Identidades Indefinidas, Um Mesmo Coração escrita por teffy-chan


Capítulo 1
Capítulo 1 - Estranho Triângulo


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!
Por favor, leiam as notas iniciais, é importante.
A história se passa a partir do volume 7 do mangá, com algumas modificações feitas por mim que irão aumentar cada vez mais no decorrer da história, já que a fic é Touta X Kuroumaru.
Boa leitura^^



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Uma semana.
Já tinha se passado uma semana desde aquilo. Quando Yukihime ordenou que Touta ficasse dentro do esconderijo durante um ano inteiro e o proibiu de participar do Torneio Ulti-Mahora. Aquela era a chance que ele tanto esperou para poder subir no topo da torre e finalmente alcançar seu sonho… mas Yukihime o proibiu de fazê-lo. E agora lá estava ele, trancado em um dos quartos de hóspedes há tanto tempo que poderia muito bem ter se fundindo com o sofá onde estava deitado desde que Yukihime o mandou voltar para casa e desapareceu.

Mas, é claro que nem se lamentar em paz ele podia. Logo os demais membros da UQ Holder apareceram para encher sua paciência. A primeira foi Karin, com a desculpa de que estava arrumando o quarto e que ele estava atrapalhando, esparramado no sofá daquele jeito. Bom, pensando bem, talvez ela só quisesse limpar o quarto mesmo. Depois Santa se juntou a ela. Em seguida, Kuroumaru, Kirie e Ikkuu, que estavam espiando atrás da porta há sabe-se lá quanto tempo, entraram no quarto também. E começaram o que prometia ser uma discussão muito, mas muito longa mesmo. Mas que coisa, será que nem sofrer em silêncio ele podia? Enquanto se lamentava mentalmente, uma das frases de Kirie lhe chamou a atenção:

— O Touta ama ela! É love!
— Sim, ele ama, mas deve ser algo mais maternal… - Touta ouviu Kuroumaru dizer.
— Não, é no sentido romântico! - Kirie continuou insistindo no assunto, com vários argumentos que Touta não prestou atenção, pois seus pensamentos começaram a voar para longe dali.

Ele amava Yukihime? Será? Bem, ele não a odiava. Estava magoado e frustrado com o que a mulher tinha feito, proibindo-o de participar do torneio, e ordenando que ele ficasse trancado ali durante um ano inteiro, mas não a odiava. Mas, antes disso tudo… o que exatamente Touta sentia por ela? Era algum tipo de sentimento maternal, como Kuroumaru havia dito? Ou será que Kirie tinha razão, e ele tinha se apaixonado sem perceber? Touta nunca foi bom em lidar com sentimentos… céus, aquilo era tão confuso! E tinha tantas pessoas de quem ele gostava agora. Tinha conhecido várias pessoas desde que deixou seu vilarejo… como ele poderia saber que não tinha se apaixonado por alguma delas, e não por Yukihime? Aquilo era irritante demais, principalmente com Kirie lhe cutucando e dizendo que ele tinha levado um fora, sendo que ele nem sequer tinha se declarado para ninguém.

Bom, era isso. Se ele não teria paz para organizar seus pensamentos no esconderijo, então precisaria fazer isso longe dali. E foi o que fez. Levantou-se subitamente e anunciou que iria "fugir de casa por um tempo". Ignorou o estardalhaço que sabia que todos ali fariam, agradeceu Ikkuu por lhe emprestar um buggy aquático (que no fundo ele sabia que não iria devolver) e foi embora sem olhar para trás.

Todos ficaram observando o mar pela sacada e só entraram quando Touta desapareceu no horizonte. Todos, exceto Kuroumaru. Enquanto a imagem de Touta diminuía, o aperto em seu peito só aumentava. O que Touta faria fora do esconderijo, sozinho? E se alguma coisa acontecesse com ele?

