O Passado Sempre Volta escrita por yElisapl


Capítulo 29
Capítulo 28: Nada é realmente seu.


Notas iniciais do capítulo

E lá vamos nós!!



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Mal sabe você, eu sei que você está machucada
Enquanto eu pareço dormir
Mal sabe você que todos os meus erros
Estão lentamente me afogando

Seis anos atrás:  

Eu acordo com o som da sirene. Olho em volta e não há nenhum Blue intrometido em meu quarto. Isso me dá uma alegria momentânea, mas logo ela vai embora e me preenche com preocupação.  

Os próximos passos de meu plano serão arriscados. Todas nós estamos nos arriscando, se formos pegas, sofremos uma punição horrível. Balanço a cabeça para espantar os pensamentos negativos.  

Sim, devo me preocupar com os perigos, no entanto, não devo pensar que as coisas podem dar erradas, pois elas não irão dar. Nós vamos conseguir.  

Levanto da cama e garanto que o rascunho da planta do local ainda está embaixo de meu colchão. Sweet disse para mim guardá-lo neste lugar, pois ninguém verificava se havia algo guardado em nossa cama e desde que estão presas aqui, nenhuma pessoa verificou seus quartos. Talvez acreditem que não há necessidade e isso é uma vantagem para nós.  

Saio do meu quarto e caminho pelo corredor até o banheiro. Ao entrar, noto que há algumas meninas escovando seus dentes. Muitas delas possuem marcas roxas em seus corpos. Marcas que homens causam ao abusarem delas. Sinto uma náusea me atingir. Quero ir em cada uma delas e dizê-las que tudo isso não durará por muito tempo, que eu as salvarei. No entanto, me limito a entrar em uma cabine e tomar meu banho.  

Fecho a torneira do chuveiro e começo a me secar. Visto minhas roupas rapidamente e saio da cabine. Não há ninguém no banheiro e me sinto desempolgada por não conseguir falar com uma das meninas.  

Ontem de noite, combinei com Blondie que arranjaria um jeito de ir ao quarto em que ela estivesse ‘’atendendo’’ seu cliente. Enquanto eu dançasse, ela o roubaria.  

É claro que não será fácil, pois pode haver muitas chances de algo não funcionar. Começando com o fato de que irei me desviar de Blue, depois irei atiçar um homem nojento que provavelmente não suportará que eu apenas dance para ele. Mas acredito que se eu continuar atuando da maneira que estou fazendo, conseguirei mentir tão bem que nada será descoberto.  

—Babydoll - ouço a voz de Blue me chamar. Eu estava indo até o camarim, onde provavelmente a Madame estaria, porque precisava perguntar a ela quais eram minhas obrigações de hoje. Entretanto, sinto que não irei encontrá-la tão cedo.  

—Sim? - Viro-me, fingindo surpresa e curiosidade. E não demonstro minha vontade de querer socá-lo, como sempre desejo toda vez que o vejo, ou escuto.  

—Vim te informar que não haverá tarefas para você fazer hoje – sua voz sai mais animada do que gostaria de ouvir (no caso, nunca gostaria de ouvi-lo animado, apenas sofrendo) e com isso, concluo que é por causa dele que não terei nada para fazer. Significando então, que ele tem outros planos para mim.  

—Sério? Por quê? - Transpareço estar curiosa como uma criança querendo saber as razões de tudo que acontece no mundo. Isso o faz sorrir.  

—Eu a liberei, pois quero passar algumas horas em sua companhia, mas é claro que não posso roubá-la o dia inteiro, afinal, você tem ainda um papel para cumprir.  

Passar algumas horas em sua companhia.  

Isso quer dizer que esse infeliz, que esse monstro, quer ficar mais tempo comigo? Já não serve a ele as horas que fica ao meu lado enquanto fico desfilando para homens como uma boneca de porcelana? Eu queria respondê-lo que não havia chances de nós dois passarmos mais tempo juntos, no entanto, deixo meus lábios entreabertos e permito as palavras que quero pronunciá-las saírem em silêncio.  

Tenho que continuar atuando. Isso é uma peça e eu sou a atriz principal. Devo realizar o meu papel de maneira impecável, senão, os telespectadores podem não gostar e nesse caso, o meu telespectador do momento é Blue.  

—Não conte à Madame, mas estou aliviada por não ter que fazer nada! - Dou um pulinho e bato as mãos. E em seguida, murcho. - Porém, não quero incomodar, senhor Blue – preciso pensar em meu plano. Preciso estar perto dele para poder pegar a chave que fica pendurada em seu pescoço. Tenho que fazê-lo acreditar que sou totalmente inocente e boba. Uma versão da Felicity que ele nunca viu.  

—E não incomodará. Agora venha comigo, nós dois vamos caminhar – eu me segurei para não frisar o cenho e fazer uma pergunta debochada, pois nos fins das contas, qual é a graça de andar por corredores sem vida? Sem questionar, vou ao seu lado. - Você sente saudades de seus pais? - Ele pergunta, interessado. 

—Apenas da minha mãe e da minha irmã - respondo seca e o vejo me fitar, espantado de como mudei a expressão rapidamente. Prontamente, trato de corrigir o erro que deixei escapar – Meu pai era um homem terrível. Vivia discutindo com minha mãe e de uma hora para outra, decidiu não gostar mais de mim. E tenho certeza de que foi ideia dele me abandonar, mas não esperava que minha mãe fosse concordar em fazer isso – dou de ombros. - Você não entenderia. 

—Na realidade, entendo perfeitamente – ele diz e eu encurvo minhas sobrancelhas. - Eu nasci em uma família problemática. Meu pai era um alcoólatra e minha mãe uma viciada. Aos dez anos, ambos concordaram em me largar numa rua abandonada do que largar seus próprios vícios. Disseram a mim que não podiam arcar com minhas despesas – um sorriso amargo surge em seus lábios. - Vivi nas ruas até os meus dezoito anos, passando fome e sem um teto, não quis ir a um orfanato, sabia que seria tratado pior do que era por meus pais. Resolvi que cuidaria de mim mesmo.  

—Deve ter sido horrível sobreviver nas ruas de uma cidade. Acredito que viu tantas coisas ruins... - deixo minhas palavras pesarem no ar. Se ele conhecia a dor, por que decidiu apresentá-la para outras pessoas? Para mulheres que não tinham nada a ver com isso, como Sweet Pea e Rocket que foram forçadas a se prostituir.  

—E foi por isso que criei este lugar, Babydoll. Mulheres são expulsas de casa, ficam sem teto, crescem em lugares horríveis. Aqui elas possuem comida quente, cuidados médicos e companheiras. É como um lar e o preço a pagar por tê-lo é pequeno comparado aos sofrimentos que teriam se ficassem na rua.  

Meu maxilar fica rígido. Quero dizê-lo para parar de mentir, nem todas as mulheres acham que isto é um lar. Do que adianta ter comida e cuidados médicos se somos tratadas como objetos e bonecas presas. Isto está mais para um cativeiro.   

—Sinto falta de ver o sol. De ver as nuvens. Não há janelas em lugar nenhum aqui – comento, mudando de assunto. - Você poderia construir ao menos uma simples janela, para que possamos ver o céu. É cansativo ficar aqui, sem sentir o ar e o vento. Acredito que todas as mulheres como eu querem isso. 

—Você se sente presa, Babydoll? - Ele para de andar e eu faço o mesmo. Seus olhos me avaliam precisamente.  

EU ESTOU PRESA AQUI! TODAS NÓS ESTAMOS!  

—O que eu sinto não importa, não é? - Franzo o nariz, contendo-me para não gritar o que está preso em minha garganta.  

Seu olhar em mim é longo. Talvez eu tenha o lembrado de como a antiga eu agia, antes de fingir ter perdido a memória de tudo. Aparenta estar pensando em algo que o deixa em conflito, pois seus olhos demonstram isso.  

Abruptamente, ele para de me encarar e começa a andar, com passos rápidos e em linha reta, sem perder a postura ereta. Não sei se devo segui-lo, não sei se ele decidiu pôr fim ao nosso ‘’tempinho’’ juntos.  

—Você não vem? - Blue questiona, sem olhar para trás.  

