(NOVO LINK! Leia as notas da história!) escrita por Acquarelle


Capítulo 11
CAPÍTULO 3, Epi.2: A marca que você deixou


Notas iniciais do capítulo

Ayase se mostrou imune às toxinas do aglomerado. Isso sequer é possível?
Um dos principais segredos da sereia é revelado, e também um novo poder.
................ ★✮☆✯★ ................
Outro capítulo que não tive uma boa ideia para título...
Provavelmente vou alterá-los quando tiver oportunidade.



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A dupla encarava Ayase com curiosidade.

O que quer que a garota tivesse feito, era no mínimo surpreendente.

Rashidi, que até o momento observava tudo em silêncio, estava prestes a bombardear Ayase com perguntas quando algo lhe chamou a atenção.

— O que… aconteceu com seus braços?

— …?

Sempre que Ayase absorvia alguma toxina, sua pele gradualmente tomava a cor do composto mais forte do veneno. Daquela vez não seria diferente, e não demorou para que seus braços e pernas tomassem um tom vívido de azul.

Ayase tomou fôlego, limpando as lágrimas de seu rosto.

— Isso é efeito colateral, eu acho. Está tudo bem.

— Não estou preocupado… Só quero saber o que aconteceu.

— Eu absorvi o veneno no corpo do Ryuu.

Void e Rashidi trocaram olhares indiscretos.

O rapaz de armadura foi o primeiro a perguntar.

— Absorveu?! Como assim?

— Eu não sei… Todos de Atlansha fazem isso… faziam isso.

Após se corrigir, a sereia abaixou a cabeça.

Sua resposta saiu ainda mais baixa dessa vez.

— Somos imunes a qualquer tipo veneno.

— I-imunes? Sério isso?!

Rashidi finalmente pareceu demonstrar algum interesse na sereia.

Ayase estranhou aquela curiosidade repentina, mas não quis questioná-lo.

— Sim. Isso é bem comum, não é? Mesmo em Atlansha existiam várias espécies que eram imunes a venenos. Não é tão estranho assim...

Ela encarava Rashidi com uma expressão confusa.

— Na verdade…

Void começou a falar, mas foi interrompido por Rashidi.

O vesper parecia estranhamente alterado com a situação.

— Seria normal se essa coisa fosse do seu planeta ou algo assim.

— Eu poderia citar pelo menos 28 espécies fora de Atlansha que também são imunes a qualquer tipo de veneno, mas eu não perderia o meu tempo precioso com você.

Ryuuki se intrometeu na conversa, impaciente.

Ele ainda estava se recuperando nas mãos da sereia.

Rashidi apenas lançou um olhar irônico para o dragão.

— O caso não é esse, lagartixa...

— Lagartixa?!

Ao ouvir o insulto, Ryuuki tenta sair das mãos de Ayase, mas a garota o segura.

Uma expressão séria e silenciosa estampava aquele rosto corado e cabisbaixo.

Ela não pretendia deixar Ryuuki se expor a mais perigos.

Não por causa dela.

— Milady?!

— ...

— Oh, tem razão. Lagartixas possuem patinhas, não é? Acho que eu deveria te chamar de cobra ou verme azul. Do que você prefere ser chamado?

— Estamos tentando manter uma conversa séria aqui…

O murmúrio de Void fez com que Rashidi finalmente voltasse ao assunto.

Ele coçou a cabeça, bagunçando ainda mais os seus cabelos brancos.

— Onde estávamos? Ah, sim. Sobre as toxinas.

Ele volta a observar a garota, que agora acariciava o dragão marinho.

A forma como os dois ficavam juntos a todo momento era… irritante.

— A toxina dos aglomerados é muito mais forte que qualquer veneno existente. Mesmo dos monstros-escorpiões que vivem em Mifejhe, dos reptilianos de Kolasurr e das águas vivas bioluminescentes de…

O rapaz deu uma breve pausa, e sua expressão mudou para um sorriso sarcástico.

— Ah, esquece. Elas eram de seu planeta, não?

— …

— Dentre os venenos que citei, alguns sequer possuem um antídoto por serem tão fortes. Uma vez na corrente sanguínea, mesmo um mediador sofreria o dano... Vai me dizer que você também seria imune a eles?!

Ayase ainda permanecia em silêncio, esperando Rashidi terminar de falar.

O rapaz percebeu que a pele da sereia já estava voltando ao normal.

— O que eu quero dizer é: se os venenos do seu próprio universo são tão fortes, por que você seria imune a algo que sequer tem um conceito? Uma criatura primitiva como você não deve ter noção do quanto esse aglomerado é perigoso...

Ayase se levantou repentinamente, ficando frente-a-frente com Rashidi.

Ela era bem mais baixa que o rapaz, mas não se sentiu intimidada com isso.

— De fato, eu não entendo muito sobre perigos ou sobre venenos. Provavelmente era conhecida como uma princesa sem escrúpulos que arriscava a sua vida sem pensar nas consequências ou nas pessoas que se importavam comigo.

