Proibida Pra Mim escrita por TessaH


Capítulo 17
14.2




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14.2|

Rose andou mais depressa e a deixei ir na minha frente, ainda hipnotizado pelo balançado de seu cabelo. Eu havia percebido que algo a tinha mudado além daquele e sei lá mais o quê que tinha feito; então deixei que aproveitasse daquele tempo da forma que queria e dei um espaço, porém algo começou a parecer estranho quando um barulho como apito ficou ensurdecedor. Ao mesmo tempo, as pessoas começaram a se olhar com indagação e, de repente, várias outras surgiram gritando e correndo na direção oposta a qual eu andava.

— 'Tá pegando fogo! As portas estão abertas! - um homem gritou e ocasionou mais gritos de terror e mais empurra-empurra.

Na minha cabeça, era uma situação tão improvável estar vivenciando um momento daquele que parei no lugar, porém fui sendo levado na direção oposta por pessoas que corriam em desespero. Havia muita gente, tanta que eu nem sabia que podia caber naquele shopping ou estimar que estavam ali. E, para o meu desespero, nenhuma das pessoas que retornavam gritando era aquela garota ruiva.

— Puta que pariu, Rose! ROSE! - tentei procurar por ela enquanto o fluxo me levava para longe do caminho que ela havia pego. Tentei lutar contra as pessoas até que consegui avançar contra a correnteza. Naquela bagunça era impossível distinguir alguém ou me fazer escutar por conta dos gritos e do barulho de emergência. Meu Deus, e aquela criatura ainda era pequena! No meio de tanta gente, muito provavelmente seria pisoteada.

Com muito custo e preocupação, porque a porta para qual todos saíam era do outro lado, consegui andar mais e chegar numa parte do shopping que estava irreconhecível: uma paisagem amarela, as chamas consumindo o que conseguia, fumaça que ardia meus pulmões. Tossi várias vezes e tentei enxergar em algum canto alguma pessoa ruiva.

Tirei meu sobretudo por conta do calor impossível que estava fazendo e para cobrir meu rosto. Qualquer pessoa sabe que fumaça em demasiada quantidade é tóxica. Espremendo os olhos, empurrando mais um monte de gente, senti um alívio derreter meu corpo quando vi uma bolota laranja no chão. 

Corri até Rose, que aparentava estar entre um corredor do banheiro, quase sendo esmagado pelas pessoas que corriam para sair do shopping.

— Rose! Mas o que você está fazendo aqui?! - pus minhas mãos em seu ombro para levantá-la e ver seu rosto. As sardas que eu sabia que existiam em seu rosto estavam cobertas por fuligens e Rose tossiu, ainda tentando proteger a boca e o nariz com as mãos.

— Monóxido de carbono é tóxico e menos denso! Quanto mais baixo você ficar... Mais baixo você ficar, menos inalação você terá dele! - ela tossiu e tentou respirar. - Graças a Deus você está aqui, já estava com medo.

— Por que não voltou? - perguntei enquanto tentava pensar em uma forma de sairmos dali. As pessoas ainda corriam e não tinham a preocupação se estavam machucando alguém. - Precisamos sair daqui!

— Olha pra mim! Eu seria pisoteada! - ela exclamou. - Se abaixa, Scorpius, sem chance de eu ficar em pé enquanto não encontro uma saída segura!

Eu queria rir de seu tom mandão, se a situação não fosse trágica.

— Vamos ver se no banheiro tem janela! - avisei quando encontrei a porta por sobre o ombro da Weasley. - Vem, Rose!

Ela tentou se levantar, mas teve uma crise de tosses enquanto tentava captar algum oxigênio. Estendi minha mão para que ela a pegasse e eu pudesse puxá-la.

— Vem!

Mesmo com o rosto quase preto por fumaça, seus olhos azuis eram destacáveis. Puxei-a com força quando senti seu aperto e corremos para o banheiro.

— Não tem janela, e agora?! - ela constatou, toda óbvia. Estava desesperada, eu conseguia ver. - Como vamos sair? Temos que nos arriscar a passar, agora talvez fique melhor porque você conseguiu chegar aqui e talvez consiga me levar e...

— Rose, para. - eu a segurei pelos ombros, fitando os olhos azuis que estavam marcados por uma fina linha d'água. - Tem outra porta do lado, deve guardar coisas e deve ter uma janela! Nós vamos sair, Rose, não pira, porque você é um cérebro pensante, ouviu? A gente tem que pensar junto.

— Tudo bem - ela inspirou devagar. - Vamos lá, tudo bem... Vamos olhar.

Quando eu estava para abrir a porta e sermos escancarados ao fogo novamente, Rose segurou minha mão. Preferi não olhar para ela, provavelmente estava com medo, então só a apertei em resposta.

Entramos no outro cômodo e, para nossa sorte, tinha uma janela grande o suficiente para até o meu corpo, que era o maior, passar.

