Sempiterno escrita por Sarah


Capítulo 3
3º Ano




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Remus estava acostumado demais com as transformações para realmente se revoltar por causa delas a cada lua, mas daquela vez parecia um pouco mais injusto do que normalmente. A lua cheia havia caído na véspera do seu primeiro final de semana em Hogsmeade, e todas as esperanças que ele estivera mantendo sobre ter uma transformação tranquila, que o permitisse sair da enfermaria a tempo de seguir com os amigos para o povoado, mostraram-se completamente estúpidas.

Aparentemente o fato de ele ter estado nervoso sobre aquilo, ansioso por manter-se sob controle, apenas atiçara o ânimo do lobisomem. Alguma coisa tinha acontecido com as articulações do seu joelho esquerdo, e os cortes sobre seu peito pareciam ainda piores do que de costume.

Remus sequer chegou a perguntar para Madame Pomfrey se ele poderia ir para Hogsmeade, mas pela forma como ela se manteve excessivamente gentil durante toda a manhã achava que a enfermeira havia intuído a pergunta não dita. A hora do almoço já tinha ficado para trás quando os emplastos que ela colocara em seus machucados finalmente lograram fechar os cortes até um nível aceitável, e Remus resolveu que, uma vez que havia perdido o passeio, ao menos poderia aproveitar a onda de simpatia da curandeira para voltar mais cedo para o dormitório.

Quando pediu para retornar para a torre da Grifinória, Madame Pomfrey fez uma careta de incerteza, enrrugando ligeiramente o nariz.

— Eu realmente gostaria de ver esses ferimentos curando melhor antes de deixar você ir.

Por favor.

Sirius costumava dizer que ele podia conseguir qualquer coisa quando soava daqule jeito. Obviamente era um exagero, pois Madame Pomfrey jamais o teria deixado ir para Hogsmeade igual a todos os outros do seu ano, mas parecia funcionar bem o bastante com coisas pequenas, e ela o liberou depois de fazer um curativo sobre suas costelas e lançar um último encantamento sobre o seu joelho.

Alguns corredores depois de deixar a enfermaria Remus teve que se reclinar sobre o busto de uma bruxa especialmente feia para recuperar o fôlego. Seu joelho doía como se os ossos estivessem triturados, mas se voltasse para a ala hospitalar Madame Pomfrey nunca mais o liberaria tão facilmente, então seguiu em frente.

Ainda demoraria algumas horas para que James, Sirius e Peter retornassem, e Remus se forçou a não pensar nos três além dos muros da escola, ou sobre o tipo brincadeira que eles poderiam estar fazendo. Em vez disso concentrou-se no fato de que teria o dormitório apenas ele por algum tempo, e essa seria uma mudança agradável. Poderia colocar seus discos trouxas para tocar sem que Sirius implicasse com suas músicas preferidas, e não precisaria se preocupar sobre parecer doente por vestir pijamas no meio do dia. Talvez também pudesse tentar encontrar a revista com garotas nuas que Peter surrupiara durante as últimas férias de natal, e que ele ficara com muita vergonha para folhear na frente dos outros. O pensamento esquentou suas bochechas, mas pareceu bom — não tanto quanto cerveja amanteigada e a promessa do Três Vassouras, mas um alento.

A sala comunal da Grifinória estava mais vazia do que nunca, e ele se apressou ao cruzá-la porque o fato pareceu tornar o buraco em seu estômago ainda maior. Em compensação teve que subir as escadas lentamente, degrau por degrau.

Quando chegou à porta do dormitório todos os seus planos para aquele resto de tarde ruiram. Aparentemente alguém lá dentro já tinha colocado suas músicas para tocar. Ao entrar, encontrou James, Sirius e Peter aninhados na sua cama, em volta de um amontoado de doces.

James foi o primeiro a perceber sua presença, e quando ele sorriu seus dentes estavam sujos de chocolate.

— Hey, Moony! — ele cumprimentou, e, como sempre acontecia, o novo apelido fez Remus sorrir. — Sirius já estava indo te buscar na enfermaria.

— Eu estava esperando usar bombas de bosta para distrair Madame Pomfrey e te sequestrar de lá, mas você acabou com a diversão! — Sirius declarou, porém no instante seguinte estava de pé, ainda sorrindo, mas obviamente um pouco preocupado também. — Você está bem?  — Dessa vez a pergunta veio em um tom ligeiramente mais sério, e Remus viu James erguer-se na expectativa de ouvir sua resposta.

