Acordei em uma espécie de barco, minhas roupas estavam limpas e meu amuleto de chacal se encontrava em meu pescoço. Um estranho homem remava a barca, me levantei com cuidado, mas ele não notará minha presença, como se eu não estivesse ali. Olhei em volta, não navegamos por aguá e sim por almas que gritavam e pediam ajuda, se ouvia gritos e barulhos horríveis ao decorrer do caminho, tudo era escuro, não havia luz, criaturas com olhos amarelados e grandes garras surgiam do mar de almas e as arrastavam para o fundo. Havia mais uma pessoa no barco, essa porém podia me ver e ouvir.

—Onde estamos?_Perguntei

—Estamos no mundo dos mortos._Ele parecia calma, uma senhora que aparentava ter seus oitenta anos, ela segurava um amuleto que reconheci logo de cara, era o olho de Horus.

—Como assim?_Perguntei assustada

—Se você está aqui é porque com certeza está morta minha querida._Sorriu ela gentilmente.

—Mas...e quem é esse que homem?_cochichei

—Ele é o barqueiro Aken, ele é o responsável por levar as almas até Osíris, para enfim serem julgados. 

Senti o medo corroer minha espinha, não parecia ser um pesadelo, e se fosse estava tudo muito real.

Vi de longe um grande portão feito de bronze, ao redor haviam varias criaturas que mais pareciam demônios, haviam serpentes enormes, elas se aproximavam do barco procurando por algo, com certeza comida, uma se aproximou de mim e por um instante ficou me olhando, era enorme e seus olhos eram de um vermelho rubi.

—Não fique com medo, elas não vão lhe fazer mal, seu amuleto a protege._Ela apontou para meu colar._Protegida por Anúbis hã?! Que sorte a sua querida._Ela sorriu.

A serpente se retirou e voltou novamente para os portões. Haviam muitas criaturas, passamos por cerca de doze portões ao todo, conforme nos aproximávamos do ultimo portão o barqueiro anunciava a chegada.

Entramos em uma espécie de templo coberto por areias brancas e esculturas de todos os deuses do Egito, havia uma grande escultura de Osíris na entrada, um tapete vermelho sangue se estendia por toda a extensão de um enorme corredor.

A frente se via um gigantesco portão feito de ouro, passamos por ele e então entramos em um salão com cerca de quarenta e dois tronos, haviam quarenta e dois senhores com longas barbas escuras assentados.

—Esses são os juízes._Cochichou a senhora.

—Juízes de que?

—Você precisará convencê-los que não cometeu nenhum dos quarenta e dois pecados.

Fiquei em choque por um momento, eu estava mesmo no mundo dos mortos e seria julgada, mas eu não conhecia nada sobre as crenças egípcias, não sabia o que fazer, a única coisa que lembrava era que se meu coração não fosse verdadeiro e bom, Ammit o devoraria “que fim horrível”, pensei. Olhei ao redor para verificar se havia como escapar daquele lugar, mas nada ali fazia sentido.

Quando chegamos próximo aos juízes, tentei me esquivar por uma estatua de Thot, cautelosamente me enfiei atrás dela e corri até a outra parte do templo, avistei uma outra entrada e segui por ela. O caminho era diferente do templo, tudo era absurdamente escuro, apenas algumas pedras vermelhas na parede iluminavam o caminho estreito, ao fim avistei uma estatua grande de um homem forte e com cabeça de chacal, sabia que era Anúbis. Andei em volta da estatua, analisando cada detalhe que fora esculpido, de repente ouvi uma voz feminina vinda detrás de uma cortina de linho branco.

—Ele não é incrível?!

Uma linda mulher com um vestido branco com longas asas multicoloridas saiu detrás da cortina. Sua beleza era extraordinária, algo sobre humano, seus olhos mudavam constantemente de cor, ora azul, outrora verde, sua voz era suave e ao mesmo tempo firme.

—Quem é...você?_Perguntei com receio, ela deve ter percebido, pois sorriu gentilmente.

—Não tenha medo de mim Maya, sou Néftis, a mãe de Anúbis.

