfermeira querendo bancar a espertinha, tentou gravá-lo para entender o que ele dizia, já que todas as vezes que ele via alguém, parava de falar. Uma tentativa em vão. Assim que configurou o aparelho para começar a gravação, o paciente calou-se, voltando a falar somente quando ela sumiu de vista.

 

Pobres mortais céticos. Ninguém sabia que ele recebia visitas, porque todos eram descrentes o suficiente para ver. Alguns outros pacientes, passeando pelos corredores tiveram a capacidade de ver e quando tentaram falar para os outros, ganharam apenas mais remédios.

 

Fantasmas: seres vistos apenas pelos que querem que os vejam ou pelos que ao menos acreditam. Nesse caso, visitam os adoentados, procurando acalmá-los até que sua hora chegue. Mas, com esse paciente foi um pouco diferente. Logo na primeira visita, disseram-lhe que seu tempo na Terra era curtíssimo e que seus superiores sucumbiram-lhes a tarefa de criar um filme com a vida dele e que, ao chegar ao fim, sua vida terminaria junto.

 

Ao contrário do que esperavam, o paciente assentiu, sorriu e começou a conversar. Ao final do primeiro dia, os fantasmas se arrependeram de aceitar tal tarefa e tentaram convencer aos chefes a deixá-lo viver.

 

— Não podemos deixá-lo partir! – disse o menor dos cinco fantasmas.

 

— Ouça o que ele conta da vida dele! É injustiça! – disse o mais magro e tímido dos cinco.

 

— Não há nada de que possamos fazer. O destino dele já está definido. Apenas cumpram a tarefa e só voltem quando terminarem. Estão dispensados.

 

— Eu disse que não adiantaria nada... – sussurrou o loiro.

 

— CALA A BOCA, BOB! – explodiram Frank, Gerard, Ray e Mikey.

 

No terceiro dia, os cinco fantasmas (os irmãos Gerard e Mikey, assassinados por terem sido confundidos com os reais alvos, Ray, enforcado por ser acusado injustamente de traição, Bob, suicidou por motivos desconhecidos, e Frank, o nanico da turma que fora linchado após entrar no banheiro masculino vestido de mulher) tiveram que começar o filme. Para isso, precisavam de ajuda.

 

Gerard e Mikey encaracam os olhos do paciente que os olhava docemente. Duas sombras surgiram de trás da cabeça do paciente, e ao chegar acima de sua cabeça, tomaram a forma de dois corvos. Voaram para a parede em frente e começaram uma dança no ar, onde penas caiam e se transformavam em cinzas que se solidificavam, construindo uma tela preta. Ao fim, pousaram em cada lado do telão e se transformaram em duas mulheres sorridentes idênticas, Fear e Regret.

 

Os cinco rolaram os olhos para as garotas que não paravam de sorrir e se aproximaram, sentando uma de cada lado do paciente, em cadeiras que apareceram magicamente. Cada uma tinha um baldezinho de pipoca e um mega copão de refrigerante com gelo.

 

— Anda logo! – gritou Regret

 

— Meu refrigerante está esquentando! – continuou Fear – E sai logo da frente, ô vara de marmelo! – jogou algumas pipocas em direção ao mais magro que a fuzilou com os olhos, saindo do caminho em seguida.

 

Assim que todos se ajeitaram, o filme começou. As imagens vinham dos olhos do paciente que, independente de estar com os olhos abertos ou não, a imagem continuava sem nenhum defeito. Após a contagem regressiva, um choro ocupou todo o quarto. Era o paciente que havia acabado de nascer. E assim seguiu sua vida em vídeo: a 1ª vez que viu o rosto de seus pais, quando aprendera a andar de bicicleta, a primeira namorada, etc. Todas as memórias felizes dele conseguiam tirar sorrisos de todos, menos das meninas que todas as vezes soltavam altos “BLEH”s e jogavam pipoca em direção à tela. Os meninos faziam cara feia enquanto o paciente não ligava.

 

Quando o início da tragédia começou, Fear e Regret ajeitaram seus corpos nas cadeiras e se mostravam interessadas. Nada de jogar pipoca ou reclamar. A morte dos pais foi a parte mais dura de assistir. Os cinco começaram a chorar, o paciente perdeu um pouco do brilho nos olhos e diminuiu o sorriso, enquanto as duas vibraram e sorriam.

