Carpe Noctem escrita por pnsyparkinson


Capítulo 9
Werewolf Heart




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1787, Londres - Inglaterra

Todos estavam reunidos em volta da fogueira pequena, abraçando seus próprios corpos por conta do frio que irradiava pela noite. A temporada de caça às bruxas continuava aberta, mas fracassando. A matriarca dos Black sentia seu sangue ferver a cada derrota, amaldiçoando até a última geração daquelas aberrações fugitivas.

Se seu primogênito ainda estivesse vivo, isso não estaria acontecendo. Walburga tinha certeza disso.

— Regulus, venha cá. - chamou a senhora, com uma carranca no rosto. — Antes de ir se deitar, leve um pouco de água para aquela criatura.

O jovem Black arqueou a sobrancelha, observando um sorriso sádico se moldar no rosto de sua mãe. Não gostava daquilo, do jeito que sua família tratava aquelas pessoas.

— Quer que lhe dê de beber? - questionou o rapaz, de forma inocente. O estalar de dedos batendo foi o suficiente para cessar as conversas paralelas, o jovem segurava a bochecha com uma das mãos enquanto sua mãe lhe olhava com raiva.

— Imbecil, quero que jogue nela! Deixe-a com frio, sofrendo com o vento da noite! Elas não merecem compaixão, agora vá. - rosnou, atirando um olhar de decepção para o menino que ia em direção aos fundos de uma tenda. — Todos cuidando de seus próprios assuntos, andem.

 

☽☽☽☽

Casa dos Sibley.

Sirius descia as escadas se sentindo renovado.

A poção havia funcionado e agora ele estava vivo outra vez, sentindo o ar entrar em seus pulmões depois de tanto tempo. Assoviava uma canção antiga enquanto passava os dedos pelo corrimão da escada de madeira, chegando até a cozinha.

— Olá doce senhorita. - sorriu, abrindo os braços. — Funcionou.

Marlene apenas estreitou os olhos, chegando perto. — Pelo que vejo sim, funcionou. Ew, você ainda fede. - exclamou, enojada. — Banho Sirius, banho.

— Não encontrei o lugar apropriado para me banhar, portanto resolvi procurar você. - deu de ombros, vendo a loira bufar.

— Esqueci que você não conhece um chuveiro elétrico, sinto muito, deslize meu. - sorriu, vendo-o levar as mãos até a faca que estava em cima da bancada. — Vai tentar me matar? - provocou.

— Não. - respondeu ele, olhando para os utensílios da cozinha de forma admirada. — Só estou achando um pouco excêntrico.

— Muito formal, vamos dar um jeito nisso mais tarde. Você precisa se adequar, estamos em dois mil e dezessete. - explicou McKinnon, servindo uma xícara de café e entregando para o homem. — Beba, é café.

E ele bebeu, seria trabalhoso demais ela tentar mata-lo envenenado.

 

☽☽☽☽

Dorcas sentia seu corpo doer.

Era como se um trem estivesse a massacrando e por mais que tentasse gritar, não conseguia. Estava muda e imóvel. Os sons de seu sonho foram ficando abafados, a voz de James já não era mais ouvida e tudo começou a ficar escuro, calmo...

— Doe, acorde.. - chamou Emmeline, sentada na cama.

Meadowes abriu os olhos e respirou profundamente, sentindo-se assustada por estar em um lugar desconhecido.

— Merda! - exclamou ela, passando as mãos pelos fios de cabelo. — Isso foi estranho.

— Foi. Está tudo bem, certo? - questionou gata, preocupada. — Vou pedir para Marlene checar se isso tem relação com algum feitiço ou...

— Calma Saturno, está tudo bem. - sorriu, de forma doce. — Agradeço por se preocupar comigo, mas acho que só preciso de comida. - riu quando seu estômago fez um barulho engraçado e Emmeline miou.

— Vamos descer assim que você se arrumar, o café deve estar pronto. - apressou-se a pular da cama, mostrando para a garota onde haviam toalhas limpas e uma escova de dentes ainda na embalagem. — Vou esperar aqui.

