Time Web escrita por Mabée


Capítulo 2
Capítulo 2 - Encontro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732537/chapter/2

Peony acordou sobre uma superfície um tanto estranha. Logo que se levantou assustada pelo som que seu despertador havia feito, percebeu que estava acima de suas anotações e alguns de seus post-its acabaram grudados em suas bochechas. Respirando fundo, passou as mãos pelo rosto e levantou-se da cama.

Por querer sempre estar um passo à frente dos outros, a morena passou a noite vasculhando qualquer arquivo que a internet lhe oferecera sobre o sujeito mascarado. Alguns sites diziam que era um assassino, outros diziam que era alguém que atrapalhava o trabalho da polícia, e poucos diziam ser um vigilante da cidade. Peony não acreditava em nada, queria suas próprias informações, então acabara juntando várias características que poderiam levá-la às suas próprias conclusões. A garota já se sentia preparada para o furacão de questões que a Sra. Carson lhe traria, então pegou todos os blocos e post-its colocando-os na mochila violentamente.

Após ter se trocado, colocando um suéter bege desbotado, calças cinzentas de camuflagem e botas pretas de salto baixo, a garota pegou sua mochila e colocou os livros e sua tarefa, sabendo que sua primeira aula seria de Francês. Antes de ir para a aula, a garota decidiu que passaria no editorial para ajeitar as novas anotações em sua sala.

Descendo as escadas enquanto ajeitava a franja com os dedos, a garota percebeu que seu pai já havia saído para o trabalho e deixado o prato sujo na mesa, como de costume. Peony levou-o até a pia e deixou cair um jato de água para que facilitasse o trabalho que ela teria depois. A garota esquentou água no micro-ondas e colocou-a dentro de uma garrafa, jogando três colheres de café solúvel para tomar no metrô.

Logo que trancou a porta da casa, encontrou a lixeira do vizinho caída e todo o conteúdo despejado em seu gramado. Sabendo que isso só podia ser obra de seu pai, Peony riu e seguiu para a esquerda, caminhando rapidamente até a estação de metrô mais próxima enquanto bebericava da garrafa de café. Assim que chegou à estação, adentrou o automóvel e sentou-se em um dos assentos vagos, colocando a mochila ao lado.

Algo que a jovem costumava fazer durante as viagens era reparar em pequenos detalhes para que o tempo passasse mais rápido. E então ela começou com seu jogo, procurando coisas diferentes em cada passageiro, até perceber que um senhor de chapéu segurava um jornal no colo, com a primeira página logo de cara para ela. E então, seus olhos esverdeados leram a manchete, cautelosamente.

"SEGURANÇA OU AMEAÇA?"

Abaixo, uma grande foto do mesmo sujeito que Peony mal havia ouvido sobre e já se familiarizava tanto. A imagem fora retirada de um dos vídeos que ela havia encontrado, nada profissional, e ela soube que o garoto que trabalhava no jornal da escola faria melhor.

Chegando na escola, a garota correu até o editorial tomando os últimos goles de seu café e deixando a garrafa em sua sala. Logo que saiu, encontrou a Sra. Carson sentada em uma das mesas coletivas dos redatores, analisando o jornal do dia. A garota sorriu, sentando-se ao seu lado.

               — Bom dia — cumprimentou-a e a mulher sorriu com os lábios finos.

               — Olá, Peony. Espero que tenha recebido meu e-mail.

               — Sim, recebi — afirmou, aguardando pelas perguntas.

A Sra. Carson colocou o jornal à sua frente, circulando a imagem e a manchete com um marcador vermelho e pingando o final, dando ênfase à ação anterior. Peony abriu outro sorriso, agora para si mesma, convencida de que sabia sobre o assunto.

               — A imprensa liberou apenas hoje cedo as informações sobre este sujeito — comentou, olhando para a jovem. — Há vários vídeos na internet, e todos já com uma grande repercussão na cidade. Eu imaginei que seria um ótimo tema a ser abordado.

               — Como seria? Mal se sabe de que lado essa pessoa está — retrucou Peony, curiosa.

               — Seria uma chance de vocês passarem a observar e dissertar, o que fazem de melhor — a mulher levantou-se da cadeira, fazendo um barulho de metal rangendo. — Você, Peter, Johann e os outros que são capazes poderiam se juntar para procurar. O que faz um jornalista são suas pesquisas!