— Temos como sair, olha! - exclamei, quase anestesiado por ver que tínhamos uma saída.

— Scorpius, olha a altura disso! - Rose se pendurou na janela e foi como um balde de água fria. - É muito alto, estamos no primeiro andar!

— Vamos ter que sair por aqui, Rose - sentenciei, olhando-a firmemente para que sentisse a dureza das palavras. Só tínhamos aquela saída e não perderíamos a chance. Observei da janela e avistei uma estrutura na parede que dava para se pendurar até que fosse possível pular. Era a alternativa.

— Vamos sair por aqui, se pendurar ali, olha, Rose... Rose, não faz essa cara, não, olha, é possível, eu faço primeiro e depois você, tudo bem? – eu tentava chamar sua atenção e transmitir a minha confiança para ela. Tirei meu casaco do rosto para que ficasse no chão fechando a fresta da porta para que não entrasse fumaça. – Eu vou estar lá embaixo, Rose, não precisa se assustar, ok? Se você cair, pelo menos quem vai quebrar as costelas sou eu com seu peso.

Mesmo com uma enorme cara de choro, um sorriso se abriu nos lábios rosados e meu intuito de fazê-la parar de querer chorar foi bem sucedido.

— Seu idiota – suas unhas ficaram em meu braço. – Temos que ir logo, né? É o único jeito.

— Sim. – confessei. Segurei seu queixo para que me fitasse longamente. – Você consegue. A gente vai sair pela janela, encaixa o pé ali e então pula, Rose, é isso. Tenho certeza que seu intelecto consegue compreender.

— Como consegue ser babaca até numa hora dessas? – ela revirou os olhos azuis e, graças a Deus, eles já não estavam com lágrimas.

Soltei um riso para que não ficasse evidente meu nervosismo. Obviamente eu estava com medo, receio, preocupação, mas não podia me render àquilo. Respirei fundo e icei meu corpo pela janela, concentrando toda minha atenção em fazer o que estava previsto.

Conseguir apoio para o corpo. Colocar a força nos braços.

Encaixar o pé na estrutura. Observar o quanto faltava para atingir o chão.

Uma grama verde, bem aparada. Gritaria lá embaixo, barulho de sirenes.

Era aquilo: pular. Atingir o chão da forma menos dolorosa para o corpo, não concentrar força nas pernas, elas poderiam quebrar com o pulo; tentar rolar, distribuir o peso.

Ao final, eu havia conseguido. Meu coração pareceu ter voltado a bater com carga máxima quando senti a grama espetar meu corpo. Aliviei a respiração.

— Consegui, furacão! – gritei ao me pôr de pé e visualizar a pequena figura dela na janela. – Sua vez, vamos lá!

Para minha surpresa – e até orgulho -, Rose havia domado suas emoções de forma que quase não a vi fraquejar em seu intento. Ela seguiu minhas ordens em silêncio, compenetrada, com maestria para descrever os movimentos e confiança o suficiente para pular e ser amparada por meus braços.

— Não acredito! Conseguimos! – gritou, eufórica, quando firmou os pés no chão. Só pude espelhar seu sorriso ao encarar aqueles grandes olhos azuis. Eles brilhavam. – Obrigada, Scorpius, você foi o pé no saco mais legal do mundo hoje. Não sei nem como agradecer.

— Ah, que nada. – disfarcei o estranho bolo na garganta que havia se instalado. O que era aquilo? Por que eu só queria abraçá-la e me livrar da sensação de que poderíamos ter morrido em meio ao fogo?

Tentei me distanciar para calar meus instintos, mas Rose se aproximou mais.

— Obrigada mesmo. Conseguimos sair de um shopping em chamas e você se dispôs a vir comigo e fazer uma transformação e...

— Tá, Rose, chega – tive que parar a matraca daquela ruiva maluca. Ela riu.

— Eu sou uma descontrolada mesmo.

— Eu concordo, mas não precisa agradecer. Foi uma experiência e tanto.

Então Rose sorriu.

Mesmo com as roupas chamuscadas, os novos cabelos desalinhados, as sardas cobertas por pó preto, só os olhos azuis e grandes juntamente com os lábios que não perdiam a coloração rosa se destacavam em seu rosto, ela ainda parecia a coisa mais bonita que eu já tinha visto.

Mesmo em meio ao barulho ao redor, bombeiros e seus carros imensos, as chamas que ainda saíam por cima do prédio, ainda assim, eu estava me sentindo fora de mim somente ao observá-la, tão perto, com um genuíno sorriso de agradecimento, aquilo era tudo. A estranha sensação de que tudo iria dar certo se ela só sorrisse. Se ela só sorrisse daquele jeito toda vez que olhasse pra mim.


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Notas finais do capítulo

Eu viim e trouxe uma arte!! O que estão achando e o que acharam?? tem alguém apaixonado???



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