— Não dá mais para ver o Touta. É melhor entrar - Kuroumaru sentiu a mão de Ikkuu em seu ombro e se deixou ser guiado pelo mais alto para dentro do quarto - Sei que está preocupado, mas o Touta é forte. Tenho certeza de que ele vai ficar bem.
— Tenho certeza de que ele vai arranjar confusão, isso sim - Karin resmungou enquanto limpava o sofá onde Touta tinha passado o dia inteiro deitado.
— Eu sei porque você está tão preocupado, Kuroumaru - Kirie falou, fazendo o garoto engolir em seco - Você está apaixonado pelo Touta! É love! - ela apontou para o mais alto de forma acusadora.
— Eu?! A-Apaixonado por outro homem? Não diga besteiras! - ele exclamou de volta, mas não conseguiu evitar de corar.
— Mas você não é tecnicamente um garoto, é? - Ikkuu lembrou.
— Eu não sou mulher! - Kuroumaru gritou a frase que já estava ficando cansado de repetir.
— Eu já te disse isso antes - Karin se aproximou dele - Você deveria desistir dessa ideia de ser homem e agir de forma mais feminina para tentar conquistar o Touta. Desse jeito, todo mundo sai ganhando.
— Aonde que todo mundo vai sair ganhando com isso?! - Kuroumaru exclamou sem entender - Eu já disse que sou homem! E que quero ser amigo do Touta!
— Olha só, você pode até querer ser homem, mas essa história de amizade não cola mais, Kuroumaru… - Kirie riu com desdém.
— Mas é a verdade! - o garoto rebateu, cansado de discutir o mesmo assunto várias vezes.
— Tem razão - Ikkuu milagrosamente concordou - Pelo menos quanto a parte de você querer ser homem. Isso parece ser verdade mesmo.
— Mas você não pode negar que ele gosta do Touta - Karin rebateu - Isso parece bastante óbvio, não acha?
— Escuta… - Santa, que tinha observado tudo em silêncio até agora, enfim se pronunciou - Será que não é possível que as duas coisas sejam verdadeiras? Quero dizer, o desejo do Tonisaka-senpai de querer ser um homem parece ser verdadeiro para mim. E, quanto a outra parte, bem… - ele coçou atrás da cabeça, sem graça - Tonisaka-senpai, lembra quando você e o Touta estavam morando comigo no alojamento da escola? Quando vocês ainda não tinham percebido quem eu era, ou pelo menos quando não tinham certeza, você segurou a minha mão durante o café da manhã… agora eu sei que você queria saber se eu era um humano comum ou um morto regressante, mas naquela hora eu pensei que… bem… p-pensei que você estava a fim de mim - ele falou, olhando para o lado, ligeiramente desconcertado. Kuroumaru também corou ao ouvir aquilo mas, antes que pudesse falar alguma coisa, ele prosseguiu - O que eu quero dizer é que, sendo eu um garoto, e você também… bom, se esse pensamento me ocorreu, não é impossível que dois garotos se apaixonem um pelo outro, certo? - Santa concluiu - Mas que fique claro que eu não sinto nada por você, ouviu? - ele acrescentou rapidamente.
— Mas é claro… como eu não pensei nisso antes? - por algum motivo os olhos de Kirie começaram a brilhar de repente - O novato está coberto de razão dessa vez! Kuroumaru, você não precisa se tornar uma garota para ficar com o Touta! Nunca ouviu falar em casais gays?
— Você mesma não tinha pensado nisso antes do Santa mencionar essa possibilidade, Kirie - Ikkuu lembrou, mas a garota o ignorou.
— Isso é ainda mais interessante do que a possibilidade de você se tornar uma mulher quando atingir a idade adulta! - a menina continuou tagarelando.
— Como isso pode ser mais interessante? - Santa indagou confuso.
— E eu já disse que não sou mulher! - Kuroumaru exclamou - E também não sou gay.
— Tem certeza? - Karin indagou - Porque, ou você continua sendo um garoto e é gay porque gosta do Touta, ou vai se tornar uma mulher quando atingir a idade adulta porque gosta dele.
— Tudo isso que vocês estão dizendo é um absurdo - Kuroumaru falou cansado - Eu não g-gosto do Touta desse jeito… e também não sou mulher.
— Não adianta negar isso quando você pode ficar com o Touta e continuar sendo um homem! - Kirie exclamou, visivelmente empolgada com a ideia.
— Não sei não, Kirie… o Touta não parece o tipo de pessoa que gosta de homens - Karin ponderou.
— Além do mais, não era você mesma que estava tagarelando agora a pouco sobre a possibilidade do Touta gostar da Yukihime-san? - Santa lembrou.
— É verdade… - a vermelhidão desapareceu do rosto de Kuroumaru quase que instantaneamente, sendo substituída por um tom pálido - Talvez ele… goste da Yukihime-san. Existe essa possibilidade, não é?
— Bem, então seria um triângulo amoroso! Torna tudo ainda mais emocionante! - Kirie juntou as mãos ao peito, os olhos brilhando por trás das lentes dos óculos.
— Pare com isso, não tem triângulo nenhum. A Karin-senpai tem razão, o Touta não é o tipo de cara que gosta de outros homens - Kuroumaru falou abanando a cabeça, como se isso pudesse afastar aqueles pensamentos - E também, que diferença isso faz? Mesmo que fosse, não importa. Ele é meu amigo, e nada mais do que isso.
— Mas Kuroumaru…
— Já chega de falar desse assunto, Kirie - o garoto pediu e saiu do quarto, batendo a porta com força atrás de si.