               — Mas Sra. Carson…

               — E cá entre nós, Srta. Seagha, as descobertas têm um ganho — a mulher virou-se rapidamente e encarou-a por cima do ombro, como se fosse uma caixinha de surpresas. — Eu escreverei uma carta de recomendação para qualquer universidade que o mais capacitado me trouxer.

A partir daquele momento, Peony soube que terminaria todos seus próximos dias com uma xícara de café na mão e de olhos fixos à tela de seu computador enquanto os dedos vagavam pelo teclado, freneticamente. Suspirando, a jovem pegou sua mochila e deixou o lugar.

[…]

Logo ao fim do período de aulas e na entrada do período de almoço, Peony já se encontrava apressada, andando em passos rápidos pelo corredor. Ela não costumava conversar com muitos alunos, e tinha raiva ao ver pessoas parando no meio do caminho para cumprimentar umas às outras. Seu lado social nunca fora muito ativo, afinal.

Passando abaixo de uma grande faixa que levava o emblema da escola, a garota revirou os olhos vendo que se tratava do baile de boas-vindas. Para ela, era apenas um sábado desnecessário que era altamente reconhecido pelas pessoas ao seu redor, que morriam de ansiedade no dia anterior e que não calavam a boca na próxima semana, falando apenas sobre vestidos, pares, danças e o rei e a rainha. Nada disso importava realmente.

As portas do refeitório estavam abertas, e a fila para pegar o almoço se encontrava desde o corredor. Peony agradecia todos os dias por ser inteligente o suficiente para levar sua própria comida, então pegou sua maçã e alguns artigos que ela tinha de analisar. A morena prendeu uma mecha de cabelo que entrava em sua visão logo atrás da orelha, e com o movimento, levantou o rosto para olhar ao redor, e foi aí que seus olhos colidiram aos dele;

Harry tinha seus perfeitos olhos claros focados aos dela. Seu maxilar de fortes traços se encontrava tenso pelo sorriso que carregava nos lábios, provavelmente para as pessoas ao seu redor. O jeito que ele andava era como se não houvesse mais ninguém na escola, e nada lhe importava. Os fios castanhos rebeldes esvoaçavam prendendo-se em algumas das mechas grudadas em gel. Peony deixou um suspiro escapar pelos lábios e soube que o sorriso bobo devia ter voltado ao rosto, então pressionou a mão sobre a boca, voltando a olhar para baixo.

Por mais que já fosse o segundo ano que ela tinha a queda — ou talvez um precipício — pelo herdeiro Osborn, nunca havia trocado uma única palavra com ele. Errado, uma vez ela o agradeceu por pegar seu lápis que havia caído. Nada além disso. Peony voltou a encarar e percebeu um pequeno detalhe que não havia notado antes: o fotógrafo. O garoto que trabalhava no jornal… como era mesmo seu nome? Ele estava logo ao lado de Harry, conversando sobre algo que fazia com que os dois rissem.

Peony revirou os olhos e voltou a focar em seu trabalho. Ela não tinha tempo para baboseiras.

Retirou o celular da bolsa e passou a pesquisar sobre o homem mascarado. Ela já tinha algumas informações válidas: ele soltava teias pelos pulsos, tinha uma força inacreditável, usava roupas azuis e vermelhas e seus reflexos eram incríveis. Talvez até melhores que os dela. Peony continuou navegando pela página e encontrou uma foto tremida, provavelmente tirada por um cidadão. Em formato de pinça com os dedos, deu zoom na imagem e começou a analisar o sujeito com calma, focando em detalhes para adicionar à sua coletânea.

               — Ouvi dizer que esse cara é foda — soou uma voz atrás de si, fazendo-a pular no banco.

A morena virou-se para encontrar o tal fotógrafo, agora com susto no rosto indicando que estava envergonhado por tê-la assustado. O garoto tinha o topete castanho ajeitado para trás e vestia o moletom da escola, as mangas azuis cobrindo seu corpo. Peony umedeceu os lábios e revirou os olhos, não lhe dando tanta atenção.

               — Eu já vi melhores — observou a jovem, abaixando a tela do celular. — Esse cara é um iniciante. O que ele faz, aliás?!

               — Dizem que ele luta contra o mal — o fotógrafo pareceu um tanto frustrado. — As notícias difamam demais, eu acho que ele é incrível. Combater o crime, salvar pessoas…

               — Em roupas de elastano?! — Peony arqueou uma sobrancelha. — Isso é patético. Como é que você sabe tanto sobre ele?

