Devaneio escrita por CowardMontblanc


Capítulo 1
Devaneio


Notas iniciais do capítulo

Curiosamente, meu plano original para esse desafio envolvia outro plot do mesmo fandom, mas com um OT3, universo alternativo e tudo mais, só que o negócio ficou tão complexo no planejamento que eu fiquei com medo de extrapolar o limite de palavras DSHAKHADS

PORÉM, eu já queria escrever algo com esse casal faz um tempo, então usei esse momento como oportunidade pra trabalhar com eles.

É um fluff básico, short and sweet. Literalmente meninos fofos com poderes apaixonadinhos (e adolescentes sendo adolescentes).

Boa leitura! ♥



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Devaneio

Tudo começou com os cochichos. Bakugou já estava acostumado com a atmosfera na sala de aula, e não era como se ele normalmente ligasse para o burburinho típico dos outros estudantes durante as aulas. Afinal, não era como se ele mesmo também já não tivesse conversado algumas vezes, ou passado recados em bilhetes escondidos.

O que o incomodava, porém, era que ele podia notar que a grande maioria da classe parecia estar tentando falar mais baixo que o normal. Ao seu redor, em específico, os outros estudantes evitavam falar muito - vez ou outra o garoto via alguns pedaços de papel sendo passados. Além disso, toda vez que ele tentava fazer contato visual com alguém, ele era recebido com um risinho ou com uma tentativa de evitá-lo.

Se fosse apenas por um dia, ele teria deixado passar. Mesmo assim, aquilo era estranho: Bakugou Katsuki não se recordava de nada de especial acontecendo nos últimos dias para que as pessoas pudessem ficar falando dele pelas costas. Ele literalmente não fez nada além de agir da maneira de sempre.

Além disso, enquanto ele observava o comportamento suspeito de seus colegas, ele notou que Todoroki Shouto não participava das conversas, e ninguém parecia querer incluí-lo. Aquilo era definitivamente suspeito, considerando sua popularidade - por mais que Bakugou não gostasse de admitir. Ainda assim, o garoto não parecia abalado, e todas as vezes que Bakugou tentava lhe dirigir o olhar e chamar sua atenção, o rapaz de cabelo meio vermelho e meio branco apenas acenava de volta para ele e voltava a estudar.

Foi depois da sua terceira tentativa que Bakugou entendeu que Todoroki não tinha sequer notado o comportamento esquisito dos outros estudantes. Aquilo, de certa forma, o deixou ainda mais irritado do que o fato de que seus amigos não estavam falando com ele sobre o seja lá o que fosse o boato do momento.

Aquilo durou uma semana. Durante sete dias seguidos, toda a classe parecia estar animada em cochichar sobre alguma coisa que parecia ser ou muito importante ou muito engraçada, sem contar para ele ou Todoroki. A pior parte era que Todoroki conseguiu realizar a incrível proeza de não notar - ou, se ele notou e decidiu ignorar, Bakugou devia dizer que aquela foi uma atuação bastante digna.

De qualquer forma, ele não estava disposto a deixar aquilo morrer com o passar do tempo. Bakugou queria informações, e queria rápido. Para isso, precisava perguntar a alguém.

Por sorte, Bakugou não precisou pensar muito para saber a quem perguntar. Assim que as aulas da sexta-feira acabaram, ele arrumou o seu material o mais rápido possível e seguiu Denki Kaminari pelo corredor, ficando alguns passos atrás e se mesclando com os outros estudantes. Quando ele o viu entrando no banheiro, Bakugou fez o mesmo, e logo o puxou para uma das cabines.

O outro garoto deu um grito de surpresa, que foi abafado pela mão de Bakugou. Depois que ele parou, Bakugou deixou de cobrí-la, e começou a falar imediatamente, sem dar a menor chance para que Denki perguntasse o que ele estava fazendo ali e o que tanto queria.

“Me explica o que caralhos tá acontecendo. Agora.” Bakugou colocou ênfase na última palavra, e Denki teve que se controlar para não parecer muito surpreso. Ele realmente não imaginava que o outro rapaz havia notado toda a perturbação da classe - o que foi uma falha da sua parte, e talvez dos outros alunos.