—Para onde vamos? - Pergunto, sem me mexer do lugar.  

—É uma surpresa. Não se preocupe, é algo bom – friso o cenho. Será que ele sabe a definição de algo bom? Duvido muito, mas acredito que eu não tenha opção.  

Começo a segui-lo. Em questão de segundos, nós estamos no hall de entrada. E depois, nós chegamos na parte que acredito ser a que é usada pra enganar as pessoas que este lugar é uma espécie de hospital. Para enganar as pessoas que poderiam ajudar meninas como nós. 

De repente, paro instantaneamente quando vejo que Blue está abrindo a porta com a chave que fica em seu pescoço.  

O que ele está fazendo? Indago para mim mesma. Ele está tentando bancar o bonzinho. A voz de Amber ressoa em minha mente. E ela tem razão. 

A visão da luz de fora é a primeira coisa que vejo. Eu fico tão atordoada com a iluminação natural que não noto Blue tocando em meus braços e me puxando para fora. Quando meus olhos se acostumam com a forte luz, observo as outras coisas.  

Diversas árvores, diversas plantas. Uma brisa de vento bate em meus cabelos e os fazem balançar. Há tanto tempo não sentia o calor do sol, a ventania e plantas naturais. Eu me sinto livre.  

—Gostou da minha surpresa? - Blue indaga. 

Você não está livre. Amber me relembra a verdade.  

—Sim – sussurro e olho em volta.  

Não há ninguém do lado de fora. Só estamos eu e Blue. Eu poderia matá-lo aqui mesmo. Pegar de seu pescoço a chave e tentar salvar as meninas. Mas eu falharia. No momento em que eu retornasse para dentro daquele lugar, os homens iriam ver que Blue não está mais comigo. Iriam procurá-lo e quando não o encontrasse, eles viriam até mim e me matariam. Não há como eu enfrentar dúzias de homens armados. As meninas teriam o mesmo final que Amber quando tentamos enfrentá-los, quando fugimos sem realmente estarmos preparadas.  

—O céu está tão azul quanto a cor de seus olhos – Blue insinua e eu paro de encarar as árvores. Eu havia me perdido em meus pensamentos.  

—Isso é um elogio? - Dou uma risada nasal, fingindo-me tímida.  

—Só se você aceitá-lo – outra brisa de vento passa por nós, resultando em vários fios do meu cabelo balançarem. Automaticamente, Blue os arruma de volta para o mesmo lugar. Há um brilho no olhar dele e não é por causa da iluminação.  

Por algum motivo, esse brilho que vejo me causa náusea e preocupação.  

 -Estava com saudades do sol, do céu e até mesmo do vento – mudo de assunto e decido focar nas nuvens.  

—Para mim, Babydoll, sua opinião importa – ele declara, repentinamente. Demoro um segundo para entender que estava respondendo à pergunta que havia feito há minutos atrás, quando ainda estávamos do lado de dentro.  

—Blue Jones! - Uma mulher grita o nome dele e eu me viro para olhar quem é. Ao meu lado, ele suspira exasperado. - O que acha que está fazendo? Está louco? 

—Madame, o que você quer? - Blue inquira, grosso e irritado. Provavelmente não gostou que ela atrapalhou o nosso ’’tempinho’’.  

—Você sabe muito bem o que quero! - Ela vem até mim e começa a me puxar pelo braço, sem se importar se me machuca ou não. - Babydoll não é sua para mantê-la apenas com você! Ela pertence a mim, esqueceu-se? As meninas são minhas, o lugar é seu! - A cada palavra, mais observo a raiva crescer na expressão de Blue.  

Ele não deve estar gostando do tom que a Madame está usando, Amber comenta com humor. Forço meus lábios um no outro para não rir.  

—Não. Não me esqueci. É difícil esquecer o fato de que ela não me pertence – ele a responde, com a voz tão calma que fico surpresa. Pensei que ele fosse explodir, gritar com ela e falar para ela ver o modo como fala com ele. Um certo incomodo surge em meu peito por ele estar tão calmo.  

A Madame não insiste em dizer nada, ela apenas dá um último olhar e me puxa para dentro do lugar. No entanto, meus olhos observam Blue de maneira aturdida e seu semblante está passivo, me encarando de volta. Bem baixo, ouço seu sussurro:  

—Por hora Badydoll ainda não me pertence – com sua afirmação tão convincente, desvio o olhar e agradeço mentalmente por Madame ter me tirado de perto dele.  

Eu fui arrastada até o camarim, onde fui ordenada a passar e lavar as roupas que havia no cômodo. Não pestanejei.   

Quando terminei de fazer tudo que fora mandado, Tisy, uma mulher negra de cabelos crespos que vão ao ombro, veio até mim, dizendo que estava na minha vez para treinar passos de dança.   

 Agradeci e fui para onde me exigiam. Comecei minha apresentação e Blue como nas outras vezes, se fez presente. Contudo, hoje, houve algo diferente. Ele sempre me olhava com admiração nas outras apresentações. Mas nesta ele me observava como se estivesse esperando para dar o bote. E essa sensação me fez arrepiar. Temer. 

Depois de minha apresentação, todas as mulheres foram para o camarim se preparar para noite. O que havia sido estranho é que a própria Madame decidiu me maquiar e vestir. Provavelmente ela quer que eu arranje logo alguém que pague o suficiente em mim. 

Se não é que acharam. Amber sussurra, com medo. Ou o medo seria meu? 

Em poucas horas, todas as mulheres, inclusive eu, estávamos prontas. Cada uma fora para seu devido lugar. Não tive dificuldade em descobrir qual quarto Blondie ficará hoje, pois em todas as noites, os quartos utilizados são os mesmos. 

Tenho que focar no plano. Não em meus medos idiotas. Às vezes, os medos nos protegem de algo ruim. Amber declara, com tanta firmeza. Eu a ignoro. Não tenho tempo em se preocupar comigo mesma.  

—Preciso ir ao banheiro. Já volto! - Digo para Blue, que está perto de mim, conversando com um homem que havia vindo na noite passada e também havia conversado.  

Do que tanto falam? Inquiro a mim mesma, mas balanço a cabeça para retirar esta dúvida de mim. Nada é importante agora.  

Caminho entre os corredores e em segundos, estou abrindo a porta do quarto de Blondie. Quando entro, vejo um homem, cerca de trinta anos, em cima dela. Ele a beija no pescoço enquanto suas mãos passam por seu corpo. Sinto uma enorme vontade de atacá-lo e puxá-la para longe dele. No entanto, não é para isso que estou aqui.  

Vou até o rádio que possui em todos os quartos para dar um ‘’clima adicional’’ e troco de frequência. Com a mudança de som, isso assusta o homem e ele se sobressalta da cama.  

—Mas que merda é que você está fazendo aqui? - Ele pergunta, irritado por interrompê-lo. Nesse momento, consigo sentir o cheiro de cigarro em seu hálito. 

 -Pensei que fosse gostar de ter uma visitinha particular dela – Blondie diz, com uma voz sensual e puxa o pescoço dele para que seu olhar volte a ela. - Esqueceu-se que queria ter ao menos uma amostra grátis e exclusiva dela para você? Pois eu me lembro muito bem de você dizer a mim que eu poderia ser parecida com ela.  

—Agora, sente-se e desfrute! - Brando com dificuldade. O empurro para frente, resultando nele perder o equilíbrio e se sentando na cama.  

Os olhos dele estão fixos em mim, em meu corpo. Começo apenas em balançar o quadril, enquanto percorro minhas mãos por minha pele exposta. Viro o rosto para o lado e vejo que Blondie está mexendo na bolsa do homem, provavelmente procurando o isqueiro. Retorno a olhar para ele e desta vez, viro-me de costas, continuando a mexer o meu quadril e bagunço meus cabelos de maneira suave.  

Abruptamente, sinto os braços dele me prender por trás, fazendo meu coração bater mais rápido, pois não esperava por isso.  

—O que está fazendo? - Inquiro, e fico frustrada comigo mesma por não esconder que fiquei assustada. 

