Te aceitar faz parte do meu amar escrita por Alice Alamo
Notas iniciais do capítulo
# Primeira fic minha a abordar um personagem transgênero. Espero ter feito corretamente; caso não, me avisem, ok? Espero não ter ofendido ninguém e que tenham uma boa leitura.
# Para quem se interessar pelo tema, há outra fic muito boa chamada "Amigo Anônimo" da Aoneko UchiMaki: https://fanfiction.com.br/historia/732685/Amigo_anonimo/ ;)
Itachi sempre soube que havia algo diferente, algo a mais, algo único quando observava Sasuko. Talvez fosse o modo como ele era observado, já que Sasuko vivia a lhe estudar atentamente, talvez fosse os hábitos seus que ela imitava e que fazia a mãe rir, achando certa graça. Cuidado e sempre atento, Itachi se perguntava se realmente aquilo faria bem à irmã. Não que não gostasse de vê-la o seguindo pela casa, sentando-se no sofá numa posição semelhante à sua, mas tinha certeza de que, conforme a idade avançasse, aquilo que as pessoas achavam “fofo” seria então condenável, alvo de críticas.
E não demorou a acontecer. Logo nos primeiros anos da escola, a imposição do uniforme surgiu. Itachi tinha sido chamado pela mãe no dia, sob a alegação de que Sasuko se trancara no banheiro para não ter que ir à escola. Sonolento e sem entender o que acontecia, Itachi entrou no quarto rosa e parou na frente da porta do banheiro, bocejando. A mãe disse que prepararia o café e indicou o uniforme de Sasuko sobre a cama para que ele vestisse a irmã mais nova.
Dizem que irmãos se entendem mais facilmente que pais e filhos, que estabelecem uma conexão única e se conhecem melhor que qualquer outro pode chegar a conhece-los, e era verdade no caso de Itachi pelo menos. Ao tocar a peça do uniforme, uma saia vinho e uma camisa social branca, questionou-se qual fora a última vez que vira Sasuko de saia. Nunca. Ela sempre dava um jeito de sujar a roupa ou então fazer um escândalo até que a mãe desistisse e simplesmente trocasse por outra peça qualquer. Com sete anos, Sasuko nunca havia vestido uma saia e sempre ficava extremamente emburrada ao ser forçada a desfilar em vestidos delicados.
Bateu na porta do banheiro.
— Sasu? Sou eu, nii-san, abra a porta...
Ouviu o girar da tranca e entrou no banheiro com calma, encontrando Sasuko perto da parede, de braços cruzados e nariz vermelho. Os olhos negros estavam úmidos e havia cabelo pelo chão. Itachi arregalou os olhos e pôs a mão na boca pela surpresa ao notar o corte desalinhado e totalmente irregular que Sasuko exibia. A tesoura infantil, sem ponta, quase de brinquedo, estava sobre a pia, e Itachi trancou a porta do banheiro ao ouvir a mãe voltar ao quarto.
— Sasu, o que você fez? — perguntou, abaixando-se na altura dela e passando a mão pelos fios negros judiados.
— Assim não pareço mais uma menina, aí não tenho que usar saia, não é? — ela perguntou, esperançosa.
Itachi passou a mão pelo próprio rosto, agoniado, e gritou um “já vai” quando a mãe bateu na porta. Pegou a tesoura e sentou Sasuko sobre a tampa da privada. Não dava para consertar aquele corte de modo que continuasse comprido, então, optou por apenas alinhar, na esperança de que a mãe não se assustasse tanto e conseguisse uma saída melhor. Cortou acima dos ombros, um pouco abaixo das orelhas, e suspirou pesadamente ao ver Sasuko sorrir animada para o reflexo do espelho como se Itachi tivesse acabo de lhe prestar um imenso favor.
— Vem, vamos vestir o uniforme, você tem sua primeira aula hoje — disse com medo do que a mãe acharia de tudo aquilo. — Vou chamar a mamãe, vista sua camisa, ok?
Saiu do quarto, indeciso, e caminhou até o seu próprio quarto, parando em frente ao guarda-roupa. Abriu as gavetas e revirou-as todas. Era seis anos mais velho que Sasuko e estudara na mesma escola infantil para a qual ela estava indo agora, então devia ter uma única calça sua ali ou no baú onde a mãe guardava roupas antigos.
