Comodidade escrita por Meizo


Capítulo 1
A paciência faz o monge, ou nem tanto


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi! Como cês tão?



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Zoro chegou em casa perplexo. Sem nem tirar os sapatos, seguiu para o sofá onde se sentou e ficou pensativo. Naquele dia mais cedo tinha saído em um encontro com sua atual namorada — se é que podia classificá-la assim visto que nenhum dos dois fizera questão de nomear aquelas saídas sazonais — e não sabia dizer exatamente como o clima tranquilo do início virou uma tempestade depois. Quando estavam indo a caminho de um hotel para finalizar a noite, Monet quis antes ter uma conversa séria que, de alguma forma, chegou ao nome de seu amigo de longa data, Sanji.

Fazia um tempo que tinha percebido que a simples menção do nome de Sanji parecia deixar Monet desconfortável, mas nunca imaginaria que um dia discutiriam sobre ele. Quer dizer, ela lançou umas acusações estranhas e sem fundamento sobre coisas que Zoro não entendeu — ou talvez ainda não conseguisse entender — muito bem. Contudo, o que mudou definitivamente o fim daquele encontro foi a fatídica pergunta:

"Quem é mais importante: eu ou Sanji?"

A resposta veio quase de prontidão e Zoro respondeu sem pestanejar:

"Sanji."

Monet deu-lhe um olhar magoado e com tom de quem estava conformada, disse que a resposta não a surpreendia tanto assim. Despediu-se logo depois com um sorriso triste. Algo na despedida soou-lhe como se dessa vez ela não fosse ser tão breve como das outras vezes. Talvez nunca mais voltassem a sair daquela maneira.

Zoro mirou o tapete distraidamente. Porque Monet o fizera escolher entre o relacionamento deles e seu amigo? Sanji sempre foi uma parte bastante importante de sua vida, foi ele quem o impulsionou a procurar ajuda profissional quando apresentou o quadro severo de depressão e também o apoiou a continuar os estudos quando nada mais parecia fazer sentido, além de muitas outras situações. Nele tinha encontrado uma importante amizade que valorizava muito, como poderia se desfazer dele assim?

O som da porta da entrada sendo aberta e, logo em seguida, fechada o despertou do devaneio. Não demorou muito para avistar o homem loiro de franja caída sobre um dos olhos emergir do pequeno corredor que antecedia a sala.

"Zoro? Achei que iria ficar a noite toda com Monet...” Sanji olhou para a televisão desligada com uma sobrancelha erguida e depois atentou-se a posição reflexiva de Zoro, que estava com as mãos cruzadas em frente a boca. “O que estava fazendo? Colocando seus poucos neurônios para filosofar no silêncio? Cuidado para não gastá-los demais, eles não estão acostumados a serem usados”, Sanji comentou risonho enquanto passava rápido para ir deixar as sacolas de compras pesadas na cozinha.

Zoro nem tentou responder. Apenas suspirou enquanto se levantava e alcançava Sanji a tempo de tomar as sacolas pesadas e levá-las ele próprio. Deixou tudo sobre a pia da cozinha, sem parar para se perguntar o porquê de Sanji estar em sua casa quando sabia que Zoro não estaria ali. Era um questionamento que não merecia a mínima atenção. Afinal, Sanji tinha cópias das chaves da sua casa há anos e não era surpresa aparecer quando bem queria. Eles haviam alcançado um nível de intimidade que dispensava explicações para várias pequenas atitudes do dia-a-dia.

“Tomei a liberdade de fazer algumas comprinhas pra sua geladeira já que ela estava meio vazia" explicou Sanji, pegando os itens nas sacolas e guardando cada coisa no seu devido lugar. Conhecia aquela cozinha tanto como a sua própria, portanto não via dificuldade alguma naquela atividade.

Zoro resmungou um ‘ok’ enquanto se encostava numa bancada, desabotoando as mangas da camisa social que vestia e retirando o relógio do pulso. Não costumava se vestir assim no cotidiano, mas, segundo Sanji, era de bom tom ir em encontros usando aquele tipo de roupa desconfortável e com os cabelos penteados. Zoro não dava a menor importância para sua aparência, mas se esmerava um pouco nesses dias e, ao que tudo indicava, as pessoas com quem saía ocasionalmente de fato apreciavam este esforço.

"Já jantou?" Como Sanji o observava de esguelha, Zoro apenas assentiu. “Eu também já jantei e já que estamos livres pelo resto da noite, poderíamos ver um filme..."

"Desde que não seja outro filme de romance como o último..."

