When I Dreamed escrita por Shiroyuki


Capítulo 15
Capítulo 15. further and closer




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— Esse personagem parece muito mais real comparando com aquele rascunho que você me mandou na primeira vez. – Chris comentou com entusiasmo, e Victor sorriu, satisfeito. – Ainda temos ajustes para fazer, e pensar em algo mais envolvente para o roteiro, mas é quase como se ele realmente existisse agora, eu consigo visualizá-lo perfeitamente! Você conseguiu de novo, Vitya!

Era o que Victor estava esperando escutar durante toda aquela semana. Ele havia trabalhado como louco, incapaz de largar seu notebook antes de terminar de jogar todas aquelas palavras que se amontoavam na sua cabeça para fora. O frenesi da inspiração o faria entrar novamente naquela espiral de loucura em que ele se esquecia de fazer o mínimo para manter-se vivo, se não fosse pela voz da razão que eram os gritos de Yura, e bem… pela presença virtual, tímida e atenciosa de Yuuri também.

Eles passaram aqueles dias trocando mensagens todos os dias. Yuuri era mais contido do que sua persona alcoolizada, mas Victor já esperava por isso. Ele quase nunca iniciava conversas, mas respondia com gentileza a todas as ininterruptas mensagens que Victor enviava, mesmo as mais irrelevantes e bobas. Logo, eles já estavam dividindo suas rotinas, falando sobre o que estavam fazendo durante o dia, mandando fotos de coisas que achavam interessantes, e conversando durante todo o intervalo entre o bom dia e o durma bem, e então, começando esse ciclo novamente no dia seguinte. 

Victor não havia entrado em detalhes sobre a sua profissão – não sabia como contar a Yuuri que era na verdade o seu autor favorito. Mas tinha um plano para colocar em ação e enfim revelar esse detalhe, e para isso, dependia inteiramente do manuscrito que seu editor tão atentamente analisava naquele dia.

— Eu estou maravilhado com o que você fez aqui… – Chris continuou, passando os olhos nos papéis que tinha em mãos, fazendo pequenas anotações no canto da página e sublinhando algumas palavras aqui e ali. – Inclusive… interessante a sua escolha de colocá-lo como sendo asiático, eu diria.

Victor inclinou a cabeça para o lado.

— Eu fiz isso?

— Não com todas as palavras, mas veja a forma como você descreveu a aparência dele aqui, e aqui… – Chris indicou algumas passagens que ele havia marcado antes. – Você havia descrito ele mais genericamente da última vez, mas agora ele tem características mais marcantes, e dá a impressão de ser um jovem asiático. Não era sua intenção?

Victor nunca lembrava das palavras exatas que utilizava quando escrevia, mas agora que Chris apontava esse fato, ele não tinha como negar. Era claro como água o quanto ele estava sendo tendencioso com os rumos que seu livro começava a tomar.

Chris soltou o ar, emparelhou as folhas calmamente, batendo-as na mesa, e deixou-as de lado. Entrelaçou os dedos, cotovelos sobre a mesa, e apoiou o rosto sobre eles, com um sorriso suspeito que Victor conhecia muito bem. 

— Certo. Desembucha.

— O quê? Do que você está falando? – Victor tentou soar alheio à insinuação do outro, mas a forma como sorriu enquanto falava o delatou na hora. Chris revirou os olhos.

— Aquela sua viagem para buscar o Makkachin, não foi isso que aconteceu, não é? Eu devia ter adivinhado, você não ia passar a noite inteira fora sem motivo. Me conte tudo, não me esconda nada. Quem é esse asiático maravilhoso que despertou a sua inspiração tão rápido assim, e, principalmente, o que foi que vocês fizeram?

— Nada! Não aconteceu nada. – Victor reclamou, quase derrotado. – Por que você e Yura não conseguem acreditar em mim?

— Porque nós conhecemos você. Tá bem, considerando que você não tenha feito nada demais mesmo, o que eu duvido muito, o que aconteceu para você voltar com essa energia toda de lá?

