Tenso escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
tenso


Notas iniciais do capítulo

para Seren.



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Abraxas falava alto e tinha mania de tocar as pessoas enquanto conversava.

O loiro, na verdade, era a melhor descrição de ‘extravagante’ e ‘exagerado’ que Tom já havia visto. Ele ria muito alto, gesticulava com muita intensidade, dormia na aula como se estivesse em sua cama, encarava com muito afinco, sorria muito abertamente... Para Riddle, aquilo era terrível.

Ele estava acostumado a ser pouco. Quieto, porque o orfanato era muito vazio e qualquer barulho ecoava pelos corredores. Sorrisos controlados, porque ser muito gentil fazia as pessoas acreditarem que ele era ingênuo. Risadas baixas, porque ninguém tinha razões para gargalhar quando se vivia às margens da pobreza no meio de uma guerra. Olhares discretos, pois encarar os outros sempre trazia problemas (“O que você está olhando, esquisito?” as crianças mais velhas costumavam cuspir essas palavras em seu rosto).

Malfoy era demais e Riddle, de menos.

Seu corpo se retesava por completo toda vez que a mão do loiro ia para o seu ombro enquanto ele contava sobre a última vitória do Holyhead Harpies. Os dedos do sonserino eram compridos e suaves, a pele macia demais para sequer tocar a lã grossa de segunda mão de seu uniforme. O toque era íntimo demais, apesar de ser feito com todos os colegas, mas para Tom era demais.

Quando alguém levava bebidas para dentro das masmorras da Sonserina, para comemorar alguma vitória no Quadribol, Riddle apenas se sentava no seu canto favorito do salão comunal e observava. Abraxas ficava dez vezes mais falante e mais extravagante. O rosto do rapaz ficava mais vermelho e os olhos cinzentos pareciam perder o foco. Secretamente, Tom gostava disso... Era bom ver as pessoas perdendo o controle sobre elas mesmas de vez em quando, principalmente quando ele se mantinha controlado, atento, quieto e sério. Observando.

Tom Riddle sabia observar os outros muito bem.

No entanto, ele se surpreendeu quando Dorea lhe disse que Malfoy o olhava pelo canto dos olhos toda vez que eles se sentavam para tomar café da manhã.

“Não seja tola,” ele disse, vendo a menina torcer o nariz empinado, fazendo os óculos escorregarem até quase caírem do rosto.

“Não seja cego,” ela falou, dando de ombros.

Cego. Como se ele, Tom Riddle, pudesse se dar o luxo de ser cego.

Mas tolo seria ele se não desse ouvidos ao comentário de Black. Então ele começou a tentar prestar mais atenção e surpreendeu-se quando pegou os olhos de Malfoy em si durante um café da manhã apressado, antes de uma aula de Transfiguração. Tentou prestar atenção em tudo para ver o que chamava a atenção do colega: sua boca estava suja com geleia? Havia farelos de pão em suas vestes? Havia esquecido de pentear os cabelos? Ou será que havia dado um nó errado na gravata?

Estava tudo certo. Só havia ele, Tom Riddle, quieto e sério e controlado.

Da próxima vez que Malfoy se embebedou com whiskey de fogo, ele se manteve firme e quieto na sua poltrona cativa no salão comunal, mas agora prestando mais atenção no loiro do que no livro em seu colo. Lá estavam os olhos de Abraxas em si, o sorriso bobo se alargando quando Tom o olhou e o rosto ficando mais vermelho. Riddle sentiu o próprio rosto ficar quente e decidiu que já estava tarde demais.

“Sabe que pode relaxar quando está com algum colega, não é, Tom?”

Ele queria dizer que não podia. Se relaxasse os ombros, iriam saber que ele estava despreocupado e isso era um perigo. Claro, não para Abraxas, que tinha um nome conhecido e um cofre cheio de dinheiro no Gringotts. Porém, não tentou explicar isso e apenas arqueou uma sobrancelha para o colega que estava sentado ao seu lado em um canto da biblioteca.

“Estou relaxado.”

“Mentiroso,” disse o loiro, esticando as mãos e agarrando-lhe os ombros. Os músculos de suas costas e de seu pescoço tencionaram enquanto o outro o sacudia, rindo. “Relaxe, Tommy.”

A contragosto, deixou que o sonserino balançasse os seus ombros, os dedos longos e elegantes afundando no tecido grosseiro de seu uniforme por alguns minutos, antes de encontrarem a pele de seu pescoço. Sentiu os ombros se encolherem e fixou o olhar nas palavras do livro aberto sobre a mesa, mas sua mente já estava perdida demais na sensação estranha (estranhamente boa) dos dedos de Malfoy em sua nuca, fazendo os pelos ali se eriçarem.

“Viu? Não é difícil relaxar.”

Mas era. O esforço que fazia para se permitir saborear o toque era enorme. Seus músculos gastavam energia para relaxarem e sua cabeça trabalhava muito mais que o normal.

“Você é muito tenso.”

“Você é muito despojado.”

“É isso que acha?”

Os olhos cinzentos estavam se divertindo enquanto o observavam. Tom franziu as sobrancelhas, tentando entender o que havia de divertido ali, logo antes de afastar-se, assustado, quando sentiu o dedo do outro tocar-lhe a testa.

“Você vai ficar com rugas se começar a fazer essas caretas.”

“Você vai ficar com rugas se ficar sorrindo tanto.”

“Pelo menos vão saber que eu sorri.”

Riddle se perguntava como era ter um sorriso daqueles no rosto. Talvez fosse por conta dessa dúvida que beijou Abraxas. Se é que podia chamar aquilo de beijo: foi um toque de lábios rápido e assustado, antes de notar o que havia feito e se afastar, olhos arregalados e coração batendo rápido.

“Woah,” o loiro sussurrou, antes de outro sorriso esticar os lábios finos.

O formato do sorriso era perceptível contra os seus lábios. E a cada beijo ou cada mordiscada em seu lábio inferior, Malfoy parecia estar tentando fazer um sorriso aparecer ali. Como se ele conseguisse puxar um sorriso tão grande quanto o seu com os próprios dentes ou conseguisse moldá-lo com a língua.

“Assim está melhor.”

Tom se perguntou se o outro conseguia sentir a pequena curva que repuxava o canto de seus lábios.

 

 


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