Arredores da cidade, New Orleans.

Os acontecimentos daquela fatídica noite ainda pareciam atormentar a matriarca dos caçadores, a mulher não sabia como as aberrações haviam percebido sua presença tão cedo e muito menos como haviam escapado sem deixar rastros possíveis de serem seguidos. O acampamento provisório estava montado perto de uma floresta praticamente abandonada, sequer animais eram ouvidos naquela região agourenta da cidade. O vento fazia com que os galhos das árvores rangessem em uma melodia melancólica e sofrida.

Black teve sua linha de raciocínio cortada ao que um forte arrepio se apossou de seu corpo, junto da sensação de estar sendo observada. Ela odiava o fato de estar sem seu primogênito, sabia que seu menino teria feito o que fosse preciso para acabar com aquela festa de bruxas e as mataria uma por uma. 

Se já não estivesse morto. 

A mulher se virou quando ouviu barulhos estranhos vindos da floresta maldita, focando sua visão no que parecia ser um enorme lobo de pelagem clara e olhos castanhos, a lua desenhada em sua testa parecia um convite. Piscou fortemente antes de bufar, era óbvio que sua mente estava lhe pregando peças, já que o tal lobo não estava mais lá. 

— Procurando por algo na floresta, Walburga? - questionou Marietta ao se aproximar, sentindo o aroma de magia que exalava no ar. — Seus caçadores estão esperando novas ordens, parecem desapontados. 

Walburga ainda parecia concentrada demais na floresta para responder, mas o fez, sem direcionar o olhar para Wilder.

— Culpa sua, coisa inútil. - disse com nojo, enrugando o rosto em uma careta de desdém. — Seus planos idiotas só serviram para revelar nossa presença nesta cidade ridícula. Venha, temos assuntos para tratar com os outros.

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Casa dos Sibley.

Uma batida na porta foi o suficiente para que todos parassem o que estavam fazendo e um clima desconfortável se instalasse no local. A primeira a caminhar até a porta foi Dorcas, seus olhos procurando pelos de Marlene em busca de alguma confirmação sobre girar ou não a maçaneta. E então o clique foi ouvido em meio ao silêncio, e tudo que conseguiram ver quase não passou de um borrão.

James Potter havia avançado rapidamente, enroscando seus braços em volta do corpo miúdo da garota em um abraço apertado. Lily, que até então sorria por finalmente estar volta, parou quando viu Lupin acenando. 

Aquela cena parecia exatamente como a de sua visão e Saturno, pela primeira vez em anos, sentiu o medo tomar conta de seu pequeno corpo peludo. A gata que até então apenas observava tudo, foi retirada de seus pensamentos por um abraço apertado vindo de Lily.

— Não quero estragar a reunião de boas vindas mas... - começou McKinnon, dando de ombros. — Agnes voltará logo pela manhã, temos apenas algumas horas até uma ideia boa o suficiente aparecer e sou jovem demais para morrer agora. 

O clima novamente ficou desconfortável e todos se dirigiram até a sala, onde sentaram nos sofás macios em busca de algo que pudesse livra-los daquela visita indesejável que tinha o sobrenome Black. 

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Arredores da cidade, New Orleans.

Os caçadores estavam reunidos em volta da enorme fogueira no centro do acampamento, ouvindo atentamente tudo que era dito pela matriarca. Já era do conhecimento de todos que haviam falhado em seu plano inicial de matar o restante das bruxas na festa de halloween, portanto poucas perguntas foram feitas até a explicação de Walburga, que mantinha a postura rígida e o olhar amargurado ao falar sobre aquela situação. 

Também era de conhecimento geral que fracassos não eram permitidos naquele grupo, portanto todos ficariam sem comer ou beber por vinte e quatro horas. 

— Nós fomos um desastre e aquela aparição serviu apenas para revelar nossa presença aqui. Nesse exato momento aquele clã de criaturas nojentas deve estar preparando uma retaliação e seja lá o que for, não poderá ter sucesso. Nós falhamos outra vez e isso não pode ficar assim! - gritou Walburga Black, sentindo-se poderosa devido aos olhares de temor que eram direcionados para si. — Descansem por hoje, amanhã será um longo dia e não precisamos de pessoas indispostas ao nosso lado. Vão!