—O que sempre quis fazer! - Ele começa a depositar beijos em meu pescoço. Tento me desprender, mas isso resulta nele forçar ainda mais seus braços em volta de mim. Respiro incontáveis vezes.  

Eu não sou uma mocinha indefesa.  

Inclino minha cabeça para frente e depois, com velocidade, a faço ir para trás, acertando o rosto dele. O escuto exclamar de dor e seus braços param de me segurar.  

—Sua vagabunda! - Ele exclama, colocando a mão no próprio nariz para parar o sangramento. Pelo que parece, minha cabeçada fraturou seu nariz. Ótimo! - Você vai ser minha e eu não quero nem saber! - Novamente, o homem tentou me prender, mas eu desvio. - Quer brincar de pega-pega? Pois se você é a presa, faço questão de ser o predador! - Seus passos avançam até mim.  

Olho para Blondie, ela está parada e nos observando, com medo dele, do que pode acontecer. De tudo. Mas vejo que está segurando o isqueiro na mão.  

—Você tem que guardar o fogo! - Berro, para tirá-la do transe. O homem pensa que estou dizendo isso a ele, como provocação. Continuo me desviando dele e desviando meu foco uma hora nele e outra na Blondie. Ela não se move. - Vamos, Blondie! - A chamo e ela pisca. - Plano! - Com esta palavra, o isqueiro é guardado dentro de seu sutiã.  

Sem querer, acabo tropeçando e com isso, o homem pula em cima de mim e prende meus braços com apenas uma mão.  

—Oras, oras! A ratinha foi pega! - Ele ri e com sua mão livre, passeia por meu corpo. 

—Tire as mãos de mim! - Vocifero, tentando escapar.  

De repente, o bruto é puxado para cima e estou livre. Olho para quem o tirou e sinto meu coração acelerar.  

Blue. 

Não. Isto está errado, não é para ele estar aqui.  

—Senhor Jones! - O homem se surpreende. E no mesmo segundo, percebo um vestígio de pavor em sua voz. - O que te traz aqui em meu quarto? 

—Ela – ele aponta para mim. - Se levante, Babydoll - não hesito em seguir sua ordem. - Venha comigo.  

—Mas senhor Jones, ela não estava aqui para me acompanhar? - Ele pergunta, tentando esconder a frustação de não poder passar mais tempo comigo. - Qual é, deixei-a aqui. Nós dois estávamos nos divertindo. E em seguida nos tornaríamos três com a minha Blondie – um sorriso pervertido é direcionado para mim. Quando Blue percebe, ele se ponha em minha frente.  

—Babydoll não é acompanhante de nada! - A voz de Blue sai destemida, como se alguém tentasse ir contra ele faria picadinho.  

—Ele passou a mão em mim – digo, subitamente. Preciso que Blue o tire daqui, para que assim, Blondie vá para o seu próprio quarto e guarde o isqueiro. - Beijou meu pescoço e tentou me beijar! - Grito, com ódio e vergonha.  

Uma veia surge na testa de Blue. Ele está puto de raiva.  

—Sai daqui, senhor Gonçalves! - O timbre da sua fala é controlado. O homem não entende, frisa o cenho. - SAI DAQUI AGORA! OU EU IREI METER UMA BALA EM SUA CABEÇA! - Blue urra, furioso, puxando a arma que sempre fica em sua cintura para frente, apontando na direção do homem.  

Você conseguiu, Babydoll. Amber diz, preocupada. Só espero que isso não acabe te colocando em uma situação ruim. Em que tipo de situação? Indago. Nós veremos. É a única resposta que obtenho.  

O homem sai, correndo e assustado. Blue guarda a arma em sua cintura de volta. Seus olhos vão para Blondie.  

—Seu expediente chegou ao fim. Vá direto para seu quarto! - Ele ordena e ela apenas assente. - Babydoll, me acompanhe – seguro minha vontade de olhar para Blondie. Anuo com a cabeça e nós dois saímos do quarto.  

Sinto um frio na barriga. Uma sensação ruim, como se algo terrível fosse acontecer. Eu e Blue paramos de andar quando chegamos na área médica. Ele indica para mim entrar primeiro e depois entra em seguida, trancando a porta.  

—Babydoll, o que você estava fazendo naquele quarto? - É a primeira pergunta que ele faz depois de tanto silêncio. Sua voz está passiva, seus olhos intrigados.  

—Eu estava indo ao banheiro. E então ouvi um grito. Agudo e dolorido. Não pude ignorá-lo e o segui. Quando vi, já estava dentro do quarto e aquele homem pútrido pulando em cima de mim - a mentira sai perfeitamente de minha boca.  

—Lamento pelo que houve – declara e se aproxima perto de mim. - Há algo que precisa saber – as palavras pronunciadas me causam um estranho arrepio. - Nessas duas últimas noites, um homem muito rico ofereceu a mim uma quantia de dinheiro altíssima para tê-la – de repente, me sinto estagnada e sem fala. Um pavor cresce em meu peito. - Mas eu recusei ambas as ofertas.  

—Por quê? - Minha pergunta sai em um sussurro fraco, minhas mãos estão suando. 

—Porque a única pessoa que a terá sou eu. 

E então, ele me beijou. Tentou com sua língua abrir meus lábios e conseguir passagem.  

Eu só conseguia sentir nojo e vontade de acabar com toda a farsa, para que assim eu batesse nele sem parar. O deixasse inconsciente. Ou morto.   

Você não pode fazer isso. Amber lamenta. Se fizer, sentenciará para sempre a prisão de você e as meninas neste lugar. Nunca conseguirão escapar, não importa o quanto tente, o quanto lute. Esta é sua única chance. Você terá que ser forte.  

Lágrimas surgem em meu rosto. Blue para de tentar me beijar quando as sentem.  

—Está chorando – diz, limpando minhas lágrimas. Eu não consigo me mexer, me sinto vazia, me sinto como ele sempre quis que eu fosse: uma boneca. - Não tenha medo, está tudo bem. Eu cuidarei de você.  

—Por favor, não faça mais isso. Por favor, não toque em mim – choramingo, odiando tudo em mim. Odiando por ser mulher, odiando Blue e odiando o meu pai por ter me colocado nisso tudo. Eu era inocente. E agora, sou uma vítima.  

—Shiiu – ele coloca um de seus dedos nos meus lábios, fazendo-me parar de falar. - Não há nada que possa fazer. Isto é maior que a mim e você. Nós dois somos destinados. Você é minha. Sempre foi e sempre será. Agora, se acalme.  

—Não! - Exclamo, me afastando abruptamente e indo em direção a porta. - Me deixe ir, me deixe sair! Eu não quero fazer isso. Não posso fazer isso – Tento abri-la, mesmo sabendo que é inútil. A chave está com ele. Estou presa. 

—Sem pressa, Babydoll – Blue comenta, com a voz calma. Suas mãos geladas tocam em meus ombros e me fazem virar para encará-lo. - Sem preocupação. Prometo ser cuidadoso, desde que se comporte bem. Não há como fugir de mim. A partir de hoje, você é exclusivamente minha. Ninguém tocará em você, ninguém a terá. Apenas eu – suas mãos descem para os botões de minha blusa. Ele desbotoa um por um e o sentimento de inutilização se impregna em meu amago.  

Ele desceu minha blusa para baixo. Nos seus olhos, haviam desejo e luxúria. No caso dos meus, provavelmente não teria nada além de lágrimas escorrendo. Ou talvez o medo que qualquer mulher sentiu quando se encontrou em uma situação igual a minha. Choro por elas, choro por mim. 

De repente, me vejo sendo guiada para o outro lado do cômodo. Blue me fez sentar na cama que é usada para o médico avaliar as pacientes. Ele começa a retirar peça por peça que há em meu corpo. 

Eu só consigo assistir. Não consigo dizer e muito menos me movimentar por conta própria. Tento fazer qualquer coisa. Tento gritar ou socar, mas não emito nenhum som e nenhum movimento. Não entendo a razão de não conseguir fazer nada.  

O pavor dominou seu corpo, Felicity. Amber explica. Você perdeu o controle, deixou que seu medo te dominasse, pois assim é mais fácil suporta o que vai acontecer. Você apenas assistira, como se o corpo não fosse seu, pois nesse momento, ele não lhe pertence, Blue o tomou de você.   

