Dragões do Norte escrita por Snowfall


Capítulo 27
A Porta da Lua




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A Porta da Lua estava aberta. Não fora fechada desde sua chegada ao Ninho.

Cat achou tal fato um mau augúrio. E representava bem a recepção que tiveram quando chegaram ao Vale.

Lysa se mostrava inflexível e resoluta em não aceitar qualquer uma das ideias e conselhos que recebia de qualquer um que não fosse seu marido.

E Petyr nunca concordava com algo que diziam. Sempre objetando de uma maneira calma e parcimoniosa que começou a irritá-la de uma maneira profunda. Por muitas vezes nos últimos dias pensou em chamar Robb para que voltassem para casa.

Todavia, Lysa era sua irmã.

“Família, dever e honra”. A família vem primeiro.

Encontrou o filho em seus aposentos escrevendo uma carta.

— Escrevi a seu pai essa manhã, contando sobre nosso progresso. Ou falta dele – achou por bem avisar.

— Esta carta é para Jon – esclareceu Robb – O rei precisa saber do andamento das coisas.

Decidiu deixar qualquer comentário sobre Jon Snow para outro momento. Era impossível deixar de sentir certo desconforto ao ver seu filho, herdeiro legitimo do Norte como um súdito do bastardo do marido.

Contudo, entre as muitas faltas que tinha Cat não achava que ser cega estava entre elas. Ela conseguia ver o que estava bem diante de seus olhos.

Viu como o bastardo salvara sua família de uma situação crucial. Ganhara a guerra para o Norte e conquistara sua liberdade.

Mas não tinha em si a capacidade de sentir-se feliz com a situação. Tentava focar no mais importante: Ned estava feliz e em segurança, assim como os filhos. E ela ficava contente e aliviada por eles.

— Não há muito que Jon Snow possa fazer. Não sabemos nem onde ele está nesse momento. – ela tentou transparecer em seu tom que suspeitava que o rei confidenciara à Robb o seu destino, embora o filho se fizesse de desentendido.

— Creio que Jon não ache que seja seguro que o reino saiba onde ele está no momento.

— Essa é uma afirmação ou uma certeza?

— Mãe...        

— Está bem – desistiu sentando-se - Não falarei mais sobre esse assunto. Posso indagar ao menos o que o Rei no Norte acha de nossos esforços infrutíferos para fazer minha irmã enxergar a razão?

Robb lhe entregou a carta. Sem selo ou nenhuma particularidade indicando que se tratava de uma correspondência real. Todavia, o papel era fino e diferente do que usavam nos Sete Reinos. Um material de origem estrangeira.

— O que ele faz nas Cidades Livres?- indagou em voz alta mesmo que não esperasse nenhuma resposta. A lealdade era uma virtude maravilhosa que a irritava em certas situações.

A carta em si era sucinta tal como era do feitio dos nortenhos. Duas frases simples resumiam a solução do rei para a situação em que se encontrava.

“ Se a situação é assim, faça como combinamos.”

— O que combinaram?

— Jon e eu discutimos a relutância de Tia Lysa durante a guerra e sua postura irredutível.

— Teimosia, você quer dizer.

— Exatamente. Lorde Royce nos informou da situação. E como piorara depois do casamento. Que Lorde Baelish a manipula.

Uma verdade que ficara escancarada quando chegou. A irmã se tornara um fantoche. E o Vale se encontrava em um empasse.

— Jon ressaltou que se não podemos alcançar Tia Lysa, devemos usar quem consegue.

— Petyr.

— Sim. Manipular o manipulador.

— Creio que a parte da manipulação deve feita por mim – Cat concluiu resignada.

— A julgar pela forma que ele tenta se aproximar da senhora, talvez seja a única que possa fazê-lo concordar com as soluções que apresentamos.

Durante essas semanas em que esteve no Ninho da Águia, repelira qualquer tentativa de Mindinho de aproximação. Simplesmente, não podia lidar com ele ou ignorar sua traição.

Desde que chegara Cat vinha tentando fazer sua irmã ver a razão. Mas Lysa se mostra insensível a qualquer opinião que exponha as manobras de Mindinho.