Achou uma, uma única, manchada na barra e com tecido de reforço nos joelhos, talvez servisse em Sasuko. Estalou a língua no céu da boca e voltou ao quarto da irmã, procurando entre as inúmeras calças dela, uma que fosse da cor vinho. Sorriu, aliviado, quando achou. Era até que parecida com o uniforme; com sorte, ninguém notaria.
A mãe entrou no quarto, e Itachi a observou, calado, enquanto ela passava as mãos nos cabelos de Sasuko e passava a repreender a irmã por ter mexido com tesoura sem autorização.
— Você precisa vestir a saia, Sasuko! — Mikoto repetia, impaciente.
— Mãe... — Itachi chamou ao olhar o relógio no pulso.
Sasuko começou a chorar.
— Mãe, estamos atrasados — Itachi mentiu.
— Sasuko, está atrasando Itachi, termine logo de se vestir. Vamos, querida...
— Não quero vestir saia! — Sasuko gritou e olhou para Itachi.
— Mãe, ela não pode usar calça só hoje? Nem tá calor. Não posso me atrasar — mentiu ao estender a calça.
Mikoto suspirou e analisou a calça para ver o estado dela enquanto Sasuko parava de chorar e sorria para o irmão.
— Como estou? — Sasuko perguntou já vestida, de frente ao espelho com a calça e o cabelo curto.
— Parece um menino — a mãe reclamou ao pegar as chaves do carro.
— Ficou bonito, imouto, agora vamos, ok? — Itachi estendeu a mão, levando-a até o carro.
Convencer a mãe a deixar Sasuko usar calças na escola não foi difícil, só foi... cansativo, uma vez que Mikoto não entendia a aversão da filha com a saia. Contudo, apesar disso, quando Sasuko foi ao cabeleireiro, o corte ficou ainda mais curto, de modo que Itachi estranhou quando viu a mãe retirar-se ao quarto em silencia e pedir que ele vigiasse a irmã.
A partir desse dia, nenhum outro vestido foi comprado. Sua mãe parecia chateada, confusa, e ele, com treze anos, não entendia bem o motivo de ela agora estar deixando Sasuko ficar com o cabelo daquele modo. Talvez, a mãe tivesse notado o mesmo que ele, Sasuko sorria bem mais daquela forma.
Entretanto, não era toda a família que conseguia entender a situação. Quando Sasuko fez doze anos, começaram as críticas de que Itachi tanto tinha medo.
— Sente-se direito, já é uma mocinha.
— Cruze as pernas direito, pare de imitar seu irmão, você não é um moleque.
— Que unhas são essas? Precisa ser mais vaidosa!
— Mikoto, precisa levar essa menina ao shopping, olhe essas roupas! Parece que ela assaltou o guarda-roupa do irmão!
— Comporte-se, parece um menino desse jeito, como quer arrumar um namorado?
— Não Sasuko, isso é coisa de menino, vai lá com suas primas.
Itachi notou o momento em que a irmã passou a não querer ir aos encontros de família, ficando recluso ao próprio quarto. No aniversário da mãe, ele subiu as escadas e sentou-se na cama com ele, vendo-a encarar com ódio a maquiagem e as bijuterias que usaria naquela tarde.
— É aniversário da mamãe... não quero que fiquem reclamando de mim para ela — Sasuko justificou-se quando Itachi franziu o cenho para o vestido sobre a cadeira. — Sakura, a filha da vizinha, me emprestou... disse que é o mais bonito que ela tem.
Itachi sorriu, melancólico, e se levantou. Caminhou até o armário da irmã e Sasuko o assistiu em silêncio enquanto retirava algumas roupas de lá.
— Pronto, isso aqui com certeza vai ficar melhor em você — falou, entregando a calça escura e a camiseta que havia comprado à irmã no último aniversário. — Já volto. — Beijou-lhe o topo da cabeça e recolheu o vestido, a maquiagem e as bijuterias.
Desceu as escadas com pressa e irritado. Os convidados não haviam ainda chego, e a mãe arrumava a mesa com doces. Ela parou ao vê-lo e sorriu carinhosa antes de perceber o que ele carregava.
— Ela queria vestir isso para não te deixar triste — ele explicou, indignado. — Para que não ficassem te infernizando pelo modo como ela se veste durante seu aniversário! Okaa-san...
Mikoto se apoiou na bancada da cozinha e praguejou alto ao ouvir a campainha tocar.
— Atenda a porta, querido, eu falo com Sasuko. — Ela pegou as coisas da mão dele e acariciou-lhe o rosto. — Não se preocupe.
