Blind Date escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Gostaria de mandar um beijo muito especial para a Elo, que acolheu a fic com todo o carinho e, mesmo estando tão no início, já me presenteou com uma recomendação... Grata pelo incentivo!!!

Vamos ao capítulo!



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A noite estava boa demais para ser verdade, até Marvel e Glimmer aparecerem. Eles são os herdeiros dos donos da empresa onde meu pai trabalhava. Os insultos que vinham deles pesavam muito mais que qualquer outra ofensa que eu sofria.

Flagro Marvel me examinando dos pés à cabeça. Glimmer repete o gesto. Os dois se dobram de tanto rir e Peeta, de costas pra mim, parece não perceber. Ou talvez ele não se importe.

Quando Peeta tenta retornar para perto de mim, Marvel o segura como se estivesse dando uma gravata nele e me olha de soslaio. Glimmer ajuda a formar uma barreira entre nós, deixando claro que não quer a minha companhia.

— Vou ficar aqui... Com a Annie – digo baixinho e não sei se Peeta me escuta.

No entanto, não tenho a intenção de atrapalhar Annie, que está vibrando com o show de Finnick, completamente desligada do que acontece ao seu redor.

Ajeito o meu vestido, que sei que é bonito, mas fora de moda, e volto à mesa para esconder minhas sandálias, compradas numa promoção de fim de coleção.

Eu me sinto tão ou mais deslocada do que costumava ficar no pátio da escola.

O que estou fazendo comigo? Baixando minha guarda para alguém da classe comerciante? Voluntariamente me colocando na mira de olhares cheios de julgamento?

Ergo minhas defesas novamente. Não há meio termo. Peeta só pode ser como os outros.

Aquele momento com o pão deve ter sido apenas um lapso. Esses últimos instantes devem ter sido somente um passatempo.

Eu sei que Peeta nunca foi esnobe comigo, mas... É um fato. Somos de realidades diferentes e é assim que as coisas são.

Fui estúpida só de pensar que ele estava romanticamente interessado em mim. Logo eu, toda desajeitada e sem graça. Bastou Glimmer aparecer com suas curvas generosas para Peeta se esquecer da minha existência.

A música acaba e os aplausos e assobios invadem meus ouvidos. Quando Finnick desce do palco, algumas pessoas tentam detê-lo, mas ele vem diretamente até mim.

— Ei! Eu vi tudo lá de cima. – Finnick apoia a mão sobre a minha e acerto minha postura.

Annie chega logo depois, trazendo três garrafas d'água.

— Trouxe pra vocês. Os cantores da noite precisam se hidratar.

— Sinto muito... Não quero mais cantar – anuncio com tristeza.

— Ah, não, Katniss – Annie suplica, mas seus olhos seguem os meus e ela desvenda o motivo da minha decisão.

— Pode cancelar minha participação? – Eu peço. – Glimmer e Marvel vão me ridicularizar.

— Eles não são mais crianças – Finnick argumenta.

— O que torna tudo ainda pior! – Eu me exaspero, mas inspiro profundamente para tentar recuperar a calma. – Vou até a área externa... Respirar outros ares.

— Não vai avisar ao Peeta? – Annie questiona e nego com a cabeça. – Katniss, olha lá... Ele nem parece à vontade com Marvel e Glimmer.

— Annie e Finn, eu amo vocês, mas não me peçam para ficar no mesmo ambiente que esses dois e fingir que estou me divertindo – digo e recebo um beijo na testa dado por Finnick.

— Não quero que finja. Quero que se divirta de verdade. – Annie me abraça e faz um bico engraçado. — Você se esqueceu da nossa aposta?

— Adivinhe, Ann? Você ainda é minha amiga favorita no mundo... Só vou lá fora um pouquinho, não se preocupe.

No percurso até o espaço avarandado, encontro Peter, que bloqueia o meu caminho.

— Oi, Gataniss... Talvez eu queira esticar nosso drinque para um café da manhã.

— Vai sonhando, Peter – murmuro, enquanto tento me soltar dele.

— Não está vendo que ela está querendo passar? – A voz de Peeta ressoa e Peter me libera instantaneamente.

Continuo andando sem olhar pra trás e, quando alcanço a grande varanda, sou logo atingida pelo frescor da brisa do mar. Esfrego as mãos e os braços para afastar o frio, mas só deixo de senti-lo mesmo quando Peeta se materializa à minha frente e põe sua jaqueta sobre meus ombros.

— Eu posso me defender sozinha.

— Eu sei disso.

— E o Peter não é de todo mau.