Victor se sentia em um interrogatório, mas não podia negar que estava ávido para compartilhar as informações da última semana com alguém, e Yuri não queria ouvi-lo de jeito nenhum.

Sem esperar mais, ele puxou o celular do bolso para mostrar a foto de perfil de Yuuri à Chris, enquanto narrava com detalhes excruciantes tudo o que ocorrera, desde a troca de mensagens, quando ele foi resgatado das confusas ruas de Detroit pelo adorável e gentil herói que também salvara Makkachin. Falou sobre o restaurante onde almoçaram, e sobre como Yuuri o salvou pela terceira vez, quando ele perdera seu voo e não tinha para onde correr. O colorido apartamento, o animado colega de quarto, a conversa que fluía fácil, e a forma encantadora com que as bochechas dele ficavam vermelhas logo no primeiro copo de bebida. A promessa que ficou no ar, de algo que não aconteceu, mas que ainda assim, havia impactado Victor de tal forma que ele não conseguiu parar de pensar sobre isso desde então.

Ele não conseguia parar de falar, e Chris o encarava em um misto de surpresa e deleite. — O que foi? 

— Fazia muito tempo que eu não via seus olhos brilharem assim falando de algo. Acho que tem alguém ficando apaixonado… 

— Chris. Você sabe muito bem que só tenho olhos para o meu trabalho. – O tom confiante e o sorriso fácil de Victor poderiam convencer a qualquer um, mas Chris o conhecia suficientemente bem para não acreditar em tudo o que via.

— Acredite no que quiser acreditar. – Chris sorriu e se jogou para trás na sua cadeira, fazendo-a girar levemente. Victor estava claramente empolgado e inspirado, e isso tinha um significado muito claro: logo ele devia se preparar para lançar o seu próximo best-seller




Aquela disciplina de Filosofia era uma das matérias básicas que Phichit havia conseguido convencer Yuuri a enfrentar com ele, como bons companheiros que eram. O professor, um senhor com idade indefinida, mas que possivelmente havia visto com os próprios olhos as duas Grandes Guerras, estava no púlpito à frente da sala e tinha sérias dificuldades para ligar o projetor de slides, os quais ele pretendia passar as próximas 2h lendo com a voz arrastada, rouca e monótona, sem parar. Phichit já sentia sua pálpebra pesando com aquela ideia. Mesmo ele, que era a pessoa mais enérgica de que tinha conhecimento, não conseguia manter-se alerta durante aquele período da semana. Rumores diziam que aquela aula era capaz de curar qualquer insônia.

— Yuuri… você acha que se nós sairmos agachados pela porta de trás ele vai notar? Eu peço para alguém marcar a nossa presença. Eu só preciso sair daqui e saber que a luz do sol não é só uma ilusão da minha mente. Essa sala está sugando a minha energia vital, e eu acho que estou até ficando mais pálido, eu não quero ficar branco, Yuuri, não quero!

Phichit virou o rosto para o amigo, esperando palavras de consolo e compreensão, mas só encontrou um olhar distraído e um sorriso bobo na face daquele completo desconhecido. Por que Yuuri estava com seu celular, digitando discretamente por baixo da mesa para que ninguém notasse. Logo Yuuri, que sempre repreendia Phichit por esse comportamento e reforçava como era uma falta de respeito sem tamanho com os professores. Quem era aquele indivíduo sentado ao seu lado, e o que havia sido feito com seu melhor amigo?

Ele continuou a observar, esperando que Yuuri notasse seus arredores, mas isso não aconteceu. Ele continuava com os olhos fixos na tela do celular, os dedos movendo-se com rapidez nada característica, e aquele sorriso permanente. Será que ele ao menos tinha noção de como estava agindo? Só por precaução, Phichit puxou o próprio celular do bolso e tirou uma foto para registrar aquele momento sublime em que Yuuri agia como o jovem apaixonado que ele sempre soube que seu amigo se tornaria e que ele se recusava a admitir.

O projetor finalmente foi ligado da forma correta, e as luzes foram desligadas para que todos enxergassem o texto em letras miúdas projetado na parede. O professor deu início à aula, e Phichit bocejou. Yuuri ergueu os olhos, surpreso, parecendo finalmente lembrar-se de seu lugar no tempo e espaço. Guardou o celular no bolso do moletom com alguma culpa.