Aqueles olhos verdes passaram a transmitir a seriedade de suas palavras.

— Mas o que faz você pensar que os sereianos de Atlansha são primitivos? Quem é você para dizer quem é ou não primitivo? Aliás, não precisa ficar com inveja só porque pareço ser mais útil nessa missão do que você.

O tom de sua voz parecia alterado. Ela estava irritada.

Ela não permitiria que falassem de Atlansha dessa forma.

E aquelas palavras fizeram Rashidi ficar ainda mais nervoso.

— Inveja…? De alguém como você? Não seja idiota.

— Apenas aceite que os residentes de Atlansha são imunes a veneno. Não tem nada de errado em alguém ser melhor do que você em alguma coisa. Você não precisa ser o melhor em tudo!

Ryuuki e Void até pensavam em acabar com aquela discussão, mas sempre que começavam a falar alguma coisa, Ayase ou Rashidi continuavam com seus comentários frenéticos.

— Seres primitivos não são melhores do que vesperes. Não ouse repetir isso.

Ele deu uma pequena pausa, passando a mão pelos cabelos brancos.

Quando a sereia percebeu, a expressão do rapaz estava assustadora.

— Mas admito que essa descoberta é… curiosa. Eu gostaria de testar isso.

— Devo me desculpar, mas eu não serei a sua cobaia.

Aquele olhar sério ainda estava estampado em seu rosto.

Ayase e Rashidi encaravam um ao outro com firmeza.

— Ehh?! Você está abordo da minha nave, senhorita. Lembre-se que quem manda nesse pequeno espaço sou eu. Se você não quiser me obedecer, não pensarei duas vezes em abandoná-la no espaço.

Diferente do que Rashidi imaginava, Ayase apenas sorriu para ele.

Aquele sorriso, porém, desviava a atenção das paredes de cristais de gelo que se formavam ao redor dos dois, transformando todo o cômodo em uma prisão congelada.

— Eu não lembro de ter concordado com isso.

Rashidi encarou a parede de gelo com um olhar surpreso.

Porém, ele não pretendia recuar. Um vesper nunca faria isso.

— Você não precisa concordar com ordens, sabia?

— E quem obedeceria alguém como você?

— ...

— Já chega.

Void finalmente se manifestou, dando um passo em direção aos dois.

Apenas aquele passo foi suficiente para desfazer todos os cristais de gelo invocados pela raiva de Ayase. Ele ressoou como uma onda de choque, e o impacto reduziu cada um dos cristais a uma poeira brilhante e azulada que desaparecia antes de tocar o chão.

A marca daquele passo queimava no chão, deixando uma pegada preta.

— Eu não sou contra vocês brigarem, mas façam isso quando a nave pousar, por favor. Se a menor das peças quebrar, vai dar muito trabalho para substituir.

A voz do rapaz de armadura continuava a mesma de sempre.

Era tão calma quanto uma brisa que carrega folhas outonais.

— Tentem não se matar até pousarmos, ok?

Ayase apenas abaixou a cabeça.

— M-me desculpe por isso… Void.

Rashidi murmurou algo inaudível e se dirigiu para a sala de comandos.

Como sempre, Void deu de ombros. Já estava acostumado com aquilo.

Ryuuki soltou um suspiro aliviado, agradecendo a interrupção de Void.

O dragão marinho se virou para Ayase, mantendo seus olhos fixos nela.

— Eu posso devorar esse maldito vesper?

— Não pode! Você vai ter uma indigestão, Ryuu.

— Eu prefiro ter dor de barriga a aturar esse cara, milady.

— Acho que até eu iria preferir isso…

Ryuuki e Ayase fizeram uma careta quando imaginaram a cena em questão.

Void forçou um pigarro, fazendo com que a dupla prestasse atenção nele.

— É melhor vocês descansarem. Pode não parecer, mas essa missão é bem complicada para a gente, então qualquer ajuda pode ser bem-vinda. Eu espero que não seja necessário, mas contamos com vocês.

— O-ok…

— Então… tenham um bom descanso. A gente se fala mais tarde.

Ao terminar sua frase, Void também vai em direção à sala de comandos.

— Até mais tarde…

O sussurro de Ayase nunca chegou aos ouvidos do rapaz.

Ela ficou parada por alguns segundos, e quando se certificou de que Void ou Rashidi não voltariam para lá, foi em direção ao antigo quarto de Void.

Ryuuki ainda estava em suas mãos, e o seu corpo esguio se entrelaçava no braço direito e busto da garota. As escamas gélidas que outrora lhe causavam arrepios, agora passavam uma sensação de companhia e segurança.

Ayase adorava aquilo, mas o próprio Ryuuki parecia não saber.

— É aqui, certo?

Antes mesmo de ouvir a resposta, a sereia girou a maçaneta do quarto.