Sim, Blue tomou de mim. Ele sempre pega tudo de mim. E sempre pegará. Não estou apenas perdendo minha inocência neste momento, estou perdendo minha vida, pois Blue a tirará de mim e me destruirá. O que restar cera apenas um vazio escuro e quebrado. Não haverá mais nada que me pertence.  

Sempre pensei que ao menos meu corpo me pertencia, mas estava errada. Nada realmente é seu, afinal, pessoas podem tomá-las para elas se quiserem. E é exatamente o que Blue está fazendo. Me tomando para si mesmo. Porque a partir de hoje, eu sou a boneca dele. Serei usada até que me quebre e seja jogada fora. Sou totalmente descartável.  

Sou totalmente inútil.  

Nunca mereci viver.  

Atualmente:   

Imprimo diversas imagens. Foto de possíveis futuras vítimas. Faço uma ficha para cada uma e sem perceber, acabo fazendo uma para mim mesma e para Thea. Nós duas somos o tipo perfeito: moramos sozinhas e notariam o nosso sumiço dias depois do sequestro.  

E então me lembro do fato de Blue iria atrás de Thea. Ele prometeu tirar tudo que Oliver tinha, começou com a mãe, depois a empresa. Em breve seria eu e sua irmã. Blue iria destrui-lo pelo simples fato de Oliver gosta de mim. Afinal, na cabeça dele, eu ainda o pertencia e que ele era o único a poder tocar em mim.  

Me estremeço e bato a mão em minhas cochas para senti-las doerem, para me trazer de volta ao presente. Não é hora para voltar a momentos tenebrosos, não posso me permitir cair em uma armadilha de meus pesadelos.  

Preciso manter a cidade controlada. Sendo assim, começarei no que tenho em meu controle. Giro as rodas de minha cadeira para trás e me guio até Thea, que está ao lado de Oliver, o olhando e apertando sua mão. Os olhos dela estão enchados e o rosto umido. Ela chorou outra vez. Mas se eu não estivesse tentando bancar a corajosa, também estaria ao seu lado e entre soluços.  

—Thea – a chamo, fazendo-a olhar para mim. - Você precisa fazer uma mala.  

—Uma mala? - Ela limpa a lágrima que escapou. - Para onde vamos? 

—Infelizmente não será a gente, apenas você, Roy e Sammy – acrescento o nome de Sam, pois relembro-me que o pequeno já fora usado duas vezes para me chantegear. Meu ponto vuneravel. Sentimental.  

—Por quê? - Sua indagação sai ainda mais triste. - Não posso sair do lado de Oliver, Felicity! Preciso estar aqui quando acordar ou quando... - ela para de falar, não quer acreditar que há outra opção que possa acontecer com Oliver.  

—Quando Oliver acordar, ele ficará feliz em saber que a irmã está salva – pego na mão livre dela. - Desta forma, ele não se preocupará tanto com você, pois tera certeza de sua segurança. E confie em mim, irei dizê-lo o quanto você o ama.  

Um sorriso quente surge em seus lábios.  

—E você? - Thea pergunta, mudando seu semblante triste para curiosidade.  

—Eu o quê? - Arquejo as sobrancelhas. 

—Também falará que o ama? - Seu questionamento me cala. Eu contar a ele o que realmente sinto? Que o amo? Parece ser uma coisa tão distante e tão inconcreta. Ele não ganharia nada com isso. Meu amor de nada vale. - Pois deveria – ela acrescenta e aperta minha mão da mesma forma que havia feito segundos atrás. - É melhor eu arrumar minhas coisas – a única coisa que faço é assentir.  

Vejo a sair e meus olhos descem para Oliver dormindo, sereno e calmo. Seu peito sobe e desce regularmente. Seus batimentos continuam exatamente iguais, não há mudança desde que chegamos aqui.  

—Continue lutando, Oliver – sussurro apenas para ele em seu ouvido.  

Afasto minha cabeça e começo a girar minhas rodas. Vou até as minhas fichas que havia imprimido e o chamo o pessoal.  

Em segundos, Roy, Sara, Laurel e Diggle se encontram perto de mim. Primeiramente, explico a eles o fato de que Roy nos deixará.  

—Ficaremos com menos um nas ruas! - Exclama Sara, indignada. - Nós já estamos sem Oliver e se agora ficarmos sem Roy, as coisas piorarão.  

—Não, o que Felicity está fazendo é certo - Diggle me auxilia. - Thea e Sam precisam estar seguros. 

—Eles estão seguros aqui, dentro de nosso esconderijo – Laurel argumenta.  

—Por quantas horas ou dias? - Pergunto, desempolgada. - Temos que cogitar a ideia de que em algum momento, alguém descobrirá o nosso esconderijo e quando isso acontecer, não podemos estar despreparados. Não podemos deixar que algo aconteça com Thea e Sammy. Ao menos temos que garantir a segurança de alguma pessoa! - Minhas últimas palavras atingem a todos. - Me desculpe, pessoal, eu não quis ser tão dura.  

—Você quis sim – Sara dá de ombros. - Afinal, era esse o papel de Oliver. Ele nos liderava e nos mostrava a verdade. Você tem razão. Precisamos ao menos garantir que duas pessoas consigam ficar seguras. Pelo menos alguém.  

Com o fim da disscusão, Roy saiu para também arrumar suas coisas e as de Sammy (o pequeno estava comendo). Em sequencia, dei para Laurel, Sara e Diggle as fichas que havia imprimido. Expliquei a razão de termos um papel assim. Cada um ficaria com ao menos cinco mulheres para vigiar. Enquanto eu faria de tudo para localizar o paradeiro das que já foram sequestradas.  

—Nós já estamos de saída - Ouço Thea comentar, resultando em eu parar de digitar loucamente no teclado. - Dê um até logo para Felicity, Sammy.  

—Você parece bem alimentado, meu principe – elogio a Sam quando caminha até mim e me abraça apertamente. - Cuide de Roy e Thea. Eles podem ser adultados, mas você é o mais inteligente entre eles – deposito um beijo demorado na bochecha dele, nisso, uma risada escapa dele.  

—Claro, Fe. Não tem com que se preocupar – ele me dá um beijo na testa. - Você é quem está na zona de perigo. Então, trate de se manter segura. Afinal, não quero ser órfão de novo – sua brincadeira contém um pouco de verdade e seriedade.  

—E eu também não gostaria de deixá-lo sozinho – pisco para ele e mostro a língua. O pequeno faz exatamente o mesmo.  

—Cuide de Oliver para mim, Felicity – Thea pede, pegando a mão de Sammy. - E eu cuidarei de seu principe.  

—Acordo fechado. 

Roy, Thea e Sam se despediram dos outros e não demoraram a entrarem em um carro que Diggle havia arranjando. Por via das dúvidas, nós colocamos chips de rastreamento em cada um, caso aconteça um imprevisto. Mas se eu estiver certa, nada acontecerá, pois Blue e Pinguim não agem de manhã. Apenas à noite.  

Com a partida deles, voltei-me para os computadores. Buscando, rastreando, averiguando e teorizando. Nada. 

Como posso encontrar o local em que as vítimas estão mantidas presas? Esta cidade possui mais de mil lugares, sem contar o fato de que não há como manter todos habitantes que moram aqui seguro. É estaticamente impossível, nem mesmo com a ajuda de Sweet Pea e Bruce. São cem mil pessoas para sempre mantidas seguras através de cinco vigilantes - sem contar comigo e Oliver porque estamos inválidos até o momento - e mais alguns policiais. Uma tarefa complicada. 

—Nós estamos indo, Felicity – Laurel anuncia, colocando sua máscara no rosto. - Qualquer problema, nós a notificaremos e você fará o mesmo, está bem? 

—Sim – concordo – E por favor, não morram!  

—Isso não é tão fácil de fazer – Sara brinca, tirando-nos um fraco sorriso.  

—Eu cuido dessas duas – Diggle sussurra para mim e desta vez, eu sorrio com mais animação. Sei que Digg fará isso, ele sempre fora o braço direito de Oliver. São como irmãos. - Até mais tarde.  