— Eu perdi alguma coisa? – ele cochichou para Phichit, que sorriu preguiçosamente.

— Pelo que eu posso notar, só o seu status de solteiro.

— Quê? 

— Nada não. – Phichit se aproximou, ainda falando mais baixo que a voz do professor que ecoava na sala. – Como vai o seu príncipe de Nova York, sonhador?

— Para com isso, você sabe que não é assim! – Yuuri protestou, talvez mais alto do que pretendia, porque o professor olhou por cima dos óculos, na direção da fileira que os dois ocupavam, em clara repreensão. Yuuri se encolheu instintivamente.

— Assim como? Eu não disse nada. – Phichit se aproximou mais para não ser notado.

— Mas insinuou. – Yuuri rebateu, sem desviar os olhos do texto iluminado à frente.

— E qual o problema? – Phichit ergueu as sobrancelhas, desafiador. – Tem algo nesse mundo que te impeça de se interessar por um cara lindo, solteiro e que está claramente a fim de você também?

Yuuri abriu a boca para responder, mas estava sem palavras. Bufou, escondendo o rosto corado entre os braços sobre a mesa, e Phichit se sentiu vitorioso, pelo menos dessa vez. 

 




Victor só podia estar testando sua paciência. 

Yuri estava deitado no sofá, enquanto seu irmão ocupava a pequena mesa no canto da sala com o notebook, para trabalhar. E ele só estava sentado propriamente em uma cadeira por que Yuri insistiu para que ele parasse de trabalhar sentado no chão como se fosse um maldito adolescente com as costas intactas. Ele andava empolgado na tarefa de escrever nas últimas semanas, enfim, e se Yuri não estivesse ali para vigiá-lo e colocar ao menos um pouco de senso naquela cabeça oca, não conseguia sequer imaginar o desastre que Victor estaria nesse momento.

Apesar dos avanços, Victor ainda parecia fisicamente incapaz de ficar quieto. Balançava a perna sem parar, murmurando sozinho, abrindo e fechando o notebook. Andava pela sala do apartamento arrastando suas pantufas pelo assoalho. Já havia feito chá, café, e as canecas só se empilhavam na mesa, mas ele não parecia estar avançando tanto quanto prometera na escrita do seu livro. O mais irritante de tudo era que ele não parava de puxar o celular de onde quer que ele estivesse, desbloqueando a tela, olhando para ela por alguns segundos, desligando novamente e repetindo essa sequência a cada cinco minutos, como se algo diferente pudesse acontecer nesse espaço de tempo.

Yuri dividiu sua irritação com Otabek por mensagem, junto com gifs que expressassem com exatidão o quanto isso estava irritando e atrapalhando a sua concentração – apesar de ele não estar exatamente fazendo nada naquele momento, mas se estivesse, seria um problema. Enviou um vídeo para provar como Victor estava inquieto e não parava mais do que alguns minutos no mesmo lugar. 

Beka: Talvez ele só esteja estressado com o livro que precisa escrever.

Otabek era ligeiramente menos econômico com as palavras por mensagem do que ao vivo. Além disso, estava genuinamente interessado em ponderar com Yuri sobre explicações para o comportamento ainda mais estranho do seu já muito estranho irmão. Isso fazia Yuri sentir-se meio mole por dentro e sem saber o que pensar sobre isso. Então ele decidiu ignorar, e focar no problema diante de si.

Ele estava agindo todo animado essa semana dizendo que tinha finalmente conseguido desempacar com aquela ideia que teve. Não acho que seja isso.

Beka sabia que Victor era escritor, mas Yuri não havia comentado nada sobre quais livros escrevera, nem nada. Não que estivesse preocupado em proteger o segredo ridículo do seu irmão ou seja lá o que fosse, mas ele tinha coisas mais importantes para conversar com Otabek do que a vida profissional de Victor. Que era exatamente o que ele estava discutindo naquele momento. Mas não importava.