 

☽☽☽☽

1787, Londres - Inglaterra

Regulus Black sempre foi o filho sensato, mesmo que muitas vezes não demonstrasse isso. O medo que sentia de sua mãe fazia com que seguisse todas as ordens que lhe eram dadas. Pelo menos até aquele momento.

— Olá. - disse baixinho, vendo o pequeno corpo magro tremer, provavelmente com medo. — Trouxe água para você, beba.

A garota o olhou sobre a cortina de cabelos castanhos que tampavam seu rosto, receosa. Estava fraca e não conseguia mais defender a si mesma, tendo que aguentar torturas sádicas apenas para satisfazer aqueles que tanto perseguiam seu povo. Não confiava em nenhum deles, mas aquele garoto tinha algo diferente.

— Você está desobedecendo, isso vai causar... - pigarreou, sentindo a voz falha e rouca arranhar sua garganta.  Causar problemas para você, menino.

— Como sabe que... oh, esqueci que você é bruxa. - ele deu de ombros, falando tão naturalmente que a fez estreitar os olhos. — Não acho que sejam aberrações, se é isso que quer saber. E temos a mesma idade, não me chame de menino. - sorriu fraco, vendo a garota desarmar aos poucos a posição defensiva, aproximando-se das grades que separavam os dois.

 Quase... - murmurou, tentando sorrir. — Obrigada. - agradeceu quando o garoto lhe mostrou o recipiente com água fresca.

 

☽☽☽☽

— Agnes logo vai interrogar você, sabe disso não é? - questionou a loira, mordiscando um pedaço de torrada. — Você não sabe como isso aconteceu, não é? Mas o que você sabe?

— Antes de você arrancar minhas entranhas fora, querida. - pontuou Sirius, com a testa franzida. — Não haviam planos sobre imortalidade apenas extermínio. - contou, lembrando-se do que a mãe discursava com tanto fervor. — O plano principal era matar todos vocês na noite em que arranquei a cabeça de-

— Corte essa parte, consigo lembrar muito bem. - murmurou Marlene, com a feição sombria.

— Poderia dizer que sinto muito, mas ainda não cheguei nesse ponto. - suspirou derrotado, encarando o teto da cozinha. — Como disse antes, o plano era esse mas então acabei sendo morto por você. - deu de ombros. — E não sei de mais nada já que estava sendo enterrado.

— Então você não sabe... - constatou McKinnon, levando uma das mãos até o rosto. — Como eles poderiam ficar imortais... - pensou em voz alta, ouvindo um ruído leve nas escadarias.

— A menos que algum de vocês tenha ajudado, não vejo outra maneira viável. - disse Black, cutucando as cascas do pão de sanduíche.

— Algum de nós! É isso! - exclamou a loira, fazendo o outro arquear uma das sobrancelhas grossas. — O ataque após a sua morte, Black. Sua família tentou pôr um fim em tudo aquilo, lembro de vê-los queimando alguns de nós e então... eles podem ter capturado alguém, isso é óbvio! Como não pensei nisso antes?

— Isso poderia acontecer. - concordou. — Mas suponho que este alguém não deva existir mais, se é que a senhorita compreende o que quero dizer.

 

☽☽☽☽

1996, Lawrence - Kansas

Anos haviam se passado desde que o garoto Black havia ajudado a jovem bruxa em sua fuga. Demorou algum tempo até ambos conseguirem estruturar um laço de amizade e com isso, planejar uma saída daquele lugar horroroso, a fim de encontrar a família de Remie. Após anos fugindo e se escondendo, retornaram para Lawrence, no Kansas, em busca de pistas sobre um possível destino das bruxas restantes. De lá, partiriam para New Orleans.

 Estou nervosa. - confessou Lupin, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta de couro pesada.

— Nós vamos encontrar todos eles, você vai ver. - Regulus sorriu, abraçando a garota pelos ombros.