Kuroumaru se trancou no quarto e se jogou na cama, perdido em pensamentos. Olhou para a cama debaixo, que agora estava vazia. A bicama que compartilhava com Touta parecia estranhamente fria sem a presença dele no quarto. Já estava tão acostumado em acordar com o garoto batendo com a cabeça na cama de cima que aquele som havia se tornado praticamente seu despertador personalizado. Porém, mais importante do que isso, era a insegurança que sentia por não saber onde Touta estava ou quando iria voltar. Isto é, se ele iria voltar algum dia. O aperto em seu peito havia aumentado, causando uma sensação dolorosa em seu coração. O que o fez pensar no que os outros disseram.

Não era possível que ele estivesse mesmo apaixonado por Touta, era? Quer dizer, ele também era um garoto! Mas então, o que significava esse aperto em seu peito? Essa angústia que não ia embora por não saber onde Touta estava, ou se estava bem? Não, aquilo não podia ser verdade… ele e Touta eram amigos. É normal se preocupar com amigos, certo? Os outros também estavam preocupados com o garoto, então não havia nada de mais nisso.

Sim, era normal se preocupar com amigos, mas… então, por que as palavras de Santa e Karin não saíam de sua cabeça?

"O que eu quero dizer é que, sendo eu um garoto, e você também… bom, se esse pensamento me ocorreu, não é impossível que dois garotos se apaixonem um pelo outro, certo?".

"Ou você continua sendo um garoto e é gay porque gosta do Touta, ou vai se tornar uma mulher quando atingir a idade adulta porque gosta dele".

Realmente, aquele pensamento nunca tinha lhe ocorrido, tinha que admitir. Era muito comum existir casais gays nos dias de hoje, e muito bem aceitos se comparados com algumas décadas atrás. Kuroumaru sempre se identificou como um homem desde que se entende por gente, e sempre odiou quando alguém o confundia com uma garota… aquilo seria…
Seria o que?

Um absurdo! Mas é claro que seria um completo absurdo! No que ele estava pensando afinal? Touta era seu amigo, e ele queria se aproximar dele como um homem, mas não desse jeito! Queria continuar sendo amigo dele, apenas isso. Não podia se deixar levar tão facilmente pelas ideias mirabolantes dos amigos, principalmente de Kirie. Sim, aquela garota era uma verdadeira mestra na arte da manipulação. Francamente, Touta fugiu de casa, tinha ido sabe-se lá para onde, poderia estar passando fome, frio, poderia estar até mesmo em apuros… e lá estava ele, fantasiando coisas sem sentido como viver um romance com seu amigo! Deveria se envergonhar! Até mesmo porque era possível que o que Kirie dissera antes talvez fosse verdade.
Talvez Touta gostasse mesmo de Yukihime afinal.