Durante a festa, Itachi viu a mãe manter Sasuko ao seu lado, beijando-lhe o rosto e sorrindo ao lhe oferecer o primeiro pedaço de bolo antes de liberá-la para brincar com as outras crianças. E, à medida que a irmã se afastava da mãe, outros, inclusive ele, aproximavam-se. Não prestava atenção nas conversas, mas foi impossível não perceber a mãe discutindo com uma das irmãs.
— É a minha filha! Eu sei o que é ou não melhor para ela — Mikoto falou, firme, irritada.
— Mikoto, ela será motivo de risada na escola! Pelo amor de Deus!
— Não cabe a você se preocupar com isso — Mikoto rebateu. — Sasuko terá meu apoio para se vestir e ser quem quiser! E, se você não pode aceitar isso, mantenha-se longe da minha filha e guarde seus comentários para você!
— Não diga que não te avisei quando ela ficar doente e começar a achar que é um garoto.
— Fora — Mikoto sussurrou, e Itachi arregalou os olhos, aproximando-se para passar os braços pelo ombro dela. — Fora!
Madara, seu tio, afastou sua tia deles antes que os outros parentes notassem a confusão. Aproveitou para abraçar a mãe e esperou que ela se acalmasse. Ao final da festa, viu Mikoto no sofá da sala, puxando Sasuko para seu colo e a abraçando com carinho.
— Eu te amo tanto... — Ouviu-a dizer para a irmã. — O que acha de mudarmos a cor do seu quarto? Você escolhe!
— Sério? — Sasuko perguntou, incrédula.
— Sério, já tá na hora de trocar aquele rosa, não acha?
— Eu odeio rosa, okaa-san — Sasuko confessou, e Mikoto riu antes de concordar e beijar-lhe a ponta do nariz.
— Amanhã compramos as tintas então.
A idade dos quinze sempre foi decisiva para qualquer pessoa. Felizmente, Itachi conseguiu continuar vivendo em casa apesar da faculdade distante. Assim, estava presente quando Sasuko atingiu os quinze anos e recusou qualquer festa de debutante. Para ser sincero, nem se lembrava de que existia tal festa, mas o assunto surgiu quando uma de suas tias perguntou a Sasuko o vestido que ela usaria. Tanto ele quanto a mãe estreitaram o olhar para a tia, mas Sasuko foi mais rápida em responder que não usaria nada porque não haveria festa, ela queria viajar com o irmão e a mãe no lugar de uma festa extravagante e fora de moda.
Dias depois, quando Itachi chegou da faculdade, não estranhou quando encontrou a irmã em seu quarto, esperando-o. Aliás, não tinha como não saber o que ela devia estar querendo lhe falar, já que Sasuko não excluíra o histórico do computador antes de devolver o notebook para ele no dia anterior. O que achara não havia sido propriamente uma surpresa, no entanto; para ser sincero, Itachi sentira como se tudo fizesse sentido pela primeira vez ao ler os artigos sobre transgenia que Sasuko pesquisara.
Sentada sobre sua cama, com as mãos suando e juntas sobre o colo, a irmã parecia perdida e com medo, como quando era criança e ainda acreditava nas histórias de terror que seu tio Madara contava antes de dormirem.
— Eu... — ela começou, incerta. — Nii-san, eu...
Itachi aguardou, sabia que devia dar tempo a ela para que organizasse o que desejava falar, entendia o medo, mas, quando ela pareceu desistir, ele perguntou:
— É sobre os artigos, Sasu? Os que você pesquisou no meu notebook?
— Nii-san...
— Sasu, não tem problema você não ser uma garota.
Qualquer que fosse a estrutura que mantinha Sasuko erguida diante do irmão ruíra com aquelas palavras. Itachi se aproximou e se sentou na cama, puxando Sasuko para um abraço ao ouvir o choro que se iniciou.
— Me desculpe, nii-san, desculpa... — Ouviu-a repetir, sofregamente, e esconder o rosto em seu peito.
— Está tudo bem, Sasu. — Acariciou-lhe o rosto com carinho e apertou ainda mais o abraço. — Está tudo bem, otouto.
O dia seguinte foi singular. Sasuko bateu na porta de Itachi pela manhã, antes de eles saírem para as aulas. Itachi terminava de se arrumar quando o irmão entrou no quarto e fechou a porta.
— Pode me ajudar? — Sasuko perguntou, sem jeito, e mostrou uma faixa branca nas mãos.