Mesmo assim, era difícil não controlar a empolgação com a informação sendo debatida. Informação essa que era melhor que Bakugou e Todoroki não ficassem sabendo.

“Como assim, cara?” Ele deu de ombros, fingindo desconhecimento. Bakugou não acreditou, porém, e só não o prensou contra a parede porque a privada estava no meio do caminho. De qualquer forma, a impaciência em seus olhos vermelhos não fazia com que Denki não se sentisse menos encurralado.

“Não se faça de burro. Eu vi todos vocês cochichando a porra da semana inteira, sem falar comigo ou com o cara de pavê. Anda, qual é a piada?” Bakugou não piscou enquanto falava, seus olhos fixos nos de Denki. Quanto mais o tempo passava, mais aquela conversa e aquele cubículo fechado se tornavam desconfortáveis.

“Não é uma piada.” Denki ao menos podia afirmar isso, o que de certa forma aliviou um pouco o coração de Bakugou. Ao menos indicava que ele realmente não fez nada que pudesse ser visto daquela maneira nos últimos tempos.

No entanto, aquilo deixava uma opção sobrando.

“Então é o que, fofoca?” Bakugou questionou, e logo em seguida Denki murmurou “sim” e moveu a cabeça afirmativamente. Ainda assim, Bakugou não estava satisfeito, e logo soltou um “desembucha, cacete” que fez com que Denki acabasse rindo de nervoso - resposta essa que não foi muito prudente, visto como Bakugou franziu as sobrancelhas.

“Você tem certeza que quer saber?” O jovem resolveu dar a Bakugou uma última chance de repensar, até para que ele mesmo ganhasse tempo. É claro, ele poderia muito bem tentar inventar uma desculpa e mentir, mas o outro estudante logo descobriria nesse caso e isso só o deixaria mais irritado não apenas com Denki mas também com a turma inteira, com a exceção de Todoroki.

“Claro que tenho, porra! Não é sobre mim?” Bakugou elevou o tom de voz, e Denki coçou a nuca, além de brincar um pouco com os fios de cabelo loiro. Ele tentou não olhar nos olhos de Bakugou, que já estava pisando no chão com um pé, quase como se fosse um coelho ansioso.

A diferença era que coelhos eram criaturas bem mais mansas que Bakugou.

“Se você não falar essa merda logo eu não te passo mais cola de matemática e deixo você se foder sozinho.” O adolescente optou por uma boa ameaça, e Denki engoliu a própria saliva. Agora que estava com suas notas em jogo, ele realmente precisava contar, porque se dependesse dele sozinho ele jamais seria capaz de ficar na média.

Por isso, Denki respirou fundo antes de abrir a boca novamente e contar a verdade.  

“Caralho, mano, assim você não me deixa escolha… Ok, está bem. Tá todo mundo achando que você tem uma queda pelo Todoroki.” Ele enfim confessou, e por alguns segundos o silêncio de Bakugou o assustou mais do que qualquer coisa. Denki literalmente achou que conseguiu deixá-lo confuso, mas assim que ele teve esse pensamento, o outro rapaz voltou a falar.

“Que porra de ideia tirada do cu é essa?” Bakugou estava claramente surpreso, irritado, e até mesmo um tanto envergonhado - não por conta dos boatos sobre sua sexualidade, mas pelo fato de que estavam envolvendo Todoroki naquilo tudo.

“Olha, não tem problema você ser gay! Quero dizer, olha pro Midoriya e Kirishima!” Denki interpretou tudo errado, e Bakugou soltou um grunhido irritado. Era claro que ele sabia que não tinha problema se ele gostasse de garotos, todos na turma 1-A sabiam do caso entre Midoriya e Kirishima.

Era impossível não saber, considerando como os dois viviam se elogiando e trocando demonstrações públicas de afeto praticamente o tempo inteiro. Toda vez que eles se olhavam era claro o quanto ambos se gostavam, isso quando não trocavam bilhetinhos durante as aulas, dividiam o almoço, ou tentavam flertar de maneiras não tão discretas no vestiário.

Bakugou torcia de verdade pela felicidade do casal, mas aquilo chegava a ser tão doce que, alguns dias, era um tanto enjoativo.

