Encadeados escrita por Nipuni


Capítulo 5
Correndo Com Lobos


Notas iniciais do capítulo

MEU DEUS FICOU MUITO ENORME
Gente, esse capítulo foi meio um teste de formatação. Algumas pessoas me disseram que estavam achando os capítulos pequenos, então eu decidi fazer esse bem maior que o normal. Não sei o que vocês vão achar, então, por favor, me digam se ficou cansativo demais ou se preferem essa formatação! Francamente, eu gostei bastante, mas se vocês acharem grande demais eu volto pra como estava antes, ok? Então, por favor, me avisem! ♥
~Obrigada pelos comentários maravilhooooosos ♥ e pelos favoritos! Fico muito grata!! ♥



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A luz dos postes era tudo que havia a frente. Quando Naruto me disse que o clube era no norte da cidade, eu não achei que ele queria dizer fora da cidade. Tóquio já tinha ficado para trás, e, com o som do rádio e a conversa dos três eu consegui camuflar minha ansiedade. Temari estava sentada ao meu lado, sua janela aberta o bastante para jogar meu cabelo todo para trás com o vento, e Hinata estava sentada na frente não parecendo mais tão tímida.

Naruto dirigia depressa. Já beirava a meia-noite e nós erámos os únicos do grupo que ainda não tinham chegado ao tal clube, e Temari fazia questão de deixar clara sua posição sobre o atraso – uma questão bem alta, por sinal.

Depois de alguns minutos com o carro indo próximo ao oceano, Naruto tomou a saída da rodovia e entramos em uma estrada de terra. Não havia mais postes, e o alcance dos faróis era o alcance de nossas vistas. Ao longe, canhões de luzes criavam um chamariz, e eu soube que era para lá que nós íamos. Quanto mais perto o carro chegava, mais eu conseguia senti-lo tremendo. O som da música já chegava até ali, e eu temi o quão alto ele estaria ao chegarmos.

Um grande galpão estava rodeado por carros estacionados e pessoas, vários holofotes girando em todas as direções ao mesmo tempo.

— Acho que é aqui mesmo. – Temari comentou ao descer, parecendo preparada para andar em seu salto sobre um chão de terra batida.

Eu não estava. Me agarrei a Hinata no pretexto de fazer companhia, mas na verdade só tentava não cair antes de chegar ao galpão.

Várias tochas tiki rodeavam o lugar, e eu contei seis bailarinas vestidas de havaianas na porta. Ao entrarmos, todas colocaram colares com flores de plástico em nossos pescoços, fazendo o mesmo com os outros que se aproximavam.

— Não sabia que era um luau. – Hinata segurou seu colar e o analisou com as sobrancelhas franzidas. Concordei em silêncio.

— E que luau. – Temari pôs as mãos na cintura e analisou o lugar.

O galpão era alto e largo, sem paredes dividindo áreas. Um bar com mais tochas estava escondido atrás da pista de dança, e um andar superior improvisado dava espaço para dançarinas profissionais.

Quase me senti acuada. Era tanta gente dançando num mesmo lugar que eu não conseguia diferenciar onde um terminava e onde o outro começava. Ainda agarrada a Hinata, segui atrás de Naruto e Temari até o bar onde estava o resto do pessoal.

Todos estavam em seu elemento. Ino estava agarrada ao braço de seu namorado, Sai, que sorria como um modelo de revista. Temari cumprimentou todos, dando atenção especial a um dos mestrados do grupo – um tal de Naara. Kiba não tirava seus olhos de Hinata mesmo na presença de Naruto, mas ele não pareceu perceber.

Naquela noite, eu estava correndo com lobos.

Soltei o braço de Hinata e me escorei no bar quando a maior parte do pessoal se moveu para a pista de dança, ficando apenas com Hinata e Naruto ao meu lado.

— Porque vocês não vão dançar também? – sugeri, um sorriso amigável estampado em mim.

Eles se entreolharam, duvidosos.

— Mas e você? – Naruto perguntou.

Pisquei duas vezes.

— Ah, não se preocupem comigo! Vou pedir algo pra beber e vou daqui a pouco.

Os dois precisaram de alguns segundos para ter certeza. Depois de mais alguns incentivos meus, Hinata e Naruto cederam e desapareceram no meio dos corpos movimentados.

Me virei completamente para o bar, puxando o celular do bolso e me curvando sobre o balcão. Puxei o colar de flores para fora e, involuntariamente, meus dedos foram clicando nos botões errados e antes que eu percebesse, estava encarando o número de Sasuke.