 As vezes fico assustada... e se não encontrarmos eles e eu estiver sozinha? E se todos estiverem mortos? - murmurou, fixando os olhos nos castanhos do amigo.

 Eles são tão espertos quanto você Lupin, garanto que estão lhe procurando também e estão protegidos. - sorriu, vendo a garota respirar profundamente. — E você nunca vai estar sozinha, sempre vai ter a mim.

— Sempre terá a mim também, Black. - riu, deixando a preocupação de lado por alguns segundos.  Nosso caminho a New Orleans é longo, acho que devemos partir agora.

 

☽☽☽☽

Lily despertou ao ouvir um suave bater no andar de baixo, fazendo-a resmungar. Abriu os olhos com certa dificuldade por conta da claridade que irradiava pela janela.

— James? - chamou, não recebendo resposta. — Não me diga que teve um ataque e fugiu, por favor. - chamou novamente, desconfiada.

Evans apertou as mãos em punho e levantou da cama, arrumando no corpo a camiseta branca que vestia enquanto caminhava até a porta, abrindo-a calmamente para não fazer barulhos desnecessários. Pôs-se a seguir caminho pelo corredor, chegando na escadaria.

O ruído foi aumentando conforme chegava perto da cozinha. Estava pronta para atacar quem quer que fosse, mas não esperava se deparar com James Potter empunhando uma frigideira pronto para jogar em quem aparecesse.

— Uau, devo sentir medo agora ou posso rir da sua cara? - Evans provocou, cruzando os braços.

Como de costume, James revirou os olhos e largou a frigideira sobre o tampo de mármore.

— Achei que fosse alguém, sei lá, invadindo. - explicou, sem paciência. — Já que quando saí você estava no décimo sono.

— E eu pensei que você estivesse fugindo ou simplesmente jogado em algum canto, chorando. - sorriu, ouvindo o garoto bufar.

— Tem um bando de caçadores centenários e sanguinários perseguindo quase todos que conheço nessa maldita cidade, acha mesmo que fugiria? - perguntou descrente, sentando-se novamente e pegando outro pedaço de torrada. — Prefiro ficar aqui com uma louca do que na rua com vários.

A ruiva riu, caminhando até o armário de chás. - Você tem um bom ponto, faria a mesma coisa.

— Lily, queria perguntar uma coisa. - falou Potter, sentindo os olhos verdes praticamente queimarem seu rosto. — Como está Dorcas? Quer dizer, sua amiga está com ela mas...

— Ela está bem, falei com Marlene ontem a noite. - contou, vendo o moreno relaxar os ombros. — Por enquanto nós não podemos vê-la já que os sanguinários estão nos perseguindo e preciso manter você seguro. - bufou, encarando a caixinha de chá que estava em suas mãos.

— Me proteger? O que quer dizer com isso? - perguntou James, estreitando os olhos.

— Ah você sabe, nada de mais só... - começou, mordendo o lábio. —Podem pegar você e ela para tentar chamar nossa atenção já que somos amigos.

O moreno balançou a cabeça. Não havia acreditado fielmente no que a garota lhe disse, mas não contestaria agora. — Tudo bem. Você pode ligar para ela, pelo menos?

— Claro, isso eu posso fazer. - disse, mergulhando o saquinho de chá na xícara transparente. — Mas vai ter um preço. - a ruiva sorriu de lado, piscando os olhos. — Vai ter que me contar o motivo de ter chamado meu nome enquanto dormia, meu bem.

 

☽☽☽☽

Meadowes se sentia renovada após o banho de banheira, havia ficado o mínimo de tempo possível já que seu estômago ainda reclamava de fome. Abriu a porta e se deparou com uma Emmeline atenta aos movimentos vindos da rua, observando a janela.

— Está tudo bem, docinho? - perguntou Dorcas, chegando mais perto.

— Uh-um, apenas pensei ter visto algo estranho no meio dos arbustos. - explicou, virando seu pequeno corpo até estar de frente com a loira. — Não deve ser nada. Vamos descer, Marls preparou o café da manhã.