— Ah, é sim... Ele é péssimo. Tanto que você estava fugindo dele.

— Agora eu estava fugindo de você.

— Mas o que foi que eu fiz?

Ele me fita, aguardando uma justificativa, e eu rapidamente olho para o lado. Peeta foi mesmo gentil comigo durante todo o tempo, porém minha insegurança e minha autoestima ferida estão me instigando a ser rude.

Volto a usar um tom sereno. No entanto, não deixo de ser sincera.

— Quando você se juntou aos seus amigos... Isso me fez despertar para o fato de que há um abismo entre nós.

— Não é verdade. Eu não entendo...

— Não espero que você entenda. Você não é da Costura. Se fosse, eu não teria de explicar nada.

De fato, eu nunca precisaria explicar para Gale como as coisas realmente funcionam. Peeta não sabe o que sentimos, desde muito cedo, em relação às crianças da classe mercantil. E, mesmo depois de tanto tempo, a divisão social ainda é muito nítida.

— E qual é o problema de você morar na Costura? Isso não define quem você é – Ele se exalta um pouco e olha para o alto, mas logo abranda o modo de falar, como se me ouvir dizendo tais coisas o machucasse. – Você não precisa provar nada pra mim. Aliás, não tem que provar nada pra ninguém... Viver na Costura não deveria ser motivo de vergonha, muito menos pra você.

Eu já ouvi isso milhares de vezes e nunca me convenci. No entanto, existe algo em sua voz que me alcança quando nenhuma outra consegue.

— É tão difícil acreditar que eu quero apenas conhecê-la melhor? – Peeta indaga sem desviar o olhar.

— Não, não é difícil. Eu apenas cresci condicionada a questionar os motivos de alguém como você se interessar por alguém como eu.

— O que significa ser alguém como vocêAlguém como eu? – Ele passa os dedos pelos cabelos. – Será que o fato de herdar uma padaria me impede de ser legal com uma garota e admirá-la pelo que ela é?

— Acho que não – admito envergonhada. – No final das contas, sou eu que estou fazendo pré-julgamentos.

— Pois saiba que eu gostaria muito de conhecê-la melhor. Se você deixar, é claro – Ele sorri e seu semblante tranquilo é como um bálsamo para aliviar a dor que se instalou em meu peito.

— Eu deixo.

Eu quero mesmo me permitir isso. Romper preconceitos sem fundamento, ultrapassar condicionamentos que nos limitam e diminuem.

Esse simples pensamento transforma minha testa franzida em um sorriso.

— Você deixa mesmo? – Peeta sustenta o meu olhar e minha mente dá voltas, mas eu confirmo com a cabeça.

O ar fresco e a risada calorosa de Peeta são uma bela combinação. Quase posso ouvir a voz cadenciada da repórter da meteorologia anunciando: "As condições climáticas são favoráveis a se apaixonar de modo torrencial".  

Uma mesa ao lado da sacada fica vaga e Peeta me direciona até lá. Deste ponto, é possível observar melhor a roda-gigante toda iluminada, girando lentamente.

O mesmo cenário, que antes remetia a uma comédia sem graça, agora se assemelha ao de um filme romântico, cuja trama envolve a mocinha encontrando o amor de sua vida e vivenciando o encantamento peculiar que apenas situações não orquestradas previamente pelos vilões da trama podem proporcionar.

— Então, Katniss, para conhecê-la melhor, eu preciso perguntar... Qual a sua cor favorita?

— Verde. E a sua?

— Laranja. Como o pôr do sol.

— Ah! O motivo de chegar tão cedo aqui no bar!

— Exatamente. Além de padeiro, eu sou pintor. Vim mais cedo para admirar o sol se pondo, pois estava precisando de inspiração para minhas telas.

— E você conseguiu se inspirar?

— Muito mais do que poderia imaginar. – Ele sorri para mim com o pescoço ligeiramente inclinado, como se tentasse decorar cada detalhe do meu rosto.

— Realmente, nunca vi uma paisagem tão bonita – digo, olhando para a vista.

— Nem eu – Peeta concorda, mas, quando me viro em sua direção, ele não está admirando o panorama. Seus olhos estão pousados em mim. Intensamente.

Sinto minhas bochechas esquentarem e, de repente, não estou mais com frio. Deixo a jaqueta cair dos meus ombros e a devolvo pra ele.

Não era pra ser um gesto sedutor, mas Peeta engole em seco, parecendo impressionado.