Beka: Você disse que ele não solta o celular e fica olhando para a tela toda hora. Pode estar esperando mensagem de alguém.

Yuri pensou nisso por alguns segundos, antes de responder.

Victor não é assim. Ele é do tipo que não espera, liga pra pessoa quando quer. 

Beka: Ele pode estar apaixonado. Você não disse que ele parecia interessado no cara que salvou Makka?

Por um breve momento Yuri se distraiu pela constatação de que Otabek lembrava das coisas que ele comentava casualmente.

E o que tem a ver? Se ele estivesse interessado, já teria ligado…

Beka: Pessoas apaixonadas agem de jeitos estranhos. Ele pode estar inseguro por isso, ou não quer ser inconveniente ou insistente. Talvez ele goste muito mesmo desse cara e isso o deixa nervoso. 

Isso é estupidez. Por que ele está se torturando desse jeito, então? Devia só ligar e dizer o que quer e acabar com essa besteira logo. Pessoas apaixonadas são estúpidas.

Beka: Você acha?

Por algum motivo além da sua compreensão, Yuri sentiu seu pescoço e rosto esquentarem. O que deveria responder para aquilo? Havia uma resposta certa? E por que parecia de repente que eles já não estavam mais falando sobre a situação de Victor? Yuri se sentia de repente muito pequeno e inexperiente. Uma criança. 

Beka: Acho que quando você gosta de alguém assim acaba sendo irracional e não usa a lógica.

Yuri mordeu o lábio, sentindo o celular estremecer ligeiramente em sua mão (e só então percebeu que era a sua mão que estava tremendo e não o contrário). Por que raios Otabek estava falando sobre essas coisas? Eles nunca haviam conversado sobre romance, namoros nem nenhuma dessas merdas. O coração de Yuri batia tão alto que ele conseguia escutar na sua cabeça.

Beka: Se eu gosto de alguém, também fico meio idiota. Não consigo falar muito se estamos juntos, e só fico por perto esperando que essa pessoa note. É estúpido, não é?

Beka: Yura.

Beka: Você nunca gostou de ninguém assim?

Yuri desligou a tela do celular por impulso, sem saber o que fazer. As palavras de Otabek ecoavam dentro da sua cabeça vazia porque seu cérebro havia acabado de derreter por completo. Isso só podia ser uma realidade paralela. O que estava acontecendo ali era surreal demais para Yuri processar.

Ele ligou a tela do celular de novo, e espiou as últimas mensagens pelas notificações, sem coragem de responder – até porque não sabia nem o que poderia responder àquilo.

Beka: Essa pergunta foi estranha.

Beka: Esquece o que eu falei.

Beka: Foi besteira.

— Não, não, não. – Yuri murmurou, jogando o celular na outra ponta do sofá e escondendo o rosto em uma das almofadas para não gritar, que era na realidade o que queria fazer. Se sentia o idiota mais idiota do mundo inteiro e de todos os mundos, incluindo os mundos que dividia com Victor Nikiforov. O que é que estava acontecendo? O que é que ele estava fazendo? Ou melhor, porque é que não estava fazendo nada?

Mesmo sem conseguir entender, a sensação que tinha era a de que havia cometido um erro imperdoável, não fazia ideia de qual, e por consequência, não sabia como consertá-lo.

— Yura, tá tudo bem? – O rosto de Victor surgiu pairando acima de si quando Yuri tirou a almofada do rosto. Ele atirou a mesma na cara do incauto irmão com toda a força que dispunha, e saiu correndo na direção do seu quarto.

— É tudo culpa sua!

Foi a única coisa que gritou, antes de bater a porta com força.




Yuuri sentia o suor escorrendo pelo seu rosto e seu pescoço, molhando o tecido da camiseta branca que usava, grudando os cabelos curtos na sua testa. Não estava usando óculos, mas se estivesse, eles estariam embaçados. Ele ofegou por alguns segundos, recuperando o fôlego, e tomou um longo gole de água gelada fechando os olhos ao sentir a sensação de saciar a sede preenchê-lo por um breve segundo. Quando baixou o rosto e a garrafa e abriu os olhos, deu de cara com Minako, encarando-o fixamente e sem piscar, de muito mais perto do que ele poderia perceber. 