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Depois de chegar em terra firme, Touta vagou sem rumo, perdido em pensamentos sobre seu bisavô e seu avô que ele nunca tinha conhecido, mas sobre os quais ouviu histórias tão fantásticas que era difícil acreditar que os dois eram pessoas de verdade. Mais difícil ainda de acreditar que eram seus parentes. Mas, se eles eram parentes, então talvez Touta também conseguisse salvar o mundo, assim como os dois fizeram, não é? Assim, seus amigos iriam se orgulhar dele, com certeza… Santa, Ikkuu, Kirie, Karin… e também… Kuroumaru e Yukihime.

É verdade. Durante toda a viagem aquelas palavras não saíram de sua cabeça:

"O Touta ama ela! É love!".
"Sim, ele ama, mas deve ser algo mais maternal…"
"Não, é no sentido romântico!".

Quem tinha razão afinal? Kuroumaru ou Kirie? Touta certamente gostava de Yukihime, mas em que sentido? Ele nunca tinha parado para pensar nisso… até agora.

Bom, ele tinha tempo de sobra para fazer isso agora. Se fosse para analisar do ponto de vista de Kirie… bem, a menina disse que ele supostamente gostava de Yukihime no sentido romântico. E alguém que gosta de outra pessoa no sentido romântico sente vontade de abraçar, beijar, e… ele não conseguiu sequer pensar no resto. Não conseguia se imaginar fazendo esse tipo de coisas com Yukihime. Quer dizer, ela era linda, mas também o tinha criado durante dois anos… mas Yukihime não era mãe dele. Céus, aquilo era tão confuso!

Certo, calma. Não iria adiantar nada ele se estressar daquele jeito. Talvez, se tentasse comparar essa coisa de
"sentimento romântico" com o que sentia por outra pessoa, talvez desse para saber se ele gostava mesmo de Yukihime nesse sentido ou não. Então, vamos ver… certo, Kuroumaru. Eles se conheciam a pouco tempo, agora que parou para pensar, mas sentia como se conhecesse o garoto há vários anos. Já tinham enfrentado vários perigos juntos, ele era um companheiro com quem sempre poderia contar.

Ei, espere aí. Por que Touta pensou logo em Kuroumaru? Ele estava tentando comparar os sentimentos que nutre por Yukihime com os que tem por alguma outra pessoa para saber se são românticos ou não, mas… não adiantava nada comparar com os sentimentos que ele nutria por Kuroumaru se ele era um garoto, não é? Quer dizer, era verdade que ele tinha uma aparência delicada e enrolava a toalha no corpo feito uma menina quando tomava banho, mas ainda assim era um garoto como ele, certo? Touta deveria ter pensado em Karin ou Kirie primeiro, e não nele… e imediatamente descartou a hipótese. Karin claramente não ia com a cara dele e Touta precisava se esforçar para não irritá-la, e Kirie vivia
chamando-o de "nulo", eram raras as vezes em que tinham uma conversa civilizada… talvez tenha sido por isso que pensou em Kuroumaru primeiro. O que ainda não fazia muito sentido, já que ele era um garoto, mas se fosse considerar a aparência… bem, se Touta queria comparar os sentimentos que nutria por Yukihime com os de alguma outra pessoa, então essa pessoa só podia ser Kuroumaru mesmo.