Eu não poderia estar nem hipoteticamente considerando ligar pra ele. Diria o que? “E aí estranho, como você tá? Não quer vir pra esse clube no meio do nada pra gente trocar uma ideia?”. Bloqueei o celular ao ver alguém se aproximando com o canto do olho, o enfiando de volta no bolso.

— Oi. – um cara ruivo de olhos âmbares colocou um copo na minha frente, se recostando sobre o bar e me olhando direto nos olhos.

— Oi? – acabou soando como uma pergunta. Ele tinha um olhar meio moribundo e estava sorrindo demais. Não precisava dizer por que eu estava desconfiada.

— Tá sozinha? – ele recostou o rosto sobre a mão e me olhou de lado.

— Não. – menti e não menti ao mesmo tempo. Não tinha vindo sozinha, mas sabia que ninguém viria me resgatar. Principalmente, porque ninguém estava vendo.

— Sério? – suas sobrancelhas finas se ergueram numa dúvida falsa e seu sorriso se alargou mais. – Não tô vendo mais ninguém.

Pigarreei, respirando fundo enquanto tentava inventar qualquer desculpa para me afastar daquele cara. Não tinha nada de ameaçador em sua presença, mas não havia nada de reconfortante também. Pelo sim, pelo não, achei melhor me afastar.

— Porque não bebe? – ele empurrou o mesmo copo mais na minha direção antes que eu inventasse uma desculpa. Avistei o copo de plástico em minha frente, com um líquido de cor marrom-meio-amarelo. – A gente pode se divertir.

— Te achei. – uma mão escorreu pelas minhas costas como uma serpente, parando em minha cintura. Virei o rosto para encontrar um Sasuke tranquilo, seu peito tocando minhas costas num gesto mais íntimo do que eu permitiria em circunstâncias normais.

O cara não sabia disso, no entanto.

— A-ah! – me xinguei por ter gaguejado. Forcei um sorriso e comecei – Eu acabei me perdendo, foi mal. Todo mundo já está lá fora?

Sasuke ergueu uma sobrancelha, mas embarcou na minha história. Notei que ele também usava um colar de flores coloridas. A imagem serviu para me acalmar um pouco.

— Já. Pegou tudo?

Concordei silenciosamente. Sasuke me puxou e, por algum motivo, eu me virei para acenar para o cara. O que tinha de errado comigo?

Sasuke me levou até o lado oposto do clube, onde os canhões de luz não chegavam e a maioria das pessoas eram casais. Por uma fração de segundos, questionei sua intenção de me levar até lá. Sua mão deixou minhas costas e ele se encostou na parede do galpão, olhando para mim com um ar totalmente diferente, um semblante predador.

— Como sabia que eu estava aqui? – questionei, me aproximando pra que ele me ouvisse sob o som estridente. Ele ergueu uma sobrancelha, sorrindo.

— Não sabia.

— Acho isso difícil de acreditar, Sasuke.

Seu sorriso se alargou.

— Deve ser o destino.

Suspirei.

— Porque você apareceu?

Ele virou o rosto pro lado, olhando para mim como se fosse óbvio.

— Sakura – se aproximou e eu tive que fazer força para não recuar. – Ele ia te drogar.

Pisquei duas vezes.

— Como você sabe?

— Ele colocou GHB na bebida.

GHB? Aquilo era Boa Noite Cinderela.

— Você viu?

Sasuke levantou uma sobrancelha, voltando a se recostar na parede.

— Se não acredita em mim, volte e beba.

— Espera – estalei os dedos, me aproximando, nervosa. – Eu nunca te disse meu nome.

E como num piscar de olhos, seu sorriso voltou. Sasuke cruzou os braços na frente do corpo, as roupas escuras se desalinhando com o movimento dos ombros.

— Eu avisei. É o destino.

Revirei os olhos, me voltando para procurar meus amigos. Varri a multidão com os olhos, não identificando nem uma figura familiar. Eu tinha consciência que tinha apenas chegado, mas o ambiente já começava a pesar sobre minhas costas. Sabia que aquilo tinha sido uma ideia ruim.

Sasuke deu dois passos em minha direção, ficando tão perto que o calor de seu corpo irradiava até o meu. Fechei a mão em punho, determinada a não olhar para ele.

— Quer dar o fora daqui?

Sua voz se arrastou até minha mente, rouca. Não consegui evitar o arrepio que seguiu. Por um momento, eu não consegui enxergar mais nada, nem as multidões, nem as luzes, nem as dançarinas poucos metros sobre nossas cabeças. Só conseguia vê-lo.