Itachi franziu o cenho e só entendeu o que o irmão queria quando ele tirou a camiseta e, então, o sutiã.
— Sempre odiei usar isso — Sasuko cuspiu, com raiva.
— Que homem não odiaria? — Itachi sorriu, batendo dois dedos na testa do irmão antes de começar a passar a faixa ao redor do tronco de Sasuko, com cuidado, pressionando minimamente os seios pequenos para que não machucasse o irmão.
Afastou-se para ver o resultado, jogou a camiseta no rosto de Sasuko e foi rapidamente até a penteadeira para pegar um pouco de gel. Espalhou o produto nas mãos e voltou-se ao irmão, arrumando-lhe o cabelo negro e desordenado.
— Pronto, agora sim. Gostou? — perguntou ao colocar Sasuko de frente ao espelho.
Os olhos negros do caçula brilharam, e Itachi o abraçou por trás quando ele assentiu, sorrindo discretamente.
— Vai contar para mamãe? — Itachi indagou.
— Ainda não... ela...
— Ela te ama — Itachi o cortou, pegando a mochila e a colocando nas costas. — Não duvide disso, ok?
Medo. Itachi tinha plena ciência de que o irmão tinha medo de que a mãe o rejeitasse, de que não o aceitasse. Embora tentasse convencê-lo do contrário, era difícil, imaginar seu mundo desmoronando de repente devia ser dolorosamente difícil. Por essa razão, quando deu dois meses sem que o irmão se manifestasse, Itachi o fez, de forma sutil e pensada, começando a tratar Sasuko por “ele” na presença da mãe de amigos, a chama-lo de “otouto” com mais frequência.
A curiosidade das pessoas era cortada rapidamente por um olhar gélido e firme; às vezes, com algumas pequenas brigas também, mas valia a pena. O moco como Sasuko lhe sorria, feliz quando o tratava corretamente, quando demonstrava publicamente que o aceitava, era extremamente recompensador. Sasuko estava feliz, então estava tudo bem.
No aniversário de dezesseis anos do irmão, Itachi estava no quarto e preparava-se para descer as escadas e ir à cozinha tomar café da manhã quando ouviu o toque do celular de Sasuko no quarto ao lado.
— Sasu, seu celular! — gritou.
— Traz pra cá!
Entrou no quarto de cores neutras, com móveis mais sóbrios e de corte reto. Pegou o celular sobre a cama e, antes que a ligação fosse perdida, atendeu enquanto saía do quarto.
— Alô?
— Teme?
— Irmão dele — Itachi respondeu. — Quem fala?
— Namorado dele. Ele tá aí?
Itachi parou na entrada da cozinha e arqueou a sobrancelha ao passar o telefone para o irmão. Não comentou nada, mas Sasuko o observou pelo canto do olho enquanto falava ao telefone de forma discreta. Disfarçaram. A mãe terminava de cozinhar enquanto eles colocavam a mesa, sorriu ao empurrar o bolo de chocolate que havia feito especialmente parra Sasuko e lhe entregou a faca.
— Feliz aniversário, querido — ela disse.
Itachi parou de se servir de café assim como Sasuko deixou a faca cair na mesa ao ouvir a mãe. Mikoto sorriu, doce, e se levantou para abraçar o filho que se ergueu, de súbito, apertando-a ao passo em que o alívio tomava não só sua face, mas também seu coração e pensamentos.
Mikoto sentiu as lágrimas silenciosas em seu ombro e acariciou os cabelos do filho caçula antes de beijar-lhe o rosto.
— Sabe... estive pensando... Sasuko é um nome feminino. Você se sente bem com ele, querido?
Itachi parou para pensar. Tanto ele quanto os amigos de Sasuko o chamavam de “Sasu” ou de “Sas” na maioria das vezes, portanto, nunca tinha parado para notar aquilo. Contudo, agora, vendo o irmão concordar com a mãe antes de se sentar novamente e limpar o rosto com a manga da blusa, recriminou-se por deixar um detalhe tão importante passar em branco.
— Já pensou em outro? — Mikoto perguntou, apoiando o rosto na mão, pensativa.
— Não... é difícil. O que acha, Itachi?
— Hum... seria legal poder continuar a te chamar de “Sasu”, otouto — brincou e passou o dedo pela cobertura do bolo, recebendo um tapa da mãe na mão. — Que tal... Sasuke?
— Sasuke? — Mikoto riu, leve.