—Em alguns poucos meses essa isolação do Vale se mostrará insustentável – Robb começara a explicar os fatos como se fosse Catelyn que precisava ver a gravidade da situação – Não há como caminharem com as próprias pernas. Os recursos que têm são grandes, mas precisam ser escoados para que sua gente obtenha sua subsistência. Essa postura imparcial só será tolerada por certo tempo. Se o Trono de Ferro vier exigir lealdade com a força da espada, o que Tia Lysa poderá fazer? Ela não tem nenhum amigo entre os reinos vizinhos.

— Mas tem família. – lembrou - Os Tully ainda são Senhores do Rio, e minha irmã não ficará desamparada. Edmure, certamente, virá em seu socorro se tal situação chegar a acontecer.

— Não sem a permissão do rei.

— Jon Snow... – começou já irritando-se.

— ...não tem a obrigação de resolver todos os nossos conflitos, minha mãe. Em quantos conflitos a nossa família pretende se envolver para que Jon resolva? Acabamos de obter a paz e a liberdade, não podemos lutar uma guerra com o inverno batendo a nossa porta, principalmente... – Robb se interrompeu.

— Principalmente? – insistiu Catelyn, já sabendo que não gostaria do que ouviria.

— Principalmente por uma causa que não é nossa.

— Robb, ela é sua tia.

— Uma tia que ficou aqui sentada enquanto o pai era aprisionado. Que nem se dignou a responder a nosso pedido de ajuda. Que negou qualquer apoio enquanto lutávamos por nossa sobrevivência. Ou a senhora acha que ela não podia ao menos nos escrever avisando do exército de Jaime Lannister que subiu o rio para tomar o castelo no qual ela nascera.

— Lysa teme pelo filho...

— Ela teme desagradar seu amante. O homem responsável pelo aprisionamento do seu marido, ou a senhora escolheu esquecer esse fato. Alguns começam até questionar a legitimidade de Robert Arryn por causa do comportamento da sua irmã.

Tais palavras, proferidas de maneira tão direta fez o peito de Cat se contrair. A reputação da irmã, depois de seu casamento com seu velho amigo de infância fizeram ressurgirem rumores, os quais preferia que permanecessem enterrados.

Quando Petyr desafiou Brandon por sua mão tantos anos atrás, as pessoas começaram a comentar todo tipo de absurdos. Ora, Cat era amante de Mindinho ora era Lysa. Alguns comentavam a proeza de Petyr em conseguir levar as duas para a cama.

O pai conseguira conter tais especulações, contudo elas ressurgiram com força agora que Lysa casara-se com Baelish.

— Eu lidarei com Petyr. – disse por fim. Se tivesse o caminho para alcançar a irmã, ela faria isso.

Encontrar um momento em que Mindinho estivesse sozinho em um lugar que não lhe comprometesse foi difícil. Lysa quase nunca deixava seu lado e Cat não pediria por uma reunião em um lugar privado. Ela já tinha rumores demais para lidar.  Não precisava que começassem a dizer que ela tinha encontros privados com seu suposto antigo amante.

Enfim, Petyr veio até ela na manhã do dia em que teriam mais um de seus conselhos infrutíferos.

Lorde Royce reunira todos os senhores do Vale. Sem exceção. Para discutirem seu futuro. Na esperança que a irmã fosse convencida pela quantidade e os ouvisse.

Catelyn duvidava.

Quando o velho conhecido a abordou com seu sorriso displicente, Cat segurou as mãos atrás de si para evitar que ele reparasse que ela continha-se a todo custo para manter uma fachada de calma.

— Não gosto deste mal entendido entre nós, Cat – começou ele.

— Lady Stark- corrigiu ela – Meu lorde não tem mais direito a informalidades comigo.

— Cat – suspirou ele ignorando a vontade dela como se fosse apenas o desejo de uma criança malcriada – O que posso fazer para que acredite que ainda sou seu amigo?

— Eu não usaria tal palavra para descrever o que representa para mim. Fomos criados debaixo do mesmo teto, contudo isso não foi o suficiente para impedir que segurasse uma adaga contra o pescoço do meu marido. Sempre o considerei o mais próximo dos amigos, mas conspirou com o inimigo para causar a queda da minha Casa. Minha irmã ama você desde a infância e mesmo assim se aproveita desse sentimento para colocá-la contra mim. Não, Lorde Baelish, você nunca foi meu amigo.

— Deve entender as circunstâncias antes de julgar, por favor – a suplica dele teve a intenção de comovê-la, mas teve o efeito oposto. Apenas inflamou a ira que sentia.