Sanji sorriu para ele, mas não retrucou sua exigência. Assobiando, Sanji retirou alguns recipientes do armário e outros da geladeira, distribuindo-os sobre a bancada ao lado da pia. Depois pegou um pedaço de carne já previamente separado das compras e começou a temperá-lo.

"Monet terminou comigo" Zoro falou de súbito, ainda com as questões levantadas horas atrás em sua mente.

Sanji ergueu uma sobrancelha encaracolada sem desviar o olhar da carne que fatiava com precisão.

"Hm, essa até que durou muito..." murmurou pensativo. "Mas não fique desanimado, marimo. Ela quem saiu perdendo. Algum dia alguém vai reconhecer suas qualidades, ainda que sejam poucas, e te apreciar do jeito que você merece. Talvez essa pessoa especial já esteja bem perto de você, basta procurar com cuidado...” Sanji pigarreou. “Agora me passa o pote de pimenta-preta que está naquele armário ali e vai vestir uma roupa confortável, enquanto termino isso e faço pipoca."

Zoro rolou os olhos, mas sorriu ao entregar o tal condimento nas mãos habilidosas do outro homem. Apesar da amizade de longos anos, era comum ele e Sanji discutirem por razões insignificantes quase sempre que estavam juntos. Eram discussões bobas na maioria das vezes e não se prolongavam muito nelas. Porém, além das discussões havia momentos como aquele onde Sanji tentava confortá-lo de um jeito meio acanhado e levantar seu ânimo. De onde estava Zoro podia ver muito bem o suave rubor nas orelhas do outro.

Poderia ter seguido de imediato a sugestão de Sanji, mas ficou ali de braços cruzados por alguns minutos observando-o finalizar o tempero e guardar a carne dentro de uma vasilha com tampa para pôr na geladeira. Para Zoro a companhia de Sanji era tão natural quanto piscar, então não conseguiu compreender o porquê de Monet ter ficado tão insatisfeita com isso. Afinal, ela mesma devia ter alguém como Sanji em sua vida e que valorizava muito.

Bom, refletir por tanto tempo não era um de seus pontos fortes, então Zoro logo desistiu e deu o assunto por encerrado. Não era como se estivesse sofrendo pelo fim do relacionamento. No máximo ficou surpreso pela maneira súbita como aconteceu.

“Sei que você tem tara em me ver na frente do fogão, mas prefiro que vá logo trocar de roupa” comentou Sanji, despertando-o do devaneio.

Zoro estivera observando as costas dele sem perceber.

“O pervertido aqui é você” retrucou simplesmente, dando um tapa bem aplicado na bunda de Sanji antes de se virar para sair da cozinha.

Sobressaltado, Sanji quase despejou o milho de pipoca fora da panela.

“Que merda, seu brutamontes! Mão pesada da porra! Vai dar um tapa assim no teu...”

Sanji continuou mandando-lhe desaforos, mas as palavras se perderam no ar à medida que Zoro seguia pelo corredor com um sorriso imperturbável nos lábios. Entretanto, quando tirou a camisa e a jogou na cama, olhou para a própria mão considerando que talvez tivesse usado muita força. Bom, na próxima tentaria ser mais suave.

Ao voltar para a sala — dessa vez vestindo uma calça moletom azul e uma camiseta velha de banda desconhecida que tinha ganhado do tio hippie de Luffy — encontrou Sanji já sentado no sofá com uma vasilha de pipoca no colo e o controle remoto da televisão na mão. A imagem pausada na tela mostrava um homem prestes a entrar em uma cafeteria.

Zoro jogou-se ao lado de Sanji com um suspiro. “O que você escolheu dessa vez?”

“Direi apenas que é um filme relativamente velho.”

Zoro fez um estalo com a língua, já imaginando que seria um romance brega.

E foi dito e feito. Porém, apesar de ser um romance com temática de dia dos namorados, ao menos também era comédia para compensar os tantos dramas que Sanji o convenceu a ver em outros dias. Não se podia esperar algo diferente de um viciado em romances como Sanji, não é mesmo? Com o passar dos anos Zoro acabou se acostumando com esse tipo de filme, apesar de não ser fã do gênero e já estar cansado dos muitos enredos de amigos de infância que se apaixonam mais tarde.

Em dado momento, quando resolveu pegar um pouco de pipoca para si, seus dedos acabaram tocando o fundo vazio da vasilha. Até tateou um pouco a área, mas só conseguiu sujar os dedos com um pouco de sal que havia sobrado por ali. Sanji já tinha comido tudo? Olhou para o loiro, desacreditado.

“O quê?” Sanji indagou com falsa inocência, encarando-o demoradamente com seus olhos azuis.