               — Eu também faço parte do jornal. O e-mail que você recebeu eu também recebi. — O garoto hesitou na fala. Peony não havia encontrado muito sobre o tal herói, e se perguntou qual site o fotógrafo poderia ter acessado. Nesse meio tempo, o garoto jogou a mochila para a frente do corpo e vasculhou nela. — Hm… eu trouxe sua jaqueta, você esqueceu em casa ontem.

Entregando-lhe a jaqueta escura, o jovem tentou abrir um curto sorriso, mas tendo em vista a não-retribuição da parte da garota, desistiu.

               — Obrigada, Patrick — agradeceu a garota e ele revirou os olhos.

               — Pe-ter. — O fotógrafo corrigiu, mas a menina não pareceu se importar.

Antes que o garoto pudesse ir embora, uma ideia surgiu na cabeça da jovem; se ele sabia tanto sobre o herói, e ainda tinha uma câmera de alta definição para dar zooms pelas ruas, os dois tinham de trabalhar juntos. Só assim conseguiriam cobrir uma matéria. E ganhar a carta de recomendação.

               — Ei — chamou-o e ele voltou-se para ela, confuso. — Sente-se aqui.

Sem muitos questionamentos, ele o fez, dando a volta na mesa para ficar cara-a-cara. Peony esticou os braços sobre a superfície metálica e entrelaçou os dedos uns aos outros, sorrindo de canto, tentando parecer receptiva.

               — Você tira ótimas fotos — afirmou a jovem, indicando a mochila dele com a cabeça. — Posso ver sua câmera?

               — Hm, pode…? — Peter puxou o zíper e retirou a câmera nova, colocando-a de frente para a garota, sem mais delongas.

Peony sorriu para si mesma, vendo que as lentes eram removíveis e que conseguiria o máximo de zoom que fosse necessário. Tocando na máquina, virou-a e notou um letreiro pequeno: Peter Parker. Peter, Peter, Peter. Tentou não se esquecer, já que ela tinha todo o plano em mente e sua fraca memória poderia conduzir toda a estratégia para o lado errado.

               — É legal… Você sempre quis ser fotógrafo? — Perguntou a garota enquanto devolvia a câmera.

               — Não. É mais um hobby. — Peter sorriu de canto, guardando a máquina ao lugar anterior. — Ciências é minha área.

               — Você deve fazer todas as aulas na área, então, certo?

               — Ciências e matemática, todas avançadas menos estatística, porque estatística é uma merda — Peter riu e a garota se encontrou rindo também. — E você?

               — Eu faço inglês e estudos sociais — afirmou Peony, passando os dedos na franja para ajeitá-la. — Faço uma aula avançada de biologia também.

               — Agora entendo porque você é a chefe geral no jornal — comentou Peter, debruçando-se de braços cruzados sobre a mesa. O garoto ainda não sabia sobre a carta de recomendação.

É agora ou nunca, pensou Peony.

               — Sobre isso, a Sra. Carson andou me dizendo que eu tenho de sair um pouco do editorial. Ela acha que esse cara mascarado possa ser uma oportunidade para que eu vá atrás do jornalismo na prática — inventou ela, seguindo com o plano. — Já que eu escrevo, você tira fotos… o que você acha de trabalharmos juntos? Aliás, eu preciso conhecer as pessoas com quem trabalho todos os dias.

Peter pareceu um tanto congelado, encarando-a e piscando apenas algumas vezes antes de poder responder qualquer coisa. O garoto tremeu o corpo e arregalou os olhos, causando curiosidade na jovem. Nesse meio tempo, Peony teve mais um daqueles acontecimentos.

Todas as pessoas ao seu redor se encontravam desesperadas, um, e a parede do refeitório havia acabado de explodir, dois, dando espaço para que um homem de traje escuro adentrasse o local, três, com a mão virada para cima e chamas negras saindo de seus dedos. Quatro.

Logo que Peony voltou ao normal, começou a contagem até quatro, olhando para Peter, e soube que tinha de agir. Olhou ao redor rapidamente e notou um isqueiro na mesa ao lado. Pegou-o em questão de milésimos de segundos e subiu sobre a mesa, levando a chama até um dos sensores de incêndio, disparando água em todos ali presente. Em seguida, soou o alarme e Peter havia sumido.

Assim que sua contagem chegou ao quarto segundo, Peony escondeu-se debaixo da mesa, pegando as facas de atirar no bolso inferior da mochila e viu a parede do refeitório explodir. Pela fresta e pouco espaço de visão que tinha, percebeu que o homem havia adentrado o local, e parecia confuso. Suas vestes lhe pareciam familiares, mas a garota não sabia associar: uma túnica preta com detalhes dourados. Seu rosto coberto pelo capuz escuro.

