Sai da casa de Ricardo as pressas, era impossível acreditar no que ele havia me proposto, simplesmente queria que eu aceitasse dinheiro pra esquecer toda essa história, esse homem realmente era um canalha. Quando eu saí de Morro Branco em busca do meu pai eu jamais imaginei que fosse ser assim, eu sempre fui criada somente pela minha e eu nunca entendia o porquê ela não falava do homem que eu insistia em chamar de pai, mas agora depois de tudo isso eu entendo, Ricardo era egoísta e ambicioso, tudo pra ele girava em torno de dinheiro, e Bárbara era pior, preconceituosa, sem caráter e falsa, eu tinha uma péssima irmã, sem falar nas outras duas que nunca me aceitariam. Quando minha vó pediu que eu não viesse e esquecesse essa história eu deveria ter ouvido, ela nunca quis que eu encontrasse meu pai e tinha razão quando me disse que eu ia sofrer, é o que está acontecendo agora, estou com o coração dilacerado e aos prantos, sentada em uma calçada como se eu fosse uma ninguém.
— Joana. – uma voz grossa que eu conhecia muito bem me chamou, olhei pra cima e vi Gabriel, ele me encarava sério e preocupado. – tá tudo bem? Você está chorando. – ele sentou ao meu lado e eu tratei de limpar logo as lágrimas.

— Não é nada, é só uma bobagem. – digo tentando me levantar, sou impedida por ele.

— Não me parece uma bobagem. – sua mão ainda segura meu braço, eu me sento novamente e o encaro.

— A minha vida está de cabeça pra baixo, eu...eu não sei o que fazer. – digo.

— Eu posso te ajudar, Joana eu...

— Você não pode fazer nada Gabriel. – o interrompo. – ninguém pode, melhor eu ir embora.

Me levanto e apresso os passos, percebo que Gabriel está atrás de mim, ele grita meu nome e corre me alcançando em poucos passos.

— Por favor Gabriel. – peço calma, estamos de frente um pro outro, próximos.

— Eu não vou desistir Joana, eu não sei o que está acontecendo, mas eu não vou desistir de você.

— Eu não posso ficar com você, isso é errado, eu...eu não posso. – nego com a cabeça, sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Porque não?. – ele perguntou.

— Porque eu descobri que a Bárbara é minha irmã. – falo isso alto demais e me arrependo, Gabriel me olha incrédula, ele tenta falar alguma coisa mas sua voz não sai. – Meu Deus, eu...eu não devia ter falado isso.

— Você é filha do Ricardo. – ele finalmente fala. – como assim? Você...

— Eu descobri isso a alguns dias, estou vindo da casa dele. – afirmo.

— Você falou pro Ricardo?.

— Falei, mas ele é tão canalha que me ofereceu dinheiro pra esquecer essa história, eu nunca devia ter procurado por ele, o Ricardo é um canalha que só pensa em dinheiro. – falo nervosa.

— E a Bárbara?. – ele perguntou.

— Sua namorada. – solto uma risada irônica. – ela é uma preconceituosa, óbvio que ela não ia aceitar uma irmã negra e pobre.

Gabriel não fala nada e me abraça, me surpreendo com sua atitude e o abraço de volta, deixo as lágrimas virem e choro copiosamente, tudo o que eu queria era minha mãe comigo, só ela me entenderia nesse momento e me aconselharia. Me solto de Gabriel e o encaro, ele me olha carinhoso, seus olhos verdes são lindos, céus eu estou apaixonada por ele.

— Gabriel... – tento balbuciar algo, mas minha voz falha.

— Eu terminei com a Bárbara Joana. – ele sorri. – terminei com ela ontem, eu imagino que ela deva estar sofrendo com tudo isso mas...mas eu amo você.

Não pude deixar de sorrir com o que tinha escutado, eu sabia que aquilo era errado mas eu também o amava, minha vida estava uma loucura e com Gabriel eu sentia que podia ser diferente.

(...)


— Então quer dizer que você é filha do Ricardo. – ele dizia ainda sem acreditar. Estávamos no hostel, no quarto que eu dividia com Sula.

— Pois é, ele minha mãe se envolveram na época que ele e o Caio jogava vôlei, Ricardo e minha mãe se apaixonaram e então eu nasci. – explico a ele que escuta atentamente. – eu sempre perguntava sobre meu pai e minha mãe desconversava, ela dizia que ele tinha ido embora e que era melhor deixar essa história quieta.

— E agora o que você pretende fazer...em relação a isso?. – Gabriel me perguntou.

— Eu não sei. – suspirei frustrada. – sinceramente não sei.

— Eu tô aqui pra te ajudar, sempre. – Gabriel tocou minha mão e eu sorri.

— Obrigada, eu não sei como vai ser daqui pra frente mas eu...eu decidi que não quero mais fugir. – encaro Gabriel e ele sabe do que estou falando.

— Eu fico muito feliz em ouvir isso, porque eu também não pretendia desistir de você. – Gabriele se aproximou mais de mim e me beijou, era nosso segundo beijo, no primeiro eu simplesmente o mandei embora e disse que nunca mais queria vê – local, mas hoje não, eu não fugiria, eu enfrentaria esse amor e qualquer outro problema que viesse.