O som da porta se fechando do esconderijo ecoa por todo o lugar. Agora me encontro sozinha com Oliver. Apenas nós dois e um silêncio absurdo.  

—Quem diria que nos tornaríamos tão incapazes de fazer algo? - Pergunto para ele e sua única resposta é o som de seu coração batendo batendo rápido. De principio, penso que é normal, mas os pontos do batimento cardiaco sobem no alto.  

E então percebo o que está acontecendo.  

Oliver está tendo um infarto!  

Minha respiração se acelera.  

O que posso fazer? 

Tento fazê-lo parar de tremer, pois seus corpo tremia a ponto de se mover da cama improvissada e ele poderia cair.  

De repente, o som do batimento do coração de Oliver para.  

—NÃO! - Grito, desesperada. - Você não vai morrer desta forma! - Começo a fazer massagem cardiarca. - Vamos, Oliver... - Paro e pego o desfibrilador. Coloco no nível alto e pressiono no peito dele. - RESISTA! - E nenhum sinal.  

Aumento ainda mais a intensidade. 1...2... Que se dane. Aplico novamente e da mesma forma, nada acontece. Isso não pode ser real.  

Tento novamente a massagem cardiaca.  

—Vamos, Oliver! Vamos, Oliver! Volte para mim. Você não me deixou! - Meus braços doem, meu corpo fraqueja e meus olhos embaçam. Quero chorar, mas não posso. Ele não está morto. Não me abandonaria.  

E então ouço o som.  

O primeiro sinal de batimento, pequeno e devagar.  

—EU SABIA QUE VOCÊ NÃO DESISTIRIA! - Beijo seus lábios rapidamente e não paro de massageá-lo até que seus batimentos se estabilizem ao menos em uma condição normal e regular.  

Dois minutos fiquei fazendo a mesma coisa e com isso, o coração de Oliver voltou como estava antes de enfartar. Não consigo sair de seu lado, temo que algo possa acontecer. Não era para ele sofrer uma coisa como essa. Se fosse para acontecer, deveria ter sido antes, não depois de tantas horas.  

Pego em sua mão. Infelizmente está gelada e eu tento esquentá-la com o meu calor. De repente, sinto saudades de seu toque quente e em seguida, de ver seus olhos azuis olhando-me. Sinto saudades de tudo dele.  

Também falará que o ama? A voz de Thea ecoa por minha mente.  

Quando ele acordar, direi tudo a ele. Toda a minha história. Apenas direi o que sinto por ele quando souber quem realmente sou. E se ele disser que sente o mesmo por mim, terá que ser por mim inteiramente e não por uma parte que mostro. Ele terá que amar Felicity Smoak e Babydoll, assim como amo Oliver Queen e o Arqueiro-Verde. No entanto, é mais fácil para mim amá-lo do que ele, pois ao contrário de mim, Oliver tem muito ao que oferecer. Já no meu caso, eu ofereço apenas um resto de coração quebrado e um corpo destruído.  

—Felicity?! - Escuto alguém me chamar através do comunicador. - FELICITY! - E é Sara quem me grita.  

—Estou ouvindo. O que precisa? - Corro em direção ao computador e digito freneticamente para localizar a direção dela. No mesmo instante, uma câmera que está no beco em que ela se encontra mostra-me o que está acontecendo.  

—Há muitos homens, Felicity. Preciso de reforço! - É apenas o que ela consegue dizer. Sara está praticamente encurralada por dez homens. Ela poderia derrubá-los facilmente, desde que eles não estivessem armados e usando um escudo para fechá-la. Ninguém a ataca e muito menos avançam. Todos estão em linha, apenas a fechando mais e mais.  

Isso é uma armadilha. É a única coisa que concluo. Provavelmente Blue quer pegar alguém do time e barganhar pela liberdade. Uma troca. Sara por Felicity. Seria isso que ele desejaria. E não teria como eu deixá-la sofrer por minha causa. 

—Diggle e Laurel – me conecto no comunicador deles. - Sara precisa de ajuda! Ela está encurralada! Pessoal, vocês precisam correr!  

—Não consigo ir – Digg responde, arfando. - Estou lutando contra cinco. 

—Felicity, chame a policia – Laurel implora, preocupada. - Não consigo sair da onde estou, me circularam. Você precisa avisar o meu pai, tem que salvar Sara. 

Todos estão com problemas. Ligar para a policia não adiantará, grande parte deles são corruptos, no máximo, apenas o pai das Lance que anda na linha.  

—Aguentem firme! - Peço para todos e, sem hesitar, começo a girar as rodas da minha cadeira de roda.  

Em um segundo, me encontro indo para saída da arque. Apenas saio da cadeira quando me forço a entrar em um carro que Diggle havia deixado para caso fosse necessário. Esta é a hora necessária.  

Ao entrar no carro, ligo o motor e pego o celular de meu bolso, disco o número de Sweet Pea e coloco-me a dirigir, ignorando qualquer dor nas pernas.  

—O que houve, Babydoll? - Ela pergunta, preocupada. O combinado era ligar daqui a uma hora, pois tinha feito trinta minutos que entrei em contato avisando que tudo estava okay. Pelo que vejo, tudo muda de um minuto para o outro.  

—Preciso de vocês! - Solto e em seguida começo a explicar tudo, tentando ao máximo me concentrar na rua enquanto falo no telefone. 

Quando terminei de dizer aonde Diggle e Laurel estavam, Sweet Pea desligou e disse para mim se acalmar e não fazer nada, pois ela e Bruce resolveriam.  

Ri internamente. Mal sabia Sweet que eu estava longe de me acalmar e ficar sem fazer nada. Havia Sara para ajudar ainda e infelizmente, Bruce e Sweet não conseguiriam estar em dois lugares e muito menos salvar duas pessoas que estão em locais diferentes. Com isso, opinei em não dizer a ela para onde estou indo.  

Em cinco minutos, encontrei o beco em que Sara estava e para o meu alivio, cheguei a tempo de impedir que a prendessem. De primeiro, usei o carro para bater em grande parte dos homens, para quebrar o circulo que faziam em volta dela. Consegui atropelar três e eles sobreviverão. O segundo passo foi pegar minha arma e atirar em dois deles. Os outros cinco homens, Sara foi rapidamente esperta em derrubá-los com o seu grito.  

—Felicity?! - Inquira, aturdida.  

—Entra no carro! - Vocifero, com o coração disparado. Ela faz o que mando e no mesmo instante, dou ré e saio do beco, sem me importar com os homens caídos. 

—Como você está dirigindo? Até poucos minutos estava em uma cadeira de rodas! E como atirou tão bem assim? - Ela ri nervosamente e eu também dou risada. Sara estava em perigo e a única coisa que está passando pela cabeça dela é o fato de eu estar conseguindo dirigir.  

—Eu consigo movimentar minhas pernas, Sara –respondo, depois que encerro minha risada. - Só que elas doem e muito, com isso, opinei em não as forçar até que estivessem 100% recuperadas. 

—Felicity! - Seus olhos arregalam. - Pare o carro agora mesmo e deixe que eu dirija. Não quero que se prejudique ainda mais por mim! Já fez o suficiente. Você me salvou – eu paro o carro na rua em que nos encontramos, olho em volta e vejo que não há ninguém por perto. Estamos apenas nós duas. - Fique aí, não se esforce – ela pede e sai do carro, em seguida, abre a minha porta e sem pensar duas vezes, me pega no colo.  

—Sara, não precisa fazer isso – reclamo, me sentindo um bebe. - Elas não doem tanto quando faço movimentos pequenos.  

—Não, você não fará movimento nenhum – diz, com certeza. Não demoro a estar sentada do lado de passageiro e ela sentada na parte do motorista. - Você foi simplesmente incrível, Felicity! - Seu olhar está em mim, mas Sara já começa a dirigir. - Minha heroína! - ela passa sua mão em meus cabelos, como se eu fosse uma criança que acabará de fazer algo surpreendente, e se for parar para ver, de fato é algo surpreendente, mas apenas para ela, pois ainda sou Felicity, uma mulher que só sabia ficar atrás do pc, infligindo a lei de maneira segura.  