Cat deu um passo para frente movida pelo desejo de arrancar aquela expressão pesarosa que ele exibia.

— Então diga, quais eram as circunstâncias tão complicadas que fizeram com que me traísse de tal forma?

— O rei estava morto. E eu me associei muito com sua irmã e seu marido para que surgissem rumores questionando a minha lealdade.

— Então resolveu que provar sua fidelidade atraindo Ned para um embuste.

— Eu tinha que...

— Tinha que salva-se. Mas sua demonstração de comprometimento só o levou até certo ponto, não é? No final teve que fugir de Porto Real e procurar abrigo com Lysa que não percebe que a usa para obter o poder que não conseguiu bajulando os Lannisters.

— Cat...

— Não me chame assim! – talvez sua voz tenha se elevado mais do que o apropriado para uma Lady de sua posição. E não importava-se nem um pouco no momento – Não há nada que possa dizer que me convença de suas boas intenções. Acha que não percebo que convenceu Lysa de não ir até a capital jurar fidelidade ao Trono Ferro porque deixou a companhia dos Lannisters em uma situação suspeita. Refuta nosso plano por causa de seus motivos egoístas mesmo sabendo que o Vale se encontra com seu futuro em risco.

— Nosso plano, você diz. Não se trata do plano de Jon Snow?

— O que importa isso?

— Nada diretamente. Contudo nunca pensei que um dia a veria se ajoelhar para o bastardo de seu marido.

Catelyn olhou o homem a sua frente. Talvez pela primeira vez, realmente olhou para ele. Petyr terá sido sempre assim? Ela sempre fora focada demais em sua própria vida para não reparar no que estava bem a sua frente?

— O Norte escolheu seu rei. E como a esposa do Guardião do Norte, ele é meu rei.

— Não pode gostar...

— Não gosto. Na verdade não há nada que me agrade menos. Porém, não posso negar que Jon Snow e seus dragões são as garantias de segurança de minha família.

— Mesmo que o bastardo ameace tomar tudo dos seus filhos?

Cat fechou os olhos para ordenar os pensamentos. Uma tarefa difícil, uma vez que seus anseios e preocupações eram expostos por uma pessoa que começava a desprezar mais que todas.

Então como um clarão de esclarecimento, percebeu algo que estivera bem diante de seus olhos a vida toda.

— É isso o que você faz, não é? – falou dando outro passo - Brinca com as inseguranças e sentimentos das pessoas.

— Só estou dizendo que Jon Snow...

— É Sua Majestade para você – ressaltou ela – E o Rei no Norte tem um recado para você. Um que achei melhor omitir até que as reuniões diplomáticas acabassem. Contudo, acho melhor lhe informar.

Sentiu prazer em ver certo medo no rosto de Baelish.

— Sua Graça deseja que lhe informe que está banido em seu território. Se alguma vez pensar em pisar nas terras de seu reino, será punido com a morte.

— Eu... – Petyr sempre tão bom com as palavras, parecia lutar para encontrá-las.

— Tem razão, Jon Snow não é meu filho. O que pode acreditar ou não, é ruim para você, meu lorde. Não posso contê-lo como fiz com Robb quando chegamos. E não acho que ele um dia vai esquecer o que fez à Ned.

Agora era Baelish que tinha os punhos fechados.

— Sugiro que faça o que sempre faz e procure se salvaguardar - Com isso se retirou.

Quando Robb perguntou como fora a conversa, respondeu simplesmente:

— Plantei uma semente.

— De quê?

— De medo.

A reunião com os senhores do Vale começou como qualquer outra em que estivera desde até então.

Lorde Royce falava de lealdade, de honra e do povo. Como se importasse com essa coisas. O que realmente fizera o homem subir ao Norte fora o medo de ser esmagado pelos vizinhos quando percebessem que o Vale não tinha a proteção de um rei.

Robb expunha a saída proposta por Jon Snow enquanto Lysa mantinha uma expressão condescendente.

Os lordes murmuravam suas opiniões. Falavam da posição alarmantemente isolada em que se encontravam e como isso podia ser preocupante a longo prazo.

— As estradas têm que ser liberadas. Se as mercadorias ficarem estagnadas logo todo os produtos se perderão e não teremos com o que barganhar – argumentou um lorde menor que pelo que soube tinha as terras mais férteis de região. O que queria dizer apenas que era o lugar com menos pedras. 