Pelas caixas de som da área externa, a voz de Caesar Flickerman denuncia que se iniciará mais uma apresentação de outra equipe. O concorrente é Gloss e ele escolheu cantar "Somewhere only we know".

Peeta fica pensativo por um momento, olhando para as próprias mãos, até que fala:

— Você pode não acreditar, mas, quando ouvia essa música na Inglaterra, eu imaginava estar de volta para poder convidar certa menina para o baile de formatura e, depois, levá-la a um lugar especial, conhecido apenas por mim e por ela, como o que diz a letra – Ele divaga e fico em silêncio, perdida em seu olhar doce, sendo invadida pela nostalgia que também brota em mim ao escutar a canção. – Eu torcia também para que ela não se entediasse com meus devaneios.

— Não! Não estou entediada. – Deixo minha coluna ereta, para convencê-lo de que não estava achando a conversa monótona. – Apenas estava recordando que... Não fui ao baile de formatura.

— Posso consertar isso? – Peeta fica de pé e me estende sua mão. – Nunca pensei que minha imaginação se tornaria realidade, mas você está fazendo acontecer.

Ele pega minha mão na dele, porém cravo meus pés no chão, insegura por não saber para onde ir.

— Aqui não é a pista de dança.

— Hoje também não é o baile de formatura, mas podemos ignorar esses detalhes. – Peeta continua segurando minha mão e desliza seu braço em torno da minha cintura.

— Também é um mero detalhe o fato de eu poder pisar no seu pé enquanto dançamos?

— Na minha imaginação, você sempre foi uma exímia dançarina.

— Eu?

— Sim! Você... Surpreenda-me!

Nós estamos entre algumas mesas do bar e os ocupantes delas lançam olhares curiosos em nossa direção, reposicionando suas cadeiras para abrir espaço.

Peeta começa a me guiar suavemente. Sinto sua outra mão pressionar firmemente a base da minha coluna. Sem nenhuma vontade de contra-argumentar, circulo seu pescoço com meu braço livre.

O calor aumenta consideravelmente e fecho os olhos ao deixar meu queixo descansar sobre seu ombro. Meus outros sentidos se aguçam ainda mais, a ponto de eu distinguir o perfume familiar de canela que se desprende de sua pele. As frases da canção fazem caminho até meus ouvidos com mais clareza.

Is this the place we used to love?

Is this the place that I've been dreaming of?

(Esse é o lugar que costumávamos amar?

Esse é o lugar com que eu tenho sonhado?)

 

Eu nunca havia me permitido sonhar em estar neste lugar e agora nem é preciso sonhar, pois é real.

Nós nos movemos lentamente pelo chão e estou confortável com o modo como Peeta está me conduzindo. Meus dedos apertam os seus e ele pressiona de volta, trazendo-me para mais perto de si.

A sensação é tão incrivelmente boa, que relaxo minha cabeça em seu peito. Sua respiração morna em meus cabelos me causa arrepios. Peeta é o primeiro a romper o silêncio.

— A realidade é melhor que minha imaginação. É até difícil de acreditar que isso está acontecendo – Ele sussurra. – Estou dançando com você. Verdadeiro ou falso?

Recuo alguns centímetros para olhá-lo nos olhos. Penso que ele está brincando comigo, mas seu rosto parece tão sério, tão esperançoso, que eu calmamente digo:

— Verdadeiro.

Peeta solta a respiração que estava prendendo e me recosto nele novamente, reassumindo minha posição original.

Sinto seu coração bater, tão descompassado quanto o meu. Continuamos nos movendo vagarosamente até que a música acaba. E, mais uma vez, desejo que o tempo não ande tão depressa.

Eu me afasto de Peeta e, quando olho por cima de seu ombro, vislumbro Annie e Finnick a alguns passos de nós.

— Ei, vocês dois, até que enfim alguma ação por aqui! – Finnick implica.

Annie cambaleia e quase cai. Finnick consegue evitar a queda e Annie ri descontroladamente.

— Você bebeu demais, Ann! – Eu a repreendo, levando-a até a mesa que eu e Peeta ocupamos do lado de fora, mas ela se recusa a se sentar.

— Não estou bêbada! – Ela se equilibra no encosto da cadeira e Finnick fica atrás dela, afirmando com a cabeça.

— Sim, ela está! Só um pouco, mas está!

— Seu amigo Peter está distribuindo cerveja pra mulherada por conta da casa, Katniss. – Annie se joga para trás, debruçando-se no peito de Finnick, rindo mais ainda.

— Ann, acho que é hora de ficar aqui quietinha. – Tento fazê-la ocupar uma cadeira mais uma vez. – Eu tomo conta de você, enquanto os meninos vão cantar.