—Eu sei atirar, Sara – respondo à pergunta que ela havia realizado para mim segundos atrás. - Só não havia contados para vocês.  

—Por quê? E como aprendeu? - Suas perguntas saem rápidas e incrivelmente curiosas. Mesmo que eu e Sara trabalhássemos juntas, nós não éramos amigas, apenas colegas, afinal, eu tentava manter certa distância de todos, evitando que descobrissem a verdade de mim. 

—Porque o modo com aprendi a atirar vem de um passado terrível e por isso, opinei em esquecer e simplesmente ser a garota nerd que hackear coisas em vez da possível garota assombrada que sabia atirar.  

—Só para constar, eu também iria gostar dessa garota assombra que sabia atirar. Até aconteceria do fato de eu ensiná-la a lutar. Imagina? Nós duas, nas ruas e juntas? Caramba, não teria para ninguém - ela brinca. - Se bem que, Oliver ficaria todo preocupadíssimo com sua garota... - desta vez, provoca-me, pois sabe que esse assunto em relação a Oliver me deixa envergonhada.  

—Nada a ver – a contrário. - Por que ficaria? Afinal, se eu fosse essa garota, ele nunca se importaria comigo – dou de ombros.  

—Sério? Você realmente pensou desta forma?! - Ela exclama, batendo a mão no volante, fazendo com que a buzina seja acionada. Isto a faz rir e não consigo me segurar, acabo rindo junto. - Felicity, os olhos de Oliver sempre estiveram em você! Qualquer lance que ele teve com minha irmã ficou no passado, um tempo antes dele parar em uma ilha. Quando Oliver retornou à cidade, ele achava que tinha que recompensar Laurel de alguma forma e que aceitaria de bom grado qualquer sentimento que recebesse dela. Então, para deixarmos claro, Oliver se importaria com você até mesmo se fosse uma planta – suas palavras me fazem sorrir. Nunca pensei que Sara Lance diria umas coisas dessas para mim.  

De repente, sinto o meu celular tocar.  

—Alô? - Indago, assim que pego o aparelho de meu bolso.  

—Conseguimos salvá-los, Babydoll – a voz de Sweet surge do outro lado da linha. - Eles estão indo à arque de vocês.  

—Obrigada! - Suspiro, aliviada. - Vou desligar porque agora não é um bom momento para conversamos, entro em contato daqui alguns minutos – desligo a ligação e Sara me olha com interrogação na cara. - Era Bruce – minto. - Ele disse para mim que havia conseguido marcado o horário para experimentar o vestido de madrinha. 

—Ao menos algo bom para hoje – ela sorri, sem mostrar os dentes e fracamente.  

Seguimos o caminho em direção da arque, sem falar nada e apenas aproveitando o silêncio que a noite nos oferecia. Precisamos de uns segundos de paz.  

No entanto, esses segundos duram pouco, pois quando nos aproximamos da arque, percebemos que algo estava fora do normal. Uma estranha fumaça saia de dentro dela e a porta que sempre mantemos praticamente lacrada, está arrombada.  

—O que aconteceu? - Inquiro, apertando o botão de meu cinto.  

—Não. Você fica – Sara manda. - Irei verificar – nisso, ela sai do carro. Não consigo me manter parada. Oliver estava lá dentro quando o deixei. Estava incosciente e tinha acabado de sofrer uma parada cardiaca. Estava vunerável.  

Pulo para fora do automovel e ultrapasso Sara que nem tem tempo suficiente para me segurar. Ela apenas tenta me acompanhar.  

Eu não devia agir igual a uma idiota e entrar no lugar que possivelmente havia sido invadido. Podia haver pessoas nos esperando para nos pegar. Se é que não pegaram, lembro-me de Diggle e Laurel.  

A primeira coisa que noto é o fogo. Grandes chamas de fogo queimam a maior parte do local, principalmente nada onde havia deixado Oliver. Um pânico preenche meu corpo. Não consigo enxergar direito. Tento entrar mais fundo, mas o fogo me impede, sem querer, toco minha perna em algo que está queimando e sinto minha pele arder. Preciso alcançar Oliver. Ele ainda pode estar lá. Talvez o fogo não tenha chegado em sua cama improvisada.  

Mas quais seriam as chances de alguém sobreviver a tanta fumaça? Eu mesma já não estou aguentando.  

—Felicity! - Ouço a voz de Sara. - Eu preciso da sua ajuda! - Ela grita.  

Oliver.  

Deve ser ele.  

Ando o mais rápido possível para onde a voz tinha surgido. Ao me aproximar, percebo que não se trata de Oliver e sim de Laurel e Diggle. Ambos estão amarrados.  

É uma armadilha.  

—Sara, nós precisamos sair daqui! - Olho em volta. Não há ninguém além de nós. Pego minha arma e aponto para frente. - Os desamarre. Irei nos proteger. - Por sorte, Laurel e Digg estão conscientes. Mas isso só faz perceber que eles estão no meio dessa fumaça a poucos minutos, sendo assim, que os deixou aqui, queria que nós os encontrássemos.  

Olho para todos os cantos. Nada. Apenas fogo e fumaça.  

Devem estar esperando do lado de fora. Não podemos sair pela porta que entramos. No entanto, confiro e não há como sair por outro lado, pois a nossa segunda porta de saída está pegando fogo, não conseguiríamos nem tocar na maçaneta sem sentir pura dor.  

—Temos que ir – Sara fala, ajudando Laurel e Diggle a se levantar. Ambos se seguram nela. Não estou conseguindo se manter em pé.  

Eu deveria tentar chamar por ajuda, mas Sweet e Bruce não conseguiriam chegar a tempo, se não fossemos pego pelas pessoas que nos esperam do lado de fora, seremos pegos pela fumaça e o fogo que aumentam a cada segundo.  

—Fiquem atrás de mim - é a única coisa que consigo dizer. - Qualquer coisa, os largue no chão e grite, Sara, o mais alto que conseguir – ela apenas assente.  

Eles não nos querem morto, pois se quisessem, teriam fechado a porta no momento em que eu e Sara entramos.  

Nós continuamos a andar e quando chegamos na porta, eu saio primeiro. Logo na frente, percebo um rosto perfeitamente conhecido: Pinguim.  

—Olá, senhorita Smoak! - Ele diz, empolgado. - Fazia tempo que não a via! Devo dizer que está um pouco acabada, com olheiras. Mas deve ser o resultado da obra que Blue aprontou. Confesso que meu sócio é bastante rígido - uma risada ecoa pelo lugar. Para que rir tão alto e forçadamente? 

—O que você quer? - Olho em volta e conto quantas pessoas a mais estão com ele. Dez homens. Cinco no chão e cinco em cima do terraço do prédio.  

—Eu quero vocês - a resposta é rápida e acompanhada de um enorme sorriso. - Se entreguem sem lutar e todos vivem, caso o contrário, apanharão e serão pegos do mesmo jeito. Apenas decida de qual maneira é a mais fácil - ele passa mão em seus ombros, como se tivesse algum pó em sua roupa e precisasse tirá-lo.  

Avalio a situação rapidamente. Eu consigo atirar nos cinco homens que estão lá em cima. Mas os que estão no chão irão atirar em sequência. Se Sara gritar e derrubar os que estão em baixo, os do terraço atirarão em resposta. As opções são pequenas e em todas, é impossível sair sem ferimentos. Se é que de fato, Pinguim não prentende matar um dos meus. Sei que Blue não permitiria que tocassem em mim, mas em relação aos outros, quanto menos vigilante, melhor.  

E então noto algo, o carro que Sara e eu viemos está atrás dos homens. Preciso me movimentar um pouco para o lado e dar um tiro certeiro, resultando em uma bela explosão. Mas também preciso que Sara grite para os que estão no alto.  

—Vocês estão com Oliver? - Inquiro, andando-me devagar para o lado. Em parte, pergunto para enrolar, mas a outra parte quer saber o que acontecerá com ele.  