— Sasuke... — Sasuko sussurrou, surpreso. — Sasuke. É, eu gosto de Sasuke. — Riu e encarou o irmão mais velho. — A partir de hoje, Sasuke então.
O assunto “namorado” demorou para aparecer novamente. Itachi não achava que devia força o irmão a lhe falar, entretanto, sentia-se minimamente traído por ele não ter confiado em si. Já havia passado meses e Sasuke não parecia mais à vontade sobre o assunto comparado a antes. Ele ainda atendia o celular mais afastado, falava baixo, e sua mãe ria e dizia que era “coisa da idade”. Bem, se era ou não coisa da idade, Itachi não queria saber! Era o irmão mais velho, tinha direito de saber com quem Sasuke saía.
Quando enfim conheceu o dito namorado, não foi na melhor das situações. Eram duas da manhã quando seu celular tocou insistentemente. Atendeu ao identificar o número de Sasuke e se lembrar de que ele havia ido a uma festa de um dos colegas da escola.
— Sasu?
— Itachi, é o Naruto! Eu tô no hospital, perto da casa do Neji.
— Hospital? — Itachi se levantou e acendeu a luz do quarto, procurando as calças para vestir.
— Ele bebeu um pouco, uns idiotas mexeram com ele, piorou quando viram que estávamos juntos e, quando vi, ele estava aos socos com Kiba e mais uns três! Os pais de Neji estavam em casa, e a mãe dele nos trouxe para o hospital, mas ela quer um responsável pelo Sasuke aqui.
Itachi desligou o celular assim que pegou o endereço do hospital. Não acordou a mãe, pegou as chaves do carro e dirigiu, impaciente. Não demorou a reconhecer a mãe do tal Neji, afinal, vira-a quando havia levado Sasuke à festa. Ela estava ao lado de um garoto loiro, que se levantou rapidamente ao vê-lo.
— Itachi!
— Naruto? — arriscou, e o outro confirmou. — Cadê meu irmão?
As explicações, tanto da mãe de Neji quanto de Naruto, foram ignoradas. Itachi simplesmente esperou ter autorização para ver Sasuke e caminhou, como se marchasse, até a sala onde imobilizavam o nariz quebrado dele e davam dois pontos em um corte no supercílio direito.
Bufou, inconformado, e cruzou os braços na frente do corpo quando o irmão baixou os olhos.
— Uma brigada? Sério, Sasuke?
— Kiba é um idiota...
— Não me interessa se ele é um idiota, você que não precisa agir como um!
— Ele estava me tratando como garota! Ele e aqueles amigos imbecis falaram que “me comeriam” para eu voltar a “ser mulher”!
— E partir para a violência não te faz mais homem, Sasuke! — Itachi o repreendeu, severo.
Sasuke cerrou os punhos e estalou a língua no céu da boca ao desviar os olhos dos do irmão.
— Pronto, já fiz o curativo dele — a enfermeira avisou ao se levantar.
Itachi agradeceu com um aceno.
— Vem, vamos para casa.
Sasuke se levantou, e Itachi passou o braço pelos ombros dele antes de mergulhar a mão no cabelo do irmão mais novo e soltar o ar dos pulmões.
— Sempre haverá idiotas para te julgar, Sasuke, mas não se deixe levar por eles. Me preocupo com você, otouto.
— Eu sei... — respondeu, baixo, contrariado.
— Da próxima vez, me ligue.
— Para me buscar? E sair deixando eles falando merda da minha vida? — Sasuke o encarou, indignado, e Itachi riu antes de segurá-lo pela nuca e encostar as testas.
— Para eu te ensinar a lutar direito e você não quebrar o nariz, irmãozinho tolo. Agora, vamos embora, seu namorado está esperando. E é bom ele poder dormir lá em casa, não vou servir de motorista para mais ninguém hoje a essa hora. Aproveita, toma vergonha na cara, e apresente-o direito para mim e para mamãe.
Naruto não era ruim, Itachi logo notou isso. Ele era tão idiotamente apaixonado por Sasuke que foi impossível Itachi não gostar do garoto. Sua mãe o adorou, divertindo-se toda vez que Sasuke corava na hora da janta quando Naruto lhe falava algo meloso ou constrangedor.
As brigas não voltaram a acontecer, porém Itachi fez questão de ensinar o mínimo que sabia de lutas para o irmão. Não suportava a ideia de Sasuke apanhando ou sendo ridicularizado, simplesmente não suportava!