“Eu sei que eles namoram, dá pra sentir de longe o cheiro da viadagem entre eles e não é como se eles escondessem. Não tô puto por vocês acharem que eu sou gay, é porque vocês acham que eu sou gay logo pelo duas caras.” O rapaz explicou, por fim, e Denki apenas soltou um “oh” em compreensão antes de voltar a falar - já que ele tinha começado, era melhor terminar tudo ali mesmo.

“Mas, assim, não é só isso. A gente acha que o Todoroki tá apaixonado por você também.” Denki completou o que tinha que falar, e Bakugou teve que se controlar para não colocar a mão na própria testa em pura frustração. Na verdade, ele bem que já devia ter adivinhado, considerando como Denki tinha começado a falar e como aquilo se tratava de um boato dentro de um ambiente colegial.

Enquanto tudo se mantivesse entre os alunos da sua sala, porém, Bakugou ainda seria capaz de sobreviver. A última coisa que ele precisava era que aquilo se espalhasse para os alunos das outras turmas. Já bastava que, em uma turma de vinte alunos, dezoito estivessem conspirando sobre sua vida amorosa, e um deles fosse supostamente sua paixonite que não estava sabendo de nada daquela história.

Bakugou suspirou. Aquilo estava ficando cada vez mais ridículo.

“Que mentira, isso é uma fantasia que vocês também tiraram bem do fundo do olho do cu. Nem fodendo que ele deve ser apaixonado por mim também, vocês tão é num sonho de uma noite de verão.” Ele afirmou com a voz firme, de certa forma tentando esconder a incerteza. Quanto ao que se tratava de Todoroki, Bakugou não tinha realmente segurança para falar, mas considerando o quanto o garoto parecia se preocupar mais com outras coisas, ele provavelmente não estava apaixonado.

Provavelmente sendo a palavra chave.

“Tá, mas você é gay?” Denki interrompeu seus pensamentos, e Bakugou decidiu que já bastava daquela conversa. Ele já tinha conseguido o que queria, e naquele momento ele não estava disposto a responder aquela pergunta.

Sendo assim, ele se virou e abriu a porta, mas não sem antes olhar para o outro rapaz por cima do ombro.

“Responda sua curiosidade!” Ao menos a satisfação de ter a palavra final naquele assunto bastava. Assim que Bakugou terminou de falar, ele fechou a porta na cara de Denki, e saiu andando a passos firmes e rápidos sem se importar se iria trombar com alguém ou não.

Não era possível que ele estivesse apaixonado por Todoroki Shouto. Na primeira vez que Bakugou o viu usando sua individualidade, ele ficou frustrado por ter que reconhecer sua força. Seu temperamento o irritava, porque ele sempre estava calmo e ele não parecia entender parte de seus xingamentos - tanto que ele nunca se abalava.

Uma coisa que Bakugou tinha que reconhecer, porém, era que Todoroki era bonito. Muito bonito. Um garoto com o cabelo dividido no meio em duas cores, com heterocromia e uma cicatriz de queimadura cobrindo quase metade do rosto não deveria ser tão atraente. Não era novidade que várias pessoas sempre comentavam isso dele, porque simplesmente era verdade. Mesmo assim, Bakugou não era de se apaixonar apenas levando a aparência em consideração.

Como ele poderia aguentar um relacionamento com alguém como Todoroki? Aquilo era inviável.

Bakugou passou o final de semana inteiro pensando sobre isso, e toda vez que a imagem de Todoroki aparecia em sua mente, ele tinha vontade de explodir alguma coisa. Na verdade, ele mesmo achava que sua cabeça ia explodir de tanto nervoso. Por mais que ele buscasse se ocupar, a conversa que ele teve com Denki sempre voltava para os seus pensamentos, e com ela, Todoroki.

Na segunda-feira seguinte, Bakugou não soube como agir assim que viu o outro garoto sentado na sua carteira. Ele tentou ignorá-lo, mas alguma força interior o fazia querer continuar a observá-lo, analisá-lo quase como se por acaso eles fossem oponentes em uma luta.

Durante as aulas, Bakugou se pegou fazendo exatamente isso: espiando Todoroki pelo canto dos olhos, ignorando todo cochicho e risada abafada que parecia estar suspeitamente em sincronia com suas ações.