—Oliver? - Ele indaga, parecendo confuso. - Ahh, está se referindo àquele homem quase morto ligado em uns cabos de máquina? Bom, nós decidimos que não valia a pena nos dar ao trabalho de levá-lo conosco, afinal, Blue o quer morto. Apenas terminamos o serviço. Ele queimou igual aos seus computadores. Mas não deve ter sentido nada, porque nem sequer mexia. Devia ter morrido antes mesmo de nós o queimarmos e fazê-lo cinzas. 

Sinto um nó na garganta. Pinguim não está mentindo. Sei reconhecer quando alguém usa algo apenas para provocar, para deixar o inimigo no momento fraco. Eles mataram Oliver. E não é mentira.  

Oliver está morto.  

OLIVER MORREU!  

NÃO.  

Minha visão fica turva.  

—Felicity! - Escuto Sara gritar. Mas sua voz parece tão distante. Me sinto tão longe. Minhas pernas fraquejam e eu caio no chão. Quero chorar, mas as lágrimas não saem. Quero gritar, mas não emito nada.  

Sei que não devo deixar a dor me dominar, sei que preciso sair daqui, salvar meus amigos, pois não há mais nada para se fazer em relaçao a alguém morto. No entanto, minha mente e minha alma ardem. Sinto-me cansada. Preciso de dias para me recuperar, para tentar de novo, se é que quero realmente tentar outra vez.  

Quantas mortes irei aguentar? Quantas pessoas irei perder até que eu desista? De quem será a morte que me fará parar de lutar?  

—Está tudo bem, Felicity - Ouço Pinguim dizer e de repente sinto algo. Uma raiva enorme. Eu posso ser a culpada por Oliver ter ficado no estado em que estava, mas foi ele quem o matou. Foi ele que o assassinou.  

Sem pensar duas vezes, eu bravejo: 

—SARA! AGORA! - E no mesmo instante, atiro no local que estava alvejando antes de fraquejar. Uma explosão enorme acontece. Sara dá o grito de canário para os homens que estão no terraço do prédio e isso os empurram para longe, impedindo deles atirarem. E me permitindo atirar nos que estão no chão, tentando se recuperar da explosão para responder o que eu havia feito.  

Quando miro minha arma na direção de Pinguim, para matá-lo pelo que tinha feito, ouço som de gatilhos sendo desarmados, olho para trás e vejo mais dez homens segurando armas e nos cercando. 

—E-eu disse, Felicity – Pinguim diz, enquanto se levanta do chão, pois a explosão apenas o derrubou no chão. - Eu os levaria comigo de qualquer forma. Agora, abaixe sua arma se não quiser que seus amigos sofram mais – procuro por alguma escapatória, mas não encontro nenhuma.  

Infelizmente, Diggle e Laurel estão fracos, eles dois estão não conseguiriam sair correndo e muito menos reagir. Se conseguissem, nós conseguiríamos escapar desta sem dificuldade ou perigo.  

No caso de Sara, ela se encontra exatamente como eu, tentando procurar alguma brecha. Quando percebe que desta vez não há jeito, seus olhos pousam em mim e ela balança a cabeça em negação. Não podemos enfrentá-los. É isso que seu olhar diz de maneira silenciosa para mim.  

Então, solto minha arma e a deixo cair no chão, enquanto sinto-me falhar novamente. Primeiro havia sido com Oliver e agora com Sara.  

—Está fazendo a coisa certa, Felicity – a voz de Pinguim sai animada e eu me contenho para não pegar a arma do chão e acertar um tiro nele. Iria matá-lo, mas ele não iria sozinho, levaria a mim e meus amigos. Eles não merecem morrer por minha escolha.  

Abruptamente, uma outra explosão perto de nós acontece. Não vejo como fora iniciada, só sei que isso é o suficiente para mim pegar minha arma do chão e começar a atirar novamente.  

—É a nossa chance! Os tirem daqui, Sara! - Mando.  

—Mas e você? - Ela pergunta, fazendo Diggle Laurel se apoiarem nela.  

—Estarei logo atrás - respondo, mas sem me importar de fato. A vejo apenas assentir rapidamente e usar sua força para puxá-los dali.  

Continuo a atirar em cada homem, de maneira enfurecida e descontrolada. Quero chegar até Pinguim que após a explosão, se escondeu no meio dos seus homens. Mas isso não me desmotiva. O quero morto.  

Um tiro quase me acerta, mas não me importo. Meus amigos estão a salvos. Ninguém irá sofrer por minha escolha de querer vingança. 

No entanto, mais uma vez acontece outra explosão do meu lado e com isso, acabo perdendo os sentidos. Minha cabeça arde e meu corpo dói. E de repente, alguém me arrasta para longe do lugar.  

—Não! - Berro, não era para Sara me salvar. Eu não queria ser salva. - Solte-me! Eu tenho que matar o Pinguim! - Consigo me desvencilhar dos braços dela e tento retornar para onde meu alvo estava. Mas, duas mãos colocadas em meus ombros me fazem virar o corpo para frente. Mudando o olhar.  

—Felicity – a voz sai fraca, mas consigo reconhecê-la de qualquer lugar e sem ao menos olhar para o rosto da pessoa encapuzada. - Acabou. Está tudo bem.  

—O... O...Oliver? - Gaguejo duvidosa e para confirmar se minha mente não está me enganando, eu empurro o capuz dele para baixo. Acabo soltando a arma no chão quando o vejo completamente. O seu rosto está pálido e em seu semblante nota-se que está sentindo dor. Mas os seus olhos estão exatamente iguais a antes. - C... Como? - Pergunto sem completar de fato o que quero saber.  

—Como ainda estou vivo? - Ele pergunta, abrindo um sorriso cansado. - Posso te contar depois, quando estivermos em segurança. Os outros estão nos esperando.  

A única coisa que faço é assentir. Não consigo dizer mais nada. Tenho medo de estar sonhando. De que em algum momento no meio do tiroteio alguém tenha me acertado e isso seja um delírio enquanto estou morrendo caída no chão. 

Oliver entra em uma van e eu faço o mesmo. Nele, Diggle e Laurel estão sentados e com os olhos fechados, provavelmente cansados. Sara é quem está na parte do motorista. Eu me sento atrás dela, enquanto Oliver senta ao seu lado.  

O percurso parecia ter sido grande. Não notei o tempo passar e muito menos para onde estávamos indo. O que me importava era ouvir a voz de Oliver e olhá-lo. Ele parece tão vivo. Tão recuperado. Nada com o homem que havia sofrido um ataque cardíaco há horas. Fora ele quem tinha guiado Sara para seguir um caminho.   

A van estaciona, Sara e Oliver ajudam Diggle e Laurel a saírem. Ninguém parecia estar chocado com o fato de que era OLIVER ALI, VIVO E RESPIRANDO. É como se ele nunca tivesse sido considerado morto. Como se nunca tivesse ficado ferido e também precisasse de cuidados.  

Eu os sigo e nós entramos dentro de um local totalmente abandonado. Eles param de andar quando chegam a uma parede. Não entendo e friso o cenho. Oliver simplesmente coloca sua mão na parede e uma porta se abre.  

Reconhecimento digital, concluo.  

A porta é de um elevador, mas antes de entrar, notei na estrutura do local e tenho certeza de que não há um segundo andar.  

Nós entramos no possível elevador e, bruscamente, as portas se fecham e rapidamente descemos. Assusto-me ao perceber que estamos indo para baixo.  

Um lugar subterrâneo! Olho para Oliver, surpresa pela ideia e vejo que seus olhos estão em mim juntamente com um sorriso. Ele achou graça pelo fato de eu ter levado um susto? Eu realmente não estou sonhando? 

Ao sairmos do elevador, entramos dentro de um lugar totalmente limpo, cheio de tecnologia e iluminação. Ninguém pensaria que este local está em baixo de uma estrutura abandonada e praticamente destruída.  

 -Você cuida deles? - Oliver pergunta para Sara e ela anui.  

—Posso ajudá-la também - digo, querendo ser eficiente.  

—Não, Felicity. Você já fez muito por nós - Diggle diz e seguida tosse. 

—Você nos salvou, Felicity. Agora vá descansar, garota! – Desta vez fora Laurel quem havia dito e ela abre um sorriso fraco. Pelo visto, ambos ficarão bem.  

Em um instante, me encontro sozinha com Oliver.  