Recuou alguns passos, de sobressalto. – Minako-sensei! Eu não vi você chegando.

— O que você fez? E quando? Pode ir me contando tudo. Achou que eu não ia perceber?

— O quê? – o tom de acusação fez Yuuri imediatamente percorrer todas as suas memórias dos últimos dias, escaneando à procura de alguma coisa que tivesse feito e que poderia ser considerado um delito, e não encontrando nada. 

Minako cruzou os braços, e era incrível o quando ela podia ser ameaçadora apesar de Yuuri já não ser mais uma criança.

— Você andou treinando com alguém? Arranjou outro tutor pelas minhas costas?

— Claro que não! – Yuuri foi logo se defendendo, incapaz de entender de onde vinham essas ideias.

Minako franziu os olhos analisando-o friamente, decidindo se ele merecia ou não um voto de confiança. Subitamente as peças pareceram se encaixar em sua cabeça, e ela chegou a alguma conclusão que Yuuri não tinha certeza se queria saber qual era, quando ela arregalou os olhos e sorriu lentamente.

— Você não está usando algo novo para dançar… você só descobriu alguém para quem dançar. É isso não é? Você estava pensando em alguém enquanto praticava.

Yuuri prendeu o ar, e adiou a resposta secando o rosto com a toalha que trazia no pescoço e olhando para o outro lado.

— Do que… você está falando?

Minako inclinou o rosto, chegando mais perto como se dessa forma pudesse ler os pensamentos do seu pupilo. Segurou as bochechas de Yuuri com uma só mão, fazendo com que ele não tivesse escapatória a não ser fitá-la nos olhos.

— Fale a verdade Yuuri. Quem é?

Hen é o hê? – Ele tentou pronunciar algo ainda com o rosto esmagado pela garra de Minako. Ela respirou fundo, soltou-o, e continuou sua acusação, ligeiramente incomodada pela falta de cooperação de Yuuri.

— Hoje você veio para a prática mais cedo do que o normal e dançou impecavelmente, com um foco que eu não via em você desde quando você começou a dançar. E eu sei que esse ânimo todo pode vir de dentro de você, sempre esteve aí, sei melhor do que ninguém que você é capaz de fazer as coisas por si só sem precisar de ninguém, porém– ela voltou a apontar o dedo para o rosto dele, incisiva, sem dar tempo para que ele tentasse intervir. 

— Você dançou como se estivesse seduzindo alguém. Não adianta vir com a desculpa que é exatamente esse o objetivo de Eros. Você nem tinha mais motivos para praticar essa peça, para começar. E uma coisa é trazer à tona a sua sexualidade subjetiva e outra completamente diferente é dançar com o pensamento em outra pessoa. E você não pode enganar os meus olhos, Yuuri. Eu sei o que eu vi. E o que eu vi foi um dançarino apaixonado dançando para seu amado, e mais ninguém. – Minako cutucou o peito de Yuuri com o indicador, quase fazendo-o dar alguns passos para trás involuntariamente. – Primeiro eu pensei que você estava praticando com outra pessoa algum outro método, mas pensando melhor agora, é óbvio que não seria algo assim. Você está apaixonado Yuuri, e seus movimentos demonstram o que você está sentindo sem que você possa evitar isso. Você conheceu alguém novo, é isso?

Yuuri engoliu em seco, fechando os olhos na tentativa de fazer com que aquele calor que sentia queimar seu rosto sumisse. Isso era constrangedor.

— Não é bem isso, Minako-sensei…

— Yuuri…? – O tom de voz dela mudou imediatamente para preocupação, e ela tentou visualizar melhor o rosto que Yuuri mantinha virado para o chão.

— Eu não estou apaixonado, nem conheci ninguém. – Ele voltou erguer o rosto e sorriu o mais tranquilamente que podia. – Só estava usando minha imaginação, não foi isso que você me ensinou? Acho que finalmente consegui aprender a atuar e interpretar direito, se enganei até você.

