— Muito interessante, delegado Jucá. Você acabou de dizer um caso para um padre ou pastor resolver, não um inspetor de polícia. Pensando melhor, o que cê tem pra mim.

— Um homem chamado Maurício, 40 anos, solteiro, moreno escuro, trabalha como caseiro há poucos anos, mas quando era mais jovem trabalhou com essa mesma família numa mansão em Fortaleza. O homem, de certa forma, é respeitado pelos patrões. Agora vem a novidade: na casa existem apenas três pessoas. Uma mulher e seus dois filhos.

— Como uma mulher cuida de um rancho como este?

— Não sabemos. Acredito que seja da família, mas o relato da empregada foi preciso. Parece que ela é viúva há poucos anos e saiu da capital para vim morar aqui. Ela é oriunda daqui.

— Parece que não tenho outra escolha a não ser acabar com a festa do senhor Maurício, não é mesmo? — Ronaldo teve que entrar no caso. Seu histórico de casos envolvendo sequestros era longo, foi notável quando teve êxito em dois casos famosos que veio a público no estado e no país. Ele e seu ajudante, o policial civil João, foram transferidos para essa cidade menor, mas com um salário maior, a fim de ajudar a escassa polícia que lá existia.

Os dois se aproximaram da casa e ficaram atrás de um jipe que pertencia à Júlia.

— Tentarei iniciar um diálogo enquanto você me dá cobertura. Segundo o delegado, há duas saídas na residência. Vou pela frente enquanto você e os PMs vão por trás.

— Sim, inspetor — concordou João.

A polícia cercou toda a residência, portanto não havia como Maurício escapar ileso. O suspense surgiu no ar com uma atmosfera tal como nos filmes, além do silêncio angustiante... Tal silêncio dava espaço para o vento e as folhas das árvores produzirem barulhos audíveis.

Ronaldo caminhou, sempre com sua pistola, até o degrau de madeira que dava para a entrada. Escutou passos dentro da residência que sugeriam três ou quatro pessoas subindo uma escada. O inspetor era experiente o suficiente para adivinhar quantas pessoas ali estavam somente escutando os passos. Caminhou pela larga varanda até abrir a porta vagarosamente. Ele conseguiu entrar no vestíbulo e logo em seguida no lobby. O ambiente era bem pesado, com mobílias bem retrógradas, pareciam do século passado, talvez seja e a família não se desfez, vai saber. O certo era que a casa transmitia uma sensação de desconforto, porque, apesar de ser espaçosa por dentro, as paredes esverdeadas e os papéis de parede davam a sensação de que aquilo tudo iria se fechar. As luzes incandescentes contribuíam com a sensação de sufoco, e Ronaldo sabia exatamente o que era estar num ambiente sufocante... Um claustrofóbico saberia sim.