A madrugada estava fria. As barracas pareciam gélidas demais para se ter uma noite confortável, apesar dos cobertores pesados que estavam à disposição de uso. Héstia Jones não parecia satisfeita ao levantar de seu saco de dormir e caminhar para fora de sua tenda, sentindo o vento bagunçar seus cabelos ao que se aproximava mais da fogueira ainda acesa. A jovem fechou os olhos quando um calafrio passou por seu corpo, soltando um resmungo quando as árvores parecerem cantar uma canção de ninar. Seu corpo foi relaxando aos poucos e sua visão escurecendo, levando-a para o mundo do inconsciente. 

Assim que a garota apagou totalmente, o grande lobo saiu de seu esconderijo dentre a mata e sussurrou palavras chave para fazer o corpo de Jones levitar até suas costas, onde a outra pareceu se acomodar no sono. 

O grande lobo uivou quando correu pela floresta, com a garota ainda em suas costas.

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Casa dos Sibley.

Todos estavam nervosos, esperando que a qualquer momento uma péssima notícia chegasse em seus ouvidos. Emmeline se culpava por deixar Remie agir sozinha, mesmo sabendo que seu corpo felino não seria de grande ajuda e os outros apenas perambulavam pela sala, preocupados. 

Faziam algumas horas desde que Lupin havia saído para investigar um possível rastro dos caçadores e não retornara desde então. Já era madrugada e todos estavam na cozinha, observando pela grande janela qualquer resquício de movimento da garota, esperando e esperando. 

James abraçava Dorcas de forma apertada, tendo o olhar focado no rosto de Lily, que estava contorcido em algo parecido com sofrimento. Potter gostaria de ter a ruiva em seus braços também, para mostrar que ela não estava sozinha. 

O medo de perder a amiga novamente era realmente muito grande para todos naquele ambiente. Em especial para Regulus, que sequer piscava. O silêncio foi cortado por um grito agudo, vindo de Marlene. 

— Ela voltou! 

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A garota estava desacordada no sofá enquanto os outros pensavam em como ela poderia ser útil. Remie havia contado sobre como tinha sido fácil, já que sequer precisou encanta-la antes do feitiço para dormir. Sirius olhava para a garota com certa pena, já que conhecia sua família e sua identidade. 

— Héstia Jones. - disse o Black mais velho, recebendo toda a atenção. — A família dessa garota serve a nossa desde o começo, são muito leais e ótimos lutadores. Bem, exceto a pequena Héstia. Ela nunca gostou das coisas que eram feitas para sua espécie, Marlene, então pare de olha-la com tanto ódio. 

A loira apenas deu de ombros, se retirando para a cozinha.

— Ela e Regulus tem a mesma idade, foram criados juntos desde que eram bebês de colo. Ao que parece irmãozinho, você e ela tem mais em comum do que aparentam. - sorriu fraco, passando a mão pelos cabelos antes de prosseguir. — Sei que se formos civilizados com ela conseguiremos algumas informações valiosas, essa menina sempre foi uma ótima ouvinte. 

— O que você sugere, Sr. Black? - questionou Dorcas, que até então estava calada. — Como acha que podemos lidar com ela? Quem deveria falar com ela primeiro?

James olhou para Lily quando a pergunta foi lançada, fazendo com que a ruiva suspirasse. Aquele mundano estava mesmo mexendo com algo dentro de si, bastava apenas descobrir exatamente a razão daquela confusão de sentimentos.

— Eu falo com ela, fiquem tranquilos. - respondeu Evans, revirando os olhos para o olhar descrente que recebia de Meadowes. — Não esqueça que enganei você muito bem, Dorquinhas. Deixem comigo, lido com o filhote de caçador sem triscar um dedo sequer nela, prometo.

— Você não é muito confiável, Lily. - disse Remie, sorrindo levemente ao ser abraçada por Regulus. — Talvez mais alguém devesse ficar com você, por precaução. 

E como se um plano perfeito estivesse sendo montado em sua mente, Lily apenas sorriu largo. 

— James ficará comigo. Não é? 

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O cheiro de Jones foi apagado por um feitiço rápido feito por Marlene, que levava a garota consigo para a casa de sua família. Apesar de estar quase sempre na casa de sua tia, a loira ainda mantinha sua casa para quando o clima estivesse muito ruim e ela precisasse ficar sozinha. Seria um bom local para esconder Remie, Regulus e Héstia, já que eram proibidas as visitas por lá.

Ninguém gostava de presenciar as experiências horrendas que McKinnon fazia. E nem beber seus chás. 

O casal de amigos levou a garota ainda desacordada até o quarto principal e repousou o corpo na cama, deixando-a confortável e aquecida. Encontraram com Marlene na sala, com três xícaras de café dispostas sobre a mesa de centro. 