Mais murmúrios. E Cat sentiu falta dos gritos dos senhores do Norte. Ao podia-se saber o que pensavam.

— E a solução seria me ajoelhar aos pés dos assassinos do meu marido?

Esse comentário de Lysa só servia para que todos reparassem que ela deveria de luto. O marido ao seu lado arruinava a imagem de viúva sofrida e temerosa que tentava transmitir.

— O Norte não aceitará nenhum acordo com o Vale em detrimento do acordo feito com o Trono de Ferro. – lembrou Robb.

— Também não me ajoelharei para seu rei bastardo.

Dessa vez não houve murmúrios. Todos os senhores seguraram a respiração enquanto sua Lady destruía suas chances.

— Se me permite, minha querida – Mindinho tomou a palavra – Avaliando mais profundamente, acho que a solução apresentada por Lorde Robb é o melhor caminho a seguir.

— Mas... – Petyr segurou a mão de sua esposa e calou qualquer objeção com um afago e um beijo.

— Não é bom começar nosso casamento em desacordo com nossos vizinhos. Não concorda, meu amor? – continuou ele. Um discurso completamente diferente do que defendia em reuniões passadas. 

E assim, com a manipulação completa, conseguiram o que queriam.

Depois que os lordes se retiraram e Lysa se recolheu, Cat ficou encarando a Porta da Lua. Ainda aberta.

— É melhor começar a organizar nossa partida – disse à Robb – Está claro que já abusamos demais da hospitalidade de minha irmã.

— Uma maneira diplomática de dizer que Tia Lysa deseja nos ver pelas costas.

— Robb...                                       

— Não se preocupe. Fizemos o que tínhamos de fazer. Estou mais do que preparado para retornar a Winterfell.- disse retirando-se.

Um sentimento que compartilhavam. Uma coisa aprendera nessa sua estada no Ninho: A relação que tinha com a irmã nunca seria a mesma. A confidência que tinham na juventude se fora para sempre.

Cat encarava as alturas pelo buraco enquanto era envolvida pela sensação de luto. De certa maneira sentia como tivesse perdido Lysa ainda em vida.

— Suponho que retornem ao Norte – veio a voz de Petyr atrás de si.

— A primeira luz.

— Não gostaria que nos despidíssimos em termos assim.

— Não vejo como poderia ser diferente depois de tudo que se passou.

— Concordei com seus termos. Lysa vai até a capital renovar o voto de fidelidade ao Trono de Ferro. Eu fiz como queria.

— Por medo. Porque sabe que não há outra escolha para você. A não ser, é claro, voltar para os Dedos sem nada. O Vale é sua melhor chance.

— Pode pensar assim, mas saiba que fiz por você.

Catelyn riu.                              

— Me toma por Lysa? Ela não consegue ver por trás dessa sua suposta devoção. Eu sim. Tudo que você quer é encontrar uma forma de se beneficiar da ruína alheia. Mas escute bem. Não vou deixar que destrua a minha irmã.

— Lysa me ama – afirmou ele.

— Infelizmente. Todavia, amor não dura eternamente como cantam os bardos.

— O meu amor por você dura – confessou ele se aproximando.

Cat recuou três passos, tomando cuidado para se distanciar de Mindinho ao mesmo tempo em que ficava longe da Porta da Lua.

— Como pode dizer isso? – indagou enojada – Quando agora mesmo chamava Lysa de “meu amor” na frente de todos.

— Eu sempre a amei, Cat. Desde sempre.

— Mesmo assim joga com os sentimentos de minha irmã querida. Mesmo assim entrega meu marido ao inimigo. Diga, fez tudo isso por amor a mim?

— Sim! – o grito ecoou pelas paredes e se perdeu no precipício abaixo – Fiz por você. Para ter você. Sempre foi você.

Petyr tentava fazê-la compreender. E parecia irado por Cat não ser capaz de fazê-lo.

— Pensou que eu acharia suas atitudes românticas? Que quando eu me tornasse viúva, procuraria consolo em você? Era esse o seu plano? Saiba que é um plano bem pior do que duelar com Brandon pela minha mão.

— Não percebe que todos eles são um meio para um fim? No final, só nós dois importamos. Stark, Lysa e todos os outros são irrelevantes.

— Você é doente. Esse final que imagina nunca chegará. Tudo que ambiciona não passa de um sonho tolo de um filho de um pequeno lorde.