O cômodo estava tão escuro quanto o céu de seu planeta morto, mas isso nunca foi um problema para a garota e seu dragão marinho. Eles conseguiam enxergar cada centímetro do quarto sem nenhum esforço graças a uma habilidade que possuíam.

A habilidade, porém, não vinha da garota dessa vez.

Era uma das bênçãos recebidas pelo pacto com Ryuuki.

— Ahhh!!!

Ayase atirou o seu corpo contra a cama, que apenas afundou sua espuma macia.

Por sorte, o dragão-serpente conseguiu evitar ser pressionado entre os lençóis.

— Cuidado!!

Após o alerta, Ryuuki rastejou para perto de um travesseiro.

Quando percebeu o que tinha feito, a garota se desesperou.

— AH, DESCULPA!! Você se machucou?! Me desculpa! E-eu só…

— Eu estou bem, milady. Você se preocupa demais!

Ayase rolou na direção que Ryuuki estava e se ajeitou na cama.

— Você está bem? O efeito do veneno passou mesmo?

Ela colocou a sua mão sob a cabeça do mediador, a acariciando.

— Não precisa mentir para me agradar.

— Eu estou bem... Você sabe que eu estou bem.

A resposta de Ryuuki foi tão tímida quanto um sussurro.

Ele estava bem. Se ele não estivesse bem, Ayase saberia.

Ela conseguia identificar cada uma das mentiras do dragão.

Ryuuki aceitava o carinho de Ayase, dando um tímido sorriso.

— É a segunda vez que você faz isso comigo. Você se lembra, não é? Quando drenou o veneno das águas vivas bioluminescentes do meu corpo... no dia em que nos conhecemos.

Os olhos de Ayase pareciam brilhar.

— Claro que lembro! Você não sabia o que eu pretendia fazer e ficava se afastando de mim toda hora! E estava na sua forma verdadeira ainda, foi bem assustador!

— Foi porque você queria me ajudar mesmo com medo do meu tamanho. Aquilo parecia tão… errado. Me desculpe, eu devia ter deixado logo de cara.

— Você sempre teve dificuldade para confiar nas pessoas, eu não te culpo…

— Obrigado...

Ryuuki fechou os olhos, sonolento.

Aquele sussurro veio acompanhado pelo silêncio.

— ...

O quarto tinha cheiro de abafado, mas Ayase demorou para perceber.

Ela rolava pela cama, tentando encontrar uma posição confortável para dormir.

Sua mente se distraía ao imaginar quais materiais aquela cama poderia ser feita.

“Será que são escamas de assiusrach? Talvez aquelas pedras mais clarinhas…?”

Nenhum deles parecia o correto.

Nenhum deles tinha aquela consistência.

“Eu realmente deveria estar aqui...?”

Aos poucos, a insônia consumia sua sanidade.

Mesmo antes de Void e os outros aparecem em Atlansha, ela demorava horas para pegar no sono, o que geralmente acontecia devido à exaustão mental.

Era como se todos os eventos de sua vida dançassem uma valsa ao redor de seus olhos fechados, a fazendo enlouquecer a cada hora não dormida.

Ryuuki pegou o hábito de abraçá-la com mais força quando Ayase não conseguia dormir, mas pedir isso para sua versão diminuta não parecia tão eficaz. Ela também não queria incomodá-lo, mesmo que a frustração de estar sozinha gerasse uma ansiedade que consumia a sua paciência.

Ayase, então, passou a observar Ryuuki dormindo.

“Tão bonitinho… nem parece que é uma serpente gigante e assustadora!”

Ela conseguiu segurar um riso, mas o seu sorriso gentil estava lá mais uma vez.

Ryuuki geralmente dormia depois de se certificar que a garota se sentia segura e amparada, ficando até mesmo em posições desconfortáveis enquanto era usado como travesseiro.

E aquilo não era exclusivo de sua forma original.

Mesmo a forma de bolso do dragão-serpente sofria com uma sereia inquieta para dormir, e o mínimo de preocupações ou informações novas era suficiente para Ayase ter insônia.

Daquela vez foi diferente.

Ryuuki tinha sido o primeiro a pegar no sono.

Os barulhos baixinhos que fazia soavam fofos para Ayase, que controlava seu impulso de acariciar o dragão marinho. Pelo tempo que ficou ao lado dele, sabia que o menor dos movimentos era capaz de acordá-lo.

Ela sorriu mais uma vez, e finalmente se dando por vencida, se levantou da cama, deixando o pequeno companheiro dormir em paz. Dentre todas as pessoas, Ryuuki era o que mais merecia um descanso.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 3, parte 2/4. ʕ•̀ω•́ʔ✧

Decidi que o foco de todo o capítulo 3 será as interações dos personagens - além de descobertas e respostas para algumas perguntas dos capítulos anteriores. Vocês também irão conhecer um pouco mais sobre o Rashidi, sobre o Void e sobre a Ribbon.

Óbvio que não são todas as respostas, mas... prometo que as mais óbvias serão respondidas!

Obrigada por ler Stellarium~!

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