o clássico, o poético e o erótico escrita por Salow


Capítulo 1
sizígia


Notas iniciais do capítulo

well, comecei a escrever isso enquanto estudava para uma prova (daí que veio esse título)



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A maré diminuía, devagar. Paulo observava, pela janela, a luz fraca da lua competir com o brilho dos postes, das casas, dos restaurantes. Parecia uma briga perdida, mas ela continuava lá no alto.

(se a lua fosse alguém, provavelmente seríamos parecidos,
pensou Paulo)

Não estava a iluminar ninguém (inclusive, notou que todas as luzes do apartamento estavam desligadas), mas ambos olhavam a cidade e, de certa forma, um ao outro. Não poderia saber, mas a lua também via um pouco de si nele. Assim como rio, os olhos de Paulo refletiam o astro.

Imaginou se Tiago também estava a olhar a lua.

(óbvio que não!)

A rotina de Tiago era rígida demais para permitir momentos de devaneio. Olhar a lua seria um dos retângulos não preenchidos da agenda. Não teria imediatamente um estudar escrito, ou terminar o trabalho da terça, ou devolver os livros da prima. O retângulo provavelmente ficaria lá até algum compromisso mais urgente da vida real aparecer. Seria a margem de erro para marcar tudo como concluído no fim do mês.

Essa organização, mesmo que mais tarde fosse vista como algo mais complicado, foi interessante de início. Era algo que a mãe de Paulo gostaria, ele até visualizava seu profundo incômodo quando ela perguntasse por que você não aprende com ele, paulinho? O que não esperava era que isso viria do próprio Tiago. Então, não foi mais tão bonito.

O olhar de Paulo entristeceu.

(onde eu coloquei aquele vinho?)

Vinho. Henrique estaria bebendo vinho, sim. O mais barato que encontrasse. Provavelmente estaria olhando a lua também, talvez não na zona norte ou dentro de um apartamento escuro, mas em algum lugar do centro, bem mais perto do Capibaribe.

(alguém para ouvir suas declamações no pé do ouvido completaria o cenário)

Paulo se via no lugar desse alguém, rindo enquanto Henrique soltava alguns versos e cantarolava algumas músicas feitas na hora. Não poderia dizer que ficava totalmente confortável nesses momentos, mas nunca saía qualquer minuto mais cedo. A noite parecia infinita enquanto ele falava.

Paulo não soube quando passou a se sentir apenas parte da platéia, mas em algum momento a relação entre os dois se tornou um monólogo. E para Henrique, parecia estar tudo bem.

Depois de Henrique, apareceu André.

(a última coisa que eu notaria, se André estivesse aqui, seria a lua)

Entre eles dois, não havia exatamente um centro das atenções. Na verdade, as palavras que trocavam eram poucas. Se comunicavam sempre de outro jeito, fosse com os olhos, sorrisos ou qualquer linguagem corporal.

Paulo riu. Poderiam estar juntos, tudo no mesmo lugar, as luzes também estariam apagadas e a única coisa que notaria seria seu corpo sendo tocado pelas mãos do outro.

Nunca pensou em como descreveria André, mas agora só pensava em uma palavra.

(ofuscante)

De algum modo, Paulo se perdia nos acontecimentos. Só os compreendia no fim, como se ao ver a maré abaixar, sua vista não estivesse mais embaçada e o magnetismo que o atraía tão cegamente perdesse o efeito. Olhava para trás e via algo semelhante a ilusões, pinturas no lugar de pessoas.

O vinho acabou e o movimento lá fora, aos poucos, diminuía. A luz da lua não iluminava mais através da sua janela. Estava no breu total.


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Notas finais do capítulo

dá pra abstrair a música e encaixar a fic? não sei, o importante é não vasilar



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