Peony sentiu uma mão cobrir sua boca e tentou pegar no antebraço da pessoa, com intenção de jogá-la para frente e se livrar, mas algo estava tornando impossível o movimento. Enquanto ela se debatia em silêncio, para não atrair o homem estranho que caminhava pelo refeitório, virou-se e viu o sujeito que a segurava. O filho da puta mascarado.

Ele encarou-a e fez um sinal para que ela ficasse calma quando ele retirasse sua mão de sua boca, e ela assentiu, respirando fundo. Peter deveria estar aqui. Esse seria o momento ideal para ganhar aquela carta de recomendação, pensou. O mascarado se afastou e colocou o indicador sobre os lábios que ela não podia ver pela máscara, indicando silêncio.

               — Eu vou tirar você daqui — sussurrou e a garota franziu o cenho.

               — Não preciso de ajuda — escondeu as facas atrás de si. — Eu sei me virar.

Sem mais delongas, o sujeito esticou o pulso e disparou o material que Peony agora sabia dizer o que era: teia. TEIAS. Em seguida, as teias foram parar nos calcanhares do homem, derrubando-o e deixando com que o fogo negro apagasse de sua palma. Em rápidos movimentos, o mascarado jogou a mesa para o alto e pegou na cintura da garota, soltando outra teia para o buraco que levava ao pátio.

Peony não sabia descrever aquela sensação, mas ela sabia que se fosse possível voar, a sensação seria a mesma. A jovem olhava ao redor e cada vez mais estava perto do teto do colégio, preocupada com a altura e com os arquivos que deixara no refeitório. Assim que seus pés alcançaram o teto, ela percebeu que seus braços seguravam o pescoço do sujeito, mas não pareceu machucá-lo.

               — Fique aí, eu já volto — afirmou o mascarado. Sua voz era falha, não coincidia com a voz de um adulto.

               — Me tire daqui, eu sei me defender! — Exigiu a jovem, pisando duro e ele negou com a cabeça.

               — Estou fazendo meu trabalho — disse o sujeito, saltando do prédio enquanto esticava a teia.

Peony correu até a ponta e procurou pelo mascarado embaixo, não o encontrando. Olhando para o lado, encontrou a teia que já havia se soltado, então aproximou-se, olhando para o material e tocando-o, sentindo grudar entre seus dedos. Pasma com sua descoberta, se afastou e respirou fundo, pensando no sujeito que havia visto por baixo da mesa. A garota pegou o celular do bolso traseiro e abriu as notas, preparando-se para anotar algumas observações que havia feito sobre o sujeito mascarado, escrevendo "teia" e colocando em negrito.

Após alguns minutos, Peony percebeu que havia uma escada no canto direito, e sabia que precisava descer e lutar. Algo soava em sua mente, algo lhe dizia que ela tinha de fazer isso. A garota enfiou o celular no bolso traseiro e desceu as escadas rapidamente, chegando ao térreo e dando a volta na escola, na intenção de encontrar o buraco da explosão.

Esgueirando-se para enxergar a situação, percebeu que uma mesa voava em sua direção, então voltou para trás da parede para se proteger. Assim que a mesa saiu, sua sensibilidade retomou à origem de calmaria, e assim a garota adentrou o local, correndo para baixo do balcão, escorregando no piso molhado por causa dos sensores de fogo. Analisando todo o ambiente e procurando por sua mochila, a garota fez alguns exercícios rápidos de respiração e passou a raciocinar estratégias, montando um mapa mental do refeitório. Sua faca de bolso se encontrava na parte frontal, e a mochila estava jogada abaixo de um banco, mas Peony não tinha visão alguma da luta.

E então ela avistou o mascarado no teto, e ele pareceu notá-la, já que ergueu as mãos em confusão. Mas logo perdeu o foco, tendo uma porta de vidro batendo contra seu corpo. Peony aproveitou o momento para esgueirar-se e percebeu a pessoa encapuzada, caminhando na direção do herói. Ela tomou o momento como fuga, então correu até o banco em que se encontrava sua bolsa e pegou-a, abrindo e procurando pela faca de bolso e as facas de atirar que ela havia deixado cair. Felizmente, todas as três se encontravam intactas.