— Não, Katniss! Você é quem tem que cantar! Vamos escolher uma música. Há um catálogo ali. – Annie pega a brochura sobre a mesa. – Não, isto é um cardápio! – Ela aponta em outra direção e toma uma pasta que está nas mãos de um cliente da mesa vizinha. – Ops! Temos que escolher uma música antes de você, tá bom?

— Eu já selecionei a nossa música, baby! – Finnick devolve o catálogo à pessoa, com um sorriso amarelo.

Suspiro e olho para Peeta. Ele dá de ombros, divertindo-se com a situação. Acabo rindo também.

— Finn, por favor, faça a Katniss e o Peeta cantarem! E está faltando ainda... Fazer uma selfie! – Annie entrega seu celular para Finnick e se coloca entre mim e Peeta, abraçada aos nossos ombros.

Finnick estica o braço para posicionar o aparelho no ângulo correto, mas Annie nos faz trocar de posição. Então, a imagem capturada reproduz o exato instante em que Peeta, pela primeira vez, cola seu rosto ao meu. Mesmo sem ficar à vontade para sair em fotos, exibo um sorriso genuíno.

Annie pega o telefone de volta e me mostra a fotografia.

— Vou mandar para Prim.

Sorrio com o fato de Annie não se esquecer do quanto minha irmã estava nervosa com esse encontro e fico pensando se Primrose vai reconhecer Peeta ao ver a foto.

Enquanto Annie troca mensagens com Primrose, ouço Finnick dizer a Peeta:

— A bebedeira foi providencial. É a chance que eu tenho de arrastá-la para o palco comigo.

— Mas, Finnick... – Tento alertá-lo, porém ele ergue a mão para enfatizar que está tudo sob controle.

— Venho ensaiando essa música com Annie, sem ela saber que era um ensaio, há meses!

— Essa eu quero ver! – Peeta se anima.

— Não sei se você vai querer ouvir! Cantar não é o talento da Annie – digo honestamente.

— Estão falando sobre o quê? – Ela indaga ao se aproximar.

— Estamos falando que vamos dar um voto de confiança à música que o Finnick escolheu pra vocês cantarem juntos – Peeta declara.

— Desejem-me sorte! – Finnick grita, enquanto eles voam para a área interna e somem porta adentro.

Eu e Peeta seguimos os dois, mas prefiro ficar mais distante dessa vez, no limite da pista de dança.

No palco, Caesar elogia a beleza de Annie.

— Finnick, bem que você garantiu que tinha todos os atributos da música anterior... Conquistou essa linda garota e, pelo que vão cantar agora, parece que não quer deixá-la escapar!

Estou curiosa pra saber o tema da música, mas parece que é surpresa até para Annie, que tenta ver a ficha nas mãos de Caesar e Finnick a impede. Ele, então, empunha o microfone e inicia, à capela:

It's a beautiful night
We're looking for something dumb to do
Hey baby
I think I wanna marry you

(É uma noite linda
Estamos à procura de algo idiota para fazer
Ei, querida
Eu acho que quero me casar com você)

 

Os instrumentistas seguem do ponto onde Finnick parou e Annie continua, um pouco fora do tom. No entanto, aos poucos, depois de aquecida, vai ajustando a voz até ficar agradável de ouvir.

As pessoas se animam ao redor, exceto por algumas fãs de Finnick, decepcionadas por ele estar fazendo uma verdadeira declaração de amor à Annie.

Don't say no, no, no, no-no
Just say yeah, yeah, yeah, yeah-yeah
And we'll go, go, go, go-go
If you're ready, like I'm ready

(Não diga não, não, não, não, não
Só diga sim, sim, sim, sim, sim
E nós vamos, vamos, vamos, vamos
Se você estiver pronta, como eu estou pronto)


E ambos dão seguimento juntos, um complementando a frase do outro. A ruiva arrisca alguns agudos sem medo. E não faz feio.

Just say I do-ooo-ooo-ooo
Tell me right now baby
Tell me right now baby baby

(Basta dizer que aceita
Diga-me agora, baby
Diga-me agora, baby)

 

O dueto termina e o local vem abaixo com palmas e silvos de aprovação. Annie já está devolvendo o microfone para o pedestal e se preparando para descer, quando Finnick se ajoelha diante dela e pergunta:

— Annie, você está pronta como eu estou pronto?

Ela ri incrédula e Finnick puxa uma caixinha de veludo do bolso com um anel dentro.