Yuuri sorria calmo, embora ainda estivesse inquieto por dentro. Não havia nada de errado em pensar em Victor, a voz de Phichit voltava a ressoar em sua mente, tentando convencê-lo. Ele podia contar para Minako sobre o cara que conheceu e que era tão incrível. Ela entenderia, incentivaria, ficaria exultante em saber que Yuuri estava interessado em alguém, assim como Phichit ficou. Não havia nada de estranho nessa história, nada que ele precisasse esconder do mundo, e ele não havia feito nada de errado.

Ainda assim, Yuuri sentia como se estivesse mentindo, se contasse sobre Victor de forma tão casual. Soava como uma mentira, que algo assim pudesse acontecer com ele. E os sonhos… bem, isso parecia ainda mais com uma história inventada, uma ficção que só podia acontecer em livros, uma loucura criada pela mente inventiva de Yuuri. Às vezes ele tinha essa sensação – de que Victor era puro produto da sua mente, assim como todos os sonhos que ele já havia tido até aquele dia.

Mas eles ainda trocavam mensagens, durante o dia inteiro. Victor mandava fotos de Makkachin dormindo no sofá, do que ele havia cozinhado às 3h da manhã porque perdera o sono, e adorava em especial enviar selfies, dos jeitos mais ridículos e aleatórios que podia pensar. E a cada conversa e foto trocada, cada vez que Yuuri via o rosto de Victor naquelas fotos, ele se sentia idiota por duvidar da própria sanidade daquela forma. Como sua mente fabricaria algo tão complexo, inesperado e único como Victor? Pensar assim era de uma auto-estima sem tamanho, que Yuuri sabia muito bem que não possuía. Até por que, nada ali confirmava que Victor se interessaria por ele, em todo caso.

Ele não contaria, nem à Minako nem a ninguém mais, sobre Victor. A sensação de que ele sumiria se as pessoas soubessem sobre ele, apesar de irracional, permanecia. Ele não queria ser julgado por isso, não queria que rissem, que pensassem que ele era ingênuo demais por ainda acreditar em contos de fadas e príncipes encantados. Yuuri tinha que pisar no chão, cair na realidade. Os sonhos eram apenas sonhos, sem significado algum. Victor era real. As chances de Yuuri com ele, talvez, nem tanto. C’est la vie.

Minako ainda parecia desconfiada, mas não fez mais perguntas sobre a performance de Yuuri, e deixou-o sozinho com seus pensamentos logo depois apesar de claramente estar se segurando para não enchê-lo de questionamentos novamente. Ele já não tinha mais vontade ou energia para dançar, então tratou de juntar suas coisas e dar aquele dia por encerrado. Em meio ao mundo de coisas que ele trazia dentro da bolsa, sentiu que seu celular vibrava.

Victor enviou uma foto.

Ele abriu a mensagem, que continha a foto de uma mesa de café, com o teclado de um notebook em um dos cantos, e uma xícara de café bem no centro, com o desenho de algo disforme na espuma. Victor estava digitando.

Victor: Olha isso! Eles desenharam Makkachin no meu café! Eu esqueci de tirar uma foto para você antes de tomar um gole, mas acho que ainda dá para ver não é?

Yuuri sorriu para si mesmo com aquela mensagem que era tão Victor. Seu coração martelou dolorosamente no peito. Ok. Minako tinha razão.

Agora não podia se enganar mais. Não ia conseguir desver.

Tinha se apaixonado. 


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Notas finais do capítulo

A mas se jura yuuri é memo? [insira aqui pocoyo com maozinha na cintura]

Olá pessoas. Aqui estou eu de novo com mais um capítulo, e devagar avançamos para algum lugar nessa história (ou não). Milagres que a quarentena pode trazer, não é mesmo?
Agradeço DEMAIS os incentivos e a todos que ainda acompanham a fanfic e deixam comentários fofinhos que me animam ♥ obrigada~
Cuidem-se e fiquem em casa, importante!

~ até a próxima (que eu não sei quando vai ser)!



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