—Você é mãe de Anúbis?_Me espantei, afinal como uma deusa como ela haveria tido um filho tão insuportável._Me desculpe em dizer isso, mas vocês não se parecem em quase nada.

—Não se deixe enganar pelas aparências Maya, Anúbis parece ser um deus ruim, mas isso tudo é por conta de seu legado, ser o deus da morte, pesando constantemente o coração dos humanos não é algo fácil, e diferente de outros deuses, Anúbis não tem permissão de sair do mundo dos mortos._Ela sorriu

—Eu não...não sabia disso, na verdade eu não sei de muita coisa, não consigo entender até agora o porque essas coisas estão acontecendo._Dei tapinhas em minha cabeça, o que fez a deusa rir.

—Fique calma tudo se explicará, você tem algo muito precioso dentro de si, sua coragem e determinação a trouxeram até aqui.

—Creio que talvez a senhora esteja enganada a meu respeito, sem ofensas, eu não tenho nada de precioso em mim._Respondi com tristeza.

—Você tem sim, só precisa por em prática, sabe Anúbis poderia ter escolhido outra pessoa para proteger, mas ele viu algo em você, não apenas porque você foi escolhida por Osíris para deter Seth, mas porque você tem algo especial.

Meus olhos se arregalaram.

—Como sim escolhida por Osíris? E que historia é essa de deter Seth? Sou uma simples mortal Néftis, me desculpe, mas vocês nem me perguntaram se eu queria deter esse tal deus ai._ Eu já estava me descabelando, foi quando Néfits pegou minha mão e disse:

—Querida, um passo de cada vez, primeiro você precisa saber quem você é para depois saber o que fazer, fique calma e deixe que seu instinto te guie.

Então ela abriu suas enormes asas coloridas e voou até não ser possível enxergá-la mais. Olhei a minha volta, não havia saída daquele lugar, até que vi meu amuleto, o toquei e pensei em como seria bom se Anúbis pudesse me tirar dali, então de repente um chacal surgiu num salto me assustando, ele me olhou e começou a andar em direção a uma pequena passagem, parou e balançou as orelhas.

—Você quer que eu o siga? Fala serio!

O chacal rosnou._Ok! Eu vou com você não precisa ficar nervosinho.

Passamos pelo pequeno caminho, até chegarmos a uma enorme sala, onde se encontravam um homem forte e alto, com cabelos grisalhos, sua roupa era como as vestes dos antigos faraós, porém muito mais bonita e toda sua decoração parecia ser feita de ouro, havia uma coroa em sua cabeça, ao seu lado havia um babuíno e do outro um chacal. Ao me notar ele disse:

—Bem vinda, foi fácil achar o caminho querida?!_Ele soltou um riso alto, o que me deixou bem irritada.

—A sim, claro, se não fosse por seu cachorrinho de estimação eu com certeza não teria achado!._O homem ficou me olhando com uma expressão gentil.

—Me desculpe criança, acho que deveria tela trazido para cá de uma forma menos dolorosa, mas não havia outro jeito, você é mais teimosa que sua mãe._Ele sorriu. Então percebi que ele deveria ser um dos deuses e que provavelmente conheceu meus pais.

—Qual deles é você?._Perguntei curiosa.

—Eu sou Osíris._Ele se colocou de pé mostrando seu majestoso porte físico, estranhamente eu o reconhecia de algum lugar.

—Por favor, o senhor disse que pareço minha mãe?! Quem é ela?

—Me desculpe Maya, mas seu tempo aqui está acabando, se ficar por mais um segundo você realmente morrerá e não cumprirá seu destino.

—Só me diga, por favor!

Assustada, acordei em um pequeno quarto de hotel, havia lenços sujos com sangue e várias ervas, ao meu lado, dormindo em uma cadeira estava Anúbis, com toda sua beleza, “com certeza ele me salvou”, pensei, “mas então tudo aquilo foi só um sonho?”, então vi o amuleto do chacal ao meu lado, foi ai que dei conta de que meu amuleto havia ficado na casa dos Abubakar então aquele deveria ter vindo comigo do mundo dos mortos.