Foi a vez de Mindinho recuar alguns passos. E Cat sentiu prazer em causar dor a ele.

— Se antes sentia algum fiapo de amizade e pena, estes se foram. Agora tudo que sinto quando olho para você é asco. Se soubesse a criatura doentia que é, teria pedido ao senhor meu pai que te mandasse de volta ao lugar de onde veio veio.

Talvez fosse a luz do por do sol que raiava por uma janela, mas pensou ter visto lágrimas brilharem nos olhos de Mindinho.

— A única coisa que tive na vida foi um objetivo: você, Cat. E foi para alcançar esse objetivo que eu calculei todos os meus passos. Passei todos esses anos plantando sementes...

— Sementes de caos. Jogando com as pessoas como peças em um tabuleiro.

Agora a expressão dele se fechou.

— Caos é uma escada.

— Pode até ser. Porém está se iludindo pensando que tem importância suficiente para chegar ao topo dela. Você pode causar o caos, contudo nunca se beneficiará dele.

Petyr riu.

— Essa é uma das coisas que sempre amei em você, Cat. Seu poder para machucar. Desde criança percebi isso em você. Não percebe que somos feitos do mesmo material? Sempre a perfeita lady, deixando bem claro que todos deveriam reconhecer sua posição e importância. Me acusa de manipular Lysa, mas você faz isso com ela desde o berço.

— Eu nunca...

— Nunca mostrou sutilmente que você é a mais bela? A primogênita e a que se casará bem. E Lysa, a mais jovem, que deve sempre obedecer, sempre em segundo lugar.

— É isso que vem dizendo a minha irmã? Inventando mentiras...

— Tudo que fiz foi falar em voz alta, o que Lysa já sentia.

— Envenena minha irmã contra mim e ainda assim jura amor eterno. Como pode falar de amor quando pinta uma imagem tão horrível de mim?

— Meu amor é sincero. Talvez maior até que o fiapo de afeto que Ned Stark sente por você.

— Não fale de meu marido.                   

— Ele não conhece todos os seus lados como eu. Não sabe como gosta de sentir-se melhor que todos ao seu redor. Como disfarça sua condescendência tão bem que as pessoas acham se tratar de gentileza. Talvez eu devesse mostrar esse seu lado ao honrado Ned Stark. Diga, o quanto você acha que duraria a afeição dele se conhecesse você realmente?

Agora eram os olhos de Cat que borraram com as lágrimas que se formaram. Lagrimas essas que não foram suficientes para conter as palavras cortantes do homem que julgara seu amigo.

— Mas isso de pouco importa. Você nunca ocupará lugar no coração de Ned Stark. Não como você deseja. Esse lugar será sempre da mãe do bastardo.

— Cala a boca!

Cat gritou e Petyr riu.

— Como deve ser frustrante que pela primeira vez está em segundo lugar. Como deve odiar seu marido...

— Eu amo Ned.

— Sim e o odeia por isso. Por saber que nunca será correspondida completamente. Assim como eu a odeio por não me amar.

Cat fechou os olhos e as lágrimas escorreram.

— Como disse: somos feitos do mesmo material.

Mindinho avançou e a segurou pelos braços.

— Eu sempre a amei, Cat, porque consegui ver esse seu lado feio, vaidoso e mesquinho. Só eu consegui ver você de verdade. Ninguém mais vai amá-la como eu porque ninguém mais enxerga.

Aproveitando-se do atordoamento de Catelyn, ele a beijou. Assim que ela conseguiu distinguir o gosto de eucalipto, um novo grito ecoou:

— Não! – Lysa descia as escadas, meio louca.

— Lysa, meu amor – começou Petyr virando-se e cortando a linha de visão de Cat.

— Não! – insistiu ela – Você não pode amar ela! Tem que amar só a mim!

— Eu amo só você – a voz dele era alarmante de tão calma em meio aos gritos de Lysa – Por favor, se acalme...

— Não! Eu fiz tudo por você! Era para sermos felizes agora!

— E seremos – confirmou Mindinho, avançando lentamente como se estivesse lidando com um animal louco – Venha. Vamos voltar ao quarto.

— Eu fiz tudo que pediu! – reagiu ela empurrando seu peito – Eu pus as Gostas no vinho de Jon. Eu escrevi a carta. Tudo para ficarmos juntos, finalmente.