De todos que conheceu desde que se uniu à UQ Holder, ele era com certeza a pessoa mais próxima dele. Também era forte e confiável… provavelmente mais forte do que aparentava, agora Touta sabia disso, já que tinha lutado contra ele enquanto o garoto estava sendo controlado por Sayoko e comprovado que o amigo sempre pegava leve com ele durante os treinos. E ele até que era bonito… lembrou de como Kuroumaru tinha ficado bem no uniforme escolar feminino que Karin o obrigou a vestir quando eles foram investigar o colégio interno onde Santa morava. Mas, mesmo com suas roupas normais, ele tinha uma boa aparência… espera, no que isso ajudava a definir seus sentimentos por Yukihime? Ele acabou de descrever uma ficha técnica mental de seu amigo e não chegou a lugar nenhum! Isso sem falar que Kuroumaru provavelmente teria um ataque se ouvisse o que Touta acabou de pensar sobre ele. Touta começou a rir com esse
pensamento, mas, mesmo aquelas gargalhadas não faziam com que ele esquecesse o verdadeiro motivo pelo qual ele fugiu de casa: Provar que ele era forte o bastante para deixar as pessoas de quem gostava orgulhosas dele. E também… quem era realmente a pessoa de quem ele mais gostava.

 

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Três dias se passaram desde que Touta fugiu de casa mas, para aqueles que ficaram na sede da UQ Holder pareceu uma eternidade. Bom, pelo menos para Kuromaru pareceu. No mesmo instante em que o garoto deixou o esconderijo em que viviam, o quarto que os dois compartilhavam já parecia estranhamente frio sem a presença de Touta. Agora então, parecia ter ficado até maior, ainda que o garoto não tivesse levado quase nada com ele. Era um quarto frio e solitário. Kuroumaru sentou-se na cama onde Touta costumava dormir, que ainda conservava um pouco do cheiro dele.

— Touta… onde você está agora? - ele deitou na cama de lado e abraçou os próprios joelhos. Desejava mais do que nunca saber onde o amigo estava. Se estava bem, se estava se alimentando direito, se não tinha se metido em nenhuma confusão… seu coração apertava dolorosamente cada vez que pensava nisso.

Céus, ele tinha que parar de pensar nisso. Kirie tinha razão, desse jeito ele parecia mesmo uma adolescente apaixonada! Kuroumaru levantou-se abruptamente quando esse pensamento lhe ocorreu e bateu com a cabeça na cama de cima, soltando um gemido de dor. Em seguida deixou escapar uma risada ao se lembrar de como Touta costumava bater a cabeça ali todas as manhãs, e ficou triste de novo por Touta não estar mais ali. Não, ele não podia agir assim. Tinha que confiar em Touta, ele era seu amigo, era forte o suficiente para cuidar de si mesmo. Não adiantava de nada ficar ali se lamentando por causa da ausência do garoto. Precisava ocupar sua mente com outra coisa.

Kuroumaru deixou o quarto e foi até a biblioteca, pegou um livro aleatório e se dirigiu até a varanda, onde estavam Kirie e Ikkuu. Talvez um ar fresco lhe ajudasse a esfriar a cabeça, e um bom livro a distrair a mente. Sim, era disso que ele precisava.

— Gosta dele? - Ikkuu perguntou abruptamente, para ninguém em especial.
— Não! - Kuroumaru e Kirie exclamaram ao mesmo tempo.

Espere, o que foi aquilo? Por que Kuroumaru tinha respondido? Nem sequer sabia de quem Ikkuu estava falando, ou com quem ele estava falando. Provavelmente com Kirie, que tinha chegado lá antes dele, mas nem sequer sabia a quem Ikkuu estava se referindo… então por que ele também respondeu? Seja lá de quem Ikkuu estivesse falando, não era do interesse de Kuroumaru, já que ele estava se referindo a algum homem, certo? E dava para ver na cara do amigo que ele só estava tirando sarro com aquela pergunta… embora Kuroumaru não soubesse se era dele ou de Kirie.