— Eu acho que quero me casar com você... Casa comigo?

A comoção é geral. Muitas pessoas gritam e respondem por ela, mas Caesar gesticula, elevando e abaixando as mãos até o completo silêncio, que é quebrado pelo sim eufórico de Annie.

Eu tenho que rir do quão apaixonados e ridiculamente fofos aqueles dois conseguem ser.

Annie está montada nas costas de Finnick quando eles vêm até nós.

— Fisguei a minha sereia... E revelei seu talento como cantora! – Finnick festeja. – Agora você não tem mais defeitos, linda!

Annie beija o pescoço de Finnick e escorrega até o chão. Ela nos mostra a aliança de noivado e nós os parabenizamos. Delly e Thom se juntam à celebração pouco depois.

— Finnick, você definitivamente elevou os padrões das técnicas para impressionar uma garota – Peeta graceja.

— Achei que fosse uma competição de música – comento.

— Ainda tenho uma chance. Nas duas disputas – Peeta diz, olhando pra mim de modo decidido.

Eu o observo com o cenho enrugado e ele se encaminha ao palco. Em poucos minutos, ele está ao lado de Caesar, respondendo às suas indagações.

— Você é do time do Finnick, não é? E escolheu essa música para cantar? – Ele aponta para a ficha em suas mãos e se volta para a plateia – Essa equipe é formada por românticos incorrigíveis... A garota para quem você vai dedicar a apresentação só pode ser sua namorada, certo?

Peeta hesita e, então, balança a cabeça negativamente.

— Um rapaz bem-apessoado como você deve ter alguma garota especial. Vamos lá, Peeta, qual é o nome dela?

Peeta suspira.

— Bem, há uma garota. Sou apaixonado por ela desde sempre. Mas tenho certeza de que ela não se lembrava de que eu existia até a noite de hoje.

— Ela tem namorado? – pergunta Caesar.

— Acho que não – diz Peeta.

— Então, olha só o que você vai fazer. Você vence e vira um cantor famoso. Ela não vai poder te recusar nessas circunstâncias, vai? – diz Caesar, incentivando-o.

— Não sei se vai dar certo. Vencer... Não é o que eu quero.

— E por que não? – quer saber Caesar, aturdido.

Peeta enrubesce e gagueja.

— Porque... Porque... Porque acho que ela vai cantar também. E eu quero que ela seja a vitoriosa.

Sei que estou corando com seu comentário. Nós olhamos um para o outro por uma fração de segundo e, então, ele desvia o olhar. Aqueles olhos azuis, mesmo à distância, são tão encantadores... E isso me perturba.

No entanto, fico perturbada de verdade quando vejo Glimmer se posicionando na primeira fila em frente ao palco e acenando pra ele. Será que Peeta estava se declarando para a Glimmer?

Delly toca em meu cotovelo, fazendo-me olhar pra ela.

— Não tenha dúvidas de que Peeta estava falando sobre você. – Ela se esforça para dizer e, em seguida, indica com os olhos o tablado onde ele está. – É pra você, Katniss.

Depois de dispensar os músicos, Peeta pede emprestado o violão de um deles. Ele dedilha a introdução da música "Perfect" com precisão e se aproxima do microfone.

I found a love for me
Darling, just dive right in and follow my lead
Well, I found a girl, beautiful and sweet
Oh, I never knew you were the someone waiting for me
'Cause we were just kids when we fell in love
Not knowing what it was
I will not give you up this time

(Eu encontrei um amor para mim
Querida, entre de cabeça e me siga
Bem, eu encontrei uma garota, linda e doce
Eu nunca soube que você era quem estava esperando por mim
Porque éramos apenas crianças quando nos apaixonamos
Não sabendo o que era 
Eu não vou desistir de você dessa vez)

 

Peeta tem estilo e desperta admiração em todos os que o assistem soltar sua voz harmoniosa e elaborar seus arranjos no violão.

Well I found a woman

Stronger than anyone I know

She shares my dreams

I hope that someday I'll share her home

(Bem, eu encontrei uma mulher

Mais forte que qualquer um que eu conheço

Ela compartilha os meus sonhos

Eu espero que um dia eu compartilhe seu lar)


Ele expressa tanta verdade e tanta emoção ao pronunciar as palavras, que tenho certeza de que canta sua vida e aquilo que sente e pensa.