Peony levantou-se e assoviou para o sujeito de capuz, procurando atrair sua atenção. Ela logo percebeu que ele estava quase encostando a mão com chamas negras no rosto mascarado do outro. O homem levantou o olhar e a garota teve uma curta visão do que era sua face, e se assustou. Ela nunca havia visto nada parecido. Nenhuma foto dos acidentes que ela acompanhava em noticiários chegava perto daquilo.

O homem tinha o rosto fino e totalmente pálido, com olhos negros como a escuridão de uma noite sem estrelas. Era difícil tirar o olhar dele. Algo prendia todo o foco da garota, como se fosse… mágica. Peony chacoalhou a cabeça, tendo em mente que precisava fazer algo a respeito. Talvez até mostrar para aquele sujeito quem era o verdadeiro herói.

               — O horário de almoço acabou de começar, cara — Peony cruzou os braços, escondendo as facas. — Por que você não volta durante as aulas de cálculo?

O homem levantou a mão e as mesmas chamas negras voltaram a sair pelos dedos. Levando o braço para trás enquanto caminhava na direção da garota, o sujeito acabou atirando a chama como se fosse uma bola de queimada. O problema era que Peony mandava bem na queimada. A garota desviou, sentindo o calor raspar em suas bochechas, mas sem encostá-la. Assustada, abriu as facas e separou-as entre os dedos, deixando a primeira mais solta e propícia à cair diretamente no peito do homem. Com agilidade, atirou-a e observou-o desviar.

Peony atirou a segunda faca, que cortou a lateral da túnica do homem, mas acabou por cair no chão também, assim como a terceira, que passou sobre a cabeça. Ou sua mira andava péssima ou o homem era ótimo nos reflexos. Logo, ele estava à apenas alguns passos dela, e a garota abriu a faca de bolso, ajustando-se em posição de ataque, preparada para o que viesse. Seu estômago estava torcido em um nó, mas ela sabia que nada de mal lhe aconteceria, então desviou da segunda bola de chamas negras e passou por baixo do braço do homem, tentando cortar suas costas.

Ele desviou, saltando para frente, e virou-se com fúria na expressão, acentuando os olhos profundos e causando mais tensão na jovem. Sua mão fina e com unhas longas e amareladas segurou o pulso dela, trazendo-o para trás na intenção de torcê-lo, mas Peony fora mais rápida e acabou dando-lhe uma joelhada na cintura, fazendo-o cair em um joelho. Quando a garota fora enfiar a faca, ele levantou a mão novamente, acendendo as chamas e levando-as perto de seu rosto. Peony não tinha muita escapatória, a partir dali, todos seus movimentos seriam arriscados. Assim que trocou a posição para mais um ataque às cegas, ouviu uma voz soar atrás de si, chamando a atenção do sujeito que a segurava:

               — Ei, conde Drácula, acho que você se perdeu no caminho da sepultura.

Peony mal teve tempo de revirar os olhos com o comentário, já sentindo uma teia envolver sua barriga e jogá-la para longe do encapuzado. A garota bateu a cabeça contra o balcão de comida, ficando um tanto zonza. Assim que sua visão se ajustou à realidade, percebeu que o mascarado arrastava mesas com as teias e atirava-as contra o homem, fazendo-o recuar cada vez mais, até que um momento ele fora atirado tão longe para fora da escola, pelo mesmo buraco de explosão que fizera.

A garota se levantou e saiu em disparada atrás do sujeito, procurando-o do lado de fora. O mascarado acabara ao seu lado, parecendo tão confuso quanto ela. O homem pálido havia sumido, deixando apenas fumaça negra no local onde havia caído, sem qualquer rastro de que esteve ali anteriormente. Peony afastou-se e percebeu algo que precisava fazer, então correu até a mesa em que estava sua bolsa, procurando pela mochila azul de Peter, sem sucesso.

               — Droga. — Peony sentou-se no banco, colocando as costas na quina da mesa e olhando para cima, decepcionada.

               — O que você está fazendo? — Perguntou o mascarado, aproximando-se da jovem.

Tirando o celular do bolso, percebeu que estava sem bateria, e nem assim poderia tirar uma foto do herói. Onde estava Peter? Inferno. Peony o encarou sem muita expressão, seu peito movendo-se com força devido à respiração que voltava ao normal.

               — Lamentando minha vida — afirmou ela, cruzando os braços enquanto erguia o cabelo na nuca e abanava a região suada.