— Já faz três dias, não é? - Kirie comentou como quem fala do tempo, tentando disfarçar o embaraço - Desde que aquele nulo foi embora.
— Será que o Touta está bem? Estou preocupado com ele - Santa indagou, adentrando a varanda. Como ele conseguia dizer aquilo tão despreocupadamente? Santa também era um garoto afinal! Bem, é claro que Kuroumaru não era tecnicamente um garoto, mas mesmo assim…
— Então, o que acham? - Ikkuu indagou e, quando os demais olharam para ele, o homem estava rodando a chave de um buggy aquático nos dedos com um sorriso como o de uma criança travessa no rosto. É mesmo, no fundo Ikkuu ainda era uma criança. Era difícil de lembrar disso, considerando a aparência que ele tinha. 
— Está dizendo… para irmos atrás do Touta? - Kuroumaru indagou incrédulo.
— Eu não disse nada disso. Só estou aqui segurando as chaves de um buggy aquático… e agora vou deixá-las em cima da mesa e esquecê-las aqui "acidentalmente" - ele as depositou na pequena mesa de centro ao dizer isso - E agora vou conversar com a Karin durante o máximo de tempo possível, pois ela jamais aprovaria essa ideia que você acabou de ter, Kuroumaru - ele deu uma piscadela e deixou a varanda, sumindo de vista.

Os três se entreolharam por um instante. Não foi preciso trocar palavras para chegarem a um acordo. Como se tivessem combinado tudo mentalmente, Santa pegou as chaves que Ikkuu "esqueceu" em cima da mesa enquanto Kuroumaru e Kirie já pulavam pela sacada para o buggy aquático mais próximo.


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Os problemas de Touta aumentaram drasticamente em apenas três dias. Inicialmente ele havia fugido de casa porque queria que seus amigos se sentissem orgulhosos dele, muito embora não tivesse a menor ideia de como faria isso. Depois, percebeu que o tempo que ouviu Kirie tagarelando sobre a possibilidade de ele gostar de Yukihime lhe fez perceber que ele não sabia de fato qual era o sentimento que ele nutria pela vampira. E, pensando nisso, acabou se pegando pensando em Kuroumaru de um jeito quase romântico enquanto comparava esse sentimento em relação ao que sentia por seus outros amigos.

Mas seus problemas haviam aumentado desde então. Touta descobriu que havia outro jeito de entrar no Torneio Ulti-Mahora e inicialmente ficou bastante animado com isso, mas logo essa empolgação passageira foi embora quando descobriu que não podia usar aplicativos de magia. E, para completar, estava lutando com uma garota que dizia ser sua irmã nesse exato momento. E mais, a garota sem nome insistia em dizer que ele era um clone. Uma cópia defeituosa.

Mas como assim um clone? Então quer dizer que ele não era de fato o neto do famoso Negi Springfield? Nesse caso, quem eram seus verdadeiros pais? Não, não era hora de se preocupar com isso. Sua prioridade no momento era derrotar aquela garota, que era surpreendentemente forte, talvez até mais do que ele. Sim, ela provavelmente era mais forte do que Touta… ou, pelo menos, conhecia mais magias do que ele, visto que o garoto estava levando uma bela surra.

O que era aquilo? O que ela estava dizendo? Touta não conseguia escutar. Estava doendo tanto…

— Você é só uma cópia - a menina dizia enquanto o segurava pela gola da camisa rasgada - Você nunca foi ninguém… e continuará sendo ninguém. É apenas uma aberração.

Mesmo essas palavras cruéis demoravam para fazer sentido para Touta. Sua cabeça estava latejando de dor e sua boca tinha gosto de sangue. Aquela garota tinha razão… ele não conseguia fazer nada sozinho, nunca conseguiu. Dependeu de Yukihime para sobreviver na vila onde morava, e não conseguia sequer se defender de uma menina sem a ajuda de seus amigos. Ele era tão fraco se comparado a Santa ou Kuroumaru… e agora iria morrer ali, sozinho. Seu corpo estava doendo tanto, e cada palavra proferida por aquela garota era como uma facada em seu peito… tudo o que Touta queria era fechar os olhos e descansar…
E assim o fez. A última coisa que viu antes de fechar os olhos completamente foi um vislumbre de seus amigos, prontos para atacar a garota que estava prestes a derrotá-lo e que poderia muito bem ser fruto de sua imaginação. Provavelmente era apenas algum tipo de ilusão causada pelo desejo de ter seus amigos ali, vindo salvá-lo. Santa, Kirie… e Kuroumaru.