Sasuke parecia um garoto devido à beleza andrógena, entretanto, ainda havia vários traços do organismo feminino que ele tentava a todo custo esconder: os seios que ele enfaixa, a cintura fina que ele disfarça com roupas largas, etc. A ideia de fazer um tratamento hormonal já havia sido levantada, mas Sasuke negara na época, e Itachi poderia jurar que a recusa era mais porque ele não queria dar despesas à família do que por falta de vontade.
Tentou até mesmo se juntar a Naruto para ter a confirmação, mas Sasuke era irredutível. Pelo menos, até as férias da escola, quando Sasuke tinha dezessete anos e foram à praia como pouco faziam.
Diferente dos demais, Sasuke não retirou a regata que vestia e permaneceu boa parte do tempo na areia. Itachi estava deitado sobre um tecido sob o guarda-sol quando Sasuke se deitou com a cabeça em seu abdômen. Automaticamente, as mãos de Itachi foram aos cabelos do mais novo em um carinho simples e fraterno que fazia Sasuke sentir acolhido, seguro.
— Naruto está no mar?
— Sim, aquele Dobe não vai sair de lá tão cedo. Mamãe está com ele. — Sasuke bocejou.
— Não quer ir lá?
— Vou ser a única pessoa a entrar no mar totalmente vestido. — Revirou os olhos.
— Sasu, se você quiser, eu pago o tratamento, já te disse — Itachi falou com cuidado.
— Não precisa, aniki.
— Sasuke, eu quero você feliz, então, se quiser, eu pago a cirurgia e o tratamento. Eu tenho um dinheiro guardado, mamãe também, e existe algo maravilhoso chamado cartão de crédito. Não vamos passar fome se fizer o tratamento, sabia? — ironizou e viu Sasuke deitar-se de lado para conseguir encará-lo — Se você quiser, se te fizer feliz, a gente dá um jeito, Sasu.
O silêncio preencheu o ambiente por alguns segundos, e Itachi permitiu que o irmão usasse aquele momento para refletir uma vez mais sobre a proposta.
— Depois das provas.... — Sasuke falou, de repente.
— O quê?
— Depois das provas. — Sasuke se levantou. — Assim que terminar o vestibular e essas coisas... pode ser?
Itachi sentou-se e sorriu, abertamente.
— Claro.
— Vai ser ótimo me livrar desses peitos, eles pesam. — Fez uma careta, e Itachi riu.
— Sabe, muita gente luta para ter peitos, otouto — brincou. — Agora, vai lá. — Indicou o mar. — Tenho outra camiseta na bolsa. Ninguém vai ligar de te ver de regata no mar, Sasu, e, se ligarem, já te ensinei a nocautear alguém, certo? — Levantou-se, piscando um olho.
Sasuke assentiu ao se lembrar das “aulas”, e a vontade de ir ao mais falou mais forte. Voltou-se para Itachi e caminhou até ele, abraçando-o de repente.
— Obrigado, por tudo. Desde sempre, você me apoiou, obrigado — sussurrou tão baixo que Itachi quase não ouviu.
Retribuiu o abraço e demorou a soltá-lo. Quando o fez, bateu dois dedos na testa do caçula, recebendo uma leve careta de dor como resposta.
— Vai lá, aproveite as férias.
Itachi observou Sasuke se distanciar, aproximando-se da água enquanto Naruto gritava algo e ia busca-lo no raso. Sorriu, ignorando qualquer pessoa na praia que pudesse estar olhando torto para o irmão. Sasuke estava feliz, e era isso que importava. Não importava o gênero, o nome, a orientação dele; Itachi era seu irmão mais velho e isso significava que, enquanto Sasuke precisasse dele, ele continuaria ali, tentando fazê-lo feliz e, se possível, garantindo que essa felicidade durasse para sempre.
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*imouto: irmão mais nova
*otouto: irmão mais novo
Reviews?
Curtiram?
Sou apaixonada por esse Itachi super irmão fofo ♥
Eu fiquei feliz com a fic, apesar de tê-la conduzido de forma diferente do que normalmente faço, ou seria só impressão minha?
Ah! O uso dos pronomes e dos nomes (Sasuko/Sasuke) mudaram de acordo com a decisão do personagem em se assumir. Ou seja, até ele falar para o Itachi que é um garoto, foi-se usado pronomes femininos; até ele decidir mudar de nome, foi-se usado Sasuko.