Zoro não soube o porquê, mas a saliva pareceu travar em sua garganta por um breve segundo.

Tossiu. “Eu nem comi da pipoca.”

“Você foi lento, homem-alga. Quer que eu faça mais?”

“Não precisa. Não estou com fome.”

“Se você diz...” Sanji deu de ombros, voltando a prestar atenção no filme que mal tinha chegado na metade.

E foi nessa hora que uma chuva forte começou a cair, fazendo Zoro se levantar para fechar a janela que vazava em um dos cômodos. Quando voltou percebeu, por estar sentado bem ao lado dele, o quanto os pelinhos do braço de Sanji estavam eriçados.

“Frio?”

“Um pouco. Não esperava que a temperatura caísse tanto, então vesti apenas roupas leves.”

Zoro não era tão sensível ao frio, mas logo buscou uma manta grande e macia de seu guarda-roupa para Sanji poder se aquecer. Entretanto, em vez de oferecer a manta diretamente a ele, Zoro envolveu o próprio corpo com ela e afastou as pernas para Sanji se acomodar ali.

Obviamente Sanji não demorou a ocupar o espaço destinado a ele, acomodando-se como um passarinho que não desejava sair do ninho. Também apoiou as costas no peito do Roronoa com naturalidade e permitiu que os braços quentes dele se ajustassem ao seu redor. Sanji não teria sugerido isso por conta própria, mas ficou mais do que satisfeito de Zoro ter tomado a iniciativa. Sem que pudesse controlar, seu peito se encheu de gavinhas de esperança ao lembrar que ao invés de passar aquela noite com Monet, Zoro estava ali com ele.

Zoro, por outro lado, já tendo esquecido completamente sobre as acusações sem pé nem cabeça que Monet fez mais cedo, apoiou o queixo no ombro de Sanji e apenas se concentrou em tentar não dormir até o final da comédia romântica. Ainda não era o tempo, mas, em momento futuros, quando relembrasse das palavras de sua ex, ele acabaria percebendo certos sinais e comportamentos que o levariam a uma nova percepção do relacionamento dele com Sanji. Mas, naquela noite, seu único pensamento era o de provar os bolinhos de chocolate amargo que ganhara de manhã. Sanji nunca esquecia de presenteá-lo com chocolates de agradecimento nessa data, mesmo que não houvesse um motivo concreto para estar sendo grato.

Zoro não pensava muito sobre. Apenas aceitava o presente e, dias depois, retribuía o gesto com algum doce que Sanji gostasse.

*

Por volta da meia-noite o celular de Nami começou a apitar, informando a chegada de cinco mensagens consecutivas. Franzindo o cenho, leu as mensagens enquanto afastava a cabeça de Luffy de sua perna já dormente do peso.

“Quem é?” perguntou Vivi ao seu lado, antes de levar uma enorme colherada de cobertura de chocolate para a boca.

“É Sanji. Parece que Zoro já terminou com a namorada de número 37...”

O homem que estava deitado no chão alisando a barriga alta de tanto comer, colocou a mão no queixo e ficou pensativo.

“Era aquela que gostava de passarinhos?”

Nami assentiu, digitando uma resposta rápida para Sanji.

“Não sei porque ele não fala logo para Zoro que gosta dele. Seria bem mais prático do que esperar que aquele cabeça de mato perceba por si só. Estou começando a achar que ele é algo como um... masoquista sentimental.” Nami comentou enquanto Vivi estendia a colher com mais uma porção de cobertura para ela. Contudo, antes que pudesse provar o doce, Luffy roubou a colher e enfiou na própria boca.

Nami revirou os olhos, ignorando o roubo. Na sua próxima ida ao templo iria rezar pela agilidade no relacionamento daqueles dois. Ela nem estava diretamente envolvida, mas já não aguentava tanta enrolação entre Sanji e Zoro.

Eles eram irritantemente acomodados.

“Sanji foi um santo em outra vida para ter tanta paciência assim.”

Vivi riu, enquanto estendia a língua para lamber um pouco de chocolate que havia na bochecha da noiva. “E o que você mandou para ele?”

“Que ele é um idiota.”

E lá se ia mais um dia dos namorados desperdiçado por Sanji e Zoro. Mas vendo por esse ângulo, não dava para negar que eles realmente se mereciam.


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Notas finais do capítulo

Foi bem simples só pra dizer que fiz algo mesmo asdijasoidas ♥
Realmente tô com saudades deles, mas foco naquela fic lá que ainda não acabei!

Ps: eu sei, eu sei. Tô indo lá escrever IK



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