Engoli em seco, tentando me livrar da sensação. Diga que não, Sakura. Você nem o conhece. Ele pode ser um assassino, pelo que você sabe. Ele pode ser um fugitivo. Ele pode te sequestrar. Diga que não. Diga que não. Diga que não.

— Quero.

Quase me bati.

Sasuke pareceu orgulhoso, colocando as mãos no bolso e sinalizando com a cabeça para que eu fosse na frente. Tentei comandar minhas pernas para que ficassem, mas o impulso de ir era mais forte. Foi como uma maré cheia, e não importava o quanto eu nadasse, ela me levaria para onde quisesse.

Deixamos o grande galpão até o estacionamento improvisado que havia do lado de fora. Avistei vários carros, a maior parte novos e radiantes. Meus olhos pousaram sobre um Mustangue preto, que parecia antigo mas ao mesmo tempo, bem cuidado.

— Deixa eu adivinhar. – cruzei os braços ao perceber que íamos na direção dele. – Você é o cara que dirige um Mustangue?

Vi Sasuke sorrindo com o canto do olho.

— Ela é esperta. – ele disse, puxando uma chave grossa do bolso e a girando na ponta do indicador.

Mordi o lábio para não sorrir. Sasuke destrancou o carro e entramos. Minhas roupas deslizaram sobre o banco de couro e a primeira coisa que eu pensei foi em como era cheiroso. Por dentro, era bem organizado e impecável. Não tinha um arranhão sequer. Reparei nos dois dados de pelúcia pendurados sobre o retrovisor e não resisti a vontade de tocá-los.

— Parece um personagem de filme. – comentei para mim mesma.

Sasuke girou a chave na ignição e o Mustangue deu um ronco suave antes de ligar.

— Você não faz ideia.

Em alguns minutos, não conseguia mais avistar o clube. Seguimos na estrada de terra antes que Sasuke ligasse o rádio, então chegando na rodovia. Percebi como ele não foi no sentido Tóquio.

— Pra onde vamos? – engatei meu cinto, mesmo que não houvesse movimento nenhum. Ele fez o mesmo.

— Confie em mim.

Virei o rosto para olhá-lo. Estava completamente relaxado, o reflexo da lua no mar iluminando seu perfil fino. Notei como ele tinha uma silhueta aristocrática. Se não fosse assim, poderia até ser um ator de filmes antigos. Tirei os sapatos e cruzei as pernas sobre o banco enquanto ele continuava a dirigir calado.

Com um suspiro entediado, abaixei o vidro de minha janela e recostei minha cabeça sobre a abertura. O vento uivava furioso do lado de fora, esvoaçando meus fios claros de cabelo para todos os lados. Percebi que Sasuke virou para olhar pra mim, o que me fez trancar minha atenção no para-brisa e não nele. Contei trinta segundos até ele se voltar para frente de novo.

Um estabelecimento apareceu depois de uma curva, do lado oposto da praia. Um taco mexicano em neon piscava noite afora, e só havia um carro estacionado lá. Franzi as sobrancelhas.

— O que viemos fazer aqui?

Sasuke me ignorou, desligando o carro e puxando a carteira do espaço entre os bancos.

— Quer algo pra beber?

Continuei com a expressão duvidosa, balançando o rosto para os lados. Ele abriu a porta e saiu, andando despreocupado até a lanchonete.

Bufei, cruzando os braços. Qual o problema dele? Puxei o joelho para me abraçar, batendo a perna em um compartimento. Uma gaveta se abriu para fora e eu ouvi o barulho de várias coisas caindo.

— Merda. – xinguei, pegando o celular do bolso para iluminar o chão do carro.

A luz fraca me ajudou a enxergar o que caiu. Guardei uma lanterna, uma caixa de fósforos e um cantil de metal vazio. Tateei o estofado para ver se tinha algo mais para pegar, quando senti essa textura que me lembrava papel.

Puxei a folha do chão e estreitei os olhos para ver do que se tratava. Parecia um desenho, e no escuro consegui distinguir duas figuras. A porta da lanchonete se abriu e Sasuke começou a se aproximar, e, por algum motivo, resolvi guardar a folha comigo. Enfiei o pedaço na calça para analisar depois, fechando o porta-luvas com pressa.

Sasuke abriu a porta e me entregou uma sacola de papel dobrada e um copo de plástico com canudo.

— Eu disse que não queria nada pra beber.

— Se eu não pegasse, você reclamaria na hora de comer. – fechou a porta e ligou o carro mais uma vez.

— O que tem aqui? – fiz menção de espiar o que tinha dentro do saco, mas Sasuke colocou sua mão sobre a minha e fez que não com a cabeça.