Todoroki era o típico aluno que se sentava com postura exemplar e ficava quieto durante a aula inteira. Mesmo nos momentos mais entediantes, ele não começava a rabiscar seu caderno, e resignava-se a girar a caneta por entre os dedos da mão. Algumas vezes ele se atrapalhava, e Bakugou tinha que segurar o riso quando ele abria mais os olhos e quase soltava algum som de frustração.

Na hora do almoço, Bakugou notou algo bastante importante: Todoroki comia devagar, mas ele comia muito. Seu prato era o mais cheio da mesa, e Bakugou imaginava que ele devia puxar bastante peso para precisar de toda aquela comida em seu organismo. Ele quase não falava, preferindo saborear o que estivesse comendo a participar da conversa, e de certa forma era até fofo da sua parte.

Também era fofo como Todoroki cumprimentava-o todas as manhãs, e como ele não se importava quando Bakugou o respondia em voz alta, claramente já acostumado. Algumas vezes, antes das aulas começarem, ele se espreguiçava e mesmo os sons baixinhos que saíam de sua boca eram suaves.

Quando seus olhares se encontravam durante as aulas, Todoroki acenava de volta, e demorou um pouco para Bakugou perceber que a vermelhidão em suas bochechas não era fruto de sua individualidade ou do verão que se aproximava.

Além disso, ele sempre virava o rosto cobrindo o lado direito, a mão evitando tocar na cicatriz antiga. Seria vergonha dela? Ele não se achava atraente por conta daquele detalhe?

Bakugou queria descobrir, queria saber mais. Queria vê-lo sorrindo mais vezes - aquele sorriso discreto, com os lábios ligeiramente curvados para cima, mas também queria saber como seria o som de sua gargalhada -, saber o que fazia no tempo livre, se gostava mais de cães ou gatos, livro ou filme, primavera ou outono. Tinha curiosidade sobre como sua individualidade funcionava, gostava de como os fios de seu cabelo de duas cores se misturavam exatamente no meio de sua cabeça quando o vento balançava forte.

Queria saber tanto sobre Todoroki que ele simplesmente passou a ignorar o burburinho de seus colegas, fixando seus olhares e seus pensamentos apenas sobre o outro garoto por dias a fio.

Foi apenas depois disso tudo que Bakugou percebeu que as especulações de seus colegas era verdadeira: ele estava genuinamente apaixonado por Todoroki Shouto. O que ele sentia quando eles ficavam perto - a ansiedade em suas pernas, o coração batendo mais rápido, as palavras que se enrolavam em sua língua antes de falar - nada mais eram do que provas disso. O que antes ele achava que era desgosto, nada mais era do que amor.

Assim que ele aceitou esse fato, sozinho em seu quarto, sua primeira reação foi afundar a cabeça no travesseiro e murmurar um “filho da puta”, que ele não soube bem se foi direcionado para si mesmo ou para Todoroki.

Assim, Bakugou não queria deixar que o tempo passasse sem nada acontecer. Ele já estava quase enlouquecendo apenas de observar o outro garoto, sabendo que todo o resto de sua turma estava de olho neles, certamente ansiando pelo momento em que alguma coisa iria acontecer.

Por mais que Bakugou realmente quisesse fazer essa alguma coisa - ainda que ele não soubesse em detalhes -, ele ainda não queria que fosse na frente de toda a classe. Algo de tamanha importância devia ser tratado em particular, ou ao menos era o que ele achava.

Não que ele estivesse com medo de ser rejeitado. Bakugou já estava suspeitando que Todoroki realmente correspondia aos seus sentimentos.

Mesmo assim, o loiro tinha que admitir para si mesmo que ele nunca foi bom para lidar com sentimentos - ele era intenso demais, misturava as coisas demais, era impulsivo demais. Não ajudava, também, o fato de que ele era um adolescente.

Por um momento, logo após a aula, ele cogitou conversar em particular com Kirishima e Midoriya primeiro. Bakugou ficou parado na saída da escola, e pouco mais à frente se encontrava o casal. Eles pareciam incrivelmente animados, rindo e trocando tapinhas nos ombros, presos em um universo só deles enquanto caminhavam, quase dançando em tamanha felicidade.

Parecia até errado, para Bakugou, se intrometer e atrapalhar o momento dos dois. Mesmo assim, ele sabia que devia se decidir logo, porque eles não iriam ficar parados esperando até que ele decidisse o que fazer.

