Royalty escrita por Bella Aurora


Capítulo 11
Tramonto (Pôr do sol)


Notas iniciais do capítulo

Hey there!!
Nossa que medinho né, ficar tanto tempo sem postar já bate um nervoso.
Mas, voltei, sei que eu acabei demorando e me perdendo os prazos, mas, pra compensar, esse capítulo ficou maiorzinho, e sim, eu vou fazer vocês sofrerem - pelo menos um pouquinho - no final.

Curtam o capítulo e vejo vocês nos comentários!!

Bissous,
ArU.



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O dia mal havia começado e eu já queria que ele acabasse. Voltar pra minha cama, entrar debaixo das cobertas e esperar a morte me abater, porque todos nós morremos um dia.

Mas, eu era apenas mais uma jovem saudável, que tem uma boa alimentação.

Bom tirando aquele sundae ontem. Fora isso, uma ótima alimentação.

É drama demais? Talvez, mas eu sempre gostei de um bom drama.

Mas a questão é, faltava apenas dois dias para o baile, eu tinha uma proposta de casamento para considerar, nenhum plano para resolver a lei a vista, e eu estava olhando livros de uma época em que eu achei que não havia livros.

Eu sempre pensei que o livro mais antigo datado fosse a Epopéia de Gilgamesh*, mas olhando para alguns dos papéis na minha mesa, tirados dos arquivos da biblioteca, eu começava a ficar com sérias dúvidas.

Eu havia passado a noite em claro pesquisando sobre a criação das leis, tentando achar uma brecha em todo aquele absurdo. Algo que me isentasse de ter que seguir a tradições, um erro de transcrição, na verdade, nesse estado em que estava qualquer coisa já seria útil.

Nada.

Não achei absolutamente nada.

Tudo bem, eu havia achado alguns arquivos com as leis dos herdeiros ao trono, mas nada que eu realmente pudesse usar para consolidar o meu caso.

Bati minha cabeça na mesa pensando que agora soava como se eu fosse culpada de alguma coisa e estivesse tentando provar minha inocência.

Que horror.

Os registros só mostravam situações em que, se o herdeiro casasse com um plebeu, e esse herdeiro fosse mulher, ela seria destituída de qualquer titulação que a relacionasse com a família real. E se o homem se casasse com uma plebeia, ela deveria ser titulada no mínimo uma lady.

Obrigada, Mako*.

Jordan ficou me olhando por cima dos óculos – que ele odiava, a propósito – e eu vi um canto de sua boca se erguer pra cima, o que era muito raro.

Ele havia me encontrado aqui por volta das 6 da manhã, sentada no chão ainda com um vestido, rodeada por vários livros abertos e um caderno onde eu anotaria as informações que conseguiria.

Agora eram 09h30min, e eu tinha apenas o título escrito, que eu havia passado por cima e sublinhado tantas vezes que eu duvidava que estivesse legível: “May she reign.”*

Ele não havia perguntado o que eu estava fazendo, na verdade não sei se ele ao menos se importava com a minha presença ali, já que tecnicamente a biblioteca era a sala que ele usava para cuidar das finanças do castelo.  Mas, nas últimas horas nós havíamos criado um sistema ótimo, no qual ele me entregava livros que encontrasse com leis e ainda me dava uma aula, de vez em quando perguntando o resultado de alguma conta para colocar no relatório.

Funcionava bem pra mim.

O fato é, depois de mais meia hora com a cara enfiada nos livros e bocejando de sono, Jonathan invadiu a biblioteca correndo com um sorriso sapeca no rosto. Ele me pegou pela mão e me puxou para que eu levantasse.

— Vamos, Bella, vamos! – ele gritava enquanto me arrastava pelo corredor a fora

Jonathan tinha os cabelos do papai e o sorriso gentil da mamãe, como se fosse a união das melhores partes deles, o que eu acreditava piamente. Por mais ele gostasse de bagunça e aprontasse bastante, ele tinha as mesmas características que faziam com que nossos pais fossem tão bons governantes. Gentileza, honestidade, abnegação e inteligência.

Por isso eu deixei que ele me arrastasse sabe-sê lá pra onde, segurando minha mão.

— Vamos pra onde exatamente? – perguntei cuidando para não tropeçar nele enquanto descíamos as escadas quase correndo

Ele me guiou pelos corredores e eu meio que deduzi para onde iríamos, mas resolvi perguntar mesmo assim.

— Mamãe mandou te chamar. Com premência. – ele fez careta e eu tentei pensar se ele sabia o que a palavra ‘premência’ significava.

Ele parecia radiante. Muito mais feliz do que eu lembrava já tê-lo visto e isso me fez sorrir também.

Eu ri.

— Ah é?! E você sabe por quê?

Ele continuou andando e anuiu com a cabeça.

— Eu vi. – ele disse rindo e por um momento eu pensei o que havia dado errado

Quando chegamos ao salão, eu suspirei.

Estava um caos.

Empregados andavam de um lado para o outro, com um passo apressado, alguns colocavam novas cortinas nas janelas que iam do teto ao chão. Uma das nossas empregadas mais antigas, Carolyn, estava no meio daquela zona, com uma planilha na mão, olhando ao redor enquanto gritava ordens. Ela deveria estar vendo o que ainda precisava ser feito.