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Quando Touta abriu os olhos, estava em um local totalmente diferente. Tinha voltado para a casa de Lazlo e estava deitado em uma cama de hóspedes. Boa parte de seu corpo estava enfaixada com bandagens e um tanto doloridas. A primeira coisa que viu quando abriu os olhos foi o rosto de Kuroumaru, observando-o do alto. Ele exibia um olhar preocupado e estava levemente corado. Pensando bem, ele estava quase sempre corado. Francamente, do que raios aquele garoto tinha tanta vergonha afinal? Antes que chegasse a uma conclusão, a expressão dele mudou de preocupação para alívio.

Realmente… era um alívio ver Touta finalmente abrindo os olhos. Saber que ele estava bem. Bom, não exatamente 100%, considerando que os ferimentos não tinham se curado instantaneamente como geralmente acontece com os vampiros, mas ainda assim… ele estava vivo e consciente, é isso que importa. Kuroumaru sentiu o coração mais leve só em saber disso.

— Kuroumaru? - Touta chamou - O que está fazendo aqui? - ele olhou brevemente para a própria mão enfaixada que o outro garoto segurava e depois de volta para o rosto dele. Kuroumaru seguiu o olhar de Touta e se apressou em soltar a mão dele, a vermelhidão de seu rosto se intensificando, muito embora Touta não tivesse dito nada.
— Ah, é que… b-bom, nós ficamos preocupados - ele coçou atrás da cabeça para disfarçar o embaraço - Acabamos indo atrás de você, e quando te vimos naquela situação…
— Então foram vocês mesmo que me salvaram, não é? - Touta deixou escapar um sorriso fraco, que se desfez instantes depois, quando seus olhos se arregalaram em confusão - Espera aí, você disse "nós"?

Como que para responder àquela pergunta, Kirie e Santa adentraram o quarto, seguidos por Lazlo e Chikage, fazendo um grande estardalhaço, perguntando se Touta tinha morrido, ou se tinha perdido um braço, ou a memória, dentre outros absurdos. Demorou alguns minutos até os dois se recomporem e entenderem que Touta estava nas melhores condições possíveis, e tudo o que desejava no momento era comer alguma coisa. E então se iniciou uma nova discussão sobre quem iria alimentá-lo, visto que o garoto estava com ambas as mãos enfaixadas e não conseguia se alimentar sozinho. Touta achou tudo aquilo uma verdadeira perda de tempo. Não entendeu porque Kirie não deixou que Chikage o fizesse porque ele era um homem, mas por algum motivo ela também não quis fazer e, ao invés disso derrubou a comida em cima dele. Kirie então empurrou o que sobrou da comida para Kuroumaru e ordenou que ele alimentasse Touta, o que fez menos sentido ainda. Se ela estava implicando com Chikage porque era estranho um homem fazer isso, então por que não era estranho Kuroumaru fazer, se ele também era um homem? De qualquer forma, ele também pareceu achar estranho, já que saiu correndo sem concluir a tarefa. Felizmente, Santa não pareceu se importar com isso e não deixou que Touta passasse fome. Touta ainda podia captar alguns fragmentos das frases de Kirie, que agora parecia estar dando uma bronca em Kuroumaru do outro lado do quarto:

— Era a sua chance de aumentar sua intimidade com ele tanto como homem…
— Como homem?!
— Você é tão lerdo que…

Aumentar a intimidade? Do que eles estavam falando? Touta não conseguia ouvir direito… bem, não importa. Aquela sopa estava uma delícia afinal.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo e obrigada por ter lido até o final! Como eu tinha dito lá no começo, essa é a história contada de acordo com o meu ponto de vista, mas ela irá sofrer bastante alterações nos próximos capítulos da fic… bem, eu espero que vocês tenham gostado! E, já que leram até aqui, por favor, deixem suas opiniões, críticas construtivas (elogios, talvez? *-*) nos comentários, isso é muito importante para mim!
Kissus e até o próximo capítulo^^



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