Antes que ele tomasse tal decisão, alguém cutucou o seu ombro.

“Está tudo bem, Bakugou?” Todoroki perguntou, a voz calma e gentil como sempre. Havia algo que parecia uma mistura de curiosidade e preocupação em seus olhos, e ele ainda estava com a mão próxima do ombro do outro garoto, como se estivesse com medo de se mexer muito.

“Claro que sim! Não precisa perguntar desse jeito!” Bakugou praticamente pulou, e fingiu irritação para esconder o fato de que, na verdade, ele só foi pego de surpresa. Todoroki continuou olhando para ele, mas ao menos recolheu a mão, deixando-o um pouco mais confortável.

“Desculpe. É que você estava parado sem fazer nada, pensei se não estava passando mal ou…” O rapaz começou a falar novamente, e Bakugou ficou até mesmo um tanto constrangido com a escolha de palavras e com sua maneira de narrar a situação. Sim, ele sabia o que estava fazendo, mas não imaginava que iria chamar a atenção de alguém dessa forma - especialmente a de Todoroki.

“Não, não é nada disso. Eu tô bem.” Ele o interrompeu, não querendo ouvir mais daquilo. Para sua sorte, Todoroki entendeu, e fez que sim com a cabeça.

Bakugou olhou para o caminho que dava para a entrada da escola, e notou que tanto Kirishima como Midoriya já tinha ido embora. Ele poderia tentar ir atrás dos dois, mas seria suspeito com Todoroki por perto, sem falar que ele não sabia com certeza o destino do casal. Era melhor deixar quieto e ele mesmo ir para casa.

Por isso, Bakugou começou a andar, não aguentando mais ficar parado no mesmo lugar. Tudo que ele queria naquele momento era ir para casa e se trancar no seu quarto até o dia seguinte.

Em silêncio, Todoroki o seguiu, mantendo-se a poucos passos de distância. Bakugou andava com pisadas fortes, e algumas vezes Todoroki quase jurou que ele mesmo pisaria no tecido da calça do uniforme, considerando como ele a usava mais baixo que deveria desde o primeiro dia de aula - assim como ele também se recusava a usar a gravata e nunca abotoava totalmente o blazer.

A princípio, isso incomodava um pouco o garoto. Todoroki não via problema nas regras da escola em relação a como o uniforme deveria ser usado. Ainda assim, aquilo era interessante: arrumado de uma maneira diferente, era como se Bakugou estivesse anunciando sua presença, destacando-se da multidão.

Todoroki sabia que se destacava, mas não como Bakugou; o loiro era impactante, atrevido, barulhento. Todoroki preferia ficar quieto, falar apenas quando era necessário, e tentava controlar seus sentimentos - ainda assim, ele tinha uma certa inveja de Bakugou por ele ser tão emotivo.

“Por que você tá me seguindo, porra?” Assim que ele se perguntou quando foi que tinha começado a reparar nessas coisas em Bakugou, o próprio parou de andar e confrontou-o com aquela pergunta.

Para ser sincero, Todoroki não sabia bem por qual motivo ele começou a acompanhar o outro rapaz. Foi simplesmente automático, e talvez foi algo motivado pelo seu desejo de ficar mais um tempo fora de casa. Ele nem tinha prestado muita atenção para as ruas em que passaram.

“Achei que você queria companhia.” O garoto respondeu em voz baixa, para então olhar ao redor. Ao menos ele conseguiu ter uma ideia de onde estava - era uma área residencial, no meio de uma rua quieta e vazia -, e de como poderia voltar para as ruas comerciais e assim se guiar para poder ir para casa.

“Não estava pensando nisso, mas já que você tá aqui… Pode me acompanhar, eu acho.” Bakugou falou com um tom surpreendentemente mais calmo do que o outro rapaz imaginava, e aquilo fez seu coração palpitar mais rápido. Ele apenas não admitiu em voz alta que achou aquela resposta adorável porque não queria deixar o outro mais constrangido - ainda assim, o garoto queria continuar aquela conversa.