 

As desilusões amorosas, as tentativas de suicídio, uso descontrolado de álcool e drogas, visitinhas à cadeia, tudo fazia as duas sorrirem. Até mesmo quando ele quase morreu por tratar de câncer, sendo que tinha ovos de solitária na cabeça.

 

Ao fim do filme, o paciente apresentava grossos aros roxos, quase pretos, em volta dos olhos e uma expressão cansada. Os cinco garotos, se fossem vivos, já teriam desidratado de tanto que choraram. Já Fear e Regret... não paravam de comentar as “melhores partes”, aos olhos delas, como se estivessem saindo de um cinema.

 

— Como você... consegue ficar tão... calmo? – disse Ray, por fim. – VOCÊ VAI MORRER AGORA, HOMEM!

 

— Eu sei. – respondeu calmamente – De que me adianta ficar arrependido do que já passou ou ter medo do que virá? Mais cedo ou mais tarde, isso iria acontecer. – Fear e Regret mostraram a língua para ele, mas ele apenas retribuiu com um sorriso. Ninguém soube dizer se ele fizera isso para irritá-las ou se ele realmente sentia aquilo.

 

Alguém bateu três vezes na porta do quarto. Os garotos congelaram. Como poderiam deixar que ele se fosse assim? Não poderiam, mas como ajudar? O desespero tomou conta de todos, até mesmo do paciente que se mostrava apreensivo agora.

 

Mais três batidas, dessa vez mais altas. Gerard foi abrir, tremendo. Escancarou a porta e voltou para o lugar que estava. Uma mulher, com um vestido antigo estragado e uma máscara de gás apareceu à porta. Olhou cada um e fixou seus olhos pretos no paciente.

 

— Quem é você? – perguntou o paciente, nervoso.

 

— Eu? – deu uma voltinha e voltou a encará-lo – Parece que não lhe deram o recado direito... Ou não estou vestida de uma forma mais reconhecível. – puxou a ponta do vestido até a cabeça. O vestido agora deu lugar a uma capa preta, com capuz que mal tampava o rosto cadavérico daquele ser de olhos pretos. Com uma voz diferente e aterrorizante, continuou - Eu sou a tua morte.

 

— NÃO! – berraram os cinco que montaram uma barreira entre a morte e o paciente. A Morte não resistiu e gargalhou.

 

— Vocês, pobres idiotas, acham que podem me impedir? Há! Olhem para trás. – Um a um, os garotos olharam para o paciente e se sentiram derrotados. O paciente já não respirava, seus olhos desfocados olhavam para o teto e sua boca fazia um “O” aberto. – Vocês achavam mesmo que eu teria que “tocar” na pessoa pra ela partir? Trouxas! Agora, por não seguirem ordens diretas, vão andando. O seu pior pesadelo torna-se realidade, Gerard. Agora, andem!

 

Em fila indiana, em direção à porta, todos se sentiram estranhos. Frank olhou para suas mãos e não conteve o gritinho histérico. Sua pele se desmanchava e caia ao chão, expondo seus ossos. Gerard, que ia à frente, parou e encarou a Morte.

 

— Quer saber? Não é meu pior pesadelo. Meu pesadelo seria continuar trabalhando para você. Tudo o que eu quero é distância, mesmo que acabe indo para o Inferno. – disse Gerard, que voltou à marcha, seguido de Mikey, Frank, Ray e Bob. Todos de cabeça erguida e com orgulho. – Ah, mais uma coisa: kiss my fucking ass! – bateu em uma das nádegas e piscou, antes da sua pálpebra cair.

 

— Como se fosse manter essa bunda murcha por muito tempo. – bufou a Morte. – Bob, meu querido. Não quer ficar? Soube que você era contra eles. Posso te dar uma promoção!

 

— Desculpe D. Morte, mas preciso de férias. Adiós! – antes de sair da sala, todos haviam desintegrado e sumido do mundo.

 

 

 

Pois bem, não sobrou ninguém para contar essa história. Apenas eu.

Eu, a Morte.

The End.


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Notas finais do capítulo

Essa fic tem muitos anos.
Eu a criei para uma promoção (que me fez ganhar o single "Welcome To The Black Parade"). Como tinha limite de caracteres e palavras, não ficou como queria senão não teria espaço suficiente.



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