—Sente-se – ele puxa uma cadeira para mim, mas não faço o que pede. Em vez de me sentar, eu me aproximo dele e toco em sua mão. Ela está quente. O calor que tanto conheço. E em seguida, percorro meus dedos por seu braço até chegar em seu rosto. Acaricio meu polegar em sua bochecha. Tudo nele há vida. - Felicity – ele murmura e pega em minha mão, dando um beijo na palma dela.  

—Ah, Oliver! - Sinto meus olhos lacrimejarem. - Você realmente está vivo! Eu não consigo acreditar. Tenho medo de estar sonhando – gargalho de mim mesma. - Desculpe, estou agindo como uma idiota.  

—Não, você não está - ele me envolve em seus braços. Eu apenas deito minha cabeça em seu ombro e inalo seu cheiro.  

—Eu não entendo, Oliver.  Você estava praticamente morto. O que aconteceu? - Inquiro, mesmo não me importando muito, afinal, o que realmente importa é que ele está vivo e bem. O resto não mudará em nada. Mas há uma parte de mim, a qual havia perdido esperança de ver o sorriso de Oliver novamente, essa parte precisa entender como deu certo, se não havia mais chances.  

—Eu só me lembro de acordar e sentir um cheiro terrível de fumaça. Quando abri meus olhos, havia cerca de dois homens por perto, queimando as coisas. Decidi fingir que estava inconsciente. Ao me avistarem, eles simplesmente colocaram fogo nas máquinas e não em mim. Depois de alguns segundos, ao perceber que não estavam mais ali, eu me levantei, peguei o meu traje e o arco. Sai pela porta do fundo, pois o fogo ainda não havia chegado até ela.  

—Isso quer dizer que eles não sabem que você está vivo – concluo e acho isso uma coisa maravilhosa. Blue não o usará contra mim, não outra vez. De repente, lembro-me de algo e me afasto um pouco para poder olhá-lo nos olhos. - Foi você quem causou as outras explosões? Quem nos salvou?  

—Sim – ele responde. - Mas não fui em quem os salvei. Você não só se salvou, Felicity, como salvou o time.  

—Eu apenas fiz o que você teria feito – abro um sorriso calmo.  

Oliver pega em meu queixo e deposita um beijo em meus lábios. Ah, como eu senti falta de senti-los colados aos meus. Aproveito e aprofundo nosso beijo. Em meu peito parece que há um furacão acontecendo por causa das emoções. 

Quando nos separamos pela falta de ar, ambos continuamos nos olhando e arfando. Olhar para seus olhos é como um presente. Beijá-lo é como uma arte. Tê-lo ao meu lado é como se estivesse no paraíso. Não importa o que aconteça, Oliver sempre será o melhor para mim.  

E ele precisa saber.  

Saber o quanto o amo. Que nunca amei alguém desta forma na vida.  

—Oliver, eu quero lhe dizer algo – falo, sentindo-me corajosa pelas emoções que sinto em meu peito. São tantos sentimentos que parece que vou explodir. Felicidade por ele estar vivo, amor por tê-lo novamente em meus braços e expectativas pelo futuro que pode haver para nós dois. - Eu... 

—Felicity e Oliver, nós precisamos conversar – Sara diz, voltando para onde estamos. Ela nem sequer percebe que acaba de atrapalhar algo.  

—O que houve? - Os olhos de Oliver desviam do meu. Ele queria saber o que eu ia dizer, mas não pode ignorar como Sara, pois há urgência na voz dela.  

—Batman e aquela mascarada... Como é o nome dela? - Sara tenta se lembrar. - Ah, Sweet Pea. Os dois ajudaram Diggle e Laurel.  

—Isso não é algo bom? - Pergunto, intrigada com o fato dela parecer irritada.  

—Seria, se a culpa não tivesse sido deles, pois ao que parece, a terceira mascarada, a tal da Babydoll, descobriu na onde ficava o nosso esconderijo e espalhou, para que assim pudesse proteger os seus aliados – eu friso o cenho. Nada do que ela está falando faz sentido para mim. - E pelo que Diggle ouviu, Blue Jones está atrás dela e não irá parar. Ele matará pessoas e destruirá tudo o que ficar no seu caminho para ter a mascarada. E pelo que parece, ela está disposta a fazer tudo o que for possível para se manter segura.  

—Nós tínhamos uma suposição de que era por causa de Babydoll que Blue havia vindo para a cidade – Oliver comenta, coçando seu queixo de maneira pensativa. - Eu devia tê-la expulsado daqui no momento em que nos encontramos. Nunca devia ter permitido que ficasse vagando por nossas ruas. Foi ela quem trouxe o caos para nossa cidade! - Ele abruptamente empurra a cadeira que havia oferecido para mim sentar. - No final das contas, eu realmente estava certo. Ela é não é uma heroína. É apenas uma mulher que está disposta a tudo para salvar a própria pele.  

—Oliv... - tento dizer algo, mas ele não presta atenção. 

—A nossa cidade está nesta bagunça por causa de invasores. Se conseguirmos capturar esta Babydoll, podemos usá-la como moeda de troca. Damos ela para Blue desde que saiam da cidade e resolvam seus problemas em outro lugar. Afinal, os dois são farinha do mesmo saco.  

—O que está dizendo, Oliver? - Sara questiona. Eu nem sequer consigo piscar, pois se eu o fizer, meus olhos podem voltar a chorar. - Está sugerindo que nós encontremos esta Babydoll e entregue para Blue em troca dele sair da cidade? 

—Exatamente – ele anui e isso me choca. - Aquela mulher está disposta a colocar vidas inocentes em perigo para manter a própria segurança. Ela não se importa com ninguém e é capaz de trair seus aliados para se salvar.  

—Estamos falando de uma vida, Oliver! - Sara exclama, agitada. Por mais que esteja brava, não quer agir desta forma.  

—Sim, Sara. Apenas uma vida. Uma vida pelas cem mil pessoas que estão em perigo por culpa de Babydoll. Sua irmã e Diggle quase morreram por causa dela. Porque ela os entregou para Blue, apenas para ganhar tempo. Acha mesmo que estou agindo de maneira errada? - A voz de Oliver sai furiosa e noto em seu olhar pura raiva.  

—Não, você não está - Ela responde depois de segundos. - É a forma mais fácil de resolvermos as coisas sem que haja mais mortes ou pessoas sendo sequestradas – e então Sara começa a sair. - Vou avisar aos outros sobre sua decisão.  

Um silêncio se instala quando fica apenas eu e Oliver. Seus olhos retornam para mim e me avaliam. Tento não parecer afetada, mas desta vez falho em esconder minhas emoções. 

—Você parece não gostar da minha decisão - ele diz. - Por quê?  

—Não acho certo. Talvez estejamos vendo do lado errado da coisa – respondo com cautela e sem me entregar. 

—Felicity, aquela mulher trouxe desgraça para nossa cidade. Por culpa dela você quase se tornou uma daquelas mulheres que estão sumindo. Por culpa dela você se machucou. Tudo de ruim que está acontecendo é por culpa dela! - Oliver coloca suas mãos em meus ombros, fazendo-me ficar de frente para ele. - O motivo da minha decisão é para proteger você e as outras pessoas. Não suportaria que algo acontecesse com você - eu quase dou risada. 

Coitado, mal sabe que não há como me proteger, pois se dar Babydoll para Blue, estará dando eu mesma para o inimigo.  

—Estou cansada - é a única coisa que digo e retiro suas mãos de meus ombros.  

—Espere, Felicity – ele pede e eu apenas limito a olhá-lo de soslaio. - O que você tinha para me contar? - A curiosidade toma o lugar da raiva que estava ali há um segundo.  

—Que estou feliz por você estar vivo – omito e caminho para longe dele.  

Como posso dizer a ele que o amo, sendo que continuarei mentindo para ele sobre mim? Como posso contar que sou a Babydoll se ele a odeia? Não há como ele amar uma parte minha e a outra odiar. Se ele descobrir que Babydoll e eu somos a mesma pessoa, eu o perderei. E não será para a morte. Será para mim mesma. Por minhas mentiras e segredos.  

 


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Notas finais do capítulo

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