O que a irmã falava era assustador.

— Nunca foram os Lannister, não é? Foi tudo um jogo seu – acusou também se aproximando – Realmente tentou me destruir.

— Não. Nunca você, Cat.

Lysa reagiu a essas palavras com um urro, avançando contra Catelyn. Petyr interrompeu seu curso e desequilibrou-se.

Perto demais da Porta da Lua.

Cat reagiu sem perceber e alcançou o braço de Lysa.   

Puxou a irmã com uma força desconhecida, até que ambas se acharam seguras no chão. Lysa gritava e gritava. E gritou até que a garganta não aguentou mais.

Quando Robb, e boa parte do castelo, adentrou no salão, as duas estavam abraçadas. Cat tinha a cabeça da irmã no colo e penteava seus cabelos com os dedos. Um gesto que se repetira tantas vezes em sua juventude.

— Leve minha irmã para seus aposentos e a mantenha lá – ordenou às criadas.

Quando se viu sendo levantada, Lysa brigou violentamente e teve que ser contida por dois guardas e levada a força.

— Lorde Baelish? – inquiriu lorde Royce.              

— Não é mais um problema – respondeu Cat trêmula.

Só uma dose extremamente alta de leite de papoula acalmou Lysa o suficiente para que dormisse. E dormir seria o que a irmã faria por muito tempo.

— Não voltarei ao Norte – informou ao filho quando enfim se sentaram para jantar – Ficarei no Ninho até que minha irmã se recupere.

— O que não acontecerá num futuro próximo.

— Alguém precisa cuidar de Robin.

— E tomar o controle do Vale.

“Somos feitos do mesmo material, Cat” A voz de Petyr lhe assombrava. Ele usava os sentimentos da irmã para conseguir poder. Agora, Cat usava sua loucura.

— Alguém tem que fazê-lo.

Uma desculpa pálida, mas serviria por enquanto.

— Irei até Porto Real e falarei em nome de Vale como sugeriu Jon Snow. Partiremos daí então. Tenho certeza que posso transformar meu sobrinho em um Guardião do Leste apropriado.

— E quanto a Bran e Rickon? Seus filhos que deixa em Winterfell.

— Escreverei a Ned pedindo que os mande para mim. Assim como Sansa. Pediria por Arya também se não a conhecesse.

— O lugar deles....

— É longe da guerra que está por vir. O que acha que farão quando o Inverno chegar e trouxer os Outros com ele?

Robb era sensato o suficiente para saber que as crianças estarão mais seguras ali com ela. Se os deuses fossem bons, voltariam para casa na primavera.

Aconteceu que a viagem a Porto Real foi cancelada. Robb partiu, mas voltou dois dias depois com uma outra mensagem do Rei.

O Vale tinha novas ordens.

...............

Daenerys retornou para uma cidade em chamas.

Meereen estava sitiada. Centenas de navios atiravam pedras de fogo, destruindo tudo que atingiam. E seus conselheiros bebiam vinho e comiam queijo de mamute.

Quando retornou à Grande Pirâmide foi assolada pelo desejo de soltar Drogon sobre todos que estavam ameaçando o seu povo. Contudo Tyrion, Varys e Missandei se achavam calmos e ponderados enquanto a paisagem ardia.

— Está tudo sobre controle, minha rainha – assegurou Missandei.

— O povo....

— Em segurança embaixo da pirâmide e nos túneis. Foram recolhidos noite passada.

Daenerys suspirou para conter a irritação que ameaçava se tornar algo muito em seu amago. E preparou-se para ouvir.

— Temos um plano – esclareceu Tyrion – Estamos esperando apenas o momento certo.

— Momento certo para quê?

— Para que a cidade esteja completamente destruída.

— Como disse? – a frieza em sua voz não refletia o que sentia.

— Meereen precisa ser destruída para ser reconstruída novamente.

— Não entendo.

— No momento temos milhares de escravos libertos sem ocupação. – explicou Varys - É preciso aplicar toda essa mão de obra de alguma maneira. O que seria melhor do que reconstruir uma cidade arrasada?

Dany começava a entender a estratégia. Reconstruir Meereen levaria anos. Tempo suficiente para as pessoas que libertou se estruturarem e adaptarem-se a sua nova condição.

— E depois? Qual o próximo passo depois que a cidade estiver no chão.