Remus balançou a cabeça em um aceno positivo.

— Tudo bem. Não foi tão ruim — falou, tentando soar indiferente.

No entanto, depois do esforço de subir as escadas seus joelhos não pareciam exatamente confiáveis e foi um alívio quando Sirius passou o braço por sua cintura e o guiou até a cama. Peter abriu espaço entre os pacotes, e o mundo pareceu melhor quando Remus não precisou mais se sustentar sobre as próprias pernas. Sirius subiu na cama também, deixando-o aconchegado entre ele e James, e Remus finalmente pode apreciar a profusão de embalagens de doces a sua frente.

— O que vocês estão fazendo aqui? Quer dizer, vocês não foram para Hogsmeade?

— De onde você acha que veio tudo isso? — Peter questionou, um saquinho de uvas passas cobertas com chocolate em suas mãos.

— O passeio só deveria terminar mais tarde. Aconteceu alguma coisa? — Ele fez uma pausa desconfiada. — Vocês não incendiaram o Três Vassouras, não é? Eu ainda quero conhecer o lugar.

Os três riram, e Peter negou.

— Nem chegamos a ir no Três Vassouras.

— Deixamos para fazer o passeio integral da próxima vez, com você — Sirius acrescentou, Ramones tocando atrás de suas palavras, e Remus se tornou bastante consciente de que estava corando.

 — Vocês não precisavam... — começou, mas James logo o cortou.

— Sirius estava sendo um inferno. Ele iria enlouquecer se não chegássemos aqui antes de você sair da enfermaria.

Sirius bufou e agarrou uma almofada, vermelha e bordada com o brasão da Grifinória, lançando-a em direção a James, que desviou do ataque por pouco.

 — Como se você não tivesse sido o primeiro a dizer que não iria no Três Vassouras sem o Moony!

Antes que percebesse, Remus estava rindo. Os cortes em seu peito doeram terrivelmente por causa do gesto, e ele teve que passar a mão pelo torso na tentativa amenizar a dor, mas a risada ainda permaneceu no ar por algum tempo, e até aquela dor parecia agradável. A angústia que ele estivera sentindo até ali desapareceu como se nunca houvesse existido.

— Imaginamos que você não ia se importar se a gente passasse na Dedosdemel, no entanto — Peter disse, sorrindo também, e lhe lançou um pacote de confeitos de caramelo.

— Obrigado — falou, esperando que eles entendessem que ele agradecia por muito mais do que apenas pelos doces.

Pela forma como James lhe sorriu, fazendo o próprio ar ao seu redor tornar-se mais quente, Remus achou que ele compreendia.

— Nós vimos a Casa dos Gritos também — Sirius informou. — Ela parece legal.

Por um instante Remus não soube como reagir à imagem dos seus amgios encarando a casa onde ele esse transformava em monstro uma vez por mês, mas enfim decidiu que seria tolice se preocupar com aquilo quando os três simplesmente não se importavam. Deu de ombros e sorriu

— Isso é porque você não viu o que eu fiz com ela por dentro — disse, por fim, como se transformar-se em um lobisomem fosse apenas mais uma travessura.

Eles riram, e então foi tudo sobre doces por algum tempo.

O chocolate da Dedosdemel era a coisa mais gostosa que Remus já provara na vida. Sirius ajeitou-se, e embora não houvesse realmente espaço para os quatro na sua cama Remus conseguiu aconchegar-se melhor, meio recostado em Sirius, uma perna pendendo sobre o colo de James. O som do seu toca disco se confundia com as vozes de James e Peter enquanto eles discutiam sobre a vassoura que tinham visto na vitrine de uma loja no povoado bruxo. Sirius estivera usando o seu travesseiro como apoio, e a fronha tinha o cheiro dele agora, e era bom.

Remus sentiu-se arrastar pelo cansaço da lua cheia e pelo conforto de estarem daquela forma, tão juntos como se fosse um só — ele podia sentir a respiração de Sirius, Peter resvalava em sua perna cada vez que se inclinava para pegar um chocolate novo, e James era cálido ao seu lado. Tentou lutar contra o sono, mas soube que era uma batalha perdida quando as mãos de Sirius escorregaram para o seu cabelo em um carinho suave.

Seu último pensamento antes de adormecer foi que nada no mundo poderia ser melhor do que aquilo.


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