— Eu já disse que as coisas não funcionam dessa forma, Lydia! – Natalie repreendia a filha por ligação telefônica, que não durou muito depois dessa frase.

Não havia ninguém mais furioso do que a ruiva no momento. Nem se quisesse, poderia negar ao convite de Scott – que nem seu namorado era, oficialmente – para passar o fim de semana em sua casa. Ficar longe da sua própria era o que a garota mais queria no momento. Juntando o útil ao agradável, ficariam durante dois dias inteirinhos juntos. É claro que a mãe do moreno estaria junto. Afina, era uma exigência de Melissa. O filho teria que passar mais tempo em casa junto com ela, e consequentemente, junto com seu pai que estava prestes a voltar.

O celular de Lydia foi depositado sob a mesa da biblioteca com certa rispidez, enquanto o Mccall desviou o olhar de seus livros para a garota em sua frente, que suspirou frustrada, descansando o rosto nas próprias mãos, de forma desleixada, o quê, na opinião dele, a deixava ainda mais bonita.

— Tudo bem? – perguntou, já sabendo a resposta.

Ela sorriu, sem mostrar os dentes.

— Não queria atrapalhar o seu estudo – disse – Desculpa.

O moreno fechou o livro, afastando o material de perto de si, e puxando as mãos de Lydia para unirem com as suas.

— Não atrapalha – falou rapidamente – O que sua mãe disse?

— O mesmo – rolou os olhos – Acha que estou dramatizando a situação.

Scott queria perguntar se ela estava realmente errada, mas aquilo poderia irritar a garota que já parecia pronta para estrangular qualquer pessoa a sua frente.

— Então, você vai? – perguntou, mudando de assunto.

— Ao casamento ou pra sua casa? – brincou, rindo – Vou, seja qual for a opção.

Os olhos dele quase saltaram para fora de orbita.

— Vai ao casamento? – perguntou, elevando o tom de voz, e ela assentiu.

— Ele é o meu pai – deu de ombros – E mesmo tendo feito tudo isso de errado, merece no mínimo que eu esteja ao seu lado durante um dia tão importante em sua vida.

O moreno riu, com a ironia na voz da garota.

— Espero que não esteja planejando nada para impedir que o casamento aconteça.

— Não estou – jurou – Não para impedir que algo aconteça. Mas, acho mesmo que precisamos conversar sobre tudo o que aconteceu nos últimos anos e, ao que parece, tenho a oportunidade perfeita.

— Só espero que não se machuque – sussurrou, de forma carinhosa.

O som do sinal invadiu todas as salas e corredores da escola, enquanto boa parte dos alunos corriam para o estacionamento, em direção a seus respectivos carros, para que dessem a largada ao restante de seus finais de semana. Assim como o casal que guardou o material em suas mochilas, saindo da biblioteca de mãos dadas. Lydia não havia ido com o seu carro, pois sabia que iriam para a casa do moreno e, o mesmo estaria com a sua moto. Mesmo que não gostasse muito, da sensação desprotegida e aventureira de estar encima de uma, ela faria o esforço. Stiles estava parado em frente ao seu armário, com o aparelho celular em mãos, quando viu o melhor amigo caminhando ao lado da ruiva.

— Ei – chamou-os – Como foram no simulado?

— Bem – Lydia respondeu com convicção – E você?

— Acho que bem – o Mccall deu de ombros.

Alguns sábados por mês, os alunos tinham um simulado para as preparações das provas para entrar na faculdade. Mas, especificamente naquele sábado, o garoto não havia acordado preparado para uma prova.

— Bem, graças a isso aqui – Stiles respondeu a amiga, lhe entregando o caderno que havia o emprestado alguns dias antes – Obrigada!

— Temos que ir – Scott apressou a ruiva – Minha mãe vai estar em casa em alguns minutos.

Ela se despediu de Stiles, enquanto o mesmo lançava um olhar para o melhor amigo, dizendo que conversariam quando pudessem.

As pessoas sempre dizem que pra tudo na vida existe uma primeira vez.

Lydia teve certeza daquilo no momento em que subiu em uma moto juntamente com Scott na direção. Diferente das outras vezes, o que chamou sua atenção não foi a falta de proteção, mas sim a extrema sensação de liberdade que invadiu o seu corpo. Ao chegarem até a casa, que ainda estava vazia, ambos subiram para o quarto do garoto para que pudessem se acomodar de forma mais confortável.

Quando Melissa entrou pela porta da sala, Scott e Lydia conversavam sobre banalidades no quarto dele. Sabia que o filho estava em casa ao julgar pela moto na garagem.

— Vem – puxou a menina para o andar debaixo, onde a mãe se encontrava – Mãe, lembra da Lydia?

Melissa não pode esconder a cara assustada ao ver a menina ali. Sabia que Lydia estaria lá para o fim de semana, mas não esperava que fosse dessa forma.

— Claro – sorriu, sem mostrar os dentes – Oi, Lydia. Como vai?

Antes que a ruiva pudesse responder, um outro alguém adentrou a porta, fazendo com que Scott parasse estático em seu lugar, com a menina ao lado.

— E ai, filhão – o homem sorriu para o mais novo, que tinha o cenho franzido – Não vai me apresentar a namorada?

Scott sentiu um tremor percorrer por sua espinha, enquanto Lydia puxou a sua mão discretamente, voltando para a realidade.

— Lydia Martin – sorriu, estendendo a mão, que Scott segurou antes que seu pai pudesse encosta-la.

— E ai, filhão?  É só o que tem pra me dizer? – o mais novo esbravejou, avançando alguns passos na direção do homem de terno, que tinha os seus traços – Mais de sete anos e é só isso que tem pra me falar?

Melissa tapou os olhos com as próprias mãos, massageando as pálpebras.

— Scott – Lydia o repreendeu com um sussurro – Vocês podem conversar sobre isso depois. Pensa na sua mãe. Pensa em mim...

Ele suspirou, se acalmando aos poucos.

— Por quê não comemos? – a mulher sugeriu – Vocês terão tempo o suficiente para conversar sobre isso depois.

E então, os quatro caminharam em direção a mesa de jantar, mesmo que alguns deles tivessem muito o que despejar sob o outro. Não apenas pela presença de Lydia ali, mas, de alguma forma desejavam recomeçar, e aquilo poderia ser um bom começo.  Como uma família feliz.