Teríamos ainda dois dias até o baile, mas eu havia decidido de última hora trocar a cor da decoração, substituindo aquele amarelo mostarda, para um amarelo ouro, e também fazendo uma decoração mais suave, delicada e, bom, mais bonita mesmo.

Andei até Carolyn enquanto Jonathan corria de um lado pro outro querendo olhar e mexer em tudo ao mesmo tempo.

Eu havia tido uma boa infância, por mais que regrada. Havia conseguido brincar e também estudar, me divertir e seguir as regras que jogavam pra cima de mim. Eu sempre soube o que eu deveria fazer, e o que deveria deixar de fazer. E eu faria tudo de novo, milhares de vezes, pra poder ver Jonathan correr de um lado para o outro sem nenhuma preocupação além de ser criança.

Isso é algo que nem mesmo meus pais podem comprar.

— Onde está Martha, Carolyn? - perguntei parando ao seu lado

A mulher de quase 60 anos sorriu pra mim e tirou os óculos.

— Ela disse que preferia ficar nos bastidores e não se envolver com nada enquanto eu estou gritando. - ela fez careta e eu ri

— Ela deve preferir a cozinha a essa bagunça toda. - eu disse apontando para o salão

— Certamente. - ela riscou algo em sua planilha - Pelo menos na cozinha ela sabe que manda. - disse dando de ombros

Foi a minha vez de fazer uma leve careta.

Eu a tratava como minha família, sempre tratei. Era estranho e incômodo pensar que outras pessoas podiam mandar nela, se contrapor a ela.

Eu havia me apegado demais.

Suspirei e pensei se deveria ir até a cozinha ver como estavam as coisas com Martha, mas eu acabaria atrapalhando de qualquer forma. Não é como se eu soubesse muito sobre cozinhar afinal.

Andei pra fora do salão e, através das janelas de vidro do castelo, pude ver que o tempo parecia estável, com algumas nuvens e uma brisa gostosa, que acabou por me incentivar a ir até o estábulo, na parte norte do castelo.

— Ei Timmy. – chamei entrando na casa de madeira onde ficavam os cavalos do castelo

Timothy era um rapaz, um pouco mais velho que meu próprio irmão, que morava no castelo e ajudava com algumas coisas básicas pra retribuir a gentileza de meus pais. Ele é filho de um dos guardas, e quando sua mãe morreu durante um surto de febre amarela, meu pai se solidarizou que o garoto não deveria ficar sozinho em uma casa, sem ninguém para cuidar dele.

Desde então ele morava no castelo, e desde então ele tentava treinar minha égua branca, Trami. E, ahn, sem sucesso.

— Princesa. – Timmy disse aparecendo atrás de alguns fardos de feno

Ele era só um pouco mais baixo que eu, o que o fazia extremamente alto para sua idade, e os cabelos castanhos escuros já caiam descuidadamente por cima dos seus olhos. Ele tinha luvas cheias de terra e as barras da calça um pouco levantadas e enlameadas.

Do meu ponto de vista, ele nem deveria trabalhar, e eu tentei argumentar isso com meu pai, até ele me dizer que Timothy pedira alguma coisa pra fazer porque ele não queria ficar parado. Nunca vou conseguir entender bem isso.

Sorri pra ele porque sabia que se eu não fosse gentil ele acabaria negando o que eu iria pedir.

Coloquei uma mecha de cabelo pra trás da orelha e passei uma das mãos pelo meu vestido.

— Eu gostaria que você arrumasse Trami para um passeio. Se possível. – acrescentei sorrindo

Ele me olhou e cruzou os braços.

— Você ainda não tentou montar ela depois do incidente com a cobra. – ele disse e eu me senti estúpida por uma criança com quase a idade de meu irmão estar me repreendendo

— Eu sei. Mas eu realmente quero passear com ela. – ele estreitou os olhos e eu continuei – Em meia hora eu volto. Prometo.

Suspirando ele foi mais para dentro do estábulo, pegando a sela e indo até onde Trami ficava.

Ele voltou a trazendo e eu sorri.

Por mais que ela não costumasse gostar muito de ninguém, até mesmo de mim às vezes, ela era linda. Toda branca com apenas uma mancha amarela entre os olhos, que parecia um sol, daí que eu havia tirado seu nome; Trami como apelido, Tramonto, que significa pôr do sol em italiano.

Timmy me ajudou a subir nela, colocando minhas mãos da forma correta na cela – como se eu nunca tivesse andado – e pediu pra eu tomar o maior cuidado possível – como se eu não fosse ter, logo em seguida soltando minhas mãos e me deixando por conta própria.

Sorri ao passar a mão pela crina dela e dei um pequeno incentivo para que ela galopasse um pouco mais rápido, saindo do estábulo.

Guiei-a em direção contrária do castelo, mirando em uma pequena abertura de árvores que levavam a floresta mais próxima e um de meus lugares favoritos aqui.

Quando já havia me afastada consideravelmente do castelo, ainda segundo em direção a floresta por não ser tão perto, dei uma espiada para cima, olhando para o céu.

Nuvens negras começavam a se formar a nossa volta.


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Notas finais do capítulo

• Epopéia de Gilgamesh = uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial
• Mako = princesa japonesa que perderá o título em novembro de 2018, pois se casará com um plebeu.
• “May she reign.” = frase utilizada na série Reign, desejando vida longa à rainha regente.



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