“Como assim você acha?” Ele se atreveu a perguntar, pois estava legitimamente curioso com o comportamento de Bakugou. Se os dois estivessem na escola, ele certamente estaria gritando palavrões e ameaçando explodí-lo apenas para parecer mais forte e seguro, mas agora que eles estavam sozinhos, Bakugou parecia vulnerável e inseguro, como um adolescente normal.

“Achando, cacete! Eu não sei! Normalmente eu vou sozinho pra casa, ou com o Kirishima, mas ele namora o Deku e eles passam mais tempo juntos agora…” Mesmo sua resposta soava digna de um rapaz da sua idade. Bakugou não tinha o menor problema com o relacionamento dos outros dois rapazes, mas ele falava sobre isso de uma maneira que o fazia parecer que ele queria mais.

Todoroki sabia que ele tinha uma rivalidade com Izuku, assim como também era mais do que ciente de sua amizade com Kirishima - o menino ruivo foi literalmente a primeira amizade que Bakugou fez no começo do ano -, e ele achava curioso como o loiro falava deles dois.

Era quase como se...

“Você tá com ciúmes deles?” Todoroki questionou, e Bakugou por um momento ficou sem saber como reagir. Aquele definitivamente não era o ponto em que ele queria chegar, e ter que escutar aquilo vindo do garoto que ele gostava era constrangedor.

“Não, porra!” Ele respondeu, sentindo seu rosto esquentar. Todoroki apenas contemplou em silêncio como suas bochechas ficavam estupidamente apertáveis quando coradas, e por respeito ao rapaz, resolveu fingir que tinha acreditado na sua resposta.

“Pensei que estivesse, já que ficou corado. Ainda mais considerando o que andam falando ultimamente sobre a gente…” O jovem resolveu trocar de assunto, indo deliberadamente para os tais boatos que preenchiam o vazio da sala de aula nas horas vagas. Bakugou, ao escutar aquelas palavras, ficou ainda mais perplexo.

“Espera aí, desde quando você sabe?” O garoto realmente não imaginava que Todoroki sabia dos boatos, dos risinhos das meninas, do cochichar dos meninos, e dos bilhetes trocados em folhas de caderno. Ele parecia tão desinteressado, tão aéreo, e ninguém nunca pareceu ter tido a coragem de contá-lo.

Então ele era realmente um ótimo ator.

“Desde sempre. Eu só ignorei porque não queria que você ficasse mais… Agitado, eu acho? Você não parava de me olhar esses dias e todo mundo tava comentando.” Agora que Todoroki estava narrando daquela forma, todas as ações de Bakugou nos últimos dias pareciam ainda mais constrangedoras. Ele sabia que o outro garoto tinha notado o fato de que ele estava observando-o, mas não pensava que ele sabia os motivos para aquilo.

Sendo assim, será que Todoroki estava na verdade tentando flertar com ele quando seus olhares se encontravam, quando ele desejava bom dia, quando se sentava na sua frente na hora do almoço? Será que aquele era seu jeito de ser discreto em um ambiente público e mesmo assim foi Bakugou quem não foi capaz de entender seus sinais?

O loiro murmurou um “puta que pariu” em voz baixa, novamente sem saber se era destinado a si mesmo ou ao menino de cabelo de duas cores. Todoroki deixou aquilo passar, e continuou a falar.

“Pois é. As meninas falavam que a gente faria um bom casal e achavam fofo como você tentava me espiar, Iida esperava que isso não diminuísse suas notas, Denki queria apostar sobre quando você iria se declarar pra mim, Midoriya e Kirishima…” Quanto mais Todoroki falava, mais constrangido Bakugou ficava. Ele sabia que as pessoas falavam sobre ele - ou melhor, sobre o possível relacionamento dos dois -, mas não sabia exatamente os detalhes.

Todoroki, por outro lado, sabia de todos eles, e foi capaz de lidar com essa situação de um jeito bem mais maduro, racional e digno. Como um adulto, praticamente.

Mesmo assim, ele não parecia saber a hora de parar de falar, e Bakugou definitivamente não estava interessado em saber sobre o que cada aluno da classe 1-A pensava sobre sua pessoa, seus sentimentos ou sua vida amorosa.

“Chega, chega! Basta! Eu não quero saber deles!” Ele gritou, e esperou não ter chamado muito a atenção de quem morava nas casas naquela rua. Todoroki se calou imediatamente e piscou, em parte um tanto confuso e em parte ainda mais curioso com o comportamento de Bakugou.