We are still kids, but we're so in love
Fighting against all odds
I know we'll be alright this time
Darling, just hold my hand
Be my girl, I'll be your man
I see my future in your eyes

(Nós ainda somos crianças, mas estamos tão apaixonados
Lutando contra todas as possibilidades
Eu sei que nós ficaremos bem dessa vez
Querida, só segure minha mão
Seja minha garota, eu serei seu homem
Eu vejo meu futuro em seus olhos)

 

 

 

Sinto como se estivesse ardendo em febre, delirando com pensamentos contraditórios, ansiosa para que a canção termine e eu possa ser a única a ouvir a voz dele, mas também desejando que a música continue eternamente.

Aos poucos, Peeta vai me desarmando e, agora, sim, estou com vontade de cantar.

Qualquer que seja o problema de Glimmer e Marvel, não vou permitir que eles arruínem minha noite.

Baby, I'm dancing in the dark
With you between my arms

Barefoot in the grass
Listening to our favorite song
I have faith in what I see
Now I know I have met an angel in person
And she looks perfect
I don't deserve this
You look perfect tonight

(Amor, eu estou dançando no escuro
Com você entre os meus braços

Descalços na grama
Ouvindo a nossa música favorita
Eu tenho fé no que vejo
Agora sei que encontrei um anjo em pessoa
E ela está perfeita
Não eu não mereço isso
Você está perfeita esta noite)

 

Contemplo a execução dos acordes finais da música, enquanto Peeta toca com dedos leves as últimas notas, e estou tão fascinada que mal escuto a voz de Finnick.

— Katniss... Katniss!

Eu me viro para ele, que tem uma expressão compreensiva no rosto.

— Não precisa mais cantar, se não quiser. A Annie acabou completando a equipe sem querer.

— Agora eu quero muito cantar, Finn.

— Então, corre lá para falar com o Cinna! – Ele me encoraja.

Espero esbarrar em Peeta no trajeto, mas nos desencontramos. Cinna me recebe perto do palco. Ele é discreto, se comparado ao espalhafatoso Caesar Flickerman, mas bastante simpático.

— Em que posso ajudar? – Ele diz em uma voz baixa que carece de afetações. – Eu sou o Cinna. Muito prazer.

— Estou esperando minha vez de cantar e preciso escolher a música.

— Seu nome é? – Ele pergunta ao me entregar um catálogo com uma relação de canções.

— Katniss Everdeen.

— Everdeen? Havia um músico que tocava e cantava aqui de vez em quando e esse era seu sobrenome. Ele tinha olhos cinzentos como os seus e um talento único.

— Era o meu pai – revelo e abaixo a cabeça, porém ele levanta meu queixo gentilmente.

Uma sombra de tristeza cobre o semblante de Cinna, mas seu rosto se acende ao observar meu broche.

— Um tordo! Esse é o pássaro que dá nome ao bar... Mockingjay – Ele sorri para mim antes de confessar. – Não posso apostar, mas, se pudesse, minhas fichas iriam todas para você.

— Verdade? – sussurro.

— Verdade – diz Cinna.

Antes de se afastar, ele coloca seus dedos sob seu queixo, indicando que eu deveria manter a cabeça erguida.

Quando estou em frente à escada, preparando-me para subir, sinto uma mão em meu ombro. Viro a cabeça para ver Peeta atrás de mim. Seus dedos se entrelaçam aos meus e ele me dá um sorriso tranquilizador, ao mesmo tempo em que desvia o olhar, como se tivesse medo de encontrar meus olhos.

— Katniss, você não está aborrecida comigo, está? Eu não... – Peeta tartamudeia. – Eu não queria deixá-la envergonhada na frente de todas essas pessoas e...

Acho graça e, então, eu me inclino para rapidamente estampar um beijo em sua bochecha.

Ele se cala no mesmo instante e pisca os olhos úmidos. Não me distancio totalmente e uno nossas bocas impulsivamente.

— Katniss Everdeen! – Caesar me chama para a minha apresentação.

O beijo dura somente alguns segundos e, mesmo o contato sendo breve, Peeta retribui, beijando-me com um pouco mais de intensidade, com os lábios levemente entreabertos.

Será que o tempo é mesmo algo relativo? Apesar da rapidez, foi o bastante para tudo ao meu redor se desintegrar, o pulso acelerar e as borboletas momentaneamente adormecidas em meu estômago alçarem voo.

— Isso foi inesperado e... – Ele diz ainda ofegante.

— Incrível – acrescento.

Subo ao palco e Caesar abre um sorriso exagerado ao me colocar sob os holofotes. Entrego-lhe a ficha com a música que elegi e ele leva a mão ao rosto, como se refletisse algo.

— Você chegou aqui de cabeça erguida... Deve ter experiência nos palcos.