— Acha que Sirius tem razão? Sobre ela. - apontou com a cabeça para as escadas, indicando a morena que dormia tranquilamente no andar de cima. — Posso parecer estranha mas... não gosto de torturar pessoas. Bem, não muito.

— Não consigo lembrar dela. - Remie deu de ombros, pegando uma das xícaras para bebericar um gole. Ainda parecia preocupada, mas sorriu levemente ao olhar para Regulus. — As únicas pessoas que lembro são Marietta, Walburga e Reg. O resto é como um borrão, parece que algo está bloqueando minhas memórias. 

— Talvez seja Wilder, aquela velha carcomida é boa com coisas assim. - desdenhou.— Saturno e eu podemos livrar você disso, já que Lily está muito ocupada com você-sabe-quem.

— É ele, não é? - questionou Lupin, feliz por finalmente poder tirar aquela dúvida que assolava sua mente desde que pôs os olhos nos de James.

— É ele. Só espero que a nossa florzinha não acabe gostando dele mais do que deveria. - confessou McKinnon, mesmo sabendo que aquilo já era de fato, verdade. — As coisas tendem a dar errado quando saímos dos trilhos, e isso também serve para rituais.

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Já era manhã quando Potter acordou, sentindo um peso em seu peito e cócegas em seu pescoço. Suas costas doíam e seus olhos pareciam pesados pela noite de sono quase inexistente, as poucas horas que dormiu não foram o suficiente para que sonhos não atormentassem seu subconsciente. E é claro que a maldita ruiva de olhos verdes como grama molhada estava em todos eles. 

Um barulho baixinho o fez despertar de vez e sua respiração pareceu falhar quando sua visão focou em Evans dormindo sobre seu peito. A garota estava completamente aconchegada e pelo visto ambos haviam feito do sofá uma pequena cama. Lembrou-se dos acontecimentos do dia seguinte e vasculhou a sala em busca de Hestia Jones, mas apenas encontrou as almofadas perfeitamente alinhadas. 

— Ei Lily. - chamou-a, cutucando suas costelas com o dedo indicador. — Evans, acorde. 

— E quem falou que estou dormindo, James querido? - sorriu de olhos fechados, apertando-se ainda mais contra o corpo quente do moreno. — O que aconteceu?

— Onde está a garota? Ela sumiu, Lily! Deveríamos te-la vigiado e simplesmente dormimos! - exclamou, tentando tirar o corpo leviano de cima do seu. — Facilite a minha vida pelo menos uma vez Evans e saia de cima.

A ruiva bufou e ajeitou sua posição, saindo do sofá logo em seguida. Passou os dedos pelo peito de Potter e riu quando ele estapeou sua mão. 

— Ela está com minha família, quer dizer, Marlene a escondeu antes de Agnes voltar. - deu de ombros, ajeitando a roupa amassada. — Basicamente estamos sozinhos agora e posso fazer com você o que eu quiser.

— Não, você não pode. - retrucou Potter, sentando-se no sofá. — Ainda não gosto de você.

— É mesmo? Não foi o que você falou no chalé, James. Lembro de ter dito algo relacionado com nos conhecermos de outras vidas e... coisas assim. Além de chamar meu nome, claro. - murmurou convencida, travando a atenção dele em seus olhos. — Vai realmente negar que me pertence, Potter?

James sequer teve tempo para responder antes de Lily praticamente pular em seu colo, puxando-o para um beijo apaixonado. As mãos da garota estavam sobre os ombros dele, com os dedos delicados enroscando-se em seus fios de cabelo rebeldes. Com um impulso ele virou suas posições, deitando-a sobre o sofá para então atacar seus lábios macios outra vez, as línguas disputando para saber quem controlaria o beijo. 

Ambos pareciam estar em chamas, assim como a sala. As respirações entrecortadas e os gemidos fracos eram os únicos sons provenientes daquele cômodo.

A luz do sol entrava pelas cortinas esvoaçantes, deixando tudo mais bonito aos olhos de Lily. A bruxa não sabia de onde havia saído aquele impulso, mas estava gostando ter seu corpo ligado de James daquela forma, suas pernas estavam emaranhadas e os corações pareciam bater em um só ritmo. E aquilo era apenas um beijo.

— Lily, acho que te amo. - sussurrou o moreno antes de puxa-la para outro beijo, dessa vez mais carinhoso e sentimental. 

Ela retribuiu, sentindo no fundo de sua alma que as coisas haviam se complicado mais naquele momento, pois Lily Evans também amava James Potter e isso não deveria ter acontecido.