“Então quer que eu fale o que?” Assim que ele questionou isso, Bakugou ficou ainda mais envergonhado e também ligeiramente frustrado. Como um garoto que agia de uma maneira tão calma diante de boatos sobre seus interesses românticos na escola não estava entendendo onde ele queria chegar, qual motivo o levou a mandá-lo calar a boca?

Bakugou queria saber onde estava a linha tênue entre ingenuidade e capacidade de interpretação social. Talvez se eles passassem mais tempo juntos...

“Puta merda, Todoroki, fale sobre você! Eu tô cagando pros outros, cê não notou?” Bakugou falou, então, rezando para que Todoroki não insistisse em falar sobre os outros alunos. Ele não queria saber o que Midoriya achava, o que Kirishima pensava, o que Denki apostava, nada disso.

Ele só tinha olhos e mente para uma pessoa: o garoto que estava bem na sua frente.

“Você… Quer saber se eu gosto de você?” Todoroki perguntou segundos depois, e Bakugou apenas respondeu com um “isso”, dito de uma maneira mais insegura do que ele realmente queria. No final, toda aquela conversa era porque Bakugou estava completamente enrolado em seus pensamentos para não saber como chegar naquele assunto - normalmente, ele ia direto ao ponto.

Mesmo assim, Todoroki não podia culpá-lo. Aquilo era mesmo algo particular, e mesmo ele não sabia direito como se aproximar de algo tão delicado. O que ele notou durante os últimos minutos, porém, era que Bakugou estava realmente interessado em saber mais sobre isso.

Todoroki queria praticamente fazer um discurso, e falar sobre cada pequeno detalhe que ele já havia notado sobre Bakugou desde que os dois passaram a estudar juntos: como ele tinha olhos bonitos, como gostava de sua risada, como achava divertido vê-lo batendo o pé no chão quando ficava impaciente com alguma coisa.

Bakugou era um garoto incrível, talentoso, sincero. Ele não escondia seus sentimentos - mesmo quando queria -, falava o que vinha na cabeça sem pestanejar, desafiava os limites sem tremer de medo. Gostava de lutar, mas de igual para igual, com uma honra que Todoroki conseguia entender e respeitar. Se movia com agilidade, tinha um estilo de luta só seu, e era hipnotizante vê-lo em ação não apenas nos treinamentos de combate, mas em tudo.

Ele chamava a atenção. Ele era vibrante, ardente, impossível de ser ignorado. Por onde quer que passasse, Bakugou marcava sua presença, e isso incluía o coração de Todoroki.

Mesmo assim, o garoto não se achava capaz de falar tudo isso, e só de pensar em como seria esse possível discurso, ele se sentia bobo e a voz se recusava a sair de sua garganta, como se seu corpo esquecesse como suas cordas vocais deveriam funcionar. Por isso, ele achou melhor responder de outra forma.

“Eu não sou muito bom falando sobre sentimentos, mas…” Ele afirmou, aproximando-se cada vez mais de Bakugou, devagar. O loiro acabou dando dois passos para a frente também, como que atraído de forma magnética.

Seus olhares se encontraram, e Todoroki podia ver a ansiedade e expectativa nos olhos vermelhos de Bakugou, que mal piscavam, assim como ele podia sentir o calor de suas bochechas quentes praticamente se transferindo para o seu corpo.

Ele avançou, e seus narizes se tocaram. Bakugou respirou fundo, sentindo o resto do perfume que o outro rapaz usava. Mesmo assim, ele não recuou, e sequer pulou no lugar quando Todoroki colocou uma das mãos em seu ombro antes de inclinar seu rosto e acabar com a distância entre os dois.

Os lábios de ambos se tocaram, e os dois rapazes fecharam os olhos. Naquele momento, eles entenderam que estavam em um universo só deles, compartilhando de coisas que nem mesmo uma enxurrada de palavras seria capaz de expressar. Era até melhor assim: nenhum dos dois garotos tinha a capacidade para descrever seus sentimentos em palavras.