— Você já vai ver, esperta.

De volta à estrada, Sasuke continuou a dirigir lado a lado com o oceano, dessa vez no sentido que levava de volta a cidade. Não havia outro carro na rodovia, e eu me vi fazendo uma careta quando ele subiu num banco de areia com o carro e o desligou mais uma vez.

— Vamos. – anunciou, saindo de novo.

Eu tinha certeza que estava fazendo uma carranca horrível. Porque ele era tão aleatório? Peguei a sacola e o copo e o segui para fora. O gosto de sal me atingiu imediatamente, e o único som que reinava era o das ondas se quebrando na praia. Sasuke pegou uma coberta quadriculada do banco de trás e a jogou sobre o capô do carro, se sentando. Deu dois tapinhas para o lugar ao seu lado com um sorriso sarcástico.

Usei o para-choque como escada para subir, colocando a sacola e o copo como divisória entre nós dois. Sasuke não pareceu se importar. Arrancou – finalmente – seu colar de flores e o jogou sobre o capô.

Ele abriu a sacola e tirou dois tacos mexicanos de dentro. Não sei o que eu esperava.  Me entregou um e não fez cerimônia nenhuma para começar a comer o seu. Seus olhos negros me olhavam de soslaio, expectantes.

Olhei para a casca de milho e tudo que ela segurava. Parecia comida demais. Ainda assim, decidi ceder e dar uma mordida pequena. A casquinha se quebrou, crocante, e eu tive que levar a outra mão para que tudo não caísse sobre mim. Sasuke riu.

— Você é mesmo muito jeitosa.

— Cala a boca. – falei, a voz abafada pelo taco que eu havia mordido. Mastiguei a casquinha e tudo que havia dentro até sentir um sabor peculiar. Era gosto de sódio, sal puro. – Você colocou azeitonas no meu?

Ele continuou sorrindo.

— Adivinhou, esperta.

Franzi as sobrancelhas, engolindo o pedaço.

— Como você sabia que eu gosto?

Sasuke deu de ombros, pegando o copo e puxando a bebida com o canudo.

— O que posso dizer? Você tem cara de uma garota que curte azeitonas.

Quis rir. Dei outra mordida, já preparada para o sabor. Era, de fato, muito gostoso. Não me admirava que Sasuke conheceria um lugar daqueles.

— É muito bom. – confessei, dando minha terceira mordida.

— Diz isso porque não provou o meu. – ele se recostou sobre o capô com o cotovelo e eu o olhei com o rosto contraído. Uma sobrancelha sua se levantou – O meu taco.

Corei.

— Foi o que eu pensei! – menti. Terminamos de comer em dois minutos e eu vi Sasuke se deitando, o rosto virando para cima.

Eu continuei olhando para a frente. As ondas rebentavam cada vez mais distantes enquanto a maré recuava, e o mar refletia todas as luzes no céu. Suspirei e me rendi, jogando as costas para trás e me deitando também. Sasuke continuava virado para cima, fixo. Isso não o impediu de falar.

— Vou fazer meus tacos pra você um dia. – ele disse, simples. Não estava sorrindo, não olhava pra mim, não soava sarcástico ou irônico. Aquilo acabou me surpreendendo mais do que eu gostaria.

Ri para mim mesma.

— Certo.

— E você vai ver que os tacos que você acabou de comer eram, na verdade, horríveis.

Outra risada, mais fraca dessa vez.

— Uhum.

— Sakura.

Virei o rosto. Sasuke continuava preso no céu, sua boca era uma linha sem expressão e seu olhar parecia ver muito mais do que eu era capaz. Percebi como seu maxilar estava contraído, trancado, e que seus dedos batucavam uns nos outros.

— O quê? – perguntei quando ele não continuou.

Finalmente, ele virou para olhar pra mim também. Nossos ombros estavam alinhados e os olhos se igualavam na altura, mas não durou muito. Depois de dois segundos, Sasuke fechou os olhos e respirou fundo. Não fazia ideia do que estava pensando, do que queria dizer ou o porque da demora, mas quando ele os abriu novamente, eu soube que tinha desistido.

— Vou te deixar em casa. – se sentou depressa, amassando a sacola de papel com o copo dentro. Não tinha muito o que fazer.

Saltei para fora do capô e puxei a coberta comigo, dobrando-a até que virasse um quadrado pequeno. O segui até a porta do carro novamente, fazendo um último anúncio antes de entrar.

— Ainda vou descobrir como você fez aquilo no hospital.

Sasuke sorriu pra si mesmo.

— Tenho certeza que vai.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :3



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