Last Night escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi *-* Voltei!
Mais uma original saindo do forninho para o Projeto de Escrita Criativa! Quero agradecer a Histsatuke por ter betado essa história e a Aleksia Kyle por postar essa história para mim!
Divirtam-se com Last Night!



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Rodolfo, nós temos que parar. Esta é a minha decisão.

Você ainda não sabe. Você ainda não percebeu, mas enquanto suas mãos percorrem meu corpo febril e sua boca desenha a curva do meu pescoço nu, eu decidi que esta será a nossa última noite juntos.

Nunca negarei. Seu corpo, sua boca, sua voz, sua alma livre, sempre foram e sempre serão minha maior fantasia; a minha alegria em meio aos meus dias tão frios e monótonos, mas não podemos e não iremos continuar.

Uma música dançante ecoa solitária pela minha sala a partir do meu eterno rádio pardo, mas enquanto as notas embalam seu corpo febril em plenos vinte e poucos anos como se fossem a melodia da nossa história, eu a defino como perfeita para o fim do nosso caso.

Tudo começou com uma música e tudo terminará com as notas musicais de um grupo famoso da nossa década tão conturbada.

Na época eu pensei que com o meu filho tão bem-criado e universitário enquanto meu marido – o certo e submisso Alberto – fixo em seu emprego no jornal, eu finalmente teria um momento para minha diversão e para pensar em mim, mas a falta de significado na vida de uma dona de casa criada apenas para esse fim, se tornou um fardo ao fim da primeira semana.

Eu me encontrei sentada em meu sofá, olhando para o horizonte onde o sol se punha sobre o Rio de Janeiro. Minha casa estava perfeita. O jantar, pronto para os homens da minha vida que chegariam cansados. Era o anúncio de que eu não tinha mais serventia; no entanto, as batidas educadas na minha porta que revelaram o rapazote de cabelos encaracolados e olhos castanhos incrustados em um corpo jovial que se escondia por trás das roupas sociais e bem-comportadas, foram o anúncio do abalo que minha vida sofreria.

Aquele “Dona Helena” enquanto você estendia o bolo que sua mãe, a minha vizinha, havia feito, não foi entendido por mim como um problema iminente. Entenda, eu era inocente e ainda hoje creio que parte de mim beira a ingenuidade, por isso permiti sua entrada, permiti sua ajuda para pôr o bolo sobre a minha mesa, aceitei sua admiração pelo meu simples apartamento e pela música tocada na rádio. Você concluiu me elogiando, algo que me ruborizou, mas que compreendi apenas como um elogio educado.

Ora, compreenda, como uma mulher que passava dos seus quarenta e cinco anos compreenderia que poderia chamar a atenção de um rapaz que poderia ser seu próprio filho. Apenas com o passar do tempo e seus serviços prestados na minha casa quando meu marido não estava que eu entendi suas intenções por trás de cada olhar que lançava em minha direção quando eu estava a sós com você.

Levou algum tempo e nem ao menos compreendo como permiti que se aproximasse como um amigo, até mesmo sendo elogiado pelo meu marido. Mas um dia, após você trocar uma lâmpada para mim, eu me encontrei em seus braços ao som de My Girl dos The Temptations. A dança inocente terminou com o beijo voraz que você me roubou e que inconscientemente eu aceitei.

Ao nos separarmos sem fôlego, ouvi o início da sua declaração, mas confusa pedi que partisse, pois o que fizemos era um erro.

Tentei esquecer, juro que tentei, mas enquanto me sentava silenciosa entre meu calvo marido e meu amado filho, senti-me uma pecadora com o nome de Rodolfo Alencar e seu beijo sendo o semeio dos meus pensamentos durante aquela noite.

Foram alguns dias de separação e de tortura dividida entre o certo e o pecado do desejo.

Assustei-me ao descobrir que gostei dos seus lábios ou de como seus braços joviais contornaram-me e se apossaram como um predador. Eu gostei de corresponder e isso ficou ainda mais claro em meus pensamentos ao rever sua face envergonhada pedindo para se explicar.

Contou-me que compreendia seu erro, mas não aguentava mais suportar ficar longe de mim. Argumentei dizendo que você era jovem e havia tão belas jovens pelo bairro e em sua universidade que não fazia sentido se apaixonar por uma mulher vivida e com rugas como eu.

A senhora é a mulher mais bela que eu conheço, Dona Helena”. Insistiu, surpreendendo-me.

Não demorou mais do que algumas palavras para que seus lábios reivindicassem os meus e eu me perdesse em seus braços.

Não pude evitar comparar nossos beijos ardentes e pecaminosos com os castos que meu marido me ofertava antes de dormir.

Ajoelhei-me por horas diante da imagem da Virgem Maria pedindo perdão pelos meus atos, mas sempre que o via me perdia em meio ao pecado.

Nunca negarei. Senti-me viva, amada, desejada, como nunca havia me sentido antes. Helena Moreira se tornou atrativa quando eu me olhava no espelho.