Bakugou colocou as mãos nos ombros do outro rapaz, e correspondeu ao gesto de carinho. Seus dedos apertaram os músculos, e por alguns segundos ele jurou sentir que Todoroki perdeu um pouco do controle de sua individualidade, deixando metade do seu corpo esquentar e a outra esfriar. Na verdade, o próprio Bakugou estava quase perdendo o controle da sua, e o suor nas suas mãos comprovava tal fato.

O beijo foi casto, suave, mas para eles aquilo bastava para acabar com todas as suas inseguranças. Quando eles se afastaram, ligeiramente relutantes, houve um momento de silêncio. Se eles falassem imediatamente, era como se fossem perder o turbilhão de sensações em seus peitos derivadas da experiência.

Foi apenas quando as mãos de Bakugou passaram a segurar os ombros de Todoroki com um pouco menos de força que ele ousou falar.

“Acho que isso responde por nós dois.” Assim que ele terminou de dizer isso, Bakugou apenas afirmou timidamente, envolvendo-o em seus braços. Todoroki retribuiu o abraço, deixando que uma de suas mãos fizesse carinho nas costas de Bakugou, aproveitando o quão manso ele estava.

Bakugou apoiou sua cabeça no ombro de Todoroki, e se deixou aproveitar do momento junto com o outro rapaz, embriagado pela satisfação de ser correspondido.

Após tudo isso, estava claro que aquilo foi apenas o começo de um relacionamento. Não era como se apenas um beijo fosse capaz de satisfazê-los - na verdade, apenas fez com que eles quisessem mais da companhia um do outro, e já que os dois se gostavam, não havia razão alguma para que eles não ficassem juntos.

Eles ainda tinham muito o que descobrir e aprender, e queriam fazer isso - ir a encontros, criar piadas internas, compartilhar de pequenos prazeres todos os dias.

Obviamente, a proximidade aumentada dos dois garotos não passou despercebida pela classe. Eles conversavam mais, riam juntos, sentavam agora um do lado do outro - e tinham que se controlar para não ceder à doce tentação de conversar durante todo o período letivo. Ao menos, eles ainda podiam trocar olhares e sorrisos em silêncio.

Poucos dias depois, ainda no meio da aula, seus braços se moveram e suas mãos se buscaram em sincronia perfeita. Quando eles se encontraram no espaço entre as duas carteiras, os dedos de Bakugou se entrelaçaram com os de Todoroki, e os dois riram baixinho quando escutaram alguns outros estudantes ficando surpresos com aquela demonstração pública de afeto.

Naquele momento, porém, não importava se Mina estava segurando um gritinho, se Iida queria pedir que eles parassem de distrair a turma apenas por serem adoráveis, ou se Denki estava chateado por agora estar devendo dinheiro para Midoriya.

Eles estavam juntos, e não iriam esconder isso de ninguém.

A verdade é filha do tempo.


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Notas finais do capítulo

Eu usei frases do meu meme propositalmente porque seria um crime eu não inserir algumas delas na história, especialmente quando é o Bakugou falando.

Eu AMO escrever sobre ele, e me divirto horrores escrevendo as falas dele em português porque é divino pensar nele xingando nessa língua. Ele é literalmente um dos meus maiores motivos pra eu querer BNHA dublado, inclusive SOHASAOHS

Considero o relacionamento dele e do Todoroki MUITO interessante, e se você está em dia com o mangá, deve saber que eles devem estar se conhecendo mais e eu espero muito que o autor mostre esse crescimento deles dois juntos no futuro.

Eu realmente tenho o headcanon que o Todoroki em parte se finge de bobo pra não ter que lidar com certas situações, mas em outra ele realmente tem uma certa ingenuidade social lmao Acho algo bem legal de trabalhar vindo da parte dele.

Também acho muito lindinho como ele busca ser direto mas algumas vezes ele dá mais informações que o necessário SKAHJDAKLHS QUE MENINO PRECIOSO.

Eu amo esses dois, na real. Que crianças fofas ♥ Espero poder escrever mais sobre esse ship no futuro!

O KiriDeku como casal extra foi proposital também! Eu amo muito esse ship, acho a coisa mais lindinha, e também quero trabalhar com eles :D Na verdade eu quero trabalhar com basicamente todos os ships de BNHA DKSALHKLSADJ

Espero que tenha gostado! ♥