— Arrasaremos o inimigo. E vossa majestade será benevolente o suficiente para perdoar os grandes mestres de Astapor, Yunkai e Meereen por tal ato de insubordinação.

— Serei...?

— Será. Pois os grandes homens pagarão a reconstrução de Meereen e de todo o estrago que fizeram.

— Tudo necessário será comprado em outra cidade, é claro. O que gerará mais trabalhos para o povo. A previsão é que a economia nas Cidades Livres se estabilize em um ou dois anos.

Dany teve que admitir que usar a situação a seu favor dessa maneira era uma estratégia requintada. De modo geral, essa revolta dos senhores de escravos resolveria todos os problemas que tinha nos lugares que conquistara.

Ao meio dia encontrou-se com os Grandes Mestres. A facilidade com que foram derrotados não a surpreendeu.

Viserion e Rhaegal, sim.

Seus dragões atacaram com uma precisão alarmante. Desviavam-se das pedras em chamas e atacavam como se estivessem em uma dança.

Os Dothraki cuidaram do resto. Os rebeldes não resistiram nem até o final do dia.

À noite enquanto as pessoas retornavam as ruas e festejavam a vitória, indagou Tyrion sobre tudo o que se passara.

Principalmente sobre seus dragões que se encontravam empoleirados no coliseu de luta. 

— Eles foram treinados – respondeu ele – Treinaram com catapultas por semanas antes do ataque. Também aprenderam que devem se recolher à arena.

— Como conseguiu treinar os meus dragões? – Seu tom deixava claro o quanto desaprovava tal decisão.

— Eu não, vossa graça. Foi o rei.

— O que disse?

— Jon Snow esteve aqui. Ficou em Meereen por quase um mês. Ajudou a lidar com nossos problemas e organizou tudo que viu hoje. Na verdade, ele planejou os próximos cinco ou seis anos.

— O Rei no Norte – a voz de Dany se perdeu com a incredulidade.

— Sim. Ele se foi antes que meus estimados parentes em Westeros soubessem que estava aqui. Não seria bom para a aliança que firmaram. Contudo, extraoficialmente, foi ele esteve liderando o conselho.

— Liderando você. Com sua permissão.

— Sim.

Dany resolveu deixar tal admissão para depois e focou no que realmente a incomodou.

— Com qual intenção, ele viria até aqui oferecer ajuda? O que pediu em troca? – Ela sabia muito bem que algo assim não sairia de graça. Jon Snow já usurpara metade de seu reino. Agora tentava uma manobra diferente para conseguir o resto.

— Ele disse que viera para cumprir uma promessa feita a um parente seu.

Dany sentiu-se fria e quente ao mesmo tempo.

— Parente? – sua voz saiu tão baixa que quase foi levada pelo vento.

— Meistre Aemon nasceu em 198 d. C. O terceiro filho do rei Maekar I. Ele morreu na Muralha recentemente. Mas não sem antes arrancar de Jon Snow uma promessa. Ele pediu por você.

Teve a sensação de ouvir Tyrion através de um longo túnel. Seus sentidos apenas parcialmente.

 Um tio-avô. Um Targaryen na Muralha todo esse tempo. E que morreu antes que ela voltasse.

— Eu continuo sendo a última – falou, uma solidão já conhecida a envolvendo.

— Não é bem assim.

Daenerys voltou ao presente tão rápido como o estalar de um chicote Dothraki.

— Acabou de dizer que Meistre Aemon morreu na Muralha.

Tyrion parecia mais apreensivo do que quando chegou até ela pela primeira vez.

— Sim. Mas seu sobrinho vive. E lhe deixou uma carta.

Dany percebeu que tremia. Também mal percebeu que dentro do envelope tinha outra carta que caiu no chão. Tão focada como estava na poucas palavras escritas numa letra fina:

“ Nosso tio-avô uma vez me disse que a casa não é um trono ou as paredes de um castelo. Mas sim a família.

Nessa visão, quando você retornar, tia, eu serei a única casa que lhe resta.”

Dany ainda tentava entender o que se passava quando atentou para a carta caída.

Nela, um selo azul de uma águia em voo reluzia.


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Notas finais do capítulo

Olá, sei que perceberam a diminuição no tamanho dos capítulos. Tive que fazer isso para manter os prazos. Mas saibam que a história não será diminuida, Só contada em partes menores. Obrigada pela compreensão.
Proximo capitulo: 16 de Maio



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