— Tudo bem, estou com fome. - confessou, vendo a gata piscar um dos olhos. — Acha que o caçador está lá também?

— Se McKinnon não o matou novamente, sim. - disse Vance, caminhando com a loira até a escada, pulando os degraus. — Espero que ele não esteja fedendo.

— Eu também. - murmurou Doe, rindo.

Ouviram barulhos de conversa assim que chegaram na sala, Emmeline fazendo um pequeno gesto com a cabeça para que a outra fizesse silêncio. Conseguiu distinguir as vozes por conta de sua audição aguçada, agradecendo por estar presa na forma de gato dessa vez.

"A menos que algum de vocês tenha ajudado, não vejo outra maneira viável."

E foi como se um grande quebra-cabeças estivesse se montando na cabeça de Saturno, aquela era a última peça que faltava.

— Espere aqui, Dorcas. - explicou, indo até o último degrau da escada. — Vou miar para anunciar nossa presença e então você fala algo, ok?

— Ok. - sussurrou Meadowes, observando a outra miar de forma estridente e mexer a pata dianteira, mostrando que era sua vez. — Acha que o café está pronto, docinho? - disse, entrando em cena.

Se Emmeline pudesse sorrir agora, ela o faria.

 

☽☽☽☽

Marlene suspirou enquanto pensava na probabilidade de algum de seus amigos ter os traído ou até mesmo ter sido capturado e feito de refém quando foram atacados após ter matado Sirius Black. Quem poderia ter sido?

Sua linha de pensamento foi interrompida quando ouviu as vozes de Emmeline e Dorcas no cômodo próximo. Não demorou até as duas passarem pela porta, sorrindo.

— Espero que o café esteja pronto pois estou morrendo de... - começou Meadowes, cortando sua fala ao ver Sirius comendo um pedaço de torrada. — Desculpe, não quis ofender.

O moreno arqueou as sobrancelhas e sorriu. — Não me ofendeu, senhorita.

— Todas as vezes que ouço você falando "senhorita" sinto vontade de arrancar sua língua novamente, Black. - resmungou McKinnon, vendo-o rolar os olhos assim como Emmeline. — Acha que consegue dar um jeito nisso, Doe? 

— Uh, realmente vou ter que ensinar os modos para um morto-vivo? - questionou a garota, confusa. 

— Tecnicamente agora apenas vivo, senhori-Quer dizer, Doe. - falou Sirius, sorrindo ao repetir o apelido que ouviu mais cedo. 

Meadowes riu, concordando. 

— Tudo bem, podemos começar hoje após o café. - deu de ombros. Marlene sorriu. 

— Ótimo, pelo visto você vai manter sua língua no lugar Six. - a loira provocou, sentindo o celular vibrar em seu bolso. — Argh, Agnes vai chegar logo e eu preciso ir limpar meu precioso carro que esse inútil pedaço de carne podre deixou fedendo. - McKinnon levantou, lançando um olhar estranho para Sirius. — Não abra sua boca para Agnes sobre o que falamos mais cedo. 

 

☽☽☽☽  

O ar estava morno naquela manhã e isso fez Marlene sorrir consigo mesma enquanto ia até o pequeno galpão ao lado da garagem para buscar o necessário para a limpeza de seu carro. Sabia que Agnes a mataria se sentisse aquele cheiro, precisava dar um jeito logo. 

Cantarolava uma música qualquer que havia escutado na rádio quando sentiu um calafrio passar por seu corpo, fazendo-a parar os movimentos assim que chegou perto o suficiente para avistar seu carro. E ao lado dele, um lobo.

Um lobo farejando. Um lobo que ela reconheceria em qualquer lugar e que não via há anos, muitos anos.

A lua desenhada na pelagem castanha continuava ali, sinalizando que não estava tendo um sonho lúdico. O lobo fixou seus olhos hazel nos azuis de Marlene e foi ai que ela conseguiu reagir. 

— Remie? - perguntou, sentindo novamente o vento abraçar seu corpo de forma familiar.


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