Comecei a gostar dos meus cabelos lisos e negros sempre armados em um penteado da moda e, principalmente, dos meus amendoados olhos castanhos que você dizia ser sua perdição.

Passei a gostar do meu corpo magro com algumas gorduras extras nos lugares certos, resultado da gestação há tantos anos sobre o corpo daquela garota que ia à Bailes com os amigos.

Passei a dançar na minha sala vazia. Passei a ousar nos passos. Passei a sorrir mais. Passei a me perder nos delírios dos seus braços como faço nesse exato momento, fincando minhas unhas pintadas em um vivo vermelho enquanto seu corpo viril se move mais uma vez sobre o meu, reclamando-o mais uma vez.

A música de Ben E. King se confunde com nossas respirações ofegantes e eu me recordo com dor mais uma vez que direi “Adeus” a você.

Sinto muito, Rodolfo. Agradeço-o com minha própria vida por ter me feito feliz. Agradeço-o por ter me tirado da inércia e por ter me feito satisfeita como mulher, mas você não é o meu marido, você não é o homem que eu amo e que segurou a minha mão quando eu perdi meu filho que lutava contra a Ditadura Militar e foi morto por um policial em meio à uma manifestação.

Eu perdi meu adorado e tão amado Júlio que lutava pela liberdade, mas que no fim foi taxado como um criminoso pelos militares e sua perda eu chorei juntamente com Alberto. Ali, nós dois sentados em nosso pequeno sofá pudemos reafirmar o porquê dos nossos tantos anos de casados e porquê nos apaixonamos.

Sim, Rodolfo, eu me apaixonei por você; perdi-me em delírios febris assim como alcanço o ápice mais uma vez nessa tarde silenciosa, mas Alberto sempre foi o dono do meu amor, o homem pelo qual eu escolhi envelhecer e compartilhar a alegria das pequenas coisas da vida.

Por isso, hoje, antes que você passasse pela entrada do meu pequeno apartamento com um sorriso sonhador e um supercílio cortado por mais um embate contra os militares, eu decidi que terminarei com você e não se engane se pensa que irá me ludibriar com beijos pois tenho 50 maneiras de deixar meu amante. Na primeira eu direi que é o nosso fim. Não funcionará, eu sei. Eu conheço sua alma rebelde e viva que já me propôs fugirmos ou que vive encabeçando movimentos estudantis, tão diferente do meu marido submisso que acatou as ordens sobre a impressa no jornal que trabalha, por parte dos militares.

Eu e você sabemos que um simples “Acabou” não funcionará, por isso eu passarei para as outras formas sutis de demonstração de desagrado, até as ousadas e ardilosas armando para que se apaixone por outras jovens que o admiram pela rua, provavelmente chegaremos ao estágio de discussões com 5 tons mais altos do que o ideal. Eu quebrarei alguns vasos baratos, jogarei outros na sua direção, mas você, tão jovem e vivo, gostará do desafio e revidará.

Sei que será difícil percorrer por todas as 50 maneiras de deixar você, apenas peço que não deixe que eu alcance o último número. Quero que seja feliz e tenha uma vida longa apesar das suas atitudes tão perigosas e que preocupam sua amável mãe que não desconfia de nós, mas se me fizer chegar ao número 50, o brilho prateado do Calibre 38 que descansa silencioso na gaveta do criado-mudo será a sua última visão do mundo.

Não permita que alcancemos o último número e por favor pare de percorrer as 50 maneiras de me apaixonar por você. Eu não devo, entenda.

Sejamos racionais, mas enquanto o sol não se põe cante o meu nome com a sua voz entorpecida pelo prazer, faça com que eu suplique por mais. Ame-me, tenha-me da mesma forma que faz agora e que derruba a minha cabeça para trás buscando por ar e racionalidade em meio ao nublado do meu prazer.

Você ri de forma atraente ao me ver nesse estado, proclama seu amor por mim mais uma vez contando sobre um futuro que não existirá, pois enquanto rouba mais uma vez meus lábios com gosto de Minister para si e se projeta fundo no meu corpo acreditando que eu sou sua, eu me pergunto se este não é um bom momento para vivermos o número 50 e seu sangue jorrar sobre mim. Pergunto-me se assim seria tudo mais fácil para nós dois, mas a ideia some e eu fecho os olhos deixando que o prazer transborde da minha boca entreaberta, algo que você tanto aprecia.

Sei que seus olhos castanhos tão gentis sorriem para mim e que já acrescentei mais escoriações ao seu corpo tão machucado pelos militares e sua forma de vida, mas eu não me importo, apenas viverei essa nossa última noite antes de lutar pelo meu verdadeiro amor.

Por isso, meu querido, seja um bom menino e não me deixe chegar ao número 50.

Apenas lhe peço isso nesta nossa última noite de amor...


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leram *---* Beijão! Tenham um lindo final de semana e até a próxima pessoal o/



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