               — Não podemos ficar aqui. Se nos virem, vão achar que nós que fizemos tudo isso — o herói que mais parecia um garoto falando aproximou-se dela, oferecendo-lhe a mão.

A garota virou o rosto, abrindo o olhar mais cruel que tinha em seu estoque.

               — Não aja assim agora. Eu estou falando sério — afirmou ele, esticando ainda mais o braço.

               — Tanto faz — a garota aceitou sua ajuda, pegando em sua mão coberta pelo tecido grudado ao corpo e levantou-se, correndo para fora do refeitório.

O herói esticou o pulso se soltou a teia, puxando-a e acabando por atirar os dois para cima. Quando Peony menos esperava, já estava longe da escola, voando pela cidade nos braços fortes de um desconhecido. A vista era incrível, ela não podia negar. Suas mãos estavam presas em seu pescoço, mas os olhos estavam fixos abaixo, nos carros seguindo seus caminhos pelas ruas movimentadas e pessoas caminhando pelas ruas, atrás de seus rumos. Peony suspirava cada vez que o garoto trocava de teia, armando uma rápida queda no ar. Seu medo de cair era grande, mas não a impedia de curtir toda a paisagem.

Logo, o herói estava longe suficiente da escola e parou na frente do parque Yellowstone. Quando as pontas das botas da garota pousaram sobre a o gramado, Peony deixou um arfar escapar pelos lábios delicados, soltando-se lentamente do pescoço do garoto, um tanto tonta pela viagem no ar.

               — Minhas coisas ficaram na escola — afirmou a garota. — Eu preciso voltar de qualquer modo. Eles desconfiarão se eu estiver aqui e…

               — Você já fez demais por hoje — o herói colocou um fim na sua frase, soando um tanto irritado, mas logo sua voz tomou um tom mais suave. — Onde aprendeu a lutar daquele jeito? Foi insano.

A garota não pôde evitar o sorriso que escapou de todo aquele muro que ela havia construído dentro de si. Toda vez que alguém reconhecia suas habilidades, algo dentro de si parecia se iluminar. Ela não estava tão preocupada por ser o herói quem havia visto parte daquilo que sabia fazer, até porque ele não a conhecia. O sorriso ainda pairava sobre seus lábios quando ela percebeu que deveria estar brava com ele, pelo fato de tê-la afastado da luta. De repente, a garota franziu o cenho e torceu a boca. Sua cabeça ainda doía por culpa da colisão anterior.

               — Quem te deu o direito de me tirar da luta, de me prender no teto da escola e de me jogar contra o balcão do refeitório? — Peony apontou o dedo para o peito do garoto, acusando-o.

               — Com licença, eu estava salvando a sua vida — o herói cruzou os braços enquanto a jovem ria de deboche.

               — Eu saberia salvar minha vida tranquilamente sem sua ajuda — afirmou, revirando os olhos. — Você acha que só porque veste um traje com máscara tem todo o poder do mundo? Grande defensor do Universo.

               — Oh, desculpe então — o herói alterou a voz, soando irônico. — Na próxima vez me avise para deixar você morrer queimada. Já que é isso que você quer…

               — Céus, você é tão irritante — disparou Peony caminhando até a entrada do parque, virando-se em seguida. — Aliás, já que você fez questão de foder meu dia, eu ganho o direito à uma pergunta.

O garoto cruzou os braços acima do peitoral, apertando o moletom azul. Peony parou para reparar que seu traje era, na verdade, ridículo. Moletom, calças largas, uma touca e óculos de natação pretos. Ele pareceu inquieto, batendo o pé sobre cimento.

               — Eu não vou revelar minha identi…

               — Eu quero saber seu nome de super-herói, seja lá o que é isso que você é — a garota cortou-o, pegando de surpresa.

Esticando os dedos para parecer legal, o garoto soltou um riso abafado.

               — Sou o amigo da vizinhança — chacoalhou as mãos. — Homem-Aranha.  

Peony mordeu o lábio enquanto o encarava por cima do ombro, tentando não parecer tão rude ao rir em sua frente.

               — Não tinha nada menos óbvio? — Disse a garota ao se virar para frente, rindo.

Virando-se para trás novamente, ainda com o riso nos lábios, a garota percebeu que já estava só. Olhando aos arredores, procurando o sujeito vestido de vermelho e azul, mas acabou falhando. Torcendo a boca, pegou o celular do bolso traseiro e anotou o que seria a manchete para o jornal da semana: "HOMEM-ARANHA, AMIGO DA VIZINHANÇA".


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Time Web" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.