— Hum... Não. É a primeira vez que algo assim acontece.

— Alguém impulsionou você a vir se apresentar hoje, Srta. Everdeen?

— Sim. Várias pessoas. Meu pai, minha irmã, meus amigos. E alguém especial.

— Queremos detalhes! Detalhes! — Ele gesticula, girando as mãos e pedindo mais informações.

— Tudo o que posso dizer é que... Ele é pintor. Ele é padeiro. Gosta de assistir ao pôr do sol. Sua cor preferida é laranja. E canta divinamente bem.

— Então, para esse alguém especial, senhoras e senhores... Katniss Everdeen! – Caesar apregoa e a banda inicia a melodia de "You and Me".

Agora não há mais volta. Dou alguns passos à frente e fecho meus olhos.

What day is it and in what month
This clock never seemed so alive

I can't keep up
And I can't back down
I've been losing so much time
'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to lose
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you

(Que dia é hoje e de que mês?
Este relógio nunca pareceu tão vivo!

Eu não posso prosseguir
E eu não posso desistir
Tenho perdido tempo demais
Porque somos você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para perder
E somos você e eu e todas as pessoas
E eu não sei o porquê
Não consigo tirar meus olhos de você)

 

A canção diz muito sobre o que estou vivendo na noite de hoje. O modo como fico desorientada no tempo e no espaço ao lado de Peeta, querendo que as horas passem devagar.

As barreiras que ele conseguiu derrubar para me fazer crer que não preciso provar nada a ninguém. Tanto é que estou aqui, cantando para centenas de pessoas.

All of the things that I want to say
Just aren't coming out right

I'm tripping in words
You got my head spinning
I don't know where to go from here
'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you

(Todas as coisas que quero dizer

Não estão saindo direito

Eu estou tropeçando nas palavras
Você deixou minha mente girando
Eu não sei pra onde ir daqui
Porque somos você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para provar
E somos você e eu e todas as pessoas
E eu não sei o porquê
Não consigo tirar meus olhos de você)

 

Cantarolo essa última estrofe ainda de pálpebras cerradas e percebo que a experiência não será completa se eu não olhar para Peeta.

Abro os olhos e encontro feições que exprimem deslumbramento.

Vejo também alguns casais dançando juntos. Annie e Finnick. Delly e Thom. Glimmer e... Peter?

Bem, o desfecho da noite é melhor que o esperado.

Continuo percorrendo os olhos ao redor e encontro Peeta ao lado do palco, no lugar onde nos beijamos, e seu olhar não é de mero deslumbramento, mas de adoração.

There's something about you now
I can't quite figure out

Everything he does is beautiful
Everything he does is right
'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do

Nothing to lose
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of
You and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you
What day is it
And in what month
This clock never seemed so alive

(Existe algo sobre você agora

Que não consigo compreender completamente

Tudo o que ele faz é bonito
Tudo o que ele faz é certo
Porque somos você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer

Nada para perder
E somos você e eu e todas as pessoas
E eu não sei o porquê
Não consigo tirar meus olhos de você
Porque somos você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para provar
E somos você e eu e todas as pessoas
E eu não sei o porquê
Não consigo tirar meus olhos de você
Que dia é
e em que mês
Este relógio nunca pareceu tão vivo!)

 

Quando termino de cantar, meus sentimentos estão transbordando pelos meus olhos, repletos de lágrimas, e a reação dos presentes é muito entusiasmada.

Caesar inicia um pequeno discurso, enfatizando as apresentações de destaque da nossa equipe, mas minha maior vontade é sair do tablado o quanto antes.

Peeta me ampara para descer a escada e, quando ainda faltam dois degraus, ele declara:

— Agora eu sei o motivo de ter me apaixonado por você em nosso primeiro dia de aula, quando tínhamos cinco anos. Foi a primeira vez em que vi você cantar.

E, antes que eu pudesse responder ou me situar, sinto o toque terno das mãos dele nas laterais do meu rosto e seus lábios capturam os meus. Prendo a respiração com o choque da sua textura macia e quente contra a minha pele.

Nossas bocas parecem ser feitas para se encaixar e, por mais que estejam unidas, não conseguem o suficiente uma da outra.

Peeta se afasta alguns centímetros, segurando meu olhar com seus olhos azuis brilhantes.

Então, avidamente, inclina-se de novo para frente e me beija mais uma vez, um beijo cada vez mais profundo, com línguas se descobrindo e dedos irrequietos tateando ombros, braços e costas.

Suas mãos enlaçam minha cintura e ele dá um passo para trás.

— Vamos até a praia? – Peeta convida e eu aquiesço.

Ele gesticula para Finnick, assinalando o nosso destino, e me escolta até o lado de fora.

A lua no alto do céu está majestosa e ouvimos apenas as ondas do mar e gargalhadas infantis à distância.

É um alívio poder retirar as sandálias para caminhar pela areia... De mãos dadas com a companhia ideal.

Peeta também está descalço e, após alguns passos pelo terreno irregular, ele encontra um pequeno objeto iridescente. Peeta se abaixa para pegar e examinar a esfera minúscula.

— Para você. – Ele oferece ao se levantar, depositando uma pérola na palma da minha mão.

Seguro-a firmemente, depois de admirar o reflexo multicolorido de sua superfície. Uma lembrança da noite de hoje, que vou guardar comigo como um tesouro.

— Obrigada – agradeço antes de empreender uma corrida em direção à beira da praia.

Peeta segue em meu encalço e me alcança no fim da faixa de areia, abraçando-me por trás. Eu me viro para ele e ficamos ali, de frente um para o outro, sentindo a água salgada molhar nossos pés, enquanto recuperamos o fôlego.

— A paisagem fica ainda mais linda à luz do luar – Ele diz, admirando meu rosto, ao mesmo tempo em que delineia meus traços com as pontas dos dedos.

É nesse instante que Peeta me olha do modo como meu pai fazia com a minha mãe. Ele sorri, como se estivesse feliz com a perspectiva de ficar ali olhando para mim eternamente.

Depois, Peeta abre algumas vezes a boca para dizer alguma coisa, mas só engata a fala na terceira tentativa.

— Queria saber se assustei você ao falar no palco sobre me apaixonar...

— Está tudo bem. Não foi como se você tivesse se declarado em cadeia nacional numa emissora de TV, ao vivo.

— Saiba que, se fosse preciso, eu faria isso, porque, vendo você hoje e ouvindo sua voz, eu me apaixonaria de novo... E de novo... E de novo! – Ele admite e me rendo a mais um beijo ardente.

O sabor de seus lábios é delicioso e eu me desmancho como um dos torrões de açúcar que Finnick distribui por aí. Meu corpo ganha vida e minhas terminações nervosas se eletrizam.

Ofereço tudo em nosso beijo, tomando os lábios dele para mim. Ele também se entrega, ao mesmo tempo em que assume o controle. No entanto, em vez de me sentir presa, a sensação maravilhosa que tenho é de liberdade.

Encontro o lugar que nem sabia que procurava e me sinto confortável aqui, exatamente onde estou.

— Peeta! Katniss! – Finnick nos chama, de pé no calçadão. – Já saiu o resultado. Vocês dois são os vitoriosos e ficaram empatados em primeiro lugar. É a primeira vez que isso acontece! – Ele comemora animado e nos convoca para entrarmos novamente no bar. – E a nossa equipe foi campeã!

Peeta me ergue pela cintura para me voltear em seus braços, com seu rosto escondido em meu pescoço. Quando ele me põe no chão, eu me adianto para retornar ao Mockingjay, puxando-o pela mão, mas ele finca os pés na areia, não permitindo que eu o desloque.

— O que foi? – questiono, voltando a ficar diante dele e cruzando as mãos atrás de sua nuca.

— Antes de entrar, preciso perguntar uma coisa. – Peeta enreda seus dedos suavemente em meus cabelos. – Você acreditaria se eu dissesse que tudo o que eu sentia até meus onze anos, e guardei em meu coração desde então, está vindo à tona com esse reencontro?

— Acredito, porque está acontecendo comigo também.

— Por acaso, você... Também? – Ele me olha interrogativamente, com as sobrancelhas erguidas.

— Peeta, você um dia foi e, pelo visto, continuará sendo o meu garoto com o pão.

 


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Notas finais do capítulo

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Oi de novo!

Gostaria de agradecer e de mandar um beijo especial para a Débora (deboraduarteb) e Sabrina (SasaMellark12) por me ajudarem a escolher algumas músicas! Gratidão define!

Falando nas músicas, aqui vai a lista das que foram mencionadas no texto:

Somewhere only we know - Keane

Marry you - Bruno Mars

Perfect - Ed Sheeran

You and me - Lifehouse

O final deste capítulo coincide com o fim da one-shot que publiquei na Coletânea aqui do Nyah!

A partir de agora, será tudo novidade! Só não sei quando vou conseguir postar o próximo, pois ainda não escrevi